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Ermitas Valencia : “Livros que estão muito demandados e que estão esgotados em galego, temó-los em português, e a gente leva-os igual”

Livraria Suévia abre em dezembro do ano 2013. A sua proprietária, Ermitas Valencia Romar, abriu as portas da sua livraria por primeira vez o dia 17 deste mês, lembrando a data na que o Marechal Pardo de Cela foi ajustiçado pelos Reis Católicos, no ano 1483.

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Situada no bairro corunhês de Agra de Orzão, é um dos poucos mas fortes núcleos de cultura portuguesa na cidade da Corunha. A livraria tem uma grande quantidade de livros em português (tanto publicados na Galiza como nos demais países lusófonos), muitos deles orientados para as crianças, algo difícil de encontrar Aquém-Minho.

A livraria também tem filmes e discos de música nas diferentes falas do português. Além disso, o estabelecimento foi também lugar de apresentação de numerosos livros escritos nas diferentes grafias reintegracionistas. Por tudo isto, considero que Livraria Suévia é, talvez, um dos poucos lugares que ajuda como pode à normalização do nosso idioma numa cidade que é, agora mesmo, um dos principais núcleos do espanholismo na Galiza.

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Como reage a gente quando vê livraria com “v”?

A maioria da gente nem repara, e logo sim, há alguma que quando entra, sim que pergunta “porque está escrito assim?”. E muita, como já sabem que temos livros em português, que essa é a razão, mas não supõe nenhum tipo de [problema], e o público habitual que quizá é o que mais lhe deveria de desconcertar, nem o comenta.

É dizer, que não perdeste nem ganhaste nenhum cliente por usar uma grafia diferente?

Não.

Pelas perguntas que te fazem os teus clientes, qual consideras que é a imagem da literatura portuguesa, e do resto das literaturas lusófonas na Galiza?

Há muito desconhecimento, pelo pouco acesso que há a muitos títulos. A maioria dos clientes e das clientas que temos são estudantes, muitos da Escola de Idiomas e do Centro de Línguas da UDC guiado-se mais pela facilidade que lhes supõe. Logo há outro tipo de público, quizá mais adulto, que procura títulos em concreto e também para fazer uma encomenda. Sobre todo cada vez mais há gente que foi estudante da Escola de Idiomas e que quando quer ler um “best-seller” ou um livro atual recém saído, vem por aqui para comprá-lo em português, porque sabe que em galego não vai sair nunca e não o quer ler em espanhol.

Falando do acesso, como qualificas a distribuição de literatura portuguesa na Galiza?

Bem, nós agora mesmo não temos problema nenhum para aceder a qualquer título de qualquer editorial. Evidentemente, temos muitas facilidades com qualquer título em galego, e ainda muitas mais com livros em espanhol, tanto no acesso, como para ter depósitos. Quizá o mais fácil seja termos só livro em espanhol ou em galego. O livro português não é igual, mas agora mesmo temos facilidade para dispor de qualquer título. O único problema é com o livro editado no Brasil, que é praticamente impossível, mas com o livro em Portugal não há problema nenhum.

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Consideras que há maneira de promover o livro em português?

Falo do que há na cidade da Corunha. Não há quase apresentações de livros ou visitas de autores portugueses ou da lusofonia. É uma pena, porque estamos a perder um montão de oportunidades, muitas vezes esses autores visitam outras cidades, e aqui passam de largo. Para o público geral, além de que podam visitar uma faculdade, não estão acessíveis. O Concelho da Corunha e outras instituições gastam dinheiro em trazer autores de Madrid, e não sei porque não se gasta em trazê-los de Lisboa. Em todo caso de falar de trazer autores do estrangeiro, há mais proximidade linguística que com os que estão em Madrid.

Achas que faz falta uma maior consciencialização social sobre a importância da língua portuguesa?

Claro, igual que sobre a língua galega. A dia de hoje há muita mais da que havia há anos, e das portas que abre a língua portuguesa, sobretudo para as galegas, que temos mais facilidade para aprender, mudando simplesmente a grafia do que escrevemos. Mas, desde o ponto de vista institucional, a promoção é zero, e limita-se a entidades sociais que o fazem por voluntarismo. Não há uma promoção por parte da Xunta. Sim que há um trabalho muito bom em centros de ensino, sobretudo agora na ESO, o professorado de galego e português está tentando, por exemplo, fazer clubes de leitura em português, que é algo muito interessante porque facilita o acesso e também mostra a facilidade que temos para lermos uma língua como o português, mas são casos ilhados. Eu conheço-os porque muitos são clientes da livraria, mas é uma píngoa de água num mar enorme. Não se pode dizer que vaiamos conseguir muito porque a maioria da gente é totalmente impermeável a esse tema.

Que papel achas que deveriam ter as instituições, a Xunta e os Concelhos no mercado do livro português?

Todo, porque hoje não tem nenhum. Deve de ser um dos poucos setores económicos que não tem nenhum tipo de plano estratégico. Em qualquer país civilizado as instituições públicas têm um papel importante na difusão da leitura, do livro e na promoção da literatura do seu país. A Xunta de Galiza há tempo que decidiu não fazê-lo, e já não digamos do português, apesar de que se aprovou por unanimidade uma lei no Parlamento Galego que não sei para que lhe serviu a Feijoo para esse dia dizer que “el português lo entendía” ou algo assim dixo. Eu acho que ficou um pouco ai. Um país que não se visualiza nem a sua própria literatura, como imos pensar que tenham a sensibilidade de visualizar uma literatura feita no outro lado do Minho?

Achas que neste tema deve haver um maior tecido privado ou consideras que dentro do setor privado está mais ou menos formado ou institucionalizado o mercado do livro português? Dito doutra maneira, há suficiente oferta e demanda para considerar que há um mercado de livro em português?

A visão que tenho é pequena, não tenho na cabeça quanto livro português se pode vender ao ano em Galiza, mas eu acho que se houver demanda, os livreiros teriam estes livros nos andeis. É certo que muitas vezes há livros em galego que se vendem e há gente que te diz que noutras livrarias não os encontra. E isto pode ser segunda a especialização ou como se queira focar cada livraria projeta-se mais ou dá-se-lhe maior visibilidade a uns livros que a outros, mas a dia de hoje acho que a demanda tampouco é muito grande, e então a maioria da gente não o considera rendível. A gente das livrarias, senão todo o mundo teria uma secção de português.

 

Achas que há futuro na venda do livro em português?

Sim, eu acho que sim. Em Galiza, um montão de venda a move o ensino, e ai o português, se realmente nos tomarmos em sério que as meninas e os meninos galegos soubessem, como podem fazê-lo com certa facilidade, achegar-se ao português, e assim também melhorar o seu galego, e para isso é fundamental ter materiais, ter textos, ter livros. Nós aqui, por exemplo, algo que a muita gente lhes surpreende, temos livro infantil em português. Há muitos pais e mães que querem adquiri-los. Mesmo às vezes livros que estão muito demandados e que estão esgotados em galego, temó-los em português, e a gente leva-os igual. Há gente que está muito sensibilizada com o tema do idioma e que não lhe importa ter-lhe aos seus filhos livros em português.

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Os pais de Semente, não?

Na Corunha, por desgraça, não temos Semente, mas sim que há famílias que têm sensibilidade com este tema, e no futuro toda essa geração terá mais facilidades para achegar-se à leitura em português.

Tens também em venda livros da editorial Através. Demandam-se mais livros desta editorial em relação ao livro português ou não?

A produção editorial de Através é muito mais pequena se o compararmos com todo o que nós chega das editoriais de Portugal, como novidades ou obras doutras literaturas traduzidas. A produção de Através sim que tem demanda, mas é uma demanda mais local: leitores que seguem a um autor ou autora, e querem o seu livro… ou também o “Atlas das Nações sem Estado” que saiu agora e que vai dirigido a um público preocupado pela situação das nações sem Estado.

Ademais da literatura, também vendes cinema e música em português, qual é o papel que podem ter na nossa cultura?

O cinema português quizá menos, mas a música eu acho que sim. Muitos centros de ensino a utilizam para trabalharem na aula, e também clientes que adquirem para agasalhos, isso sim que tem bastante demanda. Em geral, a menor escala, porque nós temos pouco em comparação com o que temos em galego, as demandas são muito parecidas. Há demanda de livro infantil, de poesia, de ensaio… de música também, mas em menor medida. Nós o que mais vendemos é livro, em galego ou em português. E mais traduzidos ao português. “Best-sellers” que aqui chegam em espanhol traduzidos do inglês, e que a gente vem pedir-no-lo para poder lê-lo na sua língua, porque sabe que em galego não vai ser editado nunca.

Uma última pergunta: consideras que o português pode ter importância para conhecer o mundo?

Acho que é muito interessante que desde Galiza temos acesso a outras literaturas através do espanhol, porque na nossa língua não temos tradução e, a não ser que saibas muitos idiomas, o português abre-te janelas para poder ler autores que não são de língua portuguesa que doutro jeito chegariam a nós tendo que lê-los em espanhol. Também há editoriais espanholas que estão a traduzir obras de autor português ou brasileiro ao espanhol. Há clientes que vêm aqui procurar esse autor ou título na língua original, às vezes porque leram alguma tradução e querem outros títulos já em português. Como também há quem de maneira sistemática demanda a edição portuguesa, simplesmente que é conhecedor da língua portuguesa sem mais e que gosta de ler na sua língua. Nisso o galego e muito mais limitado, mesmo para as crianças. Todo o que há de desenhos animados, de livro ilustrado de personagens que chegam aos meninos e às meninas pela televisão, em galego não existem. Eu mesma, com o meu filho, usei muitíssimo o Youtube e os dvds em português para que pudesse ver no seu dia desenhos animados na sua língua. Agora já não, já escolhe ele, mas daquela sim, e ele agora não tem dificuldade nenhuma de ver televisão em português. Então é coisa de afazer-se e de ter cuidado. Se um menino gosta muito do Bob Esponja, pois há-o em português. A certas idades tampouco sabem ler, quem lhes leem são os pais. Então não há problema nenhum em que tenham livros na sua língua tirando do português. Ademais agora, através das redes sociais, há produções brasileiras para meninos que são muito boas. São ferramentas que estão ai. Às vezes queixamo-nos de não haver videojogos em galego. E sim, a maioria dos videojogos em rede e que a gente joga com eles no móbil podem-se pôr em português, e falam-te e dizem-te coisas na tua língua. Acho que é uma porta fundamental e que vai ter futuro. Há gente que lhe custa, mas é normal num momento em que se estão a perder falantes de galego. Essas necessidades de terem de procurar recursos em português dá-se porque também há necessidade deles, e então recorre-se ao português. Mas se não há demanda porque a gente está instalada no espanhol…

 

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