Em Lugo, tenho notado que as pessoas ao falar diferenciam o “cão” da aldeia do urbano “perrito”. Quer dizer, o falante de galego lucense reconhece dois conceitos diferentes: o cão que guarda a casa na aldeia, ou que ajuda na caça, por um lado, e o animal de estimação na cidade, por outro, destinado só a fazer companhia.
Parece lógico pensar que o animal de estimação seja uma função nova para uma sociedade rural, e por isso não estranha que se tivesse adotado uma palavra nova (um castelhanismo, hoje em dia desnecessário) para essa função. Aliás, os cães de aldeia, como é normal, correspondiam a raças (ou misturas de raças) que provavelmente os diferenciassem dos animais de estimação a primeira vista.
Em finais do século XIX e em princípios do XX, na Inglaterra popularizaram-se os concursos de cães, nascendo em grande medida o conceito de animal de estimação. O costume dos cães de estimação chegaria também à Galiza nessa altura, de mão da nascente burguesia fabril. Provavelmente esses animais, que faziam companhia nas casas da burguesia, fossem chamados de “perro” ou “perrito” com a palavra que os donos (que sendo burgueses e galegos, falariam espanhol) lhe dariam. E esta será, imagino, a origem da distinção entre “cão” e “perro”.
Ora, a Yorkshire Terrier era a raça por excelência para os cães de companhia de todo o mundo nessa mesma época. Esta é uma raça que se carateriza pelo tamanho pequeno do animal, e pelo pelame que lhe confere a característica franja, que por vezes até lhe cai por diante dos olhos. Será esta a origem de que na Galiza se diga, um pouco por toda a geografia, “perrera” em lugar de “franja”? Aí fica a hipótese.