Ferramentas para entender a (nossa) subalternidade

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Arturo Casas, Isaac Lourido e Cristina Martínez editam o volume Xoán González-Millán: a projeção de um pensamento crítico. Há neste novo livro da Através sete textos variados e representativos dos diferentes assuntos focados polo teórico da literatura Xoán González-Millán [XGM] (Ogrove 1951 – Nova Iorque 2002), que servem para introduzir neles aquelas pessoas menos familiarizadas com a obra do professor da City University of New York (CUNY), mas também para oferecer propostas úteis para pensarmos hoje a literatura e a cultura galegas. 

A trajetória intelectual de XGM carateriza-se por umha alta capacidade (auto)crítica e a procura constante de ferramentas conceituais adequadas para o estudo de umha literatura como a galega, marcada polo conflito e a subalternidade. Neste sentido, é um livro pensado a partir da consciência das posiçons ocupadas polas pessoas presentes –e até ausentes– nele, a começar polo próprio XGM, engajado na construçom de umha rede internacional de estudos galegos e próximo de agentes centrais do autonomismo (nos campos académico e cultural), onde nem sempre encontrou interlocuçom para as suas propostas. Assim, embora a nómina de autorias seja paritária e plural, o relativamente reduzido número de contributos pode ser explicado polas “questões latentes […] aos campos culturais e académicos galegos, que podem encontrar conflitos na editora e na norma ortográfica, junto com os ritmos e a dinâmica meritocrática da academia atual” (pág. 20). 

A trajetória intelectual de Xoán González-Millán carateriza-se pola procura constante de ferramentas conceituais adequadas para o estudo de umha literatura como a galega, marcada polo conflito e a subalternidade

É possível agrupar os sete contributos do volume em quatro categorias, a começar polos contributos de Helena González (Universitat de Barcelona) e María Liñeira (investigadora independente), que regressam a diferentes textos de XGM para encontrar neles possíveis resistências e omissons: enquanto González expom as reticências e matizes colocados polo autor aos estudos feministas e de género, Liñeira encontra vestígios de ideologia monoglóssica no estudo das práticas linguísticas do exílio bonaerense por parte do professor da CUNY. 

Já Álex Alonso (CUNY) e Arturo Casas (USC) oferecem resumos historizados das origens e da evoluçom de elementos fulcrais no pensamento de XGM: no texto de Alonso surgem palavras chave como “discurso” ou “hegemonia”; no de Casas encontramos umha atençom especial à inclusom do pensamento de Millán no paradigma da sociocrítica. 

Mais propositivos são os capítulos assinados polos agentes reintegracionistas Pablo Pesado (Clara Corbelhe) e Isaac Lourido (UDC), que oferecem umha leitura aplicável ao momento presente dos escritos de XGM: Pesado explora a rendibilidade atual do espetro “nacionalismo literário-literatura nacional”, que Millán cunhara num texto referencial em 1995; por sua vez, Lourido explora a vigência dos contributos que XGM dedicou ao estudo do campo editorial galego autonómico, situando a sua análise nas coordenadas da “cultura da normalizaçom”. 

Por último, María do Cebreiro Rábade (USC) oferece um texto mais pessoal, lembrando as suas duas estadias realizadas na CUNY, a primeira sob a supervisom de XGM e a segunda anos passados da sua morte. Encerra o livro umha completa bibliografia de González-Millán. 

Em suma, este é um volume útil para explorar a obra de um autor axial na academia e na cultura galegas, que também oferece ferramentas para entender as muitas dificuldades colocadas à continuidade histórica da Galiza como sujeito político-cultural. 

[Este artigo foi publicado originariamente no Novas da Galiza]