*Artigo perdedor (com cativas mudanças nele) no concurso de artigos normalizadores do Concelho de Carvalho.
A ladainha: prestigiarmos o galego para a língua recuperar uso social. É, centos de línguas recuam e mesmo morrem frente a outras mais “úteis”. Úteis, mas nom só. Línguas, eis o aquele, mais guays. Resultado após quatro décadas de “normalizaçom linguística”? O galego já nom é a língua maioritária da Galiza por vez primeira em mil anos. 1.000. Um milénio.
O que é que aconteceu? Quiçá foi termos adotado a ideia dominante do que é prestígio: prestígio é poder. Conscientemente ou nom, tentamos desvencelhar a língua daquilo desprestigiado, do desapoderado: campo, agro, mar. Da pobreza. E vincularmos o galego co urbano, co “progresso”. Tentamos que o galego desertasse do arado canda nós, vira-lo “língua burguesa do meu povo” junto co nosso próprio deveço burguês. Desfeita. “Língua funcionária da administraçom autonómica do meu povo” e nem sequer.
E logo? Por que é que a burguesia nom se galeguizou, alá no polígono de Sabom? Porque o galego está indissoluvelmente associado à Galiza. E a Galiza, entendida como o povo com raizame no território galego, nom tem poder e, daquela, nom tem prestígio. Para a burguesia galega, o prestígio está em Madrid. Está na burguesia castelã que cumpre afagarmos em Sanghengho com marisco e iates, nom com pailanadas nem sachos. Madrid, por sua vez, fita para Nova Iorque ou Londres. E a deturpaçom nom cessa: “as influencers molonas chanan galego” chiamos para, disque, promover a língua. 2-3, ganha o castrapinglish. O galego guay tem de se afastar da Galiza. De si.
Assumimos a ideia dominante de prestígio por termos assumida a ideologia dominante toda. Queremos as obras faraónicas de outrures, tanto tem o que for. Devecemos por uma megalópole de nosso, a vila nom é futuro. Eucaliptamos por tudo porque progresso nom é leirinhas de nabiças. Debatemos o autogoverno só se debaterem em Madrid, por mor do basco ou do catalám. Falamos de ensino se aparecerem mestrados fantasma pola meseta. Sonhamos com repúblicas irreais, improváveis e moradas por nom olharmos para a real, tangível e vizinha República Portuguesa, mais galega do que nunca será qualquer acastelanada república espanhola. Idolatramos o Ñ, mesmo sabendo que se galego e português nom fossem a mesma língua, ainda seria o NH mais nosso ca essoutra letra castelã. O nosso anceio coletivo é sermos uma vulgar e impossível cópia de Castela com sotaque riquinho. Uma falida província de Burgos com mar.
O galego esmorece canda uma Galiza transmutada em Galicia. Uma Galicia de aldeias desabitadas, esnaquizada a organizaçom territorial secular. Uma Galicia que arde por nom ter quem limpe o monte, quem o viva. Uma Galicia “moderna” coa mocidade emigrada para sobreviver. Uma Galicia castelanizada coa televisom pública a liderar emitindo em castrapo. Uma Galicia renegada de si, imitaçom barateira de outrem. Uma Galicia apocalíptica que optou polo suicídio coletivo: já nem nos reproduzimos. Para que?
É a Galiza, mesmo esmorecente, que está viva. Mais viva, no mínimo, ca essa Galicia agoniante e suicida. É por isso que, para prestigiarmos o galego, cumpre prestigiarmos a Galiza. Uma Galiza cuma economia para o conjunto, nom para a minoria. Uma Galiza em harmonia coa natureza. Uma Galiza da vida boa, no agro e na cidade, na costa e na montanha. Uma Galiza que cuide das suas crianças, de todas. Uma Galiza que nom renegue de ser quem é, nem da fala que nela nasceu e que enche o mundo todo. Uma Galiza onde a língua seja o fio da rede que nom deixa cair ninguém, o símbolo comum dum país justo e solidário. Daquela é que a burguesia apurará a falar o galego, para tentar recuperar o nosso consumo, autogerido, o nosso voto, fugidio. Para termar do seu devalo. Porque daquela, o galego terá o prestígio duma Galiza poderosa, com orgulho e dona de si.
Venham mil mais primaveras de fachenda e som.
