Da política ‘de facto’ à política ‘de jure’

Partilhar

 

sapateiroHouve em tempos um sapateiro filósofo em Braga que se tornou famoso pelas suas expressões, uma de uso comum em Portugal que tem a ver com a ideia de igualdade, a ausência de discriminação ou de favoritismo, diz assim: “ou há moralidade ou comem todos”.

Toda uma declaração de princípios em que se pode incluir neste caso que “a bola está do vosso lado”, do lado de quem não carrega com esse problema, mas tampouco usufrui das vantagens de ver o mundo com óculos lusófonos. Falemos claro, o galego está a ir mal não está? Ok, nós estamos cá pra ajudar (olha que até nunca nos fomos a outro lugar!). E trazemos connosco um pendrive novinho em folha e cheiinho de propostas.

Falamos mais uma vez da proposta binormativa da AGAL, que em síntese procura a aceitação por parte do governo das duas normas gráficas em uso -a atual grafia autonómica e a atual grafia comum (ou portuguesa)-.

Vamos a isso!

Já de início parece conveniente mostrarmo-nos nem que seja por motivos éticos (sejamos ou não da parte discriminada atualmente) em favor de acabar com o atual apartheid que discrimina falantes por causa da grafia que usam para reproduzir a sua língua.

Para além de linguistas, profissionais ou apaixonadas pela língua (ou por ciências referidas a esta), a língua interessa a todas e usa-se, sim, utiliza-se, à margem de isto tudo para o assunto primordial, comunicar e expressar a própria identidade.

Cada um com a sua.

Escreve como queiras pois a língua é tua, como é minha.

É vossa, como é nossa.

Acabou a história dos “donos” privativos da língua.

Dos amos da verdade. Acabou o moralismo, a beatice.

Constantino is dead, Filgueira dead, Fraga also is dead. Acabou o franquismo-galeguismo.

Entendes?

Entedes. Também eu.

Atualmente as pessoas que usamos a grafia comum somos dentro do País um número significativo, muito ativo e culturalmente relevante, mas escrevemos duma maneira que oficialmente “não existe”.

Um grupo diverso mais interessante ainda se analisarmos quem são, por que escolhem fazer parte, e que modelo de língua estão a utilizar muitas das novas falantes.

A AGAL propõe unir forças galeguizadoras desde a aceitação da diversidade atual tornando oficial de jure aquilo que de facto já é uma realidade: que há duas grafias em uso e que isso não gera maiores dificuldades a falantes de um ou outro modelo…

Deixarmos atrás a negação oficial das dissidentes.

Aceitarmos a existência de um número nada desprezível de falantes que usamos a grafia portuguesa será um novo avanço em comum para todas, até (ou sobretudo) para as oficialistas.

Em que é que podemos ajudar?

A modo de exemplo iremos lembrar uma charge do grande Luis Da vila em 2016.

davila280916

Do ponto de vista oficialista os desenhos animados modernos que não saírem na TVG são factores que criam futuras falantes de castelhano.

Ora, perguntem a uma pessoa lusista!

De certeza que têm alguma por perto….. Ela contará-lhes que a Porquinha pepa, o Pocoyo, Ben & Holly os Pijamasks ou a Dora aventureira são “o melhor” de ter Internet em casa, são os “novos heróis” dos seus filhos. Com eles aprendem português, aprendem a falar melhor galego e sentem que a sua língua é “tão boa” como a castelhana.

Os desenhos animados em português são os nossos aliados.

pocoyo

pepa

Escrever podes escrever como queiras, isso é o que nós sempre defendemos, mas quando fores consumir em castelhano (porque não encontraste conteúdos ou produtos em galego…..) antes pergunta a um lusista! Um qualquer desses que tenhas por perto… Nós já temos postos os óculos lusófonos de tempo atrás, podemos ajudar naquilo que precisarem.

Esta proposta de aceitar as duas grafias, de reconhecimento legal dos gays da fala, das lesbianas da língua, poderá chegar a bom porto em qualquer momento, mas precisará da ajuda das pessoas que utilizades o galego autonómico, dos que sodes heteronormativos.

Sim, as nossas convivências são um facto mas não são ainda reconhecidas de jure. O matrimónio português de seres da mesma norma tem de ser também legal no nosso País.

Isto,….peraí, alguém falou em dificuldades legais?

Não encontro quais poderá trazer aceitar mais uma grafia, sobretudo quando olhamos para realidades como a atual edição do DOGA (Diário oficial da Galiza) em “português”, “galego” e ”castelhano” e verificamos que isto não levantou nem levanta qualquer problema para a administração, muito menos para as pessoas.

Voltemos ao início da nossa história.

Deixemos, para todo o sempre, bem fechada a moralidade franquista no baú da história.

É este um clamor sossegado: “Ou comemos todas ou há moralidade”.

igualdade

Máis de Luís F. Figueiroa