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LORENZO LUZURIAGA, DEFENSOR DA ESCOLA NOVA PÚBLICA

Seguindo com a série que estou a dedicar a grandes vultos da humanidade, e que iniciei com Sócrates, dedico o presente depoimento, que faz o nº 55, a outro grande pedagogo chamado Lorenzo Luzuriaga Medina (1889-1959). Sobre o qual investigou muito para a sua tese de doutoramento, e publicou vários livros a ele dedicados, o ex-professor da Faculdade de Educação de Compostela, grande historiador da pedagogia, Hermínio Barreiro.

lorenzo-luzuriaga-foto-0Lorenzo Luzuriaga nasceu em Valdepeñas e faleceu em Buenos Aires (Argentina). Cursou estudos na Escola Superior do Magistério em Madrid, e na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Complutense. Ampliou a sua formação nas universidades germanas de Berlim e Jena. Em 1912 ingressou no Corpo de Inspetores de ensino primário, e depois passou a trabalhar no Museu Pedagógico Nacional como encarregado das publicações do mesmo. Mais tarde foi secretário técnico do Ministério da Instrução Pública e Belas Artes, vogal do Conselho Nacional da Cultura e Secretário da Junta de Relações Culturais do Ministério dos Assuntos Exteriores. Em 1933 foi nomeado professor encarregado de “Organização do Ensino e Política Pedagógica” da Seção de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Complutense. Com a guerra civil teve que exilar-se. Em 1939 foi nomeado professor de Pedagogia da Universidade de Tucumán na República Argentina, e em 1941, Vice-decano da Faculdade de Filosofia e Letras da mesma universidade.

Em 1956 acedeu por concurso ao posto de professor titular da cadeira de “História da Educação e da Pedagogia” da Universidade de Buenos Aires. Simultaneamente ministrou cursos noutras universidades da América Latina, como as de Caracas, Quito e Lima. Ajudou a fundar a editorial Losada na Argentina, e foi diretor da sua “Biblioteca Pedagógica”. Se com esta editora realizou um labor extraordinário para o desenvolvimento da pedagogia na América Latina, o seu mais brilhante trabalho de difusão da Escola Nova e da Pedagogia científica consistiu na criação e direção da Revista de Pedagoglorenzo-luzuriaga-capa-livro-0-jsonia durante quinze anos em Madrid (1922-1936) e em Tucumán (1939). A nómina de colaboradores assíduos desta publicação periódica constitui possivelmente a melhor história da pedagogia de vanguarda em todo o mundo durante aqueles anos. Nomes como os de Dewey, Montessori, Petersen, etc., assim o testemunham.

Em 1918 redigiu o relatório que a Escola Nova de Madrid apresentou ao XI Congresso do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), que foi aprovada como programa mínimo escolar do mesmo. Porém, as teses pessoais de Luzuriaga em política educativa ficam ainda melhor expostas na sua obra A Nova Escola Pública (La nueva escuela pública).

Luzuriaga foi um educador influenciado pela Instituição Livre do Ensino (doravante, ILE). Giner de los Ríos e Cossío, os seus pedagogos, e Giner um dos criadores da mesma, neste senso foram os seus mestres. No entanto, a sua orientação filosófica foi dirigida principalmente por Ortega y Gasset. Paul Natorp, Jorge Kerschensteiner e John Dewey determinaram em grande medida as suas ideias de uma pedagogia social e uma educação ativa. Escreveu centos de artigos e quase que meio cento de livros.

 

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS:

1. A Escola na 2ª República.

Duração: 9 min. Produtora: UNED.

2. Educação na 2ª República.

Duração: 2 min.

3. A Reforma Escolar durante a 2ª República Espanhola.

Duração: 10 min. Produtora: UNIR (Universidade Internacional de La Rioja).

4. Da ilusão à depuração. O ensino na 2ª República e o Franquismo.

Duração: 52 min. Produtora: Universidade de Sevilha.

5. A memória. O projeto educativo da 2ª República.

Duração: 11 min. Produtora: Canal Sur.

6. História da Escola Nova.

Duração: 12 min.

7. Escola Nova ou ativa.

Duração: 7 min.

BIOGRAFIA TRUNCADA PELO EXÍLIO OBRIGATÓRIO:

Lorenzo Luzuriaga Medina nasce a 29 de outubro de 1889 em Valdepeñas (Ciudad Real). Seu pai era mestre e diretor de escola desta localidade e sua mãe, irmã dum mestre da mesma escola. Seu pai, Santiago Luzuriaga, era basco-navarro de Murrieta, perto de Lizarra, e sua mãe, de nome Ángeles Medina, era manchega de Socuéllamos. Seus pais casaram-se em segundas núpcias, e tinham cada um seu filho do primeiro casal, Fermim e Recaredo, respetivamente, que eram já mestres ambos. Desta maneira Luzuriaga tinha o pai mestre, dous tios mestres e dous irmãos mestres, com o qual não se pode ter mais pedagogia na família. O seu pai desloca-se para Bilbau, onde falece ao pouco tempo de nascer seu filho. Por isto Lorenzo Luzuriaga, parte com sua mãe para Aravaca (Madrid) para morar na casa de seu tio Recaredo. Quem o ajuda a estudar magistério na Escola Normal Central de Madrid. A sua escolaridade primária teve-a em Valdepeñas e em Aravaca. Em condições económicas difíceis estuda o curso de magistério, indo a pé de Aravaca à capital uns 8 ou 10 quilómetros, em alpargatas (os sapatos punha-os pouco antes de entrar na cidade). No ano 1909 ingressa na Escola Superior do Magistério graças a uma bolsa de estudos. Também frequentava a biblioteca do Museu Pedagógico Nacional, onde fazia múltiplas leituras e chegou a conhecer Cossío, que lhe apresentou Giner de los Ríos, que para Luzuriaga chegou a ser um centro decisivo para a sua vida. Pois abriu-lhe as portas da ILE, na qual chegou a ser aluno e mestre de 1908 a 1912. Os anos 1908 e 1909 são para ele o primeiro contacto com a ILE e com a Escola Superior do Magistério (ESM), e as pessoas que vão determinar a sua trajetória intelectual na sua vida. Na ILE estavam Giner e Cossío, e na Escola Superior do Magistério Ortega y Gasset, que chegava de Marburgo (Alemanha). Junto aos citados estavam também outros importantes como Simarro, A. Builla, Luis de Zulueta e Rufino Blanco. Estes anos de formação foram muito importantes e decisivos para Luzuriaga, influindo no seu perfil intelectual, na ideologia política, na formação científica e no talante humano do jovem Luzuriaga.

De 1908 a 1914 estuda na ILE e na ESM, aprovando todos os anos com altas classificações. Em 1912 sai a primeira promoção da ESM e Luzuriaga é nomeado Inspetor de Ensino Primário, exercendo na região de Ginzo de Lima (Ourense) como tal. Neste mesmo ano casa com Maria Luisa Navarro, a quem conhece na ESM. Este matrimónio vai fortalecer a linha intelectual e ideológica futura do jovem Lorenzo. A sua esposa pertencia a uma família aristocrática de Cádis. Embora a sua origem, o pai da noiva e logo esposa, foi um apaixonado republicano e teve que permanecer vários anos no exílio, onde nasceu Maria Luisa na localidade francesa de Séte. Com seis anos regressou a Cádis com os seus pais, onde se educou com o seu primo Manuel de Falla. Deslocou-se mais tarde a Madrid, onde estudou magistério e se especializou em surdos-mudos. Mais tarde levaria uma vida intelectual muito ativa, a partir de 1912, sendo colaboradora assídua do jornal El Sol e da Revista de Pedagogia.

Nada mais entrar na ILE, Luzuriaga estudou intensivamente o idioma alemão, chegando a traduzir textos pedagógicos de Kant, Pestalozzi e Goethe já em 1911, e mais tarde, o livro Como Gertrudis ensina seus filhos, da autoria de Pestalozzi, e Pedagogia Geral de Herbart. Em 1913 publica o seu primeiro livro Direcciones actuales de la pedagogía en Alemania, e ganha uma bolsa da J. A. E. (Junta de Ampliação de Estudos) para estudar na Alemanha, aonde se desloca durante o ano letivo 1913-14. Estuda em Jena e Berlim com os professores Münch e Rein. Tinha nascido já o seu primeiro filho Jorge. Da Alemanha inicia as suas colaborações periódicas na revista Inspección de Primera Enseñanza. Os títulos primeiros de seus artigos vão ser: “A Escola em unidade”, onde são citados os seus mentores do momento a que admira: Tews, Kerschensteiner e Natorp. Também “A Escola do Trabalho”, “Um século de história escolar prussiana”, etc. Nasce assim, pois, o que vai ser uma preocupação constante ao longo da sua vida: a “Escola Unificada”. Também inicia as suas colaborações no B. I. L. E. (Boletim da ILE), fazendo a recensão de artigos da revista germana “A Escola Alemã” (Die Deutsche Schule), que tratam o tema da escola “Unitária”, como tinha traduzido antes.

Ao finalizar o ano letivo 1913-14 na Alemanha, regressa ao seu país, e inicia a sua etapa de funcionário, professor e publicista, que só vai interromper esporadicamente com as suas visitas ao estrangeiro para dar conferências, palestras, assistir a congressos ou realizar essa atualização cultural e científica que vai ser uma caraterística comum a todos os homens da geração de 1914.

De 1914 a 1931 inicia o seu labor ao serviço da República e de chamada ao Magistério, que denominou de forma expressiva como etapa das “Mãos à Obra”. Quando voltou da Alemanha foi nomeado professor do curso de aperfeiçoamento para mestres, por proposta da JAE. No mesmo é encarregado do ensino de “Questões de pedagogia contemporânea”. Neste ano de 1914 entra na editora Calleja, onde funda e dirige o Boletim Escolar, e assessora e seleciona a publicação de Manuais Escolares. Nesta editora publica a obra Direito. Primeiro Grau, manual em que explica a importância prática e política do ensino do Direito como resposta à necessidade de uma educação cívica. Em 1915 falece Giner e o acontecimento vai ser glosado muitas vezes no BILE, sendo Cossío o testamenteiro e o continuador da sua obra.

O ano 1915 foi importante na vida de Luzuriaga. Começa a colaborar no semanário Espanha dirigido por Ortega y Gasset, com muitas colaborações entre este ano e o de 1917, que é o ano em que nasce o jornal El Sol, em Madrid, no qual vai dirigir a sua página semanal “Pedagogia e Instrução Pública”, em que vai publicar muitos artigos até 28 de outubro de 1921. Em 1915 também se criam a Liga de Educação Política e a Escola Nova, às quais ele pertence. Em 31 de dezembro é nomeado inspetor agregado de Primeiro Ensino no Museu Pedagógico Nacional, o qual vai favorecer muito a sua colaboração estreitíssima com Cossío. Em 1918 redige as Bases para um programa de instrução pública, relatório apresentada à Escola Nova de Madrid para o programa mínimo do XI Congresso Ordinário do PSOE (23 de novembro a 2 de dezembro de 1918, em Madrid)

Em janeiro de 1922 aparece o primeiro número da Revista de Pedagogia, criada por ele, que funda e dirige, e na qual muito o ajuda a sua esposa Maria Luisa Navarro. Esta revista, em 1938, tornou-se durante uma pequena etapa em Barcelona, em órgão da FETE. Neste mesmo ano de 1922 inicia uma longa série de publicações pedagógicas, onde amostra as suas ideias educativas como representante espanhol do movimento internacional da Educação Nova. Paralelamente a editora Calpe oferece-lhe a secretaria técnica e direção das suas publicações infantis, e começa assim a sua colaboração com esta editora. É nomeado ademais subdiretor da Revista Las Españas. Mantém as colaborações no BILE e escreve ademais para O Socialista. Passa a ser delegado do movimento da Escola Nova no Estado Espanhol, e a Revista de Pedagogia também é reconhecida como o órgão espanhol de imprensa do movimento. Com 42 anos, em 1930, sendo a transição à República, Luzuriaga afiança a sua obra e é reconhecido internacionalmente como colaborador habitual nas tarefas da Liga Internacional das Escolas Novas, escrevendo para as revistas Pour l´Ere Nouvelle, La Nouvelle Education, Revista Pedagógica e Die Deutsche Schule, com temas relacionados com o movimento mundial da educação nova.

ETAPA DE MADUREZ E A FAVOR DA REPÚBLICA (1931-36):

Em 1931, proclamada a República, Luzuriaga é designado membro do Conselho Nacional de Cultura, exercendo como tal entre 1931 e 1933. Colabora em Crisol, onde publica o seu famoso artigo intitulado “Ao serviço da República: chamada ao Magistério”, que se vai reproduzir logo na Revista de Pedagogia no seu número de maio. No número de setembro desta revista publica as “Bases para um Anteprojeto de Lei de Instrução Pública”, inspiradas na ideia da escola única. Já em abril deste ano tinha publicado “Ideias para uma reforma constitucional da educação pública”. Em geral multiplicam-se os seus escritos e trabalhos sobre a necessária e urgente reforma da educação. Em 27 de janeiro de 1932 cria-se a seção de Pedagogia na Faculdade de Filosofia e Letras de Madrid e Luzuriaga vai estar logo no seu quadro de docentes. Paralelamente, multiplicam-se as suas conferências e palestras e atos públicos em Madrid e no resto do estado (Ateneus de Bilbau e S. Sebastião, universidade popular de Segóvia, etc.). Faz parte de vários júris de concursos, dá cursos de aperfeiçoamento para mestres e participa ativamente em diversos movimentos assembleares. Vai ser de novo nomeado secretário técnico do Ministério da Instrução Pública e Belas Artes, cargo que desempenha até 1936.

Em março de 1933 a Revista de Pedagogia publica um artigo pacifista intitulado “A crise do mundo”, exemplo da conexão cultura-política-educação que Luzuriaga e a revista defenderam sempre. Em janeiro de 1934 e no número 145 da revista, publica-se uma “Nota do mês” em que se alude ao “retrocesso republicano”, e em fevereiro escreve sobre a “Escola da República”. Em 1935 falece Cossío e a Revista de Pedagogia dedica em setembro um monográfico a este grande pedagogo, que tinha sido nomeado “Cidadão de honra da República”. Em março de 1936 a revista recolhe com grande destaque o triunfo da Frente Popular nas eleições. Por isto, num artigo intitulado “O novo regime no ensino”, fala com alegria da volta do regime, pessoas e ideias dos primeiros momentos da República, e elogia Marcelino Domingo, que volta a dirigir o Ministério da Instrução Pública. Em julho de 1936 publica-se o último número da Revista de Pedagogia, por culpa do golpe de estado franquista e a sublevação militar. Luzuriaga recebe várias ameaças de morte e tem que sair para o exílio.

A SUA NOVA VIDA NO EXÍLIO (1936-1959):

Pelas suas ideias, e especialmente pelo seu magnífico labor a favor da educação republicana, para salvar a sua vida e a dos seus, tem que sair para o exílio. O primeiro lugar do destino da família é Londres. Dali logo se desloca para Glasgow, e posteriormente, para a América e, em concreto para a Argentina, de onde o reclamam Amado Alonso e Garcia Morente. Ali vai exercer como professor de Pedagogia na Universidade de Tucumán. Viaja depois ao Chile onde vai dar vários cursos na universidade chilena. Em 1941 é nomeado vice-decano na Universidade de Tucumán, cargo a que renuncia na época de Perón. Ali trabalha também a sua mulher, que cria vários centros modelo de pré-escola. Maria Luisa, sua esposa, vai falecer com diabetes em 1948.

Em Buenos Aires Luzuriaga vai-se relacionar de forma muito estreita com um amplo círculo de exilados e outros intelectuais argentinos e americanos. Em 1947 passa a fazer parte da redação da revista Realidad. Em 1955 e 1956 dá cursos na Faculdade de Filosofia da Universidade de Caracas. Em 1956 é nomeado professor titular da cadeira de “História da Educação e da Pedagogia” da Universidade de Buenos Aires. Durante estes anos, entre 1951 e 1958, publica numerosas obras pedagógicas. Em 1958 participa na Universidade de Caracas na homenagem que lhe dedicam a Ortega y Gasset. Em outubro de 1959 a Universidade de Buenos Aires dedica a Luzuriaga uma homenagem com motivo de seu aniversário. Em 23 de dezembro deste ano, a causa de uma trombose, com 70 anos, falece na capital argentina Lorenzo Luzuriaga. De forma póstuma, a editorial Losada, na qual tinha dirigido a coleção “Biblioteca Pedagógica ou do Mestre”, publica o seu Diccionario de Pedagogia (1960), uma obra magna que Luzuriaga tinha escrito e preparado para ser impressa. Em 1961, esta editorial de proprietário asturiano, estabelece o “Premio Luzuriaga”, como homenagem à sua pessoa e à sua obra.

O SEU MODELO DE ESCOLA NOVA PÚBLICA:lorenzo-luzuriaga-livro-a-escola-nova-publica

Para a determinação do carácter das “escolas novas”, fundou-se por Adolphe Ferrière um “Bureau International des Écoles Nouvelles” (BIEN), que assinalou as condições que deviam reunir aquelas para merecerem tal qualificação. Com este objeto assinalou trinta traços caraterísticos da educação que deveriam dar. Podemos aplicar tais princípios, adaptando-os às escolas públicas, denominando-as “escolas novas públicas”, quer dizer, às escolas públicas que deviam gozar de autonomia para realizar as ideias da educação nova. Esses princípios sintetizados são os seguintes:

– Ser um centro experimental de educação.

– Ser um semi-internato.

– Estar nas imediações da cidade.

– Distribuir os seus alunos em grupos ou equipas.

– Praticar a coeducação dos sexos.

– Prestar especial atenção às atividades manuais.

– Cultivar certas atividades particulares (trabalhos de oficina ou obradoiro, jardinagem, horticultura, etc.)

– Fomentar o trabalho individual e por grupos ou equipas.

– Favorecer os jogos, os desportos e a ginástica.

– Praticar as excursões, os acampamentos e as colónias escolares.

– Atender sobretudo à cultura geral dos alunos.

– Deixar uma margem de escolha aos estudantes.

– Basear o seu ensino na observação e na experimentação.

– Apelar sobretudo à atividade pessoal dos alunos.

– Recorrer aos interesses espontâneos dos estudantes.

– Recorrer ao trabalho individual.

– Apelar também ao trabalho coletivo e cooperativo ou social.

– Dar o ensino principalmente de manhã.

– Ensinar poucas matérias por dia.

– Dividir o ano escolar em períodos trimestrais.

– Constituir uma comunidade escolar.

– Fomentar as assembleias e a autonomia dos alunos.

– Proceder à eleição de chefes, delegados ou tutores.

– Desenvolver o espírito de solidariedade.

– Utilizar o menos possível os prémios e os castigos.

– Constituir um ambiente de beleza.

– Cultivar todas as manifestações artísticas dos escolares.

– Apelar à consciência moral dos alunos.

– Educar no senso da cidadania e da humanidade.

Cada um destes princípios deve ser desenvolvido segundo as circunstâncias, e não é necessário que a escola nova os reúna todos. Basta com que cumpra com cinquenta por cento dos mesmos. Porém, necessita para isto de dous aspetos essenciais: a) Que a escola desfrute de plena autonomia, e b) Que os mestres vão a ela espontaneamente, pela sua vocação e ideais educativos.

Como exemplos de escola nova pública devem mencionar-se as “Instituições Federais de Educação” (Bundeserzihungsanstalten), criadas em Viena depois da primeira guerra mundial pelo governo socialista, e inspiradas nas reformas introduzidas por Glöckel, e nas quais alunos selecionados das escolas públicas gozavam dos refinamentos educativos das melhores escolas novas. Tais escolas foram de novo abertas depois das duras experiências da política nazi.

CRIADOR DA REVISTA DE PEDAGOGIA:

O labor principal de Luzuriaga no campo pedagógico foi a criação da excelente Revista de Pedagogia e as suas Publicações, que fundou em 1922, com o objetivo, consignado no cabeçalho da revista, de “refletir o movimento pedagógico contemporâneo e, na medida das suas forças, contribuir para o seu desenvolvimento. Dotada da amplitude de espírito que requer o estudo científico, está afastada de toda a parcialidade e exclusivismo”. Foi muito importante a colaboração de Maria Luisa Navarro na mesma. Tal publicação iniciou-se modestamente em janeiro de 1922 publicando o nº 1, com um capital de 1000 pesetas de então. A sua extraordinária qualidade e a das suas publicações, num período em que o magistério alcançava no país e na América Latina um nível profissional e económico que não foi superado naquela altura, coincidiram para dar-lhe um grande desenvolvimento. Mais de douscentos títulos, em que se alternavam os mais destacados pedagogos estrangeiros e os de fala hispana, apareceram entre as denominadas “Publicações da Revista de Pedagogia”, e deles, perto de cinquenta foram traduzidos pelo próprio Luzuriaga. A Revista de Pedagogia deixou de aparecer em 1936 com o golpe de estado franquista e a guerra civil. Uma tentativa de ressuscitá-la em Tucumán fracassou por falta de apoio económico. Porém, as Publicações da Revista de Pedagogia tiveram melhor sorte, ao ficar incorporadas à editorial Losada de Buenos Aires, que fora criada por Gonzalo Losada. A coleção pedagógica “Biblioteca do Mestre” precisamente estava dirigida e coordenada por Lorenzo Luzuriaga.

OBRAS E PUBLICAÇÕES DE LUZURIAGA:

Lorenzo Luzuriaga foi um autor prolífico, escrevendo e publicando infinidade de livros, fundamentalmente relacionados com a educação e a pedagogia, e alguns de tipo escolar. Em 1913 publica na Livraria Nacional e Estrangeira de Madrid o seu primeiro livro intitulado Direcciones actuales de la Pedagogía en Alemania. O Museu Pedagógico Nacional de Madrid (doravante MPN) publica-lhe as seguintes monografias pedagógicas: La enseñanza primaria en España (1915), La enseñanza primaria en el extranjero (1916-19), El analfabetismo en España (1919), La escuela unificada (1922), Las escuelas nuevas (1923), Escuelas de ensayo y reforma (1924) e Escuelas activas (1925). O Centro de Estudos Históricos de Madrid publica-lhe em 2 volumes, no ano 1916-19, o livro Documentos para la historia escolar de España, e a editora Hernando em 1920 o intitulado Ensayos de Pedagogía e instrucción pública. Mais tarde, ademais de obras pedagógicas de diferentes pedagogos por ele traduzidas, nas Publicações da Revista de Pedagogia publica as seguintes monografias: Concepto y desarrollo de la Nueva Educación (1925), El libro del idioma (1926), Bibliotecas escolares (1927), Las escuelas nuevas alemanas (1929), La escuela nueva pública (1931) e La escuela única (1931). Já no exílio americano publica diferentes obras: Antología de la literatura clásica española (Buenos Aires: Estrada, 1941), La enseñanza primaria argentina comparada con la de otros países e La Pedagogía Contemporánea (ambas por Univ. de Tucumán, 1942). Os títulos de suas obras publicadas na coleção pedagógica da editorial Losada de Buenos Aires são os seguintes: La Pedagogía Contemporánea (1944), La educación nueva (1945), Reforma de la educación (1945), Antología de Herbart (1946), Antología de Pestalozzi (1946), La Escuela Nueva Pública (1946), Historia de la Educación Pública (1949), Pedagogía (1950), Historia de la Educación y la pedagogía (1951), Pedagogía Social y Política (1954), Antología pedagógica (1956), La educación de nuestro tiempo (1957), Diccionario de Pedagogía (1960) e Métodos de la Nueva Educación (2ª edição:1966). Seis destas obras editadas por Losada foram publicadas na nossa língua pela editora de São Paulo Companhia Editora Nacional, dentro da sua coleção “Atualidades Pedagógicas”, entre 1951 e 1959. Por último, temos que resenhar a interessante obra que lhe publicou em 1956 a Universidade de Buenos Aires sob o título de La ILE y la educación en España, e no ano anterior de 1955 a editorial Nova da mesma cidade o importante livro Ideas pedagógicas del siglo XX. Da maioria destas obras foram realizadas numerosas reedições.

A produção jornalística de Luzuriaga também foi muito importante, publicando numerosos artigos em diversas publicações periódicas. Uns 218 artigos foram publicados por ele em publicações como El Sol, o BILE, La Inspección, España e na Revista de Pedagogia. Classificados pela sua temática publicou os seguintes: Política e educação (89), Educação nova e ativa (34), Questões psico-pedagógicas e de método (31), Elementos de organização escolar (28), Sobre educadores (12, um deles dedicado a Tagore, sob o título de “La escuela de R. Tagore. Morada de Paz (Shantiniketan)”, em El Sol de 21 de julho de 1919), Sobre temas históricos (8) e Temas variados (16).

O JOGO E O TRABALHO NA EDUCAÇÃO:

Do relatório apresentado por Lorenzo Luzuriaga no “Vº Congresso Internacional da Educação Nova” celebrado em Elsinore (Helsingor-Dinamarca) de 8 a 21 de agosto de 1927, por considerá-lo muito interessante, escolhi o treito seguinte: “O jogo é o modo normal de expressão da criança, o seu modo peculiar de comportar-se, diferente e independente do adulto. Na criança não existe a distinção entre o jogo e o não jogo que há no homem. Para ele tudo é à vez cousa real e imaginada. O sério e o não sério fundem-se nele numa imagem única de realidade.

No mundo da criança não regem as leis lógicas, inflexíveis do adulto: consequência, identidade, princípio de contradição. Naquele predomina só o interesse, a atração, a vivacidade, a imaginação. As transgressões infantis da lógica ou a ética adultas não podem, portanto, ser consideradas como tais, já que para ele não existem. Unicamente conhece e vive o seu mundo peculiar, em que ainda não entraram as normas e leis dos adultos.

Só à medida que o mundo do adulto se introduz no mundo da criança, pela educação ou pela vida mesma, é quando se vão estabelecendo nele essas normas e leis lógicas que o fazem perceber as diferenças existentes entre o fantástico e o real, entre o consequente e o arbitrário, entre o devido e o indevido. No entanto, apesar desta intervenção adulta na sua vida, a criança conserva sempre um fundo inacessível e irredutível, constituído pelas suas apetências ou instintos do jogo, em que se refugia a sua infantilidade, e que lhe permite subtrair-se à realidade adulta e quotidiana. O jogo vem a ser assim para a criança o que a poesia é para o adulto; porém, com maior viveza e necessidade para ele, pois o homem pode em ocasiões passar sem arte na vida, enquanto a criança não pode prescindir do jogo.

Sobre o jogo em geral e sobre o jogo infantil em particular desenvolveram-se, como é sabido, numerosas teorias: o jogo, como gasto de energia supérflua (Schiller e Spencer); o jogo, como exercício de funções atávicas (Stanley Hall); o jogo, como exercício preparatório para a vida adulta (Karl Groos); o jogo, como estimulante do crescimento (Carr); o jogo, como fenómeno de derivação (Claparède), etc.”

O depoimento de Luzuriaga continua, e no texto aparecem as suas opiniões sobre a comparação entre jogo e trabalho, e o jogo como base das atividades principais no Kindergarten, Jardim da Infância ou, como hoje denominamos, “Escola Infantil”.

É também muito interessante o seu depoimento em que dá umas ideias para uma reforma constitucional da educação pública, na abertura das Cortes constituintes da 2ª República.

O professor galego Hermínio Barreiro publicou no seu dia vários livros dedicados à vida e obra de Luzuriaga. Entre outros destacamos os titulados Lorenzo Luzuriaga y la escuela pública en España (1889-1936), publicado em 1984 pela Deputação Provincial de Ciudad Real, e Lorenzo Luzuriaga y la renovación educativa en España (1889-1936), publicado em 1989 por Edicións de O Castro-Sada, e que é o texto da sua tese de doutoramento.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Lorenzo Luzuriaga, a sua vida, a sua obra, as suas ideias educativas, a sua prática educativa e as suas publicações. Na mesma, além de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias. Dedicaremos uma secção especial às escolas novas e ao modelo de escola nova pública proposto por Luzuriaga.

Desenvolveremos um Livro-fórum em que participem todos os escolares e docentes. De comum acordo escolheremos o livro a ler por todos, entre os seguintes que tenho por bem propor: A Pedagogia Contemporânea (1951), A educação nova (1952), História da Educação e da Pedagogia (1955), Pedagogia (1957), História da Educação Pública (1959) ou Pedagogia Social e Política (1960). Estes seis livros foram publicados na nossa língua pela editora brasileira Companhia Editora Nacional de São Paulo, dentro da sua coleção “Atualidades Pedagógicas”.

 

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