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Lucia Cernadas: “O livro quere contar umha história justa e isso implica umha história complexa”

Lucia Cernadas (Cecebre, 1997) publicou Sutura (2019) e Espinha (2020) com Leite Edicións. Também participou nas antologias Poesía galega novísima (Urutau, 2020), Mafia, amiga (Leite Edicións, 2021), na revista Dorna e na última ediçom do Festival da Poesia no Condado (2024). Graduada em filologia Inglesa e Galego-Portuguesa, também tem estudos profissionais de música. Este ano publicou o poemário O corpo é uma promesa, na editora Rodolfo e Priscila.

O corpo é uma promessa é o primeiro livro em reintegrado publicado em Rodolfo e Priscila. Como foi a aceitaçom na editora da tua escolha normativa?

A verdade é que foi mui natural. Eu já tinha umha proposta para publicar com elas desde antes de eu escrever em reintegrado e sim tinha algo de medo de que a oportunidade caísse por esse motivo. Porém, quando lhes enviei o texto, respondêrom que nom havia nengum inconveniente, porque o que elas priorizam é o seu critério literário. A única diferença a respeito doutros livros da mesma casa foi termos de procurar um corretor afeito a trabalhar em reintegrado, mas nom foi difícil.

Este livro, para além do explícito do título, está dedicado a umha série de músicas: Silvana Estrada, Selena, Gilda, Rocio Dúrcal, Chavela Vargas, Adrianne Lenker, Rita Payés, Eydie Gormé e Omara Portuondo. Que papel jogaram na criaçom?

Nom tem muito mistério: o livro nasce dum dó amoroso e a música destas artistas, entre outras, foi a que me acompanhou durante esse proceso. Todas elas elaboram nas suas letras muitos dos sentimentos encontrados que experimentamos nestas situaçons, portanto quigem reconhecer a sua inspiraçom desse jeito. De facto, tenho umha playlist para o livro, que criei para a sua primeira apresentaçom.

Que influência tem a tua formaçom musical na construçom do poemário?

Penso que mais do que a minha formaçom, o que mais influíu neste livro fôrom a minha experiência e a minha curiosidade. Nom escrevim os textos pensando na linguagem musical, mas, como dixem, há todo um conjunto de músicas, ritmos, artistas e aprendizados dos quais bebe o poemário. Por exemplo, o subtítulo “bolero” (que ía ser o título completo) apareceu quando o poemário estava fechado: eu criei-me com o género, escuito-o habitualmente e adoro as danças afro-latinas e a sua história, mas nom reparara em que podia definir bem o que eu figera no livro até que nom lim um texto da investigadora Lidia García no volume (h)amor roto, que dizia que o sucesso dos boleros tem a ver com que sempre som descontextualizados, abertos; histórias de amor ou desamor em absoluto que permitem a toda a gente identificar-se com parte do que cantam. Eu refletim sobre isto e pensei que o que fazia era um pouco isso: destilar momentos e experiências para transformá-los em peças fechadas com as quais a gente poderia empatizar.

A estrutura formal de todo o texto também é mui rítmica, como uma cinta de música, com cada poema como uma cançom, umha prévia e um bonus track.

Isto também apareceu depois. O poemário estava concibido como um calendário, com dous meses agindo como prólogo e epílogo de diferentes momentos dumha história. Porém, meses mais tarde escrevim o último texto, que tem muito de mantra ou retrouso, entom titulei-no como “faixa oculta”, ou bonus track, como dis. A partir de aí reparei em que os distintos meses podiam entenderse como distintas faixas do mesmo álbum e que tudo casava mui bem com a dedicatória e o processo de escrita. Nom sei até que ponto foi parte consciente desse processo ou foi umha coincidência feliz, mas estou satisfeita com o resultado.

A narrativa é, para além de musical, muito visual, fílmica, seguindo uma narrativa que avança como nas estaçons dum ano, dividido em todos os meses dum ano.

O livro quere contar umha história justa e isso implica umha história complexa. O meu jeito de consegui-lo foi trabalhar em fotos fixas dos diferentes momentos que se sucedem no caderno. Poderíamos pensar nas imagens que acompanham os calendários de parede, que variam em funçom do mês e tentam resgatar os elementos representativos da época que ilustram. Para mim era importante nom ressignificar as diferentes baliças da história desde um único ponto de vista e espero tê-lo conseguido.

Este ano em que publicas O corpo é uma promesa coincide com a tua volta à Galiza, após um período a trabalhar como leitora de galego na Universidade de Oxford, como foi esta experiência?

Honestamente, fôrom os melhores anos da minha vida até agora. A comunidade que criámos nestes anos por volta do galego é do mais gratificante que vivim. Além disso, figem amizades maravilhosas, puidem viajar por Inglaterra, estivem imersa na muitíssima vida social e cultural que tem Oxford, desfrutei da sua arquitetura, a sua história, a sua natureza… e sentim-me verdadeiramente em casa. Penso que isto tem muito a ver com que conseguisse sacar o livro: estar nutrida e estimulada é fundamental para escrever.

O teu trabalho atual é como investigadora na Universidade da Corunha, em que fase está a tua tese de doutoramento?

Apesar de levar matriculada no doutoramento desde 2023, a minha tese (sobre a poesia galega no século XXI no campo editorial) ainda está numha fase mui inicial, porque até este verão estivem matriculada a tempo parcial, compaginando-a com o meu trabalho em Oxford. Figem algumhas abordagens à bibliografia para o estado da questom e algumhas aproximaçons parciais aos dados com que vou trabalhar, mais ainda me custa trabalho a visom de conjunto e espero poder avançar com mais foco agora que estou contratada como investigadora a tempo completo.

Há algo mais que não perguntasse e gostasses de acrescentar ou desenvolver?

Quero só agradecer muito a leitura do livro, as perguntas atentas e interessantes e o espaço que me dades. Além disso, um pequena mensagem publicitária: o 21 de novembro apresentarei o livro na livraria Berbiriana da Corunha, acompanhada por Lucía Aldao, e espero ver-vos ali!

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