Os pactos, a questão catalã ou as políticas sociais são temas com ampla presença nos debates eletorais desta campanha. Com motivo das eleições, o PGL põe o foco na língua e conversa com as forças políticas galegas para descobrir quais são as propostas de cada partido a respeito do nosso idioma, nomeadamente no que diz respeito ao reintegracionismo e aos vínculos com a Lusofonia.
Incorporação do galego ao currículo estatal, Institutos Rosalia de Castro, emissões das televisões portuguesas no território galego… estas e outras são as achegas de políticas como Iris Malvido (candidata de En Marea em Ponte Vedra), Carlos Piñeiro (secretário geral de Compromiso por Galicia), Néstor Rego (candidato do BNG na Corunha) ou Ana Belén Vázquez (candidata do Partido Popular em Ourense). Perante a apertada agenda eleitoral, foi impossível contactar com as candidatas do PSdeG-PSOE e Unidas Podemos, polo que analisamos o programa de cada formação política.
Iris Malvido, candidata de En Marea em Ponte Vedra
“Queremos introduzir o estudo das línguas oficiais em todo o Estado e criar o Instituto Rosalía”
Quais são as propostas de En Marea a respeito da língua galega para estas eleições?
Em En Marea estamos claramente pola língua galega, e dentro das nossas propostas concretas está garantir o plurilinguismo e bilinguismo em todo o Estado. A nível de ensino, queremos que as pessoas conheçam a nossa língua e a nossa cultura, as nossas raízes… favorecer essa diversidade e que avancemos cara a esse Estado plurinacional. Para isto, queremos introduzir o estudo das 4 línguas oficiais em todo o Estado. Na Catalunha poderão estudar galego e nós também teríamos a possibilidade de estudar catalão ou euskera se quiséssemos.
Também propomos a criação do Instituto Rosalia. Seria como um Instituto Cervantes, mas para o galego. Criaríamos uma série de centros em todo o Estado que favorecessem o conhecimento da nossa língua, aproximando-a às pessoas que a quisessem aprender e, dessa perspetiva, abraçar a Lusofonia.
Como é a vossa postura a respeito do reintegracionismo e os vínculos do galego com a Lusofonia?
Nós entendemos que são línguas irmãs, e que aqui deveríamos favorecer explicitamente que as crianças tivessem acesso… Isso é já um tema autonómico, mas que tivessem acesso a mestras que falassem em português para adaptar o ouvido a essa pronúncia, e que ao mesmo tempo ensinassem tanto a norma da AGAL como a da RAG, que existisse essa oferta educativa com ambas formas de escrita. Entendemos que é uma riqueza linguística que nos favoreceria para nos adaptarmos e nos sentirmos como nativos em Portugal ou no Brasil se desde crianças adaptássemos essas diferenças fonéticas e adaptamos também a escrita.
Uma proposta na linha do modelo binormativista.
Nós a nível estatal queremos fomentar o galego, mas também fora do Estado. Os centros Rosalia seriam também fora do Estado. Há muitos galegos e galegas fora. É factível, achamos que há muita gente que poderia exercer esse labor, e deveria ser facilitado.
Como neofalante, defendo e aposto totalmente pola língua. Entendo e acredito que a maior parte da sociedade sabe que a língua galega é importante e é importante fomentá-la porque a nossa cultura são as nossas raízes e, sobretudo, são tudo vantagens. Para mim é suficiente oportunidade desde que é a língua que falo com os meus avós, não preciso mais, mas também me permite comunicar-me com outros países lusófonos. Mesmo a nível neuronal, está provado que quantas mais línguas saibas, melhor. É uma riqueza que é absurdo abandonar. A legislação está aí para proteger e promover esta diversidade.
Carlos Piñeiro, secretário geral de Compromiso por Galicia
“Não se está a aproveitar o potencial do galego na relação com Brasil ou Angola”
Qual é o vosso compromisso com a língua no vosso programa para estas eleições gerais?
Não há nenhuma dúvida. O nosso idioma é o galego, o respeito total é ao galego, e queremos a proteção total da língua, sobretudo cara a extrema agressão de partidos de direita ao nosso idioma. O galego não é só um valor cultural, senão também de identidade.
A respeito de propostas, nas competências das línguas é quase tudo autonómico. Educação é uma competência autonómica, ordenação educativa também… Qual é o tema? Se estivéssemos representados em Madrid, tentaríamos reduzir este tipo de agressões que vêm de partidos como Vox, Ciudadanos ou PP, como querem fazer agora com o tema do concurso público, eliminando a obriga do galego. Isso é um passo atrás, sendo nós um país bilingue…
Além da própria identidade, vedes potencialidades no idioma fora das fronteiras galegas?
Nós defendemos o galego como língua universal e mundial com o tema da Lusofonia. Colaboramos muito com partidos portugueses, com o Partido Demócrata Republicano de Portugal. Isso é um valor que há que fomentar. Mesmo na representação de Compromiso por Galicia no Congreso, tentaríamos que os organismos internacionais onde estivesse presente o organismo de comercio exterior, o galego fosse um valor mais para atrair investimentos e marcas de fora do território. Não se está a aproveitar o potencial do galego na relação com o Brasil, Angola…
Na linha do que propõe a Lei Valentín Paz Andrade.
Nós, sem irmos ao extremo e com total respeito, somos algo pragmáticos. Temos total respeito aos blocos dialetais e à riqueza da nossa própria língua. Entendemos que há um bloque comum, mas não queremos apostar no reintegracionismo. Tentamos, sim, apostar nos valores próprios do galego e da língua portuguesa, e pôr em comum o trabalho conjunto na promoção das duas línguas, respeitando a identidade própria de cada uma delas. Cumpre regularizar os conteúdos e impulsionar competências para que o português seja uma língua mais instaurada na educação, desde que as alunas são crianças.
Néstor Rego, candidato do BNG na Corunha
“A posição do BNG é clara desde há muitos anos, partimos de que o galego e português são a mesma língua”
Em temas de língua, qual seria o papel do BNG em Madrid?
Em relação à língua, nós entendemos e partimos da ideia de que tudo o que tem a ver com a normalização linguística é uma competência da Administração e da sociedade galegas, especialmente das organizações que trabalham em prol da normalização linguística. Porém, ao mesmo tempo, também é evidente que o governo do Estado mantém muitas competências que acabam por ser realmente relevantes. Então, nesse sentido, nós dizemos que -primeiro- há que fazer a modificação legislativa necessária -neste caso, a Constituiçom- para garantir a igualdade legal entre galego e castelhano. No caso do castelhano temos a obriga e o direito de conhecê-lo e usá-lo, e no caso do galego só temos direito a usá-lo, cousa que também fica em dúvida quando não se nos obriga a conhecê-lo na Administração, por exemplo.
Estamos também a falar de que o galego poda ser matéria de estudo em todo o território do Estado espanhol e poda ser garantida especialmente nas áreas galego-falantes limítrofes como o Eo-Navia, o Berzo… Pensamos que, enquanto a Galiza formar parte do Estado espanhol -nós também pagamos impostos-, uma vez que todas as instituições do Estado que se dedicam à promoção do espanhol são financiadas polo estado, este também deve financiar as entidades que promovem e protegem a língua e cultura galegas.
Falamos especialmente dos meios de comunicação pública e a cultura e a língua galega. Carece de sentido que a TV ou rádio só difundam música em espanhol e não em galego, catalão ou euskera… Nós fomos a primeira força política que levamos ao Congresso a proposta de receber na Galiza as emissões das rádios e televisões portuguesas, e as galegas em Portugal. Foi um debate que mesmo foi levado à Assembleia da República de Portugal através duma proposta do Bloco de Esquerda. Nós quereríamos dar relevância a isso e fazer cumprir estes acordos parlamentares, porque não faz sentido que vendam a diário a retórica da Europa sem fronteiras e depois insistam em querer manter essas fronteiras, que nós queremos derrubar.
O BNG incluiu no seu programa as propostas da AGAL a respeito do desenvolvimento integral da LPA e do reconhecimento do galego como língua internacional, inserida nas instituições da lusofonia.
Sim, mas nós não estamos por dar ao Estado competências que pode assumir a nossa nação. Todo o que tenha a ver com isso há de ser tratado na Galiza. A posição do BNG é clara desde há muitos anos. Partimos de que o galego e o português são a mesma língua, com independência de que haja duas normas. Há gente que entende que são duas variantes duma… nós entendemos que é a mesma. E por isso entendemos que é preciso incrementar as relações linguísticas e culturais com Portugal e com a Lusofonia.
Lembro que na última assembleia nacional do BNG aprováramos uma resolução nesse sentido, favorável ao reintegracionismo. Queremos avançar nesse caminho e incrementar a relação. Há que ter claro também –porque há muita demagogia com estas cousas– que nós não temos nos programa das eleições gerais coisas que sejam competência da Administração pública galega, porque somos contrárias a dar capacidades ao Estado que temos que ter nós.
Ana Belén Vázquez, candidata do PP em Ourense
“A estreita relação linguística e histórica que nos une ao português constitui uma oportunidade para internacionalizar a nossa língua”
Quais são as propostas do Partido Popular a respeito da língua galega para estas eleições gerais?
A proposta do nosso partido no relativo à língua é clara: a língua veicular ordinária da educação em todo o território espanhol será o castelhano e, em aquelas comunidades autónomas em que existam línguas co-oficiais –como é o caso da Galiza–, estas poderão ser previstas como línguas veiculares.
Ademais, o PP fomentará em todas as comunidades autónomas a educação bilingue em inglês, o que significa que a Galiza será trilingue, ao já ter o galego e o castelhano como línguas oficiais. Deste jeito, os nossos moços poderão competir com os de todo o mundo.
Não podemos falar deste tema sem esquecer que na Galiza atingimos uma cordialidade linguística e aqui está garantido o uso de ambas línguas em igualdade de condições. Cumprimos o estabelecido na Constituição, no Estatuto de Autonomia e na Lei de Normalização Linguística e normativas que as desenvolvem.
Na Galiza temos a maior percentagem de uso da língua própria de todas as Comunidades Autónomas com línguas co-oficiais, e desde a Comunidade realizamos também importantes esforços por promover o uso da língua na Justiça, apoiando a Administração estatal em todo o que requer.
O Parlamento da Galiza aprovou por unanimidade em 2014 a lei Valentín Paz Andrade para o aproveitamento dos vínculos com a Lusofonia: qual é a opinião do vosso partido a respeito da forma de aplicação desta legislação?
A Lei Paz Andrade, aprovada polo Parlamento da Galiza em 2014, está a se desenvolver de jeito progressivo, de tal forma que nos dia de hoje estão a ser tomadas diferentes medidas de desenvolvimento dos artigos da mesma. Chegam como exemplos a aprovação da Estratégia Galega de Ação Exterior ou a convocatória de vagas de professorado de língua portuguesa na OPE de Educação deste ano 2019.
Que potencialidades acha o Partido Popular que pode ter a língua galega -e, por extensão, as galegas e galegos- de cara às relações com a Lusofonia?
No Partido Popular consideramos que a nossa língua pode ser uma ferramenta útil para o progresso económico e, por isso, na ação política do Governo galego tem-se apostado desde há anos polo fortalecimento dos vínculos da Galiza com o mundo lusófono.
A estreita relação linguística e histórica que nos une ao português constitui uma oportunidade para internacionalizar a nossa língua e facilitar a entrada da nossa Comunidade Autónoma num importante mercado, o da Lusofonia, constituído por mais de 200 milhões de pessoas.
De novo, como exemplo, basta mencionar a Estratégia Galega de Ação Exterior aprovada em 2018 no Parlamento da Galiza, na qual a Lusofonia tem uma presença reiterada, tanto no âmbito económico como cultural, situando a Comunidade como intermediário natural entre o mundo lusófono e o mundo hispano.
Ademais, esta estratégia define varias áreas prioritárias de atuação da Galiza no exterior e, dentro delas, a primeira é Portugal, entendida não só como país senão também como uma ponte de entrada para a Lusofonia. Em concreto, declara-se que a Galiza deve assumir um qualificado papel em Espanha de advogada de Portugal e da máxima cooperação entre a cultura hispana e a lusofonia.
Unidas Podemos e PSOE, a prol da diversidade linguística estatal
Mais uma vez, ambas formações coincidem em estimular um projeto de Estado que concilie todas as realidades nacionais existentes, fomentando e garantindo a presença de “todas as línguas do Estado espanhol”. No caso de Podemos, por exemplo, a formação insiste em fomentar a produção cultural –exactamente, a produção cinematográfica– em todas as línguas do Estado. “Não só é uma das industrias culturais mais relevantes, senão um dos espaços de diálogo e construção de comunidade com mais capacidade para melhorar uma sociedade”, explicam no documento. Uma das vias que propõem são as ajudas para o sector em colaboração com as comunidades autónomas com distintas línguas oficiais. O modelo da França é um exemplo a seguir, segundo conta o partido político.
No âmbito concretamente galego, a candidatura En Común-Podemos propõe no seu programa eleitoral o reconhecimento da identidade galego-portuguesa e reconhece a entidade reintegracionista da Academia Galega da Língua Portuguesa. Concretamente, nos artigos 141 e 145 faz menção ao reconhecimento do galego como língua internacional pela sua “conexão com o mundo da Lusofonia e por partilhar a mesma língua” e à criação duma Casa da Lusofonia na que estaria implicada a AGLP.
Por outro lado, o PSOE insiste no âmbito educativo e na garantia de educar as crianças “em espanhol e outras línguas de Espanha”, com atenção também a aquelas pessoas que vivam fora através das Agrupações de Língua e Cultura Espanhola. Planes Nacionais de Fomento da Leitura ou encontros de poesia em todas as línguas estatais são outro exemplos.
Finalmente, o partido liberal Converxencia XXI apresenta-se às eleições deste domingo com um programa que faz referência à sua promessa de “garantir a receção das televisões portuguesas na Galiza”. Fora destas linhas ficam Ciudadanos e Vox, com quem foi impossível contatar.