Dentro da série que estou a dedicar às mais importantes personalidades da Lusofonia, onde a nossa língua internacional tem uma presença destacada, e, por sorte, está presente em mais de doze países, sendo oficial em oito, dedico o presente depoimento, que faz o número 125 da série geral, a um grande cabo-verdiano, felizmente ainda vivo. Com este depoimento completo o número treze da série lusófona.
A 31 de Agosto de 1956 nascia na Aldeia da Praia Branca, em São Nicolau-Cabo Verde, um homem dotado de genialidade. Um pouco louco, um visionário, um futurista, vindo de tempos que ainda não vivemos onde a imagem externa pouco ou nada interessa para a definição do ser. Paulino Vieira surpreendeu tudo e todos quando se percebeu que aos nove anos de idade estava à vontade no cavaquinho e no violão, um aprendizado adquirido apenas ao observar os alunos da pequena escola de música que o pai mantinha em casa. De São Nicolau seguiu então para São Vicente para frequentar a Escola Salesiana onde recebeu o apelido de “menino-prodígio”. Mais do que um músico, um pensador, um estudioso, um pesquisador, um mestre e um maestro. Assim é Paulino Vieira, de imagem pouco convencional. Esperar dele normalidade é muito mais do que uma utopia. Paulino não é igual a ninguém. Inseparável da sua harmónica, exímio pianista mas também excelente tocador de violão e de clarinete.
PEQUENA BIOGRAFIA
Em 2 de agosto de 2017, sob o título de “Paulino Vieira: o mestre da música de Cabo Verde”, foi publicado um depoimento muito interessante escrito por João Gomes Esteves, que temos por bem apresentar a seguir.
Paulino de Jesus Santos Vieira é um compositor, orquestrador, multi-instrumentista e cantor, considerado um dos maiores símbolos da música de Cabo Verde. Compôs, entre tantos outros temas que marcaram a música daquele país, “M’cria Ser Poeta” (seu desejo de criança) ou “Um Minute D’Silence” (música dedicada ao pai). É conhecida a sua famosa rapsódia em torno de mornas conhecidas, que juntou os principais artistas cabo-verdianos, como Bana ou Dany Silva. Foi o homem por detrás do início da carreira de Cesária Évora, tendo sido o arranjador e produtor dos principais álbuns da intérprete. Em 1995, no Bataclan, em Paris, realizou um dos mais bem conseguidos concertos de Cesária Évora. Desse marcante concerto, ficou na memória de todos as arrojadas orquestrações, a notável interpretação ao piano e ainda a genial improvisação com harmónica vocal em torno da morna “Rotcha Scribida“, no final do concerto.
O cabo-verdiano nasceu a 31 de Agosto de 1956, na Aldeia da Praia Branca, em São Nicolau-Cabo Verde. Ao longo da sua vida, passou por grandes dificuldades familiares e económicas, e participou em algumas polémicas que viriam a torná-lo, ao olhar de outros músicos, o génio maldito de Cabo-Verde. Paulino Vieira iniciou o seu percurso musical na Escola Salesiana de São Vicente. Cedo mostrou uma vocação única para a música, e aos nove anos já tocava com bastante desenvoltura cavaquinho e violão, aprendizagem adquirida somente através da observação de outros alunos. O certo é que, à parte de algumas polémicas, os grandes músicos são unânimes em considerá-lo o grande mestre da música de Cabo-Verde de todos os tempos. Voginha, virtuoso da guitarra e figura incontornável, disse a respeito de Paulino: “Ele pode pegar em qualquer instrumento e fazer delirar o public”. Já Bau, conhecido músico de Cabo Verde (compositor do tema “Raquel”, do filme “Hablé Con Ella”, de Pedro Almodovar), sobre Paulino Vieira, afirmou: “Nesse ano [1995] ele ia sempre à “Casinha dos Licores” ver-me tocar. Daí decidiu levar-me para uma digressão com a Cesária Évora durante três meses. Para mim ele é o grande mestre de todos os tempos”. Ainda Francisco “Kikas” Silva, artista e produtor, confessou que Paulino “É único. Como ele não há igual em Cabo Verde. Mas, mais do que isso é uma excelente pessoa que transmite constantemente ensinamentos a todos, seja no campo musical, como da vida em geral.” De facto, para além de um músico genial, Paulino é também um pensador do mundo, um estudioso da música do seu país, um maestro de tantos músicos, um mestre de tantos artistas. Sobre ele, Susana Rendall Rocha refere num texto: “Assim é Paulino Vieira, de imagem pouco convencional. Esperar dele normalidade é muito mais do que uma utopia. Paulino não é igual a ninguém.”
Apesar de cedo ter voltado à sua terra, e remetendo-se ao silêncio e ao recato, o africano, num outro país, teria sido elevado aos maiores patamares que um músico pode ambicionar. Este congregou uma série de estilos nas suas orquestrações altamente sofisticadas, que vão desde a música soul ao reggae, passando pelo jazz. Revolucionou a morna como mais ninguém o fez, razão para afirmar que, se Cesária Évora é a face da música de Cabo-Verde, então Paulino é a sua alma.
FICHAS DOS DOCUMENTÁRIOS
- Mestre Paulino Vieira de Cabo Verde.
Duração: 12 minutos. Ano 2018.
- Paulino Vieira: Ô Pao “tradicional”.
Duração: 5 minutos. Ano 2019.
- Paulino Vieira (workshop voz).
Duração: 10 minutos. Ano 2019.
- Paulino Vieira (Biografia). Conversando com Agostinho Santos.
Duração: 10 minutos. Ano 2008.
- Paulino Vieira. M´cria ser Poeta.
Duração: 7 minutos. Ano 2014.
- Paulino Vieira: N´cria ser poeta.
Duração: 7 minutos. Ano 2017.
- Vida e obra de Paulino Vieira.
Duração: 5 minutos. Ano 2014.
Nota: É interessante a leitura de duas entrevistas realizadas a Paulino Vieira, entrando nas seguintes ligações:
- Paulino Vieira: “Deixei de ter nacionalidade”- Jornal O Pais
- O génio Paulino Vieira passou por Vila Viçosa e disse em exclusivo à RC que Cesária Évora “nunca foi diva” mas sim “uma artista que eu levei a pisar os palcos do mundo” – Rádio Campanário
Listagem dos 11 álbuns discográficos de Paulino Vieira.
ESCRITO DE VIEIRA SOLICITANDO QUE O CENTRO CULTURAL DE TARRAFAL NÃO USE SEU NOME
À CONSERVATÓRIA DO REGISTO NOTARIADO SÃO NICOLAU,
de: Paulino de Jesus Santos Vieira,
ASSUNTO : “CENTRO CULTURAL DA CIDADE DA VILA DO TARRAFAL ” – São Nicolau POR “ FAVOR ”!!!! …
Agradecia “profundamente”: que mandassem retirar, redondamente, o meu nome, de “Paulino Vieira”, do Centro que se encontra ali no Tarrafal enganando as pessoas que é um Centro Cultural …, quando na realidade não passa de um centro de bebedeira para quem lhe apetece uma hora ou outra jogar a sua cartada e fazer o seu consumo; facturando a caixa: Hora sim hora não, alguns encontros políticos: mantendo o nome em evidência: quando na realidade, eu próprio para conseguir tocar ali uma vez, pelo simples facto de a organização não ter sido caseira, tive que fugir dos boicotes. E mesmo para se fazer este centro com o meu nome nem sequer fui consultado. Fui contactado com um telefonema do “Benvindo de Oliveira”, para assistir a inauguração, daquilo que eu nunca tinha sido consultado: que eu ignorei. Ao deixar as coisas arrastarem até agora, foi para ver se na realidade, um dia viessem a fazer alguma coisa de jeito, dado ao nome ali utilizado; mas nem por isso. Quando um dia eu tiver o meu Centro, trará os meus ensinamentos … a minha maneira de ser e os meus princípios. Se o nome já foi tirado pelo menos com a pintura, também que seja retirado da documentação: para não ter que acontecer da mesma forma que a sentença do ARMANDO ZEFERINO. Meu Deus; até dá vontade de rir !!!!
De repente dá-se-lhe por vitorioso, daquilo que ele próprio dizia ser dele, levando-me a batalhar … e dar ao mundo a conhecer a sua história contada! – Tendo sido eu o arranjador, neste caso o responsável por tudo aquilo que estava sendo explosão, começando a despoletar e a trazer grandes complicações, por ser, ela, uma revolução: que ninguém mais já se lembrava, agora com todo o mundo querendo dar a cara, naquilo que antes ninguém tinha prestado atenção:
“Sôdáde de Nhâ Terra São Nicolau:”
Gravada para relembrar a época do meu pai.
Armando conseguiu provar, na versão da Cesária; pois na do Nhâ Primeiro Lar ninguém se mexe: por ser um carimbo pessoal. De que o tema tinha sido feito por ele: ficando todo o mundo convencido, de que ele tinha ganho a causa: quando na realidade, o caso tinha ficado na mesma, isto só foi feito para enganar, em que os direitos autorais iam continuar a ser dos mesmos donos antigos, que também tinham roubado a obra; isso já do conhecimento público, continuando a negociação na mesma já que o julgamento só tinha sido uma farsa!… apenas para calar a boca aos praiabranquenses, quando viessem visitar a terra onde nasceu a música em que cantou a Cesária Évora, promovendo outra vez esta farsa! Desde que havendo um praiabranquense, mesmo que fosse falso, envolvido nesta história aí já ninguém reclamaria. Isto aconteceu cá em São Nicolau! Onde a verdade não conta … e o povo por conveniência tem medo da razão. Ficando uma pergunta no ar: quem terá feito a música Sôdáde???? …
ISTO SERÁ DESCOBERTO UM DIA! …
Aqui não há música de Cesária e nem do Armando Zeferino. Aqui há música de um povo que o Paulino Vieira revolucionou; deixe-me assumir. Criar estas estórias, escrita com “e” e não com “h” , arranjando esses compositores só tem a ver com ficar com os seus direitos, aquilo que já lhe pertencia por legitimidade. Direitos da explosão, direitos da expansão … direitos dos seus arranjos … direitos da sua idealização, direitos da sua criatividade, direitos da sua entrega, direitos da sua patente, direitos da sua produção. Qualquer pessoa que tivesse cantado em cima de tudo isso teria tido o mesmo sucesso; neste caso a Cesária Évora só apanhou boleia. O que significa que quem deveria estar recebendo homenagem, eram eles o Toy Vieira, Armando Tito, Vaiss …, e pessoas que veramente contribuíram para esta parada. O José da Silva … a Cesária Évora …, e toda essa malta interesseira andando à trás daquilo que se tornou moda, só foram e continuam sendo, uns oportunistas que nunca tinham tido nada na vida: levantados pelo Paulino Vieira que os pôs no caminho do funcionamento. Eu apenas tentei ser razoável, deixando todo o mundo mentir: a ver se o povo caía na real sozinho. Mas o povo é cego!!!! Deixa-se cair em todas as enroladas.
Na realidade, alguém da Praia Branca terá feito a música “Sôdáde”. Mas essa pessoa não foi a pessoa do Armando Zeferino. Aquilo que significa que as placas colocadas na Praia Branca estão erradas. Não existe nenhuma “música” com o nome de “Morna Sodade”. Se passou a existir hoje: só se for para roubar os direitos autorais do seu verdadeiro nome: “Sôdáde de Nhâ Terra São Nicolau”! – Compositada pelo seu grande compositor Matias Santos Vieira … e revolucionada cinquenta anos mais tarde pelo seu próprio filho: Paulino de Jesus Santos Vieira, na época em que ajudado pelo irmão, Armando Tito e outros camaradas…, traziam à Cesária Évora ao colo: com todo o mundo apanhando boleia. José da Silva sabe, Praia Branca sabe, Cabo Verde sabe, todo o mundo sabe, … Apenas o mundo inteiro continua tentando se enganar. Praia Branca deveria estar hoje recebendo “uma nota” …, caso tivessem entendido a mensagem deixada numa profecia, de um homem que viu Praia Branca sendo um centro de atracção, para os forasteiros que chegavam todos os dias visitando o seu povo. Santos Vieira!!!! – Homem que todo o mundo conheceu: – O GRANDE ENSINADOR DE PRAIA BRANCA E NÃO SÓ …, conhecido em todo o São Nicolau como o “grande mestre”: e ensinador, de todos os músicos sãonicolauenses. Na fotografia que se encontra estampada na placa cravada na “LAJA” dá para ver; Santos e seus pupilos. Mais propriamente dito; segundo naquela época: “SANTOS D` BIA FINA, MÁ SÊ COMPANHA!” Amanhã, quando for provado este esclarecimento, não digam que não sabiam da história. O Armando Zeferino só se limitou a cantar a música ensinada pelo seu mestre!!!! Para ser cantada no dia da despedida …, estando o Santos no violino: ele como o animador da festa como era o habitual …, ao começar ele a música e mandando o Armando Zeferino cantar. Juntamente com o resto da sua Companha! … Tendo ele Santos parado de tocar …, para observar a sua malta que estava-se comportando muito bem. Daí, ter saído a multidão!!!! Como se fosse para uma procissão! – Para levarem os embarcadistas ao ponto de partida …, tendo o Santos ficado no Grémio à espera dos seus pupilos para continuar a festa: tendo o povo voltado à sala, completamente convencido de que tinha sido o Armando Zeferino a tirar a música: segredo que pouca gente ficou a saber: pois Santos cantou a música pela primeira vez, gozando com os embarcadista de São Tomé, por baixo das suas janelas …, como uma forma de dizer risonhamente que eles tinham cavado a própria sepultura. Na serenata cantou ele com a sua própria boca! e para o dia da despedida, como ele ia estar no violino, ensinou a música ao Armando Zeferino, sendo ele compadre de uma das pessoas que iam embarcar. Segredo que ele, Armando Zeferino, levou para a cova, sem ter sido capaz de falar a verdade. Facto que eu vou ter que retocar um dia: evitando que a mentira suplante a nossa história: sendo esta história, a herança de todos os praiabranquenses: deixada por Matias Santos Vieira…, para o desafogo do seu povo. Mas nisso eu não estou interessado agora. Neste momento estou, mais, preocupado com o Centro. Eu não quero ver mais o meu nome ali empoleirado. Façam favor:
“Paulino de Jesus Santos Vieira”. 16 de Julho de 2016.”
TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR
Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um cinema-fórum, para analisar o fundo (mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.
Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Paulino Vieira, importante músico e compositor de Cabo Verde. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros, CDs e monografias.
Podemos realizar no nosso estabelecimento de ensino uma audição musical, a que assistam estudantes e professores. Previamente faremos uma escolha de cantares e peças musicais de Paulino Vieira, tomadas dos seus álbuns e Cds, que chegou a editar dentro da sua discografia.