Seguindo a série dedicada aos grandes educadores, iniciada com o depoimento anterior sobre Pestalozzi, corresponde-lhe esta vez, tal como anunciei, à grande pedagoga da escola infantil Maria Montessori, a que, junto com Froebel, Rosa e Carolina Agazzi e Freinet, considero eu como a mais modélica educadora das crianças de 0 a 6 anos. Período escolar que teve vários nomes: Jardim-de-Infância, Parvulário, Pré-escola, e hoje é mais conhecido como Escola Infantil.
Thais Pacievitch, pedagoga brasileira, analisa de forma sintética a biografia de Montessori, que eu aproveito para este depoimento. Maria Montessori nasceu na Itália em 1870, na cidade de Chiaravalle. Foi uma pedagoga que renovou o ensino, desenvolvendo um peculiar método que ficou mundialmente conhecido como Método Montessori. Este método foi aplicado, inicialmente, nas escolas primárias italianas e depois ganhou o mundo. O método Montessori, dirigido especialmente às crianças do período pré-escolar, é baseado no estímulo da iniciativa e capacidade de resposta da criança, através do uso do material didático especialmente desenhado. O método propõe uma enorme diversificação das tarefas e a máxima liberdade possível, de tal maneira que a criança aprendia por si mesmo e seguindo o ritmo das suas próprias descobertas. Formou-se em medicina em 1896, na Universidade de Roma. No ano seguinte, seguindo os seus instintos, decidiu estudar as crianças deficientes e sinalizou para o fato de que, mais do que clínico, o problema de tais crianças era pedagógico. Em 1898, expôs as suas ideias sobre este fato no congresso pedagógico de Turim. A seguir, foi para Londres e Paris para estudar e, assim, aprofundar-se nos seus estudos, cursou filosofia na Universidade de Roma e Psicologia Experimental, convencida de que a educação das crianças tinha de ter o seu primeiro e essencial fundamento no conhecimento científico, somático e psíquico do seu ser. As obras de Itard e Séguin, célebres mestres da educação de crianças especiais, a ajudaram a aprofundar os problemas da dita educação especial.
O trabalho desenvolvido pela pedagoga entre crianças especiais, mediante uma experiência prática e fecunda, trouxe, como consequência, o aparecimento de uma Maria Montessori teórica e organizadora de um método geral da educação infantil. Em janeiro de 1907, atendendo a solicitações do Instituto dei Beni Stabili, Montessori abria em um dos novos bairros de trabalhadores a primeira “Casa dos Meninos” (“Casa dei Bambini”), seguida, em pouco tempo, por outra, também situada em Roma. Dali a instituição difundiu-se pela Itália e pelo mundo, com a característica de ser uma instituição independente, organizada por um modo cada vez mais claro e um método original de educação infantil. Este método, já maduro pela experiência e pela reflexão, foi exposto por Montessori no “Il metodo della pedagogia scientifica aplicatto all’autoeducazione infantile nella casa dei bambini” (1909), mais tarde editado como La Scoperta Del Bambino e traduzido aos principais idiomas. O método consistia em desenvolver a autonomia da criança, que encontrava na “casa” o material indispensável para o exercício dos sentidos, os objetos apropriados aos seus desejos e proporções físicas, e a possibilidade de aplicar, com o trabalho pessoal e segundo a livre escolha, a solução de problemas práticos interessantes, perante o diverso material disponível.
O princípio dominante era o de deixar fazer, de vigiar e auxiliar se fosse necessário, de ter fé no imenso valor de uma atividade livre desenvolvida visando finalidades concretas adotadas pela criança, capaz de impulsionar um desenvolvimento seguro e de desembocar, aos poucos, em descobertas espontâneas e conquistas seguindo um ritmo natural.
Depois de várias obras lançadas, nos últimos anos da sua vida, Maria Montessori participou de forma competente e notável dos trabalhos da UNESCO e fundou o Centro de Estudos Pedagógicos na Universidade para Estrangeiros de Perusa. Montessori faleceu em Noordwjek (Holanda) em 1952. A sua pedagogia teve muita influência mesmo em um grande país como é Índia, onde curiosamente as escolas infantis são chamadas “Escolas Montessori”. Esteve várias vezes no país indiano, onde se organizaram vários simpósios para divulgar o seu método, e fez-se muito amiga do grande educador Robindronath Tagore, que no seu momento fora inaugurar a escola Montessori da grande cidade hinduísta de Benarés, construída pelo arquiteto tagoreano Surendronath Kor. Para organizar as escolas infantis de Santiniketon, criadas por Tagore, contou o educador bengali com a inestimável colaboração da mestra hebraica Shlomit Flaum, especialista de didática montessoriana, por ter realizado em Roma um curso na escola de Montessori. Quando se criou o estado de Israel, Flaum foi a encarregada de organizar em Jerusalém as escolas infantis, e também criou lá uma escola com o nome de Tagore.
FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO:
- Título original: Maria Montessori.
- Produtora: Atta Mídia e Educação (Brasil, 2011, 40 min., a cores e a preto e branco, documentário).
- Editora: Paulus Editora. Coleção: Grandes Educadores.
- Roteiro e Apresentação: Maria Elizabeth Gastal Fassa. Psicóloga, especialista em Psicopedagogia e Psicologia Piagetiana. Mestre em Educação pela Montessori Integrative Learning pelo Endicott College/The Institute for Educational Studies, EUA. Fundadora da Escola Pró-Saber e do Instituto de Desenvolvimento de Porto Alegre. Uma das principais consultoras em cursos de aperfeiçoamento de professores na abordagem Montessori. Palestrante e conferencista internacional, é autora de artigos e do livro Poder e Amor: a micropolítica das relações e integrante da comissão de editoria da Organização Montessori do Brasil.
- Argumento: Maria Montessori foi o exemplo de um pensar e de um agir livres. Primeira mulher médica italiana com profundas preocupações sociais, aliou o espírito científico à observação das crianças para contribuir com práticas e conceitos pedagógicos de importância fundamental. Neste programa Maria Elizabeth Gastal Fassa, psicóloga, especialista em Psicopedagogia Piagetiana e uma das maiores especialistas em Montessori do país, aborda e explica o imenso legado deixado à educação pela educadora italiana. Maria Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870, Chiaravalle AN. Desde menina manifesta interesse pelas matérias científicas, principalmente matemática e biologia, resultando em conflito com seus pais, que possuíam o desejo que ela seguisse a carreira de professora. Indo contra as expectativas familiares, ela se inscreve na Faculdade de Medicina da Universidade de Roma, escolha que a levou a ser, em 1896, a primeira mulher a se formar em medicina na Itália. Após a sua formatura, iniciou um trabalho com crianças anormais na clínica da universidade, vindo posteriormente dedicar-se a experimentar em crianças sem problemas, os procedimentos usados na educação dos não normais. Observou também crianças que ficavam brincando nas ruas e criou um espaço educacional para estas crianças. Responsável também pela criação do método Montessori de aprendizagem, composto especialmente por um material de apoio em que a própria criança (ou usuário) observa se está fazendo as conexões corretas.
- Conteúdos do Documentário: Biografia; A experiência de San Lorenzo: normalização, atenção polarizada, ambiente; Mente absorvente; Períodos sensíveis; Capacidades na mente humana: embrião espiritual; Atenção e inteligência; Imaginação e fantasia; Planos de desenvolvimento; Necessidades fundamentais e tendências naturais; Educação cósmica e Um legado atual.
CARATERÍSTICAS BÁSICAS DO MÉTODO MONTESSORI:
Nascido na Itália, em 1907, o método montessoriano é um sistema educacional com uns recursos didáticos específicos, que têm o objetivo de despertar um interesse espontâneo nas crianças, obtendo uma concentração natural nas tarefas, para não cansar e não chateá-las. Inicialmente, o método foi criado para crianças portadoras de deficiências e depois aplicado em crianças não excepcionais partindo do princípio de que é necessário desenvolver a inteligência. O método chegou por fazer-se muito popular em muitos lugares. A sua originalidade radica no fato das crianças ficarem livres para movimentarem-se pela sala de aula, utilizando os recursos didáticos em um ambiente propício à auto-educação. A manipulação dos recursos ou materiais nos aspectos multi-sensoriais é um fator primordial para o aprendizado da linguagem, matemáticas, ciências e práticas de vida. Não é apenas uma técnica de alfabetização, mas um sistema de educação. Os principais objetos são blocos de madeira, cubos, fitas e todo tipo de material que estimule a audição, o tato, a visão e mesmo a concentração ou atenção. A educação dos sentidos é essencial. Busca-se a criança “equilibrada”, aquela que consegue dominar a si mesma o espaço à sua volta.
Para Maria Montessori o conceito de educação está relacionado com o conceito de criança. Segundo ela, a criança é um ser com necessidades próprias, original e único, um ser capaz de crescer por si mesmo e diferente do adulto, um ser que precisa de ajuda adequada e oportuna e um ser capaz de aprender de forma natural. Para desenvolver o seu método didático na aula, criou cinco tipos diferentes de recursos didáticos: material sensorial, com o objeto de educar todos os sentidos do ser humano; material para realizar exercícios da vida cotidiana; material para desenvolver a linguagem; material para desenvolver o cálculo, os números e a matemática e material para trabalhar as Ciências em geral. Tais materiais ou recursos didáticos foram elaborados com peças sólidas de diversos tamanhos e formas: caixas para abrir, fechar e encaixar, botões para abotoar; série de cores, de tamanhos, de formas e espessuras diferentes, cubos, placas, barras e cubinhos. Também coleções de superfícies de diferentes texturas e campainhas com diferentes sons.
Os objetivos individuais que o método propõe são fazer com que as crianças encontrem um lugar no mundo, desenvolvam um trabalho gratificante e nutra este a paz e densidade interiores, para ter capacidade de amar. Tais são os fundamentos de qualquer comunidade pacífica, formada por indivíduos independentes e responsáveis. Perante algumas vozes críticas para o seu método, que o consideravam muito estruturado, Montessori acostumava dizer: “Eu estudo minhas crianças e elas me ensinaram a ensiná-las”. O dever do mestre e mestra é explicar o uso dos recursos didáticos e materiais, representando de alguma maneira a ligação entre eles e a criança. O papel dos educadores é criar condições para que as crianças atinjam essas metas e desenvolvam a sua personalidade integral por intermédio do trabalho, do jogo, de atividades prazerosas e da formação artística e social. Cada criança na sala de aula tem o seu espaço. Aos poucos consegue-se a normalização. Os rebeldes são isolados em um canto da sala, enquanto os demais continuam as suas atividades. A sala de aula está dividida em vários cantos: do silêncio, dos brinquedos, dos blocos, das manipulações, das ciências e área externa com jogos e jardim.
OS DOZE PONTOS DA DIDÁTICA MONTESSORIANA:
-
Baseada em anos de observação da natureza da criança, por parte do maior gênio da educação desde Froebel, criador dos “Kindergarten”.
- Demonstrou-se ter uma aplicabilidade universal.
- Revelou que a pequena criança pode ser uma amante do trabalho, mesmo do intelectual, escolhido de forma espontânea, e assim, realizado com muita alegria.
- Baseada numa necessidade vital para a criança que é a de aprender fazendo. Em cada etapa do crescimento mental da criança são proporcionadas atividades correspondentes com as quais se desenvolvem as suas faculdades.
- Ainda que ofereça à criança uma grande espontaneidade consegue capacitá-la para alcançar os mesmos níveis, ou até mesmo níveis superiores de sucesso escolar, que os alcançados sobre os sistemas antigos.
- Consegue uma excelente disciplina apesar de prescindir de coerções tais como recompensas e castigos. Explica-se tal fato por tratar-se de uma disciplina que tem origem dentro da própria criança e não imposta de fora.
- Baseada num grande respeito pela personalidade da criança, concedendo-lhe espaço para crescer em uma independência biológica, permitindo-se à criança uma grande margem de liberdade que se constitui no fundamento de uma disciplina real.
- Permite ao mestre e mestra tratar cada criança individualmente em cada matéria, e assim, fazê-lo de acordo com as suas necessidades individuais.
- Cada criança trabalha ao seu próprio ritmo.
- Não necessita desenvolver o espírito de competência e a cada momento procura oferecer às crianças muitas oportunidades para a ajuda mútua o que é feito com grande prazer e alegria.
- Já que a criança trabalha partindo da sua livre escolha, sem coerções e sem necessidade de competir, não sente as tensões, os sentimentos de inferioridade e outras experiências capazes de deixar marcas no decorrer da sua vida.
- O método montessoriano se propõe a desenvolver a totalidade da personalidade da criança e não somente as suas capacidades intelectuais. Preocupa-se também com as capacidades de iniciativa, de deliberação e de escolhas independentes e os componentes emocionais.
TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:
Depois de ver o documentário, organizar um debate-papo ou tertúlia, sobre os diferentes aspetos que sobre a figura de Maria Montessori aparecem no mesmo. Refletir sobre o seu pensamento educativo e comentar, dando alternativas concretas, sobre como se poderia pôr em prática hoje nas nossas escolas a sua didática prática. Poderia pesquisar-se também na Internet sobre as experiências realizadas pela grande pedagoga italiana, assim como sobre as suas interessantes publicações.
Elaborar uma monografia, procurando informações em livros e na internet, sobre Maria Montessori, as suas ideias pedagógicas e os seus métodos e recursos didáticos. Com desenhos, textos, cartazes e materiais elaborados, poderia organizar-se nas escolas uma magna exposição sobre as experiências educativas realizadas pela pedagoga italiana.
Escolher uma, para lê-la entre todos, das obras básicas, e de maior aplicação à Didática nas aulas, escritas por Montessori, publicadas na nossa língua, como: Pedagogia Científica: a descoberta da criança, O que você precisa de saber sobre o seu filho, Mente absorvente, A Criança, A Educação e a Paz, A mente da criança e Formação do Homem. Podemos optar também por ler algum livro dedicado a estudar a sua pedagogia. Entre eles temos Os grandes humanistas: Maria Montessori, por Michael Pollard ou Uma introdução ao método Montessori, por Gabriel M. Salomão. Depois de lida a obra eleita, organizar um “Livro-fórum” para comentá-la e debater sobre as palavras, ideias educativas e propostas práticas que a pedagoga italiana faz na mesma.