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Luís Pérez Barral: “para ter a liberdade de escolher a língua que queres falar tens que ter a competência plena para usá-la”

Após mais de quatro décadas de oficialidade do galego, os dados sociolinguísticos continuam a marcar mínimos históricos no uso. Para compreender o que acontece e poder intervir para reverter esta situaçom, hoje falamos com Luís Pérez Barral, técnico de normalizaçom linguística do Concelho de Outes.

Agora que sumamos mais de 4 décadas de oficialidade do galego, como avalias este período?
Resumir 40 anos é complicado. Se temos que ponher umha palavra para este período creio que seria agridoce: há elementos positivos, o galego deixou de ser umha língua proscrita a ser língua de uso habitual na cultura e na administraçom, porém, segue a ser umha língua excluída em muitos âmbitos, como a sanidade, a justiça e no ensino o decreto do plurilinguismo afastou o galego de determinadas matérias, como da matemática, da física e química, as matérias ligadas à ciência.

Há poucos meses, as estatísticas situavam o galego por baixo do uso maioritário, pela primeira vez na história. Que medidas cumprem para reverter o processo de substituiçom linguística?
Sim, a finais de 2022 o censo transmitia esse dado, que a língua maioritária na Galiza é o castelhano, e isso nom é casualidade. Os últimos governos do partido popular promovêrom isto, o decreto do plurilinguismo que proíbe usar a língua própria da Galiza para as línguas de ciência, o efeito desgaleguizador já se demonstrou, em estudos da RAG.

Que a mocidade tenha falta de competências na língua própria do país está-se a promover desde a Junta. E neste concelho, em Outes, pois continuamos a ser umha maioria de galego-falantes, mas num espaço mais urbano, há moços e moças que tenhem dificuldades sérias para compreender e falar em galego, já sem irmos às cidades, mesmo em vilas como Ribeira ou o Caraminhal. Há nenas e nenos que se lhes pedes para falarem em galego, reduzem a velocidade, tenhem que pensar, quase como se lhes estivesses a pedir que falem num idioma estrangeiro.

Que a mocidade tenha falta de competências na língua própria do país está-se a promover desde a Junta. Há nenas e nenos que se lhes pedes para falarem em galego, reduzem a velocidade, tenhem que pensar, quase como se lhes estivesses a pedir que falem num idioma estrangeiro.

Qual é o teu papel ou o da equipa/serviço de normalizaçom linguística no concelho de Outes? Quais som os principais desafios do vosso trabalho?
A tónica geral dos serviços de normalizaçom linguística, é que, dos poucos que existem, na maioria estejamos umha única pessoa. Isso provoca umha dificuldade engadida ao nosso trabalho, complica-nos muito a vida para fazer projetos. E por cima, a Junta reduziu os orçamentos em política linguística: em 2009 havia 22 milhons de euros e passou a ter, em 2023, pouco mais de dez milhons. E no tocante a recursos para o nosso trabalho diário, sacam-se um total de 350.000 euros, a repartir por todo o país. Isso, como compreenderás, som migalhas, o que podemos gerir.

Depois, nom é o mesmo trabalhar no concelho de Outes que no de Vigo, Corunha ou Ribeira, nos que já há umha populaçom mais urbana e umha situaçom linguística diferente. Há pouco fazia um curso de formaçom promovido pola deputaçom da Corunha e agrupamo-nos em concelhos rurais, urbanos e intermedios, vendo dinâmicas similares por tamanho. E mesmo dentro destes grupos, o trabalho que desenvolvemos varia muito, depende da pessoa que ocupa a vaga. Há pessoas que se dedicam exclusivamente a fazer correçom e assessoramento linguístico, e outras -como é o meu caso- também desenvolvemos campanhas de dinamizaçom. Eu trabalho muito com o liceu e a escola, trabalhamos também com o setor hoteleiro e comercial, para que a presença da língua galega se mantenha, se reforce e se coloque como algo positivo a destacar deste concelho.

Nos concelhos pequenos, ademais, os serviços de normalizaçom linguística nom tenhem apoio de pessoal administrativo para as tarefas mais burocráticas, daquela, a técnica de normalizaçom linguítica é quem tem que preparar a solicitude para subvençons, fazer assessoramento, e outras cousas. Eu, por exemplo, também dou aulas de reforço escolar a pessoas com problemas de aprendizagem, tramito subvençons a maiores, quer dizer, desenvolvemos mais trabalho do que nos compete; a falta de pessoal dos concelhos pequenos nota-se.

Eu, por exemplo, também dou aulas de reforço escolar a pessoas com problemas de aprendizagem, tramito subvençons a maiores, quer dizer, desenvolvemos mais trabalho do que nos compete; a falta de pessoal dos concelhos pequenos nota-se.

E ainda, outra cousa que passa em muitos concelhos é que se a técnica de normalizaçom vai de baixa ou marcha, nom se cobre a vacante. E depois, claro, a falta de recursos também se nota, porque nom é o mesmo trabalhar com um orçamento de qualidade do que trabalhar com orçamentos ínfimos, com o que tens que ir chorando para poder chegar a organizar cousas.

Que necessidades observades no dia a dia? 
Sobretudo a de meios económicos, para poder levar adiante campanhas ambiciosas. Depois, outra questom que é necessária de maneira geral, é que os governos respeitem a importância que tem este serviço. A nível municipal, normalmente dependemos de cultura, e deveríamos ter adscriçom directamente de alcaldia, num lugar transversal no organigrama da administraçom já que é um serviço transversal, no qual trabalhar todos os ámbitos. De facto, o nosso âmbito prioritário é trabalhar onde nom está ainda o galego. Aliás, o nosso perfil laboral vai mais alá de trabalhar para a administraçom pública, deveríamos ter a visom de trabalhar para todos os sectores, no desporto, o comércio, o turismo, o ensino… para o nosso trabalho ser eficaz.

Por último, cumpre melhorar a legislaçom que existe a dia de hoje e devemos ser ambiciosos para dotarmo-nos de novas medidas legislativas que garantam o uso e a presença da língua galega.

Existe aquisiçom de material em português ou contrataçom de artistas da Lusofonia para a programaçom cultural do teu concelho? Como pensas que poderia ser tida em conta a língua portuguesa no teu concelho para reforçar a normalizaçom linguística?
A nossa experiência mais próxima com o português foi a visita dum técnico moçambicano, da ANAM (Associação Nacional de Municípios de Moçambique), que veu num programa do fundo galego de solidariedade. Eu aproveitei essa estadia para que fosse ao liceu falar da lusofonia. E a rapaziada saiu maravilhada dessa palestra, diziam-me “Luis, entendemos-lhe tudo”.

Depois, nom temos umha presença de português constante, porque, como che dizia, os recursos som mui escassos e nom nos dá para fazer tudo. Porém, eu gostaria de acrescentar a presença, no liceu sobretudo para que a rapaziada soubesse da importância da comunidade linguística da lusofonia, e de que o galego abre portas a nível internacional. Nom som um grande defensor do argumento utilitarista das línguas, porque acho que pola sua própria existência já tenhem muita importância, mas nesta situaçom de devalo linguístico penso que devemos aproveitar essa sorte.

No liceu de Outes nom há português, e seria importante, permitia melhorar indiscutivelmente o sotaque, o vocabulário… Seria positivo para melhorar o galego. E claro, haveria competência para chegar a muitos mais recursos que se estám a fazer, desde música a desenhos animados, etc. Ademais, se sumarmos o português, a presença do galego como língua ambiental passaria a ter umha maior percentagem de presença.

No liceu de Outes nom há português, e seria importante, permitia melhorar indiscutivelmente o sotaque, o vocabulário… Seria positivo para melhorar o galego. E claro, haveria competência para chegar a muitos mais recursos que se estám a fazer, desde música a desenhos animados, etc. Ademais, se sumarmos o português, a presença do galego como língua ambiental passaria a ter umha maior percentagem de presença.

A língua ambiental é mui importante, nas atividades extraescolares, nas desportivas… Nom podemos depender só dessas três horas de galego à semana, com isso nom fazemos nada. Temos que sair das aulas e somar horas de língua ambiental, para garantir a competência linguística. Se nom, nom a vam falar: para ter a liberdade de escolher a língua que queres falar tens que ter a competência plena para usá-la. Se nom te sentes competente, se tens inseguranças, se nom estás cómodo, deixas de falá-la.

Qual é a fotografia linguística que imaginas dentro de vinte anos?
Eu desejo que a língua tenha o status que merece, que seja umha língua completamente normalizada e que nom haja discriminaçom por questom de língua como ainda hoje em dia acontece. Mas é umha questom complicada na qual temos que seguir trabalhando, e temos que ser positivas, nom ficar no alarmismo e na negatividade de perdermos falantes. Desde as administraçons públicas temos que incidir em criar âmbitos em que a gente poda botar a língua fora.

Se tenho que colher a bola mágica e ver o futuro: creio que em vinte anos teremos uns falantes mais consciencializados, que sabem que tenhem que manter o galego, e que teremos também, umhas pessoas castelhanofalantes nom beligerantes, que eventualmente podam dar o passo, que tenham querença igualmente polo idioma.

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