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Carlos Meixide: “Além da língua, existe a vontade de suscitar o interesse por Portugal”

‘Portugal’, além de ser um país bem querido, é o título do mais recente romance do Carlos Meixide (Vila Garcia de Arouça, 1977): a nova aventura da popular série dos ‘Cinco de Ons’ (Anabel, Roi, Fátima, Suso e a Rula). Dentro de três dias termina a campanha de micromecenado para a angariação de fundos que façam possível a edição do livro. Pode-se participar ainda premendo no link a seguir: vkm.is/oscincodeons

Sabíamos do fraquinho de Meixide por títulos eminentemente onomásticos, mas desta volta surpreende-nos pela sua indisfarçável ambição: não se contentando com intitular com o nome de uma ilha (Ons, Arouça), uma paróquia (Cans) ou um concelho (Guitiriz), ousa com um país inteiro.

Havia curiosidade por saber onde se passaria o seu próximo romance: a escolha do cenário das suas histórias é aguardada com tanta expectativa quanto a da cidade dos Jogos Olímpicos, mas poucos de nós pensávamos que seria um destino fora da Galiza. A primeira questão, portanto, é obrigatória: Portugal, porquê?

Portugal é para os galegos e galegas a principal viagem de iniciação. Mudamos de fase nas nossas vidas quando atravessámos o Minho, seja com a família, com a nossa primeira namorada, com a nossa primeira amante ou com a nossa primeira quadrilha de amigos… Embora já não haja que cruzar uma alfândega, o shock continua a ser notável. Ninguém regressa de Portugal igual que como saiu.

‘Os cinco de Ons’ também tinham que fazer esta viagem. Estão num momento especial das suas vidas: o Roi e a Anabel fizeram 18 anos! Além disso, a oportunidade de ir de férias a Portugal tem a ver com o facto de a mãe da Anabel ser catedrática em filologia galego-portuguesa e ser convidada a conhecer uns manuscritos inéditos do Eça de Queiroz. Esses manuscritos são um dos motivos pelos quais a viagem se torna uma aventura emocionante e perigosa. Afinal, terão que percorrer o país todo, não por lazer, mas por pura necessidade.

É inevitável perguntar pela escolha normativa do romance…

Com certeza. Eu escrevo em norma RAG (outro dia podemos falar acerca disto, tenho as minhas dúvidas como todo o mundo). Acho necessário, no entanto, que o leitorado adolescente galego se acostume a ler em português. No romance, o narrador e os diálogos galegos estão em norma RAG e os diálogos portugueses em português. O entendimento mútuo entre as personagens é absoluto.

Binormativismo, então?

Sim, uma coisa parecida. É a mesma solução que empreguei noutro meu romance anterior: ‘A memoria dos meus pasos’. Mas voltando ao assunto, acho que para os adolescentes que leiam ‘Portugal’, os excertos em português serão percebidos naturalmente, ao tempo que permitirão estabelecer um primeiro contato satisfactório com a sua ortografia e as suas particularidades. Além da língua, existe a vontade de suscitar o interesse por Portugal como cultura: pretendendo dar a conhecer muitas coisas da sua literatura, cinema, música, arquitetura, geografia, história, política, gastronomia, futebol e outros desportos… Obviamente a língua é transversal a tudo isto: se alguém mostrar interesse por saber mais sobre qualquer tema, acostumar-se-á mais facilmente à fala portuguesa.

A vontade de encontro entre galegos e portugueses bate muitas vezes com a incompreensão de quem vive alheio a estas questões. No romance isto não acontece?

Pois! A personagem de Suso representa precisamente tantos galegos e galegas imbuídos de uma impenitente lusofilia, que provocará no leitor, se me permitir a piada, uma inevitável Susofilia. Suso acredita firmemente no reintegracionismo e esforça-se por falar português o tempo todo, mas a súa boa vontade bate as mais das vezes com a incompreensão dos demais, sejam galegos ou portugueses. A sua teimosia é cómica, por vezes muito engraçada, mas termina sendo heróica (afinal de contas, o conhecimento é uma riqueza, e mais quando se trata de questões que têm a ver com um próprio). O romance, em geral, está mal que seja eu quem o diga, é muito engraçado, provavelmente mais do que os anteriores romances da série. Levar as personagens a Portugal serve para ver a Galiza da distância e essa distância é a condição primeira do humorismo.

Que cidades ou regiões de Portugal aparecem no romance?

Ah, muitas! Começam a viagem na ilha de Ons. A partir daí: Valença, Braga, Guimarães, Porto, Coimba, Fátima, Lisboa, o Alentejo… Percorrerão o país em ‘veículo longo’ graças à aparição de uma personagem muito engraçada que estou desejando que conheçam.

O romance está em plena campanha de angariação de fundos para a sua edicão. Como vai o processo nesta altura?

Atingi 85% do objectivo. Falta portanto 15% restante e só restam três dias. Estou um bocado nervoso mas espero que tudo corra bem. Se fracassarmos, no entanto, havemos de procurar uma outra maneira de o publicar.

Sorte, então, e muito obrigado

Obrigado eu, com certeza.

 

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