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Imersão literária na Amazônia

A Amazônia brasileira que já é tema de acaloradas discussões políticas e ambientais, agora será palco de uma inédita imersão literária em busca do despertar da criatividade artística.

pgl_cartaz_campodeheliantosA iniciativa é da escritora e ativista cultural Graziela Brum, que criou a Residência Campos de Heliantos, em Alter do Chão, no Pará.
Para as leitoras e leitores de toda Lusofonia compreender melhor a iniciativa, vamos primeiro explicar onde é local.
Alter do Chão, fica no Pará, na região norte do Brasil, que é formada pelos estados de Tocantins, Pará Amazonas, Amapá, Roraima, Rondônia e Acre. E, esse pedaço do paraíso chamado Alter do Chão fica às margens dos rios Tapajós e Arapiuns, com areias brancas e cercada de muito verde amazônico. Por fim, o jornal britânico The Guardian escolheu com um dos mais bonitos destinos de praia do país. E são praias à beira-rio!

O Espaço Brasil conversou com a escritora Graziela Brum sobre as atividades culturais e a Residência Literária que já está com inscrições abertas pelo perfil @campodeheliantos, que oferecerá 7 vagas, sendo uma como bolsa literária. O evento ocorre em novembro de 2021.

Acompanhe os melhores momentos de nossa entrevista:

PGLingua – Você tem um trabalho significativo sobre Criatividade – Nos conte um pouco como é e o que a motivou a falar e escrever sobre isso.

Graziela Brum
Graziela Brum

Graziela Brum – Estudo criatividade faz muitos anos, mas nunca havia me dedicado a reunir pensamentos num lugar específico. Em 2019, resolvi fazer uma viagem de um ano pelo Brasil, Portugal e Argentina e escrever sobre o processo criativo. Meus planos foram mudados pela pandemia do Covid-19, e estabeleci residência na vila de Alter do Chão, Amazônia. Não terminei a viagem e não tenho planos de terminar agora. Em relação as motivações, percebia muitas coerências ao iniciar um novo projeto, os fluxos de pensamentos, as coincidências, as reflexões e entrei numa pesquisa sobre as linhas que amarram nossa forma de criar. Trabalhei duro para entender alguns processos e compreendi que muitas limitações vinham do nosso olhar viciado e concreto. Nossa mente é naturalmente criativa, mas nossa maneira de perceber o mundo e nossas emoções podem estar programadas por padrões e culturas. Por isso, a necessidade de observar nossa forma de pensar, anotar e buscar maneiras de quebrar padrões.

“Nossa mente é naturalmente criativa, mas nossa maneira de perceber o mundo e nossas emoções podem estar programadas por padrões e culturas. Por isso, a necessidade de observar nossa forma de pensar, anotar e buscar maneiras de quebrar padrões.”

O Campo de Heliantos é um podcast, uma coluna na revista literária Vício Velho e agora uma residência literária em plena Amazônia. Como surgiu o projeto e como você foi parar em Alter do Chão (Pará)?

Fazia sete anos que eu passava férias em Alter do Chão. Aqui sempre me senti mais livre para criar, para me permitir, para experimentar. Por isso, mudar para Alter do Chão foi um processo tão natural, que quando eu me dei conta, eu já estava construindo uma casa. Preciso dizer que Helianto foi uma palavra que encontrei na poesia da Orides Fontela, a qual tenho profunda admiração, assim como, Hilda Hilst. Helianto é o nome cientifico do girassol. Adotei essa palavra no meu vocabulário poético por influência da poeta e iniciei uma série de textos sobre um lugar chamado Campo de Heliantos. Alguns desses textos estão no meu livro de prosa poética “Vejo Girassóis em você”. Enfim, quando mudei para a casa da praia do Jacundá 2, em Alter do Chão entendi que havia chegado em Campo e Heliantos.

“Preciso dizer que Helianto foi uma palavra que encontrei na poesia da Orides Fontela, a qual tenho profunda admiração, assim como, Hilda Hilst. Helianto é o nome cientifico do girassol.”

Sobre a Residência Artística Campo de Heliantos, eu sempre entendi a Amazônia como fonte fecunda para criar novas narrativas e entendo a Amazônia como um lugar de estímulo à criatividade. Uma residência na Amazônia é fundamental para a comunidade artística, pois além do artista conhecer o Brasil e a possibilidade de ajudar na integração de cultura e natureza, o que nos permite repensar nosso entendimento sobre a floresta e sobre as questões urgentes do desmatamento.

Quando começarão as inscrições para a Residência Literária?
Quais serão os pré-requisitos para inscrição? Estrangeiros poderão participar?

O link de inscrição está liberado a partir de dia 22 de junho na bio do nosso Instagram. Durante o período de inscrição iremos promover “A semana de encontros – o processo criativo”, com vários prosadores e poetas, em Lives no próprio Instagram para conversar sobre o processo criativo. Serão 6 vagas e uma bolsa literária. O projeto é uma iniciativa livre e independente. A seleção será feita pelos curadores de Campo de Heliantos em entrevista on-line. A primeira atividade presencial está marcada para novembro de 2021 – A imersão literária na Amazônia. São dez dias de vivências amazônicas e experiências literárias.

“Eu sempre entendi a Amazônia como fonte fecunda para criar novas narrativas”

Como será a curadoria para participar da Residência? E em relação aos custos de viagem e estadia?

A Curadoria é formada por uma equipe de especialistas locais e convidados. As vivências amazônicas e as experiências literárias trabalham em conjunto para redescobrir sentidos e elementos que sirvam de substratos na construção das narrativas. As informações especificas sobre a residência estarão no nosso material de divulgação. O link para conhecer melhor o projeto é vempara.campodeheliantos.com.br

OUTROS PROJETOS

O projeto Senhores Obscenas com Adriana Caló e com objetivo de divulgar a Literatura e a Poesia produzida por mulheres, bem como, resgatar escritoras pouco reconhecidas, a fim de diminuir a disparidade de gênero na esfera cultural; começou em 2016 e já tem três antologias, saraus, publicações na Vício Velho. Uma provocação: a luta continua ou as escritoras brasileiras já conquistaram espaços na literatura atual?

Alter Rio Tapajos | Campo de Heliantos.
Alter Rio Tapajos | Campo de Heliantos.

Na minha opinião avançamos um pouco, mas não o suficiente para reduzir todas as disparidades entre homens e mulheres. Infelizmente, ainda temos muitas barreiras em termos de estrutura de pensamento e cultura. Senhoras Obscenas foi um movimento que iniciou tudo isso na literatura. Colocamos o primeiro vídeo de poesia produzido por mulheres em 8 de março de 2016, de lá para cá, publicamos muitas mulheres em todo o Brasil. Para mim é um orgulho ter participado junto com a amiga historiadora Adriana Caló do movimento Senhoras Obscenas. Sinto muita saudades daqueles dias e agradeço pela oportunidade de me desenvolver graças ao projeto.

Jenipará, uma cidade fictícia construída à margem do rio Jarurema, no baixo Amazonas, é uma trilogia e o primeiro volume foi lançado em 2020. Como foi a repercussão do livro e qual a previsão para os próximos?

Jenipará é um livro que fala da complexidade da Amazônia, por isso a narrativa do romance traz poesia. Muitas percepções da Amazônia para mim estão numa poesia que se constrói dia a dia no meu imaginário de escritora. Não tem um roteiro de começo e final, a Amazônia é centro e é/está acontecendo e se reinventando. Estou realmente muito feliz com o resultado, inclusive com a capa produzida pelo artista plástico sensível Ivan Sitta, e com o trabalho do Marcelo Nocelli, da Editora Reformatório. Entendi que o livro tinha sido aceito quando os feedbacks vieram de leitores que não eram amigos, nem conhecidos. Percebi que o trabalho realmente tinha valor e que Jenipará era uma obra que devia circular nas escolas e lugares de cultura, pois a Amazônia deve estar no centro das nossas questões e entendimentos.

Conheça a escritora

graziela-brumGraziela Brum é escritora. Idealizou o projeto literário Senhoras Obscenas com o objetivo de divulgar a literatura e a poesia produzida por mulheres. Foi contemplada com o concurso ProAc da Secretaria Estadual de São Paulo(2014), categoria romance, com o livro Fumaça. Publicou o livro de prosa poética Vejo Girassóis em você (Editor Lumme). Seu último romance venceu o ProAc (2019), intitulado Jenipará. Escreve na Revista Vício Velho sobre Criatividade e Literatura. Curadora da Residência Artística Literária Campo de Heliantos, em Alter do Chão, Amazônia.

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