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As editoras da BD sobre Carvalho: “A resposta está a ser espetacular, muito para além das nossas expetativas”

capa-bd-carvalhoA BD “Ricardo Carvalho Calero. Coraçom de Terra” continua a sua exitosa campanha de crowdfunding disposta a marcar um fito na celebraçom do Dia das Letras. Com mais de 5.000 euros arrecadados, os editores do projecto, Valentim Fagim de Através Editora e Manel Cráneo, de Demo Editorial falam sobre a origem e o desenvolvimento.

 

Como nasceu o projecto de lançar umha Banda Desenhada sobre Carvalho Calero? Semelha que neste caso a editora tivo um peso fundamental 

Valentim: O projeto surgiu de uma sugestão de Eduardo Maragoto, presidente da AGAL. A equação era BD + Carvalho Calero, e o resultado da mesma era simples = Xico Paradelo e Germám Ermida. São ambos amantes da BD, ambos sócios da AGAL, ambos com o vírus do entusiasmo, esse doença maravilhosa que nos facilita acordar.

De resto, com Xico Paradelo já trabalhara com a reedição-homenagem da História da Língua em Banda Desenhada. Numa primeira fase tivemos a clássica tormenta de ideias e afinal triunfou o esquema base de pegar em vários momentos da vida do autor para ilustrar a personalidade, não podia ser mais verdadeiro, de uma personagem de que devíamos saber muito mais.

Porque a aposta pola BD para abordar a RCC?

Valentim: Os autores e autoras homenageadas no dia das letras costumam ser alvo de produção textual e visual em diferentes formatos: livros, documentários, música… Na produção textual o habitual é o ensaio, mais ou menos sisudo, mas afinal ensaio, um género que tem muitos adeptos, eu entre os primeiros, mas que não chega a todas as pessoas. A Banda Desenhada alcança públicos novos, por vezes diferentes do ensaio. Com Ricardo Carvalho Calero. Coraçom de Terra, queríamos, e queremos, que haja cada menos gente que fique sem conhecer uma personagem invulgar que deveria ocupar um lugar central na referencialidade galeguista. Por justiça, histórica e ahistórica.

Cráneo: A BD é a linguagem literária do presente, um meio ágil e ameno para nos achegar, com conteúdos complexos, a um público geral que cada dia está mais perto da comunicação visual devido às novas tecnologias. Somos leitores de imagens mais do que nunca. A BD exige um esforço também a nível de guião para simplificar conceitos complexos e fazê-los mais digeríveis e próximos e o resultado é tangível.

Valentim Fagim: “A Banda Desenhada alcança públicos novos, por vezes diferentes do ensaio. Com Ricardo Carvalho Calero. Coraçom de Terra, queríamos, e queremos, que haja cada menos gente que fique sem conhecer uma personagem invulgar que deveria ocupar um lugar central na referencialidade galeguista. Por justiça, histórica e ahistórica.”

 

Porque esta aliança entra duas editoras? Que achega cada umha?

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Valentim Fagim, de Através Editora

Valentim: A Através é uma editora associativa, e digo isto com humildade e orgulho em doses iguais. A Através é uma editora vinculada à estratégia luso-brasileira para o galego e Carvalho Calero foi um dos promotores, o grande promotor, de facto, esta forma de ver e de viver a nossa língua como uma realidade internacional e não regional. Conhecemos, muito bem, a personagem. Depois, o público da AGAL, a associação que promove a editora, é público para este projeto. Ora, a BD requer um trabalho editorial diferente dos livros e essa foi a razão pola qual procuramos uma parceria fidedigna… Demo editorial. O nosso grau de satisfação está a ser muito alto.

Cráneo: Penso que partilhamos objetivos, somos dois selos um bocado “utópicos”, talvez românticos, acreditamos na nossa causa  e isso dá muita força para empreender desafios como este.

Em Demo, chegou-nos a proposta da Através para estudar a possibilidade de uma co-edição. Desde o primeiro instante, o projecto encaixava 100% com a linha editorial que temos, fazer banda desenhada de produção própria em língua galega e tocando sempre que possível a nossa história.

Também tínhamos bastante claro que com que ia contribuir cada editora. No caso de Demo, uma boa direção de arte e toda a experiência que temos no mercado especializado da BD, um mercado com muitas particularidades e distante de outros produtos literários devido à sua linguagem própria.

Através tinha um diamante em bruto e o trabalho de Demo penso que era poli-lo, dar-lhe a melhor força aproveitando a essência pura da proposta do melhor modo. Penso que com esta aliança estamos a criar uma peça de colecção. Como editor, estarei sempre agradecido à AGAL por terem pensado no nosso selo para sermos parceiros de viagem nesta aventura.

Cráneo: “Através tinha um diamante em bruto e o trabalho de Demo penso que era poli-lo, dar-lhe a melhor força aproveitando a essência pura da proposta do melhor modo. Penso que com esta aliança estamos a criar uma peça de colecção. Como editor, estarei sempre agradecido à AGAL por terem pensado no nosso selo para sermos parceiros de viagem nesta aventura.”

 

Quais fôrom os principais desafios deste projeto?

Manel Cráneo, de Demo Editorial
Manel Cráneo, de Demo Editorial

Cráneo: O projecto tem muitos desafios logísticos e criativos. Está o de transferir a figura de Carvalho Calero para um formato atual e ágil, procurar o grafismo adequado, mostrar a sua visão da língua de um modo ameno ou procurar novos públicos para a leitura do galego internacional. Depois tivemos que fazer muitas contas para conseguir uma edição de alta qualidade em grande formato, ou procurar a fórmula mais ajeitada dentro das múltiplas possibilidades narrativas e estéticas que oferece a BD. Temos uma equipa de coordenação e produção maior do habitual em qualquer projecto de BD galega. Penso que é uma super produção dentro do nosso pequeno e modesto mercado polo que é meritório que este projeto parta de dois selos modestos, não somos uma grande editora nem pertencemos a multinacionais polo que o esforço é maior.

 

Valentim: Pessoalmente, conseguir um bom roteiro, uma boa história e Xico Paradelo, Germám Ermida e Irene Veiga deram sobradamente conta do recado. Outro desafio era que quem lesse a BD tivesse uma visão polifónica da escrita do galego. Há uma vontade institucional por apagar essa polifonia mas esta é real, felizmente cada vez mais real, e nesta obra vamos dançar com textos desde os anos 30 até à atualidade. Ainda mais, que ficasse um preço acessível e vamos ter uma BD de mais de cem páginas com capa dura por 20 euros para um livro que fará parte da nossa biblioteca mais pessoal, que leremos mais de uma vez.

Cráneo: “Temos uma equipa de coordenação e produção maior do habitual em qualquer projecto de BD galega. Penso que é uma super produção dentro do nosso pequeno e modesto mercado.”

 

Da perspetiva dos leitores de BD, que vam atopar na obra? 

Cráneo: Penso que muitos que a leiam por curiosidade descobrirão uma personagem básica no debate da língua galega que do meu ponto de vista particular, foi bastante castigado por alguns e muito esquecido polas instituições. Passear por diante da sua casa em Ferrol, é uma metáfora viva do que se fijo na Galiza com Carvalho Calero, deixá-lo abandonado até ruir. O que conseguem Iván Suárez e Xico Paradelo neste romance gráfico é fazê-lo nascer de novo, algo de agradecer.

E que vai achegar aos seguidores de Carvalho Calero?

Valentim: O ser humano. Eu foi o que senti ao lê-la. Conhecemos o autor da História da Literatura Galega, de Scórpio, da Gramática Elemental del Gallego Común, a figura histórica, o intelectual, o filólogo mas escapa-nos o ser que sente e padece, que sonha e tem pesadelos, que sobe e desce, que domina os passos que dá e que vai numa escada rolante dirigida por outros, por vezes, “amigos”. Tudo isso está na BD.

Valentim: “A BD Achega o Carvalho Calero mais humano, conhecemos o autor da História da Literatura Galega, de Scórpio, da Gramática Elemental del Gallego Común, a figura histórica, o intelectual, o filólogo mas escapa-nos o ser que sente e padece, que sonha e tem pesadelos, que sobe e desce.”

Cráneo: Penso que uma visão muito diferente ao que estão acostumados, com uma narrativa muito rompedora e uma proposta gráfica que transforma Carvalho Calero em personagem literária e permite-nos entrar, em cheio, no seu pensamento de um modo muito empático. Um reto que Xico e Iván conseguiram superar com total solvência.

 

Como está a ser a receçom do projeto?

Cráneo: Estamos encantados da excelente acolhida e receção da campanha de Verkami, graças a isto e a outras colaborações que estamos a articular com diferentes entidades e instituições poderemos ver o livro editado num formato maior do que pensáramos inicialmente, com maior qualidade de impressão.

Estou convencido de que este livro será um produto de colecionismo e que cumprirá o seu principal objetivo: dar à figura de Calero uma nova vida e levá-la a novos públicos.

Valentim: Tivemos muitas dúvidas se era o melhor momento para fazer um financiamento coletivo, até se estas eram as datas certas para editar mas a resposta do público galego, do ativista, do amante da BD, do galeguista, está a ser espetacular, muito para além das nossas expetativas, e somos pessoas otimistas.

 

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