O problema nom é apenas Tim Hunt

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Sugerírom-me já fai tempo que escrevesse um artigo sobre as declaraçons machistas de Tim Hunt, Prémio Nobel.

Este deve ser já o começo do meu oitavo e espero que definitivo artigo sobre o tema. Tendo a tentar aprofundar nos problemas e dar umha pequena explicaçom fundamentada à par do que umha opiniom, mas neste caso nom é nada simples. Nom é fácil porque cumpre aprofundar no patriarcado, tema do qual há rios de tinta, nas suas manifestaçons quotidianas e nos efeitos que tem nas mulheres[1] e nos homens[2]; entra aqui também a liberdade de expressom, ou por que não queremos ou não somos capazes de observar e estudar a nossa cultura a partir de um ponto de vista crítico como fizo ele com os óvulos dos ouriços.

Loável é a reaçom da Universidade de Londres, que pediu a renúncia ou a destituiçom, atitude que quisessem para si outras organizaçons mais progressistas.

No entanto, eu escrevia artigos sobre este tema a partir de diferentes óticas, mulheres já de por si desfavorecido em múltiplas facetas polo facto de ser associadas socialmente ao género de mulher (sim, porque o género é umha construçom cultural que é dada forma em segundo que parte do mundo, e o momento histórico) vam sendo assassinadas umha após outra, em frente a umha sensaçom de frustraçom de minha parte por nom poder fazer nada, ou quase nada. A cada assassinato, cada artigo parecia-me parcial e superficial. As estatísticas de agressons que ocorrem dam arrepios:

  • Estatísticas sobre agressons denunciadas: por volta de 28.000 por ano
  • Estatísticas de violaçons no Estado: umha a cada oito horas
  • Assassinatos: mais de 1.000 a partir de 1999, lia algures, mas só encontrei referências de 54 em 2013

Nas redes lia, lá fora, que «todos os machismos ferem, o penúltimo mata. O último é o que justifica o assassinato». É por isso que não existe um machismo verdadeiramente preocupante e outro que nom é. O machismo é machismo sempre, é umha deslegitimaçom das mulheres, um todo. Nom podemos trabalhar para que desapareça umha forma de machismo porque todas se sustentam mutuamente: um assassinato em golpes, um golpe nos insultos, um insulto na crença de que existe umha superioridade de um ser sobre outro, e essa superioridade umha maneira de pensar, de rir das piadas e de nos relacionar entre nós.

É por isso que aquelas e aqueles que querem fazer do mundo um lugar um pouco melhor devemos observar e fazer umha profunda reflexom do aprendido, desaprendendo aquilo que perpetua qualquer tipo de discriminaçom seja esta qualquer. Lidia Falcón perguntava por que nom existe o delito de apologia do machismo. Eu também.  Algumhas vezes algo me di que esta é umha questom de privilégios, de nom querer renunciarem a eles: simplificando, num mundo competitivo é mais fácil jogar com a vantagem de ter a companheira em casa e nom competindo por um emprego que ponha em entredito a nossa errada socialmente construída “masculinidade’[3]. Outras vezes acho que é polo poder da ideologia, e por isso custa tirar a venda do machismo que temos todos e todas, em que fomos educadas e que só se trata de argumentar, de insistir… enfim, de educar. Felizmente este argumento reforçam-no os grupos de homens que se unem pola igualdade. Compreendo que nom é singelo. Eu tivem que desaprender, por exemplo, a nom fazer mais caso a um homem que a umha mulher quando fala. E cada dia tento melhorar.

As soluçons? Infelizmente, complexas na prática. Algumhas som propostas que precisam de um consenso de toda a sociedade, como a coeducaçom (podem encontrar informaçons sobre a coeducaçom pola rede), a criaçom de umha grande rede de cuidados para pessoas dependentes, acabar com a reproduçom de estereótipos nos meios de comunicaçom (exemplo: só as mulheres limpando), oferta de ajuda psicológica integral e assumível nos conflitos familiares a partir municípios e / ou centros sociais… E muitas outras que incansavelmente feministas e especialistas em igualdade proponhem. Só é preciso saber e ter vontade de ouvir.

Já a nível individual formar, conscientizarmo-nos de que qualquer uma pode ser vítima, de que qualquer um pode ser agressor, mas que nom estamos predestinados nem predestinadas. O que podemos é mudar, aprender a nom agredir, aprender a que alguns machismos matam e outros fazem o caminho fazendo dependentes económica ou emocionalmente; saber detetá-los e pará-los. Homens e mulheres temos que desaprender o patriarcado. Longe de ter unhas estruturas que nos defendam, podemos saber que temos direto a decidir no nosso corpo e no nosso espaço pessoal: como e quem nos toca. Podemos aprender a nom danar, obviar, minimizar, danificar, insultar ou ridicularizar ninguém, não só para as mulheres. Se nos fazem, quando possamos, defender, como fizeram colegas cientistas com sua campanha no Twitter #DistractinglySexy fronte as declaraçons do Tim Hunt. Porque nos queremos vivas, porque nos queremos respeitadas e queremos os cinqüenta por cento que nos corresponde.

Bibliografia

  1. ¿Quien cuida de los demás? Normas sociosexuales y consecuencias económicas. M.V. Lee Badget  Nancy Folbret- Revista Internacional del trabajo, vol 118 (1999), n.º 3.
  2. ¿El otoño del patriarcado? El aprendizaje de la masculinidad y de la feminidad en la cultura de masas y la igualdad entre hombres y mujeres. Carlos LOMAS- Cuadernos de Trabajo Social 259 Vol. 18 (2005): 259-278 ISSN: 0214-0314
    1. Bad but Bold: Ambivalent Attitudes Toward Men Predict Gender Inequality in 16 Nations. Glick, Peter; Lameiras, Maria; Fiske, Susan T.; Eckes, Thomas; Masser, Barbara; Volpato, Chiara; Manganelli, Anna Maria; Pek, Jolynn C. X.; Huang, Li-li; Sakalli-Uğurlu, Nuray; Castro, Yolanda Rodriguez; D’Avila Pereira, Maria Luiza; Willemsen, Tineke M.; Brunner, Annetje; Six-Materna, Iris; Wells, Robin- Journal of Personality and Social Psychology, Vol 86(5), May 2004, 713-728. http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.86.5.713
    2. Libro de coeducaçom [PDF]