Desde há muitos anos, o dia 23 de abril celebra-se em muitos lugares o Dia do Livro. Data que não devem passar por alto nem os docentes nem os seus estabelecimentos de ensino, pois é muito importante conseguir entre os escolares de todos os níveis a paixão pela leitura e o amor pelos livros. E que olhem os mesmos como seus verdadeiros amigos, como realmente o são. Ao redor de data tão significativa, temos que organizar em aulas, escolas e liceus, todo o tipo de atividades lúdicas e artísticas, dinamizadoras da leitura de crianças e jovens. Para comentar tema tão apaixonante, escolhi desta vez a extensa filmografia que existe baseada nos contos e romances escritos por Robindronath Tagore. Eu, que levo desde o ano 1964 lendo sem parar Tagore, e também pesquisando sobre a sua vida, obra e pensamento, estou muito surpreendido pelo que estou a descobrir sobre a sua faceta cinematográfica, mais importante do que imaginava. Mesmo venho de inteirar-me, para redigir este depoimento, que chegou a dirigir algum filme, baseado, naturalmente, em obras literárias e musicais suas. Durante mais de 50 anos da minha vida configurei a que pode ser considerada melhor biblioteca do mundo dedicada à sua figura, com livros dele e sobre ele, dos seus colaboradores, tradutores e admiradores, em todas as línguas do planeta, incluído o esperanto.
Na edição décimo quinta do Festival de Cinema de Ourense, celebrada em 2010, dedicaram uma importante seção como homenagem à grande figura mundial de Tagore, aproveitando que o ano 2011 fora declarado como “Ano Tagore”, ao cumprirem-se no dia 7 de maio os 150 anos do seu nascimento, e no dia 7 de agosto os 70 anos da sua morte física. Tagore, a quem os tagoreanos consideramos como o “Leonardo da Vinci” do passado século, foi uma figura multifacetada e completíssima, embora em Ocidente, por ter levado o Nobel de Literatura em 1913, seja muito mais conhecido como literato. Que ainda hoje, de tanto que escreveu, e em todos os géneros literários, não está publicada a sua obra completa, nem no seu idioma materno bengali, denominado Bangla. Há uns poucos anos, em Compostela, encontrei-me com o meu amigo e diretor de Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, e este opinava (e eu concordo com ele) que os contos e relatos curtos de Tagore eram formosíssimos e, infelizmente pouco conhecidos. Escreveu mais de duzentos e os mais interessantes serviram para guiões cinematográficos de vários filmes indianos, nomeadamente bengalis, das duas Bengalas, a ocidental e a oriental ou Bangladesh. Dirigidos por grandes diretores como Sotyojit Ray, considerado como o melhor da história do cinema da Índia, aluno de Robindronath da Faculdade de Belas Artes de Santiniketon, e que levou o Óscar por toda a sua obra em 1992, Mrinal Sen, Rituporno Ghosh, Ojoy Kor e Topon Sinho, entre outros. Os que também tomaram, para outros dos seus estupendos filmes, como base cinematográfica, lindos romances tagoreanos, em que as mulheres são sempre as protagonistas fundamentais. Porque Tagore, que, igual que toda a sua família, e a de Ray, não era hindu, mas da sociorreligião denominada Brahmo-Somaj, foi um grande defensor da mulher e sempre esteve a favor da igualdade de género e da educação feminina. Os seus excelentes romances Gora, A casa e o mundo, A quatro vozes, Binodini, Uma areia no olho e O Naufrágio, foram levados ao cinema por diferentes autores. No caso deste último, escrito em 1906, foi levado à tela cinematográfica por distintos diretores, em numerosas ocasiões e versões, sendo sem dúvida a obra tagoreana mais refletida na arte cinematográfica. O que nada admira, porque para o meu gosto particular, é a melhor novela que li na minha vida, e que denuncia com grande sensibilidade, sem ferir ninguém, o erro que é que seja o pai que escolhe a noiva para o filho. Costume que ainda acontece hoje na Índia, por ser algo arraigado desde tempos milenares.
Em toda a cinematografia bengali, e também na de outros estados indianos, com outros idiomas, mais de oitenta filmes estão vinculados de uma ou de outra forma a Tagore. Bem por se basearem em textos, contos, romances, relatos, óperas-dramas e poemas seus. Bem porque a sua música acolhe muitos cantares tagoreanos, ou danças, interpretados na maior parte dos casos por Hemonto Mukhopadhyay, pois não devemos esquecer que Tagore foi um músico excecional, autor de letra e música de mais de duas mil quinhentas cantigas. Ou bem por serem filmes, a modo de documentários, sobre a sua vida e obra ou sobre as suas instituições educativas, especialmente as de Santiniketon. Também é muito curioso comprovar várias cousas na vida filmográfica de Tagore. Em primeiro lugar, que o primeiro filme baseado num relato seu foi rodado em 1923 por Noresh Chondro Mitro, com o título de Manbhanjan, que, naturalmente, era mudo. Em segundo lugar, que Tagore atuou como diretor cinematográfico, colaborando com Nitin Bose, em 1932, na realização de Notir Puja, uma das suas obras teatrais. Que em 1947 colaborou também no roteiro e adaptação cinematográfica da sua obra Giribala, realizada por Modhu Bose. Que A casa e o mundo, com o título de O mundo de Bimala, realizada por Ray, foi projetada a finais dos oitenta pelo nosso Cine Clube “Padre Feijóo”, e era distribuída pelo carvalhinhês Ismael González. Que um dos mais formosos documentários biográficos sobre Tagore foi realizado por Ray, com o apoio do governo indiano, no ano 1961, com motivo do centenário tagoreano. Finalmente, que no “Ano Tagore”, durante a década presente, foram realizados os seguintes filmes: Chokher Bali (Uma areia no olho), em 2003 por Rituporno Ghosh; Mon amour Shesher Kobita, em 2008 por Shubrojit Mitro; Choturongo (A quatro vozes), em 2009 por Sumon Mukhopadhyay; Laboratory, no mesmo ano por Raja Sen; The Sound of Silence, sobre o último período da vida de Tagore, por Ujjvwal Chatterji; a ópera-drama Shyama, que teve a sua estreia no nosso país no Festival de Ourense, realizada por Obhi Chatterjee, e interpretada por Kaberi Chatterjee; e Noukadubi (O Naufrágio), realizada em 2010 por Rituporno Ghosh. Na edição 2010 do festival cinematográfico ourensano foram projetados três filmes de S. Ray, sobre romances e contos de Tagore: Tin Konna (Três irmãs, 1961), Charulota (A mulher solitária ou O ninho roto, 1964) e Ghore Baire (O mundo de Bimala, 1984), esta última a cores. Espero e desejo que os amantes do bom cinema gostem dos filmes baseados em relatos tagoreanos.
FILMOGRAFIA TAGOREANA:
A. Filmes baseados em contos, romances e dramas-danças tagoreanos:
1. T.O.: Manbhonjon (Apaziguamento ou Resistência rota).
Diretor: Noresh Chondro Mitro (Bengala-Índia, 1923, a preto e branco, mudo).
2. T.O.: Giribala (Manbhonjon / Apaziguamento ou Resistência rota).
Diretor: Modhu Bose (Bengala-Índia, 1929, a preto e branco, falado em Bangla).
3. T.O.: Notir Puja (The dancing girl´s worship / A dança de adoração das meninas).
Diretor: Robindronath Tagore (Bengala-Índia, 1932, a preto e branco, falado em Bangla).
4. T.O.: Noukadubi (O naufrágio).
Diretor: Noresh Chondro Mitro (Bengala-Índia, 1932, a preto e branco, falado em Bangla).
5. T.O.: Gora (Inquietação).
Diretor: Noresh Chondro Mitro (Bengala-Índia, 1938, 104 min., a preto e branco, falado em Bangla).
6. T.O.: Milan (Union / União). Filme baseado no romance Noukadubi (O naufrágio).
Diretor: Nitin Bose (Índia, 1946, 120 min., a preto e branco, falado em Hindi).
7. T.O.: Giribala (Manbhonjon / Apaziguamento ou Resistência rota).
Diretor: Modhu Bose (Índia, 1947, a preto e branco, falado em Hindi).
8. T.O.: Kabuliwala (O vendedor ambulante de Kabul).
Diretor: Topon Sinho (Bengala-Índia, 1957, 116 min., a preto e branco, falado em Bangla).
9. T.O.: Kshudito Pashan (As pedras famintas).
Diretor: Topon Sinho (Bengala-Índia, 1960, 108 min., a preto e branco, falado em Bangla).
10. T.O.: Ghunghat (Noukadubi / O naufrágio).
Diretor: Ramanand Sagar (Índia, 1960, a preto e branco, falado em Hindi).
11. T.O.: Kabuliwala (O vendedor ambulante de Kabul).
Diretor: Hemen Gupto (Índia, 1961, 134 min., a preto e branco, falado em Hindi).
12. T.O.: Teen Konya (Três irmãs).
Diretor: Sotyojit Ray (Bengala-Índia, 1961, 173 min., a preto e branco, falado em Bangla).
Nota: Inclui os contos de Tagore: Postmastar (O chefe de correios), Monihara (As joias perdidas) e Somapti (A conclusão).
13. T.O.: Charulota (O ninho roto).
Diretor: Sotyojit Ray (Bengala-Índia, 1964, 117 min., a preto e branco, falado em Bangla).
Nota: Baseado no conto de Tagore Noshtonir (O ninho roto).
14. T.O.: Otithi (O convidado).
Diretor: Topon Sinho (Bengala-Índia, 1966, a preto e branco, falado em Bangla).
15. T.O.: Uphaar (Regalo). Baseado no conto Somapti (A conclusão).
Diretor: Sudhendu Roy (Índia, 1971, a preto e branco, falado em Bangla).
16. T.O.: Strir Potro (Carta da Esposa).
Diretor: Purnendu Patri (Bengala-Índia, 1972, 89 min., a cores, falado em Bangla).
17. T.O.: Noukadubi (O naufrágio).
Diretor: Ojoy Kor (Bengala-Índia, 1979, a cores, falado em Bangla).
19. T.O.: Ghore-Baire (O mundo de Bimala ou A casa e o mundo).
Diretor: Sotyojit Ray (Bengala-Índia, 1984, 140 min., a cores, falado em Bangla).
19. T.O.: Lekin (As pedras famintas). Baseado no conto Kshudhito Pashan (As pedras famintas).
Diretor: Gulzar (Índia, 1991, 171 min., a cores, falado em Hindi).
20. T.O.:Char Adhyay (Quatro histórias).
Diretor: Kumar Shahani ((Índia, 1997, 110 min., a cores, falado em Hindi).
21. T.O.:Chokher bali (Uma areia no olho).
Diretor: Rituporno Ghosh (Bengala-Índia, 2003, 167 min., a cores, falado em Bangla).
22. T.O.:Shasti (Punição ou Castigo).
Diretor: Chashi Nazrul Islam (Bangladesh, 2004, 143 min., a cores, falado em Bangla).
23. T.O.:Shuva (Shuvashini).
Diretor: Chashi Nazrul Islam (Bangladesh, 2006, 120 min., a cores, falado em Bangla).
24. T.O.:Choturongo (A quatro vozes).
Diretor: Sumon Mukherjee (Bengala-Índia, 2008, 125 min., a cores, falado em Bangla).
25. T.O.:Son asur: Shexer kobita rivisithed (Meu amor: últimos poemas revistos)
Diretor: Subhrojit Mitro (Bengala-Índia, 2008, 135 min., a cores, falado em Bangla).
26. T.O.:Shyama.
Diretor: Obhi Chatterjee (Reino Unido, 2008, 90 min., a cores, falado e cantado em Bangla)
Nota: Dança-drama-ópera de Tagore, interpretada por Kaberi Chatterjee. Filme legendado em inglês e em castelhano.
27. T.O.:Laboretori (Laboratory / Laboratório).
Diretor: Raja Sen (Bengala-Índia, 2010, a cores, falado em Bangla).
28. T.O.:Noukadubi (O naufrágio).
Diretor: Rituporno Ghosh (Bengala-Índia, 2011, 126 min., a cores, falado em Bangla).
Nota: Existe uma versão em idioma Hindi sob o título de Kashmakash.
29.-T.O.: Chondolika.
Diretor: Obhi Chatterjee (Reino Unido, 2011, 73 min., a cores, falado e cantado em Bangla).
Nota: Dança-drama-ópera de Tagore. Filme legendado em inglês.
30.-T.O.: Chitrangoda.
Diretor: Obhi Chatterjee (Reino Unido, 2012, 96 min., a cores, falado e cantado em Bangla).
Nota: Dança-drama-ópera de Tagore. Filme legendado em inglês.
31. T.O.:Tasher Desh (O país das cartas).
Diretor: Q/ Surojit Sen (Bengala-Índia, 2012, 114 min., a cores, falado em Bangla).
32. T.O.:Elar Char Adhyay (Quatro histórias).
Diretor: Bappadityo Bondopadhyay (Bengala-Índia, 2012, a cores, falado em Bangla).
33. T.O.:Charulota (O ninho roto).
Diretor: Ognidev Chatterjee (Bengala-Índia, 2012, a cores, falado em Bangla).
Nota: Baseado no conto de Tagore Noshtonir (O ninho roto).
34. T.O.:Dekha, Na-Dekhay (Olhar, não olhar).
Diretor: Ornob Ghoshal (Bengala-Índia, 2013, 165 min., a cores, falado em Bangla).
35. T.O.:Jogajog (Entrar em contacto).
Diretor: Sekhar Das (Bengala-Índia, 2015, a cores, falado em Bangla).
36.-T.O.: Maloncho (Baseado no romance de Tagore do mesmo título).
Diretor: Mahbuba Islam Sumi (Bangladesh-Emirates, 2014, 126 min., a cores, falado em Bangla e
legendado em inglês).
B. Filmes documentários e Telefilmes para TV :
1. T.O.: Rabindranath Tagore (Documentário).
Diretor: Sotyojit Ray (Índia, 1961, 54 min., a preto e branco).
2. T.O.: Autim Ratri (A noite suprema)(Telefilme).
Diretor: Raja Sen (Bengala-Índia, 1993, a cores, falado em Bangla).
3. T.O.: Manbhanjan (Apaziguamento ou Resistência rota)(Telefilme).
Diretor: Raja Sen (Bengala-Índia, 2003, a cores, falado em Bangla).
4. T.O.: The Sound of Silence (O som do silêncio)(Telefilme).
Diretor: Ujjvwal Chatterji (Bengala-Índia, 2009, a cores).
Nota: O filme recolhe o último período da vida de Robindronath Tagore.
5. T.O.: Gora (Inquietação)(Telefilme).
Diretor: Somnath Sen (Bengala-Índia, 2012, a cores, falado em Bangla).
6.-T.O.: Tagore´s Paintings (Pinturas de Tagore). Documentário.
Diretor: Enrique Nicanor (Reino Unido, 2012, 60 min., a cores, falado em inglês).
Notas:
- Com o título de Balidaan (Sacrifice / Sacrifício), Nanand Bhojai e Naval Gandhi realizaram um filme em idioma Hindi no ano de 1927, baseado na obra de Tagore.
- Com o título de “Bhikharini” (A Hindi Solo Play from Tagore / A mendiga empregada), em 2012 foi realizado um filme baseado num conto tagoreano. Dramatizado e apresentado por Vibha
- A listagem anterior não é exaustiva, pois podem existir mais filmes baseados em obras de Tagore. Muitos dos filmes resenhados podem ser descarregados da internet e alguns encontram-se no YouTube.
O PRAZER DE LER TAGORE (1861-1941):
No dia 7 de agosto de 1941 falecia Robindronath Tagore, depois de ser trasladado desde Santiniketon à capital de Bengala, Kolkata (nome atual de Calcutá). As suas cinzas foram espargidas sobre as sagradas águas do rio Hugli, em cuja ribeira se conserva um monumento para recordar este feito. Por isso em 2011 se celebrou o 70 aniversário de sua morte, e a sete de maio do mesmo ano se comemoravam os 150 anos do seu nascimento, declarado tal ano em todo o mundo como “Ano de Tagore”.
Robindronath foi um bengali com uma personalidade única e extraordinária de categoria mundial. Cultivou infinidade de temas: foi um grande músico, um grande pintor e um educador excecional, criador da primeira escola nova do Oriente em 1901. Também foi um magnífico jornalista, reformador social, sociólogo, peregrino por todo o mundo, filósofo, e um literato prolífico, merecedor do Prémio Nobel de Literatura, que lhe concedeu a Academia Sueca em 1913. Escreveu tanto que a dia de hoje ainda não estão publicadas as obras completas no seu idioma materno, o bengali, chamado Bangla. Cultivou todos os géneros literários, destacando em todos eles: romances, contos, aforismos, epigramas, teatro, óperas-dramas, ensaios de todo o tipo de temas, canções com a sua música e poesia. Por esta é muito apreciado e na Índia, quando os indianos mencionam a palavra “Kobi”, que significa “Poeta”, todos pensam em Tagore como o maior poeta e o mais sublime. Igual é conhecido como “Gurudev”, o mestre de mestres. E muitos unem os dous termos denominando-o “Kobiguru”. O seu amigo Gandhi chamava-lhe “Sentinela da Índia”.
Muitos de meus amigos e leitores solicitam-me a miúdo orientações bibliográficas sobre livros tagoreanos que possa recomendar-lhes para ler. Como escreveu em todos os géneros, o primeiro que lhes peço a meus interlocutores é que me digam de que género gostam mais, e, em concreto, romance, conto, teatro ou poesia, para poder orientá-los e ter em conta o que há publicado em galego-português. Muitos títulos podem conseguir-se usando um motor de pesquisa de livros antigos pela internet como é Iberlivro.
Pequeno guia de leitura de Robindronath Tagore:
Romances: Ainda há vários sem traduzir, inclusive ao inglês. Para mim os quatro mais formosos e importantes, em que as mulheres são as personagens mais destacadas, são: Gora, de que há edição em galego-português com o título de Inquietação, e tradução de Alexandre Fonseca; Noukadubi, com duas versões em galego-português, uma por Telo de Mascarenhas com o título de O naufrágio, e outra brasileira de Gasparino Damata, sob o título de Dois amores e um rio; Ghore Baire, intitulado A casa e o Mundo e do que existem várias edições e diferentes tradutores (Mascarenhas, Fernanda Pinto, Wanda Ramos e Raul Xavier); Choturongo, com título galego de As quatro vozes e tradução de Mascarenhas a partir do idioma original Bangla. Deste romance há outra versão brasileira intitulada Çaturanga, belamente ilustrada e feita pela grande poetisa Cecília Meireles. Como é natural, os romances citados, contextualizam-se na Índia, e mais em concreto em Bengala, e para entendê-los de forma mais completa e profunda nada melhor que conhecer a cultura, as religiões e costumes da Índia, ademais da história do país na sua luta pela independência e no momento em que Tagore as escreveu. Algumas, tal como antes resenhei, foram levadas ao cinema com bastante acerto.
Contos: Tagore escreveu infinidade de contos, todos eles muito lindos. De eles só uma pequena quantidade foram traduzidos para o galego-português. Com tradução de Telo de Mascarenhas publicou-se em Portugal o conto Mashi e A chave do enigma e outros contos, e no Brasil por outros tradutores, como Cecília Meireles, Leonardo Froés e Aloísio Costa, Mashi, A noite de núpcias e O casamento e outros contos.
Autobiografia: São muito formosas as memórias escritas quando Tagore contava com cinquenta anos de idade. No Brasil, Gulnara Lobato traduziu o livro original bengali de lembranças tagoreanas Jibonsmriti, sob o nome de Memórias. Existe outro livro autobiográfico de Tagore que espera ser traduzido para o nosso idioma. Assim como outro recente coordenado pela minha amiga bengali Uma Das Gupto, intitulado Palavra por palavra, do que existe edição inglesa e castelhana.
Aforismos: Robindronath escreveu cinco livros de aforismos. O mais famoso, escrito por Tagore na sua visita ao Japão com o título de Stray Birds, no Brasil, com o nome de Pássaros perdidos, foi traduzido pelo poeta Abgar Renault. Pelo seu grande sucesso, do mesmo existem muitas edições. Infelizmente, outro seu famoso livro de aforismos, Ionakiguli (Vaga-lumes ou Pirilampos), ainda não foi vertido para a nossa língua.
Poesia: Embora Tagore seja reconhecido especialmente pelo seu famoso livro Guitánlholi (Oferenda lírica), tiveram maior sucesso os seus livros A lua crescente e O jardineiro. O primeiro acolhe formosos poemas sobre a criança e sua relação com a mãe, e o segundo é uma antologia de poemas de amor, com uma grande influência nos poetas da geração do 27, em Neruda, nos brasileiros Cecília Meireles, Abgar Renault e Guilherme de Almeida (este foi membro do Seminário de Estudos Galegos), e no galego Avilês de Taramancos. No Brasil, com tradução dos três poetas brasileiros citados, em belas edições, foram publicados Oferenda lírica, O jardineiro, A lua crescente, A fugitiva, A colheita e Purobi. Com tradução de José Agostinho Baptista, a editorial de Lisboa Assírio-Alvim, publicou em 2004 Poesia, uma antologia poética de Tagore. Em São Paulo, com tradução de Ivo Storniolo, publicou-se em 2003 outra antologia poética tagoreana com o título de Poesia mística (Lírica breve).
Teatro: A maior parte das obras teatrais, e as suas famosas óperas-dramas, ainda não estão traduzidas ao nosso idioma. Tagore escreveu-as para serem representadas na sua escola nova de Santiniketon (Morada de Paz), e especialmente com motivo das festas populares do ciclo anual que ali tem lugar. A única edição realizada na Galiza, com tradução um bocadinho requintada de Júlio Cuns Lousa, em 1976, e por edições d’O Castro-Sada, foi a das formosas obras teatrais: O carteiro do rei e Malini. No Brasil Cecília Meireles, grande tagoreana, fez em 1962 uma magnífica tradução de O carteiro do rei, para ser representada e comemorar no seu país o centenário do nascimento de Tagore. Já em 1914, em Goa, José Ferreira Martíns publicou no nosso idioma a peça teatral tagoreana Chitra.
Ensaio: Tagore escreveu numerosíssimos ensaios e artigos sobre todo o tipo de temas e dos mais variados. E especialmente relacionados com a educação e a cultura. Desgraçadamente o seu livro Na procura do homem universal, editado em vários idiomas com motivo do seu centenário, não tem ainda edição na nossa língua. Uma equipa de especialistas escolheu aqueles artigos de Robindronath que consideravam mais valiosos e interessantes para o pensamento mundial, e foram recolhidos num volume. Outros livros de ensaios em edição brasileira, foram O significado da vida, A religião do homem, Sadhana ou o caminho da realização e O Cristo. Nesta altura estou a preparar a que vai ser a primeira edição no nosso idioma dos artigos educativos de Tagore, muito dispersos em infinidade de publicações periódicas e a maioria em idioma Bangla.
Correspondência: Milhares e milhares de cartas de Tagore, e enviadas a Tagore por infinidade de pessoas de todo o mundo, foram digitalizadas no seu dia e conservam-se no Museu Tagore de Santiniketon. Quase toda a sua correspondência encontra-se inédita. Na nossa língua não existe livro algum sobre esta interessante matéria. Seria importante preparar a edição dum livro, com os comentários correspondentes, que recolhesse as cartas de Tagore com Adeodato Barreto e Gastom Figueira, e as muitas que ao longo do tempo recebeu do Brasil, Portugal e outros países da lusofonia.
Só me resta dizer que Vicente Risco traduziu poemas de Tagore para o galego, que foram publicados no seu dia em A Nosa Terra e na revista Nós, e que seria interessante recuperar. Assim como os poemas que lhe dedicaram a Robindronath as tagoreanas Pura e Dora Vázquez. E os artigos sobre Tagore que, ademais de Risco, publicaram em diversos jornais e revistas os galegos Del Riego, Biqueira, Borobó, Joaquina Galhego, Avilês de Taramancos, Vilar Ponte e quem assina. De todos os livros citados anteriormente existem exemplares e cópias na biblioteca Tagore do autor do presente depoimento.
TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:
- Organizar um ciclo cinematográfico com 7 filmes baseados em contos de R. Tagore. Escolher entre os que aparecem na lista filmográfica anterior. Muitos estão no YouTube e outros podem ser descarregados sem dificuldade da internet. Depois, utilizando a técnica do Cinema-fórum, analisar a forma ou a linguagem cinematográfica empregada pelos diferentes diretores, e também o fundo e a psicologia das personagens de cada um dos filmes vistos.
- Organizar nos estabelecimentos de ensino uma amostra ao redor da figura de Tagore como literato e como educador. Na mesma devem aparecer fotos, poemas, capas dos seus livros, capas dos DVDs de filmes baseados em contos e romances seus, muitos dos seus aforismos (dos livros Pássaros perdidos e Vaga-lumes), retalhos de imprensa e textos e comentários dos estudantes. Com todo o material recolhido, muito do qual pode encontrar-se na internet, podemos elaborar uma monografia ao redor de Tagore como literato e educador e como autor de muitas obras e contos levados ao cinema. Esta monografia, ao estilo das BT freinetianas, pode ser depois policopiada e distribuída.
- Tomando como base os contos, poemários e romances de R. Tagore, podem organizar-se vários Livro-fórum, em que participem os alunos e os docentes. E celebrar assim o Dia do Livro. Pode tomar-se como exemplo o meu seguinte Plano:
- Educação infantil: O livro de poemas para crianças (e não só) A lua crescente.
- Educação primária: Alguns dos contos, e dentre eles, Mashi, A chave do enigma, A irmã maior, As pedras famintas, Kabuliwala ou O chefe dos correios. Também o livro teatral O carteiro do rei, que aliás pode ser encenado pelos estudantes.
- E.S.O.: Algum romance tagoreano, especialmente O naufrágio, mas também Gora, A casa e o mundo e As quatro vozes. Assim mesmo, o livro de poemas de amor O jardineiro.
- Educação secundária / Bacharelato: Ademais do indicado no ponto 3 anterior, pode escolher-se o livro de aforismos Pássaros perdidos, o seu livro autobiográfico Memórias, os seus livros de temática social Nacionalismo e O significado da vida, ou o de temática socioeducativa Na procura do homem universal.
Nota:
Nesta minha série de As Aulas no Cinema dediquei outros depoimentos a Robindronath Tagore, que podem ser consultados entrando em: