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«A gente nova que fala galego nom se envergonha da sua língua. Quem o fai é minoria, e isso é um bom sinal»

Manuel Veiras e Natália Cea
Manuel Veiras e Natália Cea

FICHA:

  • Nome: Manuel Veiras / Natália Cea
  • Idade: 17 anos
  • Procedência: Boimorto / Arçua

 

Existe umha imagem, tópica como muitas imagens, de que as pessoas da vossa idade nom se interessam por questons de índole social. Sodes umha exceçom?

Manuel Veiras (MV): É triste admitir que sim que existe umha certa apatia por parte da juventude a respeito destas questons. Nom penso que seja tam forte como se poda chegar a crer, posto que, polo que eu vejo, cada vez somos mais as que nos preocupamos e decidimos fazer parte (seja da maneira que for) dalgum tipo de atividade política, social, cultural, etc…

Natália Cea (NC): Há muita gente que nom tem a oportunidade de falar e penso que nestas idades o número de adultos que se param a nos ouvir é reduzido. Nom sei se nós somos exceçom mas considerando-o assim acho que há muitas mais exceçons por aí vivendo em silêncio.

Como é a fotografia lingüística de umha turma de secundário em Arçua? que línguas som usadas e quando som usadas, tanto dentro como fora das aulas?

MV: Gente que fala galego a tempo completo, gente que fala espanhol a tempo completo e gente que fala galego com quem lhe fala galego e espanhol com quem lhe fala espanhol. Nada fora do habitual na sociedade galega, em realidade.

NC: Polo que eu podo ver nas aulas de Arçua a língua com maior número de falantes é o galego. Estivem nos dous liceus da vila e de um a outro pude apreciar uma ligeira mudança na fala da gente. No liceu atual o castelhano tem um papel mais importante em comparaçom ao outro mas continua a ser o galego a língua mais falada em todas as aulas.

Outra imagem tópica revela que quando umha pessoa galegofalante conversa com umha castelhanofalante, dumha cidade por exemplo, acaba por renunciar a usar a sua língua. É mesmo assim?

MV: Polo que eu vejo no mundo em que vivo, isto existe, mas também nom é umha maioria. Se estamos a falar da juventude, claro. Entre as pessoas mais velhas o conto muda porque elas foram educadas doutra maneira. Mas a gente nova que fala galego nom se envergonha da sua língua. Quem o fai é minoria, e isso é um bom sinal.

NC: Na minha turma reparo muitas vezes neste facto. Às vezes vejo que a pessoa que renunciou à sua língua de maneira inconsciente apercebe-se rapidamente e regressa ao galego e outras vezes noto o seu esforço por se manter no castelhano, nom estando cómoda, simplesmente por “ficar bem”. No meu caso nunca renunciei, renuncio nem renunciarei à minha língua por motivos como este. No entanto, tenho amigas castelhanofalantes que quando falam comigo som elas as que mudam para a nossa língua.

Para vós, a língua galega nom acaba na Galiza, e sim é compartilhada com outras sociedades como a brasileira ou a portuguesa. Como chegastes a essa forma de ver e de viver a língua de umha focagem reintegracionista?

MV: Em meu caso, primeiramente houvo quem me passou informaçom sobre o movimento reintegracionista, que nom chegou para convencer-me ao cem por cento, até que um dia, ouvim umha cançom dumha banda portuguesa e digem “hóstia, compreendo tudo! pois sim que vai ser que falamos a mesma língua…”, e a partir de aí comecei a ler informaçom, que partilhavam comigo, com olhos diferentes.

NC: Tivem a sorte de contar na ESO com umha mestra reintegracionista que apesar de estar pouco tempo no meu liceu pudo deixar em mim a semente da curiosidade. Figem-me muitas perguntas e investiguei pola minha conta, à medida que via e lia cousas mais me convencia de que eu tinha que formar parte deste movimento mas, sinceramente, senti-me um pouco “sozinha” e decidim apartar tudo isso até chegar ao bacharelato onde conhecim gente com que encaixava, gente que compartilhava dúvidas comigo e gente que me podia dar muitas respostas que necessitava. Aí tomei a decisom de retomar o que tinha deixado anteriormente e um bom dia passei do “ñ” ao “nh” —ainda estou nesse trânsito—, aprendendo dia após dia. Ajudo-me do manual do Valentim Fagim e, sobretudo, de ter tam perto gente com consciência que, como eu, se preocupa pola situaçom da nossa língua, cultura e país.

Por que destes o passo à escrita em reintegrado? De que forma conseguistes achegar-vos ou aprender essa escrita?

MV: Dei o passo à escrita em reintegrado por diversas razons. A primeira, porque tomei consciência de que a língua que falo eu também é falada em Portugal, no Brasil, em Angola, e em muitos lugares mais. Para além disto, porque vim no reintegracionismo a oportunidade de limpar de castelhanismos a minha fala, purificá-la, dar-lhe saúde e afastá-la da espanholizaçom que está a sofrer.

Para achegar-me ao conhecimento da escrita foi fundamental ler. Lendo textos em reintegrado, aprende-se bastante, e utilizar um dicionário para as dúvidas é tremendamente útil, também.

NC: Que continue a haver docentes com verdadeira vocaçom que nos facilitem as armas precisas para aprender a pensar e nom copiar, repetir e memorizar. Se as pessoas soubermos pensar por nós próprias nom necessitaremos mais que botar umha olhada ao panorama para nos aperceber do que se está a passar e da necessidade de ter mãos no assunto.

Que é o que diríais a alguém que vive o galego como sendo só a língua da Galiza?

MV: Que fale com umha pessoa de Portugal, por exemplo. Se abrir as orelhas e a mente, aperceberá-se de imediato de que estám a falar o mesmo idioma.

NC: Recomendaria-lhe destruir as cancelas que seguramente lhe foram impostas e botar-lhe um olho a todos os quês e porquês do reintegracionismo já que acho que, normalmente, quem tem essa vivência é quem nom conta com a informaçom suficiente e é seguidor das crenças que ditam as “altas vozes”.

 

 

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