AS AULAS NO CINEMA
Robert Owen, pioneiro da educação infantil, nasceu no dia 14 de maio de 1771 em Newtown, Montgomeryshire (País de Gales), e faleceu na mesma localidade em 17 de novembro de 1858. Industrial manufatureiro, reformador social, educador e socialista utópico britânico. Ao converter-se em filantropo ilustrado faz da sua empresa têxtil, New Lanark (Escócia), uma colónia industrial modelo, baseada na educação e na melhoria das condições de vida dos operários. Quando fracassa o seu projeto, tenta-o de novo em New Harmony, Indiana (EUA), no período 1824-29, mas tampouco frutifica.
Owen considerava que a sociedade era a expressão do individuo, pelo que propôs fazer um homem honesto e laborioso, e obter assim uma sociedade igualitária, ordenada e justa. A função da educação tinha que ser então evidente: mudar a natureza humana pela educação, e por extensão, toda a sociedade. Manifestou uma fé profunda na omnipotência da instrução considerando-a como o elemento determinante na criação da nova sociedade.
Recolhendo o modelo fabril, propõe uma “manufatura do caráter” nas escolas do trabalho, dentro da mesma fábrica. Pretendia a produção de homens e mulheres plenamente desenvolvidos, por meio do regime combinado do trabalho produtivo com o ensino e a ginástica. Para isso põe em marcha uma escola na sua fábrica com um programa muito completo, onde se alterna o ensino com a produção, a ginástica e os exercícios físicos. Na sua obra Diálogos sobre o sistema social (1848) proclama as bases da sua educação pública: comum, igualitária, única, gratuita e subtraída à influência familiar. Recebeu grande influência das ideias de liberdade e de espiritualidade do educador morávio Coménio e também de outros educadores como Pestalozzi, por ser um ávido leitor. A sua crença era que a educação prepararia os homens para viverem numa sociedade socialista. Owen criou em 1816, em New Lanark, na Escócia, uma escola infantil ou creche para os filhos dos seus operários, na qual aboliu castigos e prémios, atividades de memorização e livros. Esta escola tornou-se não apenas a mais progressiva da Inglaterra, como também o berço de várias ideias que não seriam aceites em nenhum outro lugar durante quase um século. As suas ideias tiveram impacto na realidade europeia e norte-americana, abrindo caminho para várias iniciativas de integrar cuidado e educação de crianças pequenas em instituições extrafamiliares. Owen é o único socialista utópico que experimenta as suas conceções educativas, e talvez o de maior influência posterior, já que Carlos Marx há ver na sua abordagem o germe gérmolo da instrução vindoira e futura. Chegou a pôr em prática o seu ideal socialista. Na sua fábrica de New Lamark, reduziu a jornada de trabalho, aumentou os salários e mandou construir casas para as famílias operárias. A repercussão de sua obra ultrapassou as fronteiras do país, e chamaram a atenção sobretudo suas inovações pedagógicas: jardim-de-infância, escola ativa e cursos noturnos. O seu maior desejo era substituir o estado miserável da existência humana, por um estado verdadeiro e feliz, “para preparar o mundo para a paz universal e infundir em todos o espírito da caridade, da tolerância e do amor”.
A filosofia de Owen estava baseada em dous pilares:
Primeiro: ninguém é responsável pela sua vontade e pelas suas próprias ações, pois todo o seu caráter é formado independentemente de si mesmo; as pessoas são produtos da sua hereditariedade e ambiente (daí o seu apoio à educação e à reforma trabalhista).
Segundo: todas as religiões são baseadas na mesma ideia ridícula de que o homem é um animal fraco, imbecil, um fanático furioso ou um hipócrita miserável.
A sua contribuição tem um significado especial para a tentativa de moralizar o capitalismo. Owen, tendo sido empregado e depois diretor de uma indústria, assinala a violência do capitalismo inglês com relação às condições de vida e trabalho da classe operária. A sua preocupação com as condições de vida e trabalho dos operários vai muito além de uma crítica porque preocupou-se em pôr as suas ideias em prática, fundando as bases do cooperativismo, luitando principalmente pela educação da classe operária. Fundou escolas infantis, junto às fábricas e afirmava que tanto as crianças como os seus pais e professores deveriam ser constantemente educados pela participação e relação entre escola e comunidade. Fundou também escolas para adultos e luitou a vida inteira para que os industriais e empregados trabalhassem não só pelo lucro, mas para oportunizar condições de vida digna e de trabalho a todos os homens, enfatizando que se chegaria a essa harmonia de interesses por um trabalho de cooperação em que o operário teria que ser respeitado por ser um colaborador da produção, tendo por isso mesmo direito ao acesso à educação e aos bens necessários a uma vida digna. Isso seria obtido por menos taxações e melhor qualidade dos produtos que o operário iria adquirir, mas sobretudo pela educação desde os 18 meses até aos 12 anos. A sua ideia de cooperativismo estendeu-se inclusive a uma educação mútua onde os mais velhos aprenderiam a cuidar e ensinar os menores. Owen não foi um revolucionário no sentido estrito mais foi inovador no sentido de tirar do próprio capitalismo forças positivas baseadas na humanização e no respeito às necessidades de todos, especialmente das crianças que seriam o futuro de uma nação. No momento atual em que vivemos as suas ideias têm um grande interesse para serem analisadas.
O presente depoimento dedicado, dentro da série dos grandes educadores, a Robert Owen, também quero eu que sirva para trabalhar as atividades educativo-didáticas ao redor do Dia Internacional da Democracia, que se celebra cada dia 15 do mês de setembro, em muitos lugares, e que tão ameaçada se encontra nos tempos atuais. Nada melhor que Owen para que todos possamos refletir sobre tão importante tema. Começando por ler um formoso livro, que, sob o título de Vida de Robert Owen, escreveu o português Agostinho da Silva, e foi publicado pela Minerva de Vila Nova de Famalicão em 16 de dezembro de 1941.
Título original: The Life of Robert Owen 1771-1858: Industrialist and Social Reformer (A vida de Robert Owen 1771-1858: O industrial e reformador social). Documentário em DVD.
- Produtora: The Co-Operative College de Manchester (RU, 23 min., cor e preto e branco).
- Argumento: A partir da infância de Robert Owen, numa pequena cidade comercial de Gales, e o seu regresso ali no final da sua vida, este filme biográfico narra a vida do homem que chegou a ser conhecido como o “pai da cooperação”.
- Título original: Robert Owen and New Lanark (Robert Owen e a Nova Lanark). Documentário em CD-ROM (válido para ver em PC ou Mac).
- Produtora: New Lanark Conservation Trust, associado com o Departamento de Arquitetura (unidade ABACUS) da Universidade de Strathclyde em Glasgow.
- Conteúdos: Gráficos de dous aspetos da história do New Lanark: O legado social de Robert Owen, e a regeneração do lugar que foi reduzido a um estado de ruína e construído novamente para cima. CD duplo com texto narrativo detalhado, fotografias, mapas. Contém extensa base de dados de imagens.
- Título original: Aspects of New Lanark (Aspetos de Novo Lanark). Documentário em DVD. Produtora: New Lanark Conservation Trust.
- Conteúdos: Contém 6 programas: História de New Lanark, história de Annie McLeod, procura da Harmonia Universal, pessoas e algodão, Escola infantil de Robert Owen e o poder do rio.
- Nota: Existem outros 2 CDs da mesma produtora com os títulos originais de “New Lanark and the Industrial Revolution” e “Living in New Lanark, 1790s – 21st Century: A study of living conditions”, nos quais, como é natural, se menciona Owen e o seu labor socioeducativo. Também outro CD intitulado “Music of New Lanark”.
Owen via Nova Lanark como algo mais do que uma simples fábrica modelo. Owen era deísta, ecologista, e um moderado necessitariano. Ele acreditava que os seres humanos eram moralmente o produto do seu ambiente, especialmente das suas primeiras instruções, e que não poderia ser responsabilizado pelo seu comportamento defeituoso ena sua vida posterior. A escola de Nova Lanark era mais importante para Owen do que qualquer outra cousa. Através dos seus métodos educacionais ele esperava produzir um tipo completamente diferente de trabalhador. Ao contrário que nas oficinas e trabalhos dos operários, as escolas eram uma questão diferente. Aqui Owen tinha carta-branca para fazer tudo o que pretendia, apenas limitado pelas dificuldades dos primeiros anos do século XIX para encontrar professores capazes ou dispostos a levar a cabo as suas ideias. Owen acreditava que as crianças não deveriam ser aborrecidas com livros, mas ensinadas por uma sinalização sensata e pela conversa familiar. O interesse natural da infância formava a base de seu método educacional. As crianças aprendiam jogando, dançando, brincando, cantando, e participando de “exercícios físicos” (que poderíamos chamar de calistenias). Owen era um adepto apaixonado da dança, e os visitantes ficavam fascinados em ver as crianças dançando em seus saiotes escoceses, seus vizinhos escoceses presbiterianos ficavam enfurecidos por ele permitir os pequenos meninos dançar “sem calças compridas” como pequenas meninas. As danças noturnas para adultos era uma parte muito importante da disciplina social e da terapia de Owen, uma prática que aparentemente foi entusiasticamente bem recebida pelos trabalhadores, não há qualquer dúvida de que as conferências eram racionalistas, utilitárias, e radicais.
Sobre as conceções que Owen tem sobre a educação infantil é importante esclarecer que as instituições de educação para as crianças entre 0 e 6 anos de idade começam a se esboçar no final do século XVIII, propagando-se por meio de uma circulação de pessoas e ideias que precisa ainda ser melhor pesquisada. Criadas para atender as crianças pobres e as mães trabalhadoras, desde o início se apresentaram como primordialmente educacionais. A escola de principiantes ou escola de tricotar, criada por Oberlin em 1769, sendo reconhecida como a primeira delas. De acordo com os seus objetivos, ali a criança deveria: perder os maus hábitos; adquirir hábitos de obediência, sinceridade, bondade, ordem, etc.; conhecer as letras minúsculas; soletrar; pronunciar bem as palavras e sílabas difíceis; conhecer a denominação francesa correta das coisas que lhe mostram e adquirir as primeiras noções de moral e religião. A iniciativa de Oberlin inspirou Robert Owen, que, como já comentamos, criou uma escola, em 1816, para os operários da sua indústria, os seus filhos e a comunidade de New Lanark, na Escócia, com uma classe infantil, que recebia crianças dos dous aos seis anos de idade. A partir disso, muitas instituições infantis começaram a surgir, iniciando, assim as conceções de Educação Infantil: Assistencialismo, desenvolvimento natural das crianças, educação compensatória e preparatória e conceção global e harmónica da criança.
A de Owen, em New Lanark, é a primeira Infant School (Escola Infantil) da história, para os filhos dos seus trabalhadores. Na mesma coloca como mestre James Buchanan. A partir da de Owen vão aparecendo nos seguintes anos outras similares em diferentes países europeus. O criador do modelo didático destas escolas fora Samuel Wilderspin, amigo de Buchanan. Existem gravuras sobre aulas tipo das escolas infantis. Nas mesmas podemos observar o seu funcionamento. Podendo apreciar que a escola está a cargo dum mestre e uma mestra, como auxiliar ou colaboradora, assim como de nenos e de nenas. A sala de aula, de forma retangular e espaçosa, com duas portas de entrada à direita e esquerda, e amplas janelas na esquerda e ao fundo, dispõe de bancos corridos e fixos a ambos os lados, quer dizer, em forma de bancadas ao fundo, para o ensino simultâneo, postes com cartazes no centro para o ensino da leitura e nas paredes, mapas e cartazes. O modelo, como é lógico, foi objeto de variações e adaptações, utilizado por diversos autores e em diferentes países, mas sempre conservando a ideia básica original.
As ideias pedagógicas de Owen inspiraram-se em diversas fontes: em Rousseau, na ideia dos prémios e castigos naturais; nas teorias de Godwin baseadas em que o caráter do homem é resultado do meio intelectual e moral em que vive, e pode melhorar-se com a educação; em David Willians, político radical partidário das ideias roussonianas, que estabeleceu uma escola em Chelsea em 1774, e em Pestalozzi o grande educador da Suíça, do qual aproveitou o seu método para o ensino da aritmética na sua escola.
Owen tentou sempre nas suas escolas levar à pratica um modelo didático, que de maneira sintética exponho a seguir:
A) Princípios educativo-didáticos:
B) Objetivos e Conteúdos didáticos:
C) Métodos e técnicas didáticas:
D) O Currículo da Escola de Owen:
O Plano moderno de estudos da escola de Owen estava integrado pelas seguintes disciplinas:
Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica) e o fundo dos documentários anteriormente resenhados.
Organizar nos estabelecimentos de ensino de todos os níveis uma amostra monográfica sobre a vida e obra pedagógica de Robert Owen. A mesma terá que incluir fotos, textos, frases educativas, cartazes, autocolantes, desenhos e mesmo textos dos próprios estudantes. Deve aproveitar-se o muito que há na internet sobre a sua figura. Com todo o material podemos editar e/ou policopiar uma monografia dedicada a Owen. Paralelamente a esta amostra, podemos projetar os filmes documentários citados, e organizar um debate-papo sobre as imagens vistas nos mesmos.
Organizar um Livro-fórum, depois de ler, estudantes e professores, um livro escolhido por todos, relacionado com Owen. O mais indicado pelo seu interesse, e por estar muito bem redigido, com uma linda prosa na nossa língua, é o já antes mencionado Vida de Robert Owen, escrito por essa grande pessoa que foi Agostinho da Silva, e publicado em Portugal em 1941.
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