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Koldo Tellitu: “O desafio é ultrapassar a apatia e ganhar novos cenários para o euskera”

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Koldo Tellitu no parque de Belvís em Compostela | charo lopes

Koldo Tellitu é o presidente da Confederação de Ikastolas (Euskal Herriko Ikastolak), e combinamos com ele em Compostela, numa paragem da sua viagem à Galiza para conhecer, de perto e ao vivo, as escolas de ensino galego, Semente.
Com ele fazemos um repasso polo labor das ikastolas, centros de ensino basco que nasceram nos anos 60 na clandestinidade para protegerem e difundirem a língua e a cultura basca e que hoje representam o 20% do sistema educativo com arredor de 60.000 alunos e alunas.

Qual é a situação linguística no ensino hoje em Euskal Herria?

Ultimamente vivemos um contexto de certa “relaxação”, parecesse que está todo feito e levamos dez anos de certa regressão. Num idioma pequeno como o nosso, de 600.000 falantes, se não se medra, retrocede-se. Agora a prioridade é fazer uma análise em profundidade, procurar, com outros agentes culturais da língua, as causas do estancamento no número de falantes de há dez anos, e ver como revitalizar e situação. Assim que o analisemos bem podemos ver de lhe dar a volta. Nos próximos anos vamos investir muito, conformar equipas que analisem as causas e os remédios.
Temos que ultrapassar a apatia. Mas o que é preciso? Um marco jurídico adequado. Levamos tempo a dizer que no âmbito educativo tem que desaparecer o sistema dos modelos linguísticos, que fracassaram e que cumpre um modelo único de imersão linguística. O marco jurídico tem que jogar a favor, não pode ser neutro. Há quem diga que nos últimos anos o basco “manteve-se”, mas se se manteve então é que não melhora, e isto significa ir para abaixo.

É diferente a situação linguística nos diferentes territórios do pais?

É sim, mas há uma linha de conduta comum. Se analisarmos a regressão dos últimos dez anos, esta é proporcional, similar, bastante homogénea, compacta e com elementos comuns: a fraqueza em espaços onde se move a juventude; as novas tecnologias, as redes sociais… Aí come-nos o castelhano e também o inglês.

Quais som os vossos principais desafios?

Um deles, que parou um bocado agora com a pandemia, é a imigração, um tema mui importante já que chega alunado que não conhece o contexto, a cultura nem a língua.
E por outra parte, a manutenção de falantes na adolescência: No infantil, de 0 a 8 anos, estamos bem, temos muito material, centos de contos, os melhores palhaços do mundo em euskera (Pirritx e Porrotx)… Uma criança pode viver só em basco sem problema, mas o que acontece? Chegam aos 10 anos e faltam outros elementos, não há Play Station em euskera. Aí temos um buraco, a nível de bloguers, influencers… O ligado com as novas tecnologias e os espaços de socialização de adolescentes, sobretudo.

Olhais cara a Catalunha para procurar exemplos de gestão com a imigração?

Uma das cousas que vimos fazer na Catalunha e temos pensado introduzir no ano próximo é que o alunado não vaia diretamente para a aula, mas que antes aprenda a língua, porque ir para a aula assim de início pode provocar que fique de boca aberta e desligue ou que faça mudar a língua do resto da turma.

Uma das cousas que vimos fazer na Catalunha e temos pensado introduzir no ano próximo é que o alunado não vaia diretamente para a aula, mas que antes aprenda a língua, porque ir para a aula assim de início pode provocar que fique de boca aberta e desligue ou que faça mudar a língua do resto da turma.

Achas que o feito de ser o euskera uma língua muito diferente do castelhano é um benefício no conflito linguístico? Há assim menos risco de assimilação duma língua com a outra?

Nós chegamos a uma expressão para essa “fusão”: o euskañol. Como no caso do spanglish, misturarmos os dous idiomas de qualquer jeito e depois sai um “churro”. E ligamos isto com a qualidade, temos muito alunado que está nessa fronteira de conhecimento bom da língua mas que não chega para no uso ser a língua mais confortável. E num contexto socio-político desfavorável, isto favorece que se tome o “caminho fácil”.

É o euskera uma língua “difícil”?

Bom, é uma discussão frequente aqui, de se o euskera é complicado, por não ser de raiz latina. Evidentemente é um idioma com uma estrutura mui diferente, então não é singelo, mas tem um processo de aprendizagem como pode ter para um euskadum o inglês ou o alemão. Se se introduz no sistema educativo desde cativos e se fazem as cousas bem não deveria haver problema, som elementos socio-políticos os que dificultam a normalização.

Que peso tem, então, a qualidade linguística?

Nós estamos a afundar muito nesta ideia, queremos que o alunado tenha um nível mui alto de qualidade linguística, basicamente porque quanto melhor qualidade, maior facilidade para o uso. O nível de euskera dum aluno pode ser bom mas depois essa qualidade é insuficiente para que a sua utilização seja natural.
No âmbito educativo há muita gente que fica nos mínimos: pais e mães que se dão por satisfeitos com um nível básico, com entenderem todo e mais ou menos conseguirem falar; mas a satisfação nesse nível, que eu ligo com umha atitude apática, não dá para converter em falantes habituais. Cada vez acontece mais o fenómeno de conversas nas duas línguas à vez, umas pessoas falando em euskera e outras em castelhano; a gente diz-te “não mudes para o castelhano, que te entendo”. Bem, mas, se ficamos aí, esse nível vai servir para dar outro salto?

Nós estamos a afundar muito na ideia da qualidade linguística, queremos que o alunado tenha um nível mui alto de qualidade linguística, basicamente porque quanto melhor qualidade, maior facilidade para o uso. O nível de euskera dum aluno pode ser bom mas depois essa qualidade é insuficiente para que a sua utilização seja natural.

Tem ligação essa necessidade de reforçar a oralidade a introdução do bersolarismo no curriculum?

Bom, para nós outro dos retos é o desenho dum curriculum basco. Nesse sentido, incorporamos o bertsolarismo na primária porque dá registos mui amplos na oralidade, sim, mas ainda que favorece a melhora, não é avondo, e a pesar do volume de seguimento social que tem, não é massificante como outros âmbitos.

Os desportos, por exemplo?

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Koldo Tellitu | charo lopes

Si, para nós é importante procurar diversificar cenários. Procuramos dar cenários de uso, cenários de normalização, para além do processo educativo.
O deporte está a ser importante, tem um peso simbólico mui forte. Por exemplo, A ETB só retransmite os partidos de futebol em euskera, agora temos 5 equipas na primeira divisão e os cinco adestradores som euskalduns. Como anedota há pouco dous jogadores do Athletic de Bilbao, Mikel San José e Beñat Etxebarria, marcharam do equipo e a sua carta de despedida fizeram-a apenas em euskera. A raiz disso houve reações do género “oi! que muitos seguidores do club não sabem euskera!” Então fizemos uma campanha para lhes dar cobertura e apoio. Este gesto tem um elemento reivindicativo, quer dizer “eu sou euskaldum e vou-me despedir no meu idioma”, porque a nível de compreensão colhes um tradutor e fazes o que queiras; mas o facto de haver futebolistas fazendo esta aposta em defesa do euskera é uma referência social de primeira magnitude para adolescentes, é mui importante.
Aliás, a nossa referência futebolística número 1 era Iribar, o mito do Athletic. Ele fixo polo euskera um labor espetacular. Quando se reformou, fizeram-lhe uma homenagem, e daí a arrecadação íntegra destinou-a a financiar a elaboração dum dicionário euskera-castelhano do mundo do desporto.

O deporte está a ser importante, tem um peso simbólico mui forte. Por exemplo, A ETB só retransmite os partidos de futebol em euskera, agora temos 5 equipas na primeira divisão e os cinco adestradores som euskalduns.

Quais outros cenários destacarias?
Outros elementos culturais estão fortes: a música, segue mui viva. A banda desenhada, que não sendo mui popular, tem peso e qualidade: Este ano editaram-se trinta e duas, e de ilustradores e guionistas mui bons, algumas são verdadeiras obras de arte. A literatura segue o seu curso normal… Cumprem-nos outros cenários; temos que começar a gerar produtos mais que culturais, mediáticos, gente que trabalhe online e seja influente socialmente.

Tendes alguma experiência concreta nessa linha?
Bom, vimos de fazer um filme de animação, Lur eta Amets, com uma produção de 2 milhões de euros, sobre a história de Euskal Herria. Vai ser em vários capítulos, e ainda que não somos os japoneses, considero que é um produto mui bom. Foi um projeto mui emocionante, com um roteiro desenhado por historiadores, entendido como material educativo, mas com muitas ligações com outros âmbitos, este do audiovisual e outros como o bersolarismo, etc… Entendemos o nosso labor na pluridisciplinariedade, e isso é ganhar novos cenários para o euskera.

Vimos de fazer um filme de animação, Lur eta Amets, com uma produção de 2 milhos de euros, sobre a história de Euskal Herria. Foi um projeto mui emocionante, com um roteiro desenhado por historiadores, entendido como material educativo, mas com muitas ligações com outros âmbitos. Entendemos o nosso labor na pluridisciplinariedade, e isso é ganhar novos cenários para o euskera.

Nos discursos em defesa da língua na Galiza, teve e ainda tem peso a falta de prestígio social do idioma. Até que ponto tem importância a necessidade de prestigiar a língua no vosso caso?

Eu penso que a falta de prestígio social do euskera nos âmbitos urbanos está mui superado, não é um dos nossos problemas. Usa-se no registo culto com normalidade, no âmbito literário, musical, cultural, e a produção é mui alta até, para ser uma língua que falam 600.000 pessoas. Aí temos um bom nível, o problema é atrair a mais gente cara o euskera. O euskera está prestigiado, o problema é que tem um público mui pequeno. E a nível de discurso, há uma boa valorização social, mas penso que o problema é a apatia social, fazer o esforço de dar o salto a ser usuário da língua. Não apenas entender a situação, mas dizer “sim, tens razão, e vou-me comprometer com isso”.

Cumpre uma atitude militante, para ser falante?

Na medida em que não temos um estado próprio que garanta a utilização do idioma próprio como principal, entendo que sim. É um tema complicado e um argumento da direita espanhola contra nós, a politização da língua, pois é certo que o espectro social mais comprometido social e politicamente foi quem mais apostou em favor do euskera. E que vás fazer para desliga-lo? Efetivamente há muito trabalho militante, gente que colabora com as ikastolas, com os euskaltegis, com as korrikas, porque ainda é necessário, e são os movimentos populares o alicerce da boa saúde da língua.

As nossas línguas tem em comum estarem minorizadas no marco jurídico-político espanhol, mas a diferença do basco, o galego é uma língua internacional, com variantes em outros territórios. O movimento reintegracionista tem apostado nos últimos tempo por reivindicar um modelo binormativista para o galego que permitisse o uso da ortografia portuguesa, como ferramenta de defesa do idioma.

Sim, conheço as propostas do reintegracionismo, a mim parece-me mui interessante, ter outra grande língua que seja suporte. Nós não o temos, então esse tema não o podemos aproveitar.

Agora mesmo nós a nível institucional temos uma direção de política linguística ciente, com Mirén Dobarán, o que abre a possibilidade dum momento bonito. Tenho confiança relativa no institucional, mas se o povo, que é a base, está convencido, e as instituições põem o seu grau de areia, o cenário é perfeito.

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