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20 anos de Portal Galego da Língua

O PGL nasce praticamente com o jornalismo digital, e vai progredindo e mudando acompanhando a própria evolução da world wide web. Foi construído com o esforço e a contribuição de centenas de pessoas colaboradoras, e com o empenho, entrega e dedicação de um feixe de militantes tenazes que deixaram o seu melhor para este bem coletivo.

Antes do fim do ano 2022 este Portal celebra o seu 20 aniversário renovando a interface, inaugurando com a nova estética, uma nova jeira na vida deste meio de comunicação especializado em língua e cultura que é o decano da imprensa galega digital em galego. 

O Portal Galego da Língua leva online desde o ano 2002, quando ainda a maioria da população não sabia quase nada da internet: Na mudança do milénio apenas 6,2% da população galega tinha acesso à rede. 

O começo de um milénio

Em 1999 começaram a se utilizar espaços digitais de partilha, no servidor egroups, que posteriormente passariam a ser Yahoo Groups. Aí, o professor da Universidade da Corunha Celso Álvarez Cáccamo, ou o sócio e membro do conselho da AGAL na altura, José Manuel Outeiro, facilitam listagens que seriam uns dos primeiros espaços online de conversas sobre língua, e nomeadamente sobre reintegracionismo.

A mudança de século foi um momento de transição também para a Associaçom Galega da Língua, que fazia 20 anos, e passava de ser uma organização muito voltada para o trabalho académico e eminentemente analógica, para, com a chegada à presidência de Bernardo Penabade em 2001, virar-se mais para a divulgação social e o ativismo. Esta nova fase da associação permitiu a abertura rumo a novas propostas e soube-se ver logo a potencialidade da internet.

A mudança de século foi um momento de transição também para a Associaçom Galega da Língua, que fazia 20 anos, e passava de ser uma organização muito voltada para o trabalho académico e eminentemente analógica, para, com a chegada à presidência de Bernardo Penabade em 2001, virar-se mais para a divulgação social e o ativismo. Esta nova fase da associação permitiu a abertura rumo a novas propostas e soube-se ver logo a potencialidade da internet.

Assim, em 2001, juntam-se em Ourense, para sentarem as bases do que seria o primeiro site da AGAL, Bernardo Penabade, José Manuel Outeiro, Carlos Garrido e José Henrique Peres, os dous últimos, professores na Universidade de Vigo; de facto, nessa primeira etapa usaram-se os servidores da UVigo para alojamento do site.

Neste primeiro site corporativo da AGAL estavam os estatutos da associação, os índices das atas de quatro Congressos Internacionais da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, informação sobre a Revista Agália e um par de seções com explicações e História do Reintegracionismo. 

Vítor Lourenço e Miguel Penas envolveram-se nesta equipa inicial, ambos conhecedores da tecnologia e dos novos modelos informativos com que se começa a criar conteúdos na rede. Daí que se ambicione o desenvolvimento dum espaço comunicativo para além do site corporativo da associação. Vítor assumirá a coordenação geral durante os primeiros doze anos, acompanhado de Miguel Penas, num papel análogo, também durante anos, com particular intensidade nos quatro primeiros. Penas, ademais, cria uma listagem de debate em Yahoo Grupos para a coordenação dos trabalhos da associação na internet, o que seria a origem da futura Comissão de Informática da AGAL, ainda ativa hoje. 

Assim sendo, nesta primeira fase, mais do que falar com independência dum Portal informativo, o PGL funciona como ninho de conteúdos digitais diversos ligados com o reintegracionismo. Daí que o papel dos responsáveis seja de “coordenador” mais do que o propriamente jornalístico de “diretor”.

A concreção do primeiro Portal Galego da Língua foi possível graças ao software livre: de 2002 a 2008 usou-se CMS, o PHP-Nuke (um sistema para publicação automatizada de notícias e de gerenciamento de conteúdos), e depois Postnuke. Em 2008 passou-se a Joomla. E desde 25 de julho de 2014 usou-se wordpress.

Primeira etapa [2002-2008]: agal-gz.org

O 17 de Maio de 2002 lança-se à rede o Portal Galego da Língua, sob o domínio agal-gz.org, e converte-se num espaço referencial em poucos meses; como espaço formativo e informativo otimizado, que vinha utilizando conteúdos em vídeo desde 2004 -antes do youtube!- com uma nutrida equipa detrás, e que serviu para dotar de recursos linguísticos os movimentos sociais; de facto, oferecia-se até serviço de correção linguística gratuita de textos para entidades que fossem fazer com eles difusão pública. 

O primeiro PGL joga também um papel de criação de comunidade; depois das egroups finisseculares, no 2002 o PHP-Nuke permite foros e muitas outras funções naquela altura novedosas como comentários às notícias ou mesmo mensagens internas (e privadas) entre as pessoas registadas. Isto será o início dos Fóruns no Portal, que duraram até 2011. A importância nesse contexto -antes das redes sociais- dos foros, foi central para criar espaços tanto de receção como de criação de pensamento por parte das pessoas usuárias, integrando vozes de diferentes partes da lusofonia e permitindo o florescimento de reflexões coletivas e de criação de comunidade virtual. 

Trata-se de uma etapa de eclosão do mundo online, e aí o reintegracionismo esteve na vanguarda, com um espaço virtual viçoso, muito ativo, e muito comunitário.

Trata-se de uma etapa de eclosão do mundo online, e aí o reintegracionismo esteve na vanguarda, com um espaço virtual viçoso, muito ativo, e muito comunitário.

2005 foi um ano estelar: Em 1 de janeiro de 2005 foi lançado o dicionário e-Estraviz, ligado à mesma equipa; e também se disponibiliza um Dicionário de Fraseologia, da mão de Ivan Fontão Bestilheiro, Heitor Rodal Lopes e Valentim Fagim. Fagim será também responsável pelas seções Status Quo ou o Isto nom é Galego, é Português, e ainda, do  Planeta NH, um jogo tipo quizz que se lançou  a 17 de maio. Era um trivial online e colaborativo, que se popularizou até o ponto de chegar a conseguir 3392 usuárias cadastradas, e mais de um milhão de partidas iniciadas. O Planeta NH esteve ativo até 2011, quando desapareceu por falta de atualização do software.

Este mesmo ano desenvolve-se a plataforma para blogues agal-gz, gerida por Eugénio Outeiro, que chegou a hospedar mais de 50; o qual, tendo em conta que boa parte era de centros sociais, associações e projetos coletivos, dá para perceber a importância e centralidade da AGAL nesta primeira década do século.

Ademais, destaca a qualidade e interesse de muitos dos textos publicados no portal, alguns dos quais podem ser ainda consultados aqui. Entre outros, é salientável a publicação em 31 de dezembro de 2006, do artigo “O Apalpador: Personagem Mítico do Natal galego a resgate”, uma notícia sobre o trabalho de investigação de José André Lôpez Gonçález arredor da figura do mítico carvoeiro, que daria pé a todo o trabalho de divulgação encetado pola Gentalha do Pichel, e a posterior democratização da figura.

Durante toda esta primeira etapa, o PGL 1.0, é um projeto comunicativo comunitário que consegue estar por cima de muitos projetos comerciais, a nível de referencialidade, visitas e quantidade e qualidade das contribuições. Todo isto não seria possível sem o compromisso de dúzias e dúzias de ativistas.

Segunda etapa: pgl.gal [2008-2014] 

Entre meados de 2007 e meados de 2008, o PGL enceta um processo de renovação coordenado por Eugénio Outeiro e executado pola empresa Galinus, contratada pola AGAL. O novo site verá a luz em setembro, já no domínio pgl.gal. 

Numerosas pessoas colaboram no portal com seções próprias, como as Iniciativas em Positivo de Raquel Miragaia, ou continuam, como os Falar com Jeito, de Fernando Corredoira, que resultou em formato livro na Através,  entre outras. Em finais de 2010 lança-se a loja Imperdível -um espaço de venda de material vinculado à associação-, gerido por José Ramom Carvalheira, Tiago Gonçales e Íria Mayer. E aparecem online também, ligadas ao Portal, as Wiki-FAQ, um modelo de perguntas frequentes coordenado por José Ramom Flores das Seixas.

Outros projetos do reintegracionismo originariamente ligados ao Portal já caminham sós: do dicionário Estraviz, aos ateliês para ensino secundário Ops (O português fácil), ou os cursos aPorto, de língua e cultura na cidade portuguesa. No livro editado por Através polo décimo aniversário do Portal PGL_10 (2012), Vítor Lourenço, descreve assim o PGL: 

Com humildade, mas também com certo orgulho, posso dizer que é impossível nestas linhas colocar os nomes de todas as pessoas que, desinteressadamente e até por iniciativa própria, contribuíram para fazer do PGL um dos grandes referentes da iniciativa lusófona. Gosto de dizer que neste mundo estão as Irmandades [da Fala] do século XXI, aquelas que recuperaram a conexão com o galeguismo histórico decepado pela barbárie fascista, ainda presente no imaginário de muitos dos meus conterrâneos.

Nos dez primeiros anos de vida do Portal produziram-se mais de 15000 peças, entre notícias, artigos de opinião, reportagens, etc. E grande parte delas foram feitas por Gerardo Uz, um outro alicerce do projeto, que participou desde meados de 2005, exercendo como codiretor desde 2007, diretor interino durante alguns intervalos e definitivamente diretor no período entre outubro de 2013 e janeiro de 2016.

Durante esta segunda etapa do Portal -com um tráfico de arredor de 50.000 visitas mensais- decorreram as presidências na AGAL de Alexandre Banhos (2007-2009), Valentim Fagim (2009-2012) e Miguel Penas (2012-2015), que mantiveram a aposta no trabalho digital, e em ir acompanhando as mudanças do próprio médio. Em 2010 o PGL entra com perfis próprios no Twitter e no Facebook. Pontualmente contratam-se serviços de especialistas, como o desenvolvimento do motor do dicionário 2.0 entre José António Cidre Bardelás “Medulio” e a empresa Galinus, ou o labor como redator e gestor do site durante alguns meses por parte de Alberto Pombo em 2009 ou David Canto em 2010.

Terceira etapa: pgl.gal [2014-2022] 

Em 2014 começou uma nova etapa, incorpora-se o domínio .gal e atualiza-se com uma nova estética da interface. A chave é avançar num produto profissional, diferenciando gêneros jornalísticos, em particular entre os conteúdos noticiosos e as opiniões. Ao mesmo tempo, dá-se maior relevância à figura da direção e procura-se garantir a constância na atividade frente à irregularidade dos fluxos militantes. Ademais, os hábitos de consumo informativo digital mudam substancialmente, já que são maioritariamente através de redes sociais e desde dispositivos móveis. 

Esta nova etapa, que chega até hoje, conta como sempre na história do portal com pessoal estável nas colaborações, como o revitalizado Espaço Brasil, do correspondente do PGL no Brasil, José Carlos da Silva -ativo na atualidade- assim como o trabalho do finado professor José Paz, que contribuiu semanalmente até o seu passamento em 2021, com as Aulas de Cinema, de análise sobre filmes, além de contributos anteriores.

Em 2015 entra na presidência da AGAL Eduardo Maragoto, e a estratégia da associação de desenvolver um discurso com propostas em positivo, focado em alargar socialmente o reintegracionismo, também se traslada ao Portal. 

Entre janeiro de 2016 e janeiro de 2019 encarregou-se da direção Ernesto Vasquez Souza, que já tinha contribuído frequentemente com textos e até tinha desenvolvido a seção De Cânones e Canhões durante a primeira etapa. No ano de 2019, deu-se um salto ao contratar a jornalista Laura Cuba como diretora, e em 2020 chegou como profissional contratada Charo Lopes, atual responsável da direção. Continuando o grosso do trabalho sendo coletivo, com parte do conselho da AGAL encaminhando também conteúdos, com a Comissom de Informática dando apoio técnico permanente, em particular o Vítor Garabana, e com umha equipa de correção linguística que revisa e adapta os textos, em que hoje está a participar ativamente Adrián Levices, Alba Soneira, Carme Saborido, Pepe Rios e Iván Arias.

Venham mais vinte!

Nestes vinte anos o Portal evoluiu num contexto de permanente mudança, portanto, a referencialidade do Portal há que a ler sempre em relação à magnitude da expansão da rede; felizmente, com muitos mais produtos em galego na atualidade.

Contudo, hoje, por volta de 20.000 visitantes consultam cada mês o PGL, e é também motivo de celebração ver como muitos dos conteúdos destas duas décadas envelheceram tão bem, tendo muitos deles plena vigência se lidos hoje: daquela, o atual PGL é uma ótima hemeroteca e recurso formativo comunitário, nutrido com o labor de centos de pessoas que contribuíram durante todos estes anos. Mas é também uma ferramenta para o futuro, à que cheguem novas gerações de ativistas, sociolinguísticas e curiosas em geral, para continuar a cultivar o idioma.

Hoje, por volta de 20.000 visitantes consultam cada mês o PGL, e é também motivo de celebração ver como muitos dos conteúdos destas duas décadas envelheceram tão bem, tendo muitos deles plena vigência se lidos hoje: daquela, o atual PGL é uma ótima hemeroteca e recurso formativo comunitário, nutrido com o labor de centos de pessoas que contribuíram durante todos estes anos.

O novo site, desenhado por Daniel Candal, apresenta mudanças substanciais: uma estética simples e intuitiva, com um desenho pensado para a navegação nos dispositivos móveis, com uma estrutura mutável. Perdem protagonismo os géneros e os conteúdos estruturam-se por temáticas, em forma de etiquetas dinámicas no cabeçalho: a vontade de aperfeiçoar a qualidade da seleção de conteúdos, a intenção de continuar alargando públicos, e também, de continuar a trabalhar para equilibrar a forte hiper-representação masculina que ainda afeta o Portal. 

Muitas mudanças, mas uma filosofia constante: a de tentar oferecer conteúdos de interesse sobre a nossa língua e na nossa língua, na sua variante internacional, usufruir de toda a potencialidade do galego e servir de ponto de encontro para as pessoas interessadas na cultura da Galiza e da lusofonia, fomentando debates e dando espaço a vozes que ampliem o horizonte de possíveis para que o galego floresça extenso e útil.

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