A 6 de setembro comuniquei a minha renúncia à militância reintegracionista ativa. Já não sou mais «o Gerardo do PGL». Doravante sou um sócio da AGAL, reintegracionista até a medula, mas de militância passiva. Porque dou este passo precisamente agora, mais de uma década depois de iniciar a minha colaboração?
Os inícios
Após um par de anos de hesitação, tornei-me de prática firme reintegracionista no verão de 2003. Não foi por acaso que tomei a decisão poucos dias ou semanas depois da aprovação da mal chamada «normativa da concórdia».
Quando uma pessoa dá um passo de tal envergadura, em que se misturam tanto o entusiasmo quanto a insegurança, costuma ser um lugar-comum a procura de apoios, conhecer outras pessoas em situação semelhante.
Comecei a contactar outras pessoas reintegracionistas através de fóruns da Internet e dei em visitar com frequência sítios web reintegracionistas. Foi assim que conhecim o PGL, do qual me tornei usuário registado em outubro de 2003, mas só obtivem a confiança para começar a colaborar em maio de 2004 — e apenas de maneira esporádica!
Começos no PGL
O PGL era nessa altura a grande comunidade lusófona galega na Internet; organizada de maneira virtual, mas com vontade de transcender, de ir além do ecrã. Um grupo de utilizadores e utilizadoras ativas tivérom a feliz ideia de organizar um convívio a 11 de dezembro de 2004, engenhosamente batizado como «I Encontro Ludo-Reintegrata + Terapia do Copo». Guardo um prazer inapagável dessa data, embora os detalhes se encontrem soterrados na minha mente sob uma densa bruma.
Esse encontro ao vivo serviu-me para conhecer pessoas e vivências que me corroborárom em estar a transitar polo caminho certo. Ganhei em confiança e intensifiquei as minhas colaborações no âmbito reintegracionista, designadamente no PGL.
Devido a isso, em 2005 entrei a formar parte estável da equipa de redação do Portal, situação em que me mantivem onze anos, tempo no qual publiquei ao redor de 2.500 textos, entre notícias de atualidade, crónicas, entrevistas e alguma reportagem. É doado fazer as contas: aproximadamente uma colaboração cada dous dias, embora nas épocas de maior produção pudesse fazer três diárias.
Chegada à AGAL
Envolvido no PGL, achei ser um passo lógico enrolar-me na nave da AGAL. Com o início da precariedade laboral e, portanto, a obtenção dos primeiros rendimentos, em janeiro de 2006 preenchim a ficha de filiação e tornei-me um agálico de gema. Desta maneira, ainda, reforcei o meu compromisso com o reintegracionismo em geral e o PGL em particular.
Além do envolvimento no Portal, aos poucos fum-me interessando também polas dinâmicas associativas. Por compromisso com a associação e com o projeto que representava a candidatura Geraçom Spectrum, entrei a formar parte do Conselho da AGAL e repetiria mais tarde com a candidatura de continuidade Pola Ponte. Aí me mantivem entre 2009 e 2015, seis frutíferos anos em que figem quase de tudo; seis anos em que vivim intensamente e aprendim muitíssimo em todos os níveis.
Desgaste
A vida militante é empolgante. Na AGAL, além disso, é uma verdadeira escola ou, que digo, uma universidade! Na Universidade AGAL poderás aprender informática, contabilidade, funcionamento das Administrações, organização de eventos, gestão editorial, desenho gráfico… Poderás aprender quase qualquer cousa e, ainda, rodeando-te de magníficas pessoas.
Mas a vida militante, polo menos numa área de trabalho em que não existam suficientes mãos, pode acabar queimando.
No passado mês de março, o Conselho da AGAL lançou uma campanha para ativar sócias e sócios nas diferentes áreas de trabalho. Ainda que as respostas iniciais fôrom favoráveis, no caso do PGL não se concretizárom em compromissos estáveis de colaboração. A situação faz com que o trabalho se concentre sobre um exíguo número de pessoas e se tenham produzido pouco a pouco baixas devido ao lógico desgaste.
No meu caso particular, em janeiro reduzim ao mínimo o meu trabalho militante. Mesmo assim, estivem a receber um promédio de doze correios eletrónicos diários. Numa conta simples, isto significaria mais de quatro mil por ano e mais de quarenta mil na última década. Isto, insisto, fazendo o cálculo com os dados atuais, em que reduzim ao mínimo a minha colaboração… Dá-me uma volta só de imaginar o cômputo real e o tempo investido em atender as mensagens, em respondê-las… E em trabalhar polo nosso projeto coletivo.
Eu e as minhas circunstâncias
As circunstâncias das pessoas mudam. Em 2003 tinha apenas vinte anos e dispunha de maior resistência física e espaços livres na minha cabeça. Era ainda um estudante, capaz de enfrentar seis horas diárias de aulas, três ou quatro horas de estágio numa empresa, duas ou três horas de trabalho militante e ainda curtir com os amigos até altas horas. E todo isto, dormindo um promédio de quatro ou cinco horas diárias.
Hoje em dia tenho um emprego e também uma família, trabalho um promédio de oito ou nove horas diárias, o tempo de lazer tende a ser um bem cada vez mais escasso… E se durmo menos de sete horas não sou pessoa. A vida é-vos assim!
Com amigos/as podemos sempre
Os projetos coletivos fazem sentido polas pessoas que os sustêm. As cousas não surgem do nada: estão aí porque existia uma necessidade e houve gente disposta a trabalhar para preencher esse vazio.
Na última década dediquei-me com entusiasmo a ajudar a preencher essa necessidade; necessidade coletiva, mas que começava também por mim próprio. Dediquei-me com intensidade… Até me esvaziar, daí que agora precise um bom tempo para me regenerar. Mas, como nas artes cénicas, «o espetáculo tem de continuar». E eis que devam entrar novos atores e atrizes à cena.
No caso da AGAL como associação, o pessoal respondeu e eleição após eleição referendou um modelo em que se apostou na combinação entre trabalho militante —muito e de qualidade— e trabalho profissional que se cobriu mediante contratações ou externalizações. A chave do trabalho militante está em que muitas pessoas fagam poucas cousas, sem se queimarem, que vejam crescer as iniciativas ao tempo que reforçam os vínculos com o projeto comum. Por sua vez, o profissionalismo permite que poucas pessoas se dediquem com intensidade a um número concreto de tarefas, de maneira que possam ser desempenhadas de maneira mais eficiente e eficaz.
Ao meu ver, essa é a fórmula do êxito para um movimento como o nosso e para uma associação das dimensões da nossa. No caso do PGL, nucleador do movimento e com um poderoso papel simbólico, também. Se o pessoal assim o sentir, acho que está na hora de dar um passo para a frente. Como dizia o Conselho da AGAL na campanha de captação de apoios, «sós, talvez podamos, mas com amigos/as podemos sempre». O espetáculo tem de continuar!