A crise da covid-19 pujo de manifesto as carências de muitos setores básicos no nosso país, espoliados ao longo de anos polo governo da Junta, como é o caso do setor cultural, e mais ainda a cultura associativa de base. E que aconteceu com este setor em espaços já de por si pouco visíveis, como o rural galego de interior?
O caso da biblioteca e associaçom cultural Follas Vivas-Lois Antón de Casardeira, em Ramirás (Ourense) é paradigmático deste desleixo. Após três anos de vida e umha enorme atividade social e cultural, a associaçom sobrevive unicamente polo esforço pessoal de algumhes vizinhes, que vem denegadas as suas demandas de apoio por parte das instituiçons, particularmente o Concelho de Celanova.
“A situaçom do local é penosa” — explicam da associaçom. “Arrastamos goteiras que agora já fam estragos; temos centenas de livros em caixas nas nossas casas por falta de espaço porque a metade do local continua sem habilitar. Nom temos acesso ao local de baixo, o dobro de espaço que o nosso, e no qual o Concelho gastou 12000€ em arranjos (sem ter reparado o telhado) e que agora está também afetado polas goteiras. Nom há resposta do Concelho, nom tenhem interesse nengum pola nossa supervivência. O único que figérom desde o ano 2012 até agora foi pagar o custo de um obradoiro de autodefesa (800€) e colocar estantes (700€)” — asseguram.
A história da associaçom Follas Vivas-Lois Antón
Como em quase todas as vilas e aldeias galegas, em Casardeita havia um local social, que fora a antiga escola, e que depois de anos de desuso estava fechado. “Após dous anos de peleja com a alcaidessa de entom (PP) conseguimos a chave para abrir aos domingos depois da missa para que pudesse juntar-se a vizinhança nem que fosse para tomar um café, já que nom havia juntanças nem festas que nom fossem religiosas” — explicam es vizinhes e participantes da associaçom. “Ao mesmo tempo, pugemos uns tijolos e tábuas de madeira achegadas pola vizinhança e começamos a fazer umha biblioteca popular, com contribuiçons de livros da própria vizinhança, amigas, gentes da cultura…”, comenta Maite Lorbada, umha das integrantes da associaçom.
“Após dous anos de peleja com a alcaidessa de entom (PP) conseguimos a chave para abrir aos domingos depois da missa para que pudesse juntar-se a vizinhança”
Mas depois de umha mudança na diretiva da Associaçom de Vizinhas, abandonou-se o interesse polas atividades socioculturais e pola biblioteca, voltando às festas religiosas e rejeitando a participaçom do resto da vizinhança. Foi nesse momento que algumhes vizinhes decidírom tomar a iniciativa e transladar a biblioteca para o segundo andar do local. “Decidimos também fazer umha associaçom cultural baseada em realizar atividades socioculturais de interesse geral e ampliar a participaçom da gente dos arredores”, explicam.
Todo este esforço levou a que em maio de 2017 fosse inaugurada oficialmente a Biblioteca Popular e Associaçom Cultural Follas Vivas-Lois Antón de Casardeita.
Foco de cultura e empoderamento
A associaçom converteu-se rapidamente num lugar de referência na redondeza, pese aos seus escassos anos de vida. Com umha equipa de só nove pessoas, nestes três anos fôrom realizadas apresentaçons de livros, palestras sobre história, cultura, meio ambiente ou feminismo, obradoiros de ioga, trabalhos manuais e muitas outras. “Além destas atividades fomos quem de criar um obradoiro feminista, porque no rural também é preciso conectar-nos entre nós e com outras da Galiza e do mundo inteiro” — conta-nos Dores, umha das participantes na associaçom. “Figemos cursos de autodefesa, participámos nas marchas do 8M e do 25N, tivemos concentraçons de denúncia em resposta a cada crime machista da Galiza e pugemos a comarca de Celanova no mapa do feminismo do país”.
Mas nom só a própria vizinhança sabe da importáncia da associaçom. O escritor e pintor Baldo Ramos assegura que Follas Vivas-Lois Antón “é um catalisador de esforços individuais que fai possível a consciência de coletivo e de país. Concebe a cultura como algo vivo, afastada do ritual e da subvençom”. Baldo Ramos ressalta a releváncia destes projetos para o futuro do rural galego, por isso afirma que “é mui importante que as administraçons públicas amparem estas iniciativas”.
Comparte a opiniom Xesús B. Tellado, filólogo e escritor, que também comenta que o melhor jeito de definir a equipa é como umha pequena família.
Para a poeta ourensana Rochi Nóvoa, “trabalham com o dinamismo social, sendo cúmplices e mobilizando-se”. Nóvoa também salienta a importáncia de umha biblioteca popular no rural, já que “é sem dúvida o coraçom da terra, o motor de impulso à memória viva”.
Xoán Carlos Domínguez Alberte, professor e escritor, demanda que as ajudas públicas nom dependam da cor política e estimulem o tecido associativo tendo em conta as necessidades da populaçom rural a que se dirigem. Domínguez Alberte, além de editor das obras de Lois Antón, tivo também a ideia de dar à associaçom o nome do poeta.
Umha homenagem a Lois Antón, o poeta popular
Lois Antón Pérez, nascido em Escudeiros, na paróquia de Ramirás, em 1931 e finado em 28 de julho do passado 2018, nom é umha figura qualquer, como nom o é a escolha do seu nome para a associaçom e biblioteca de Casardeita. Conhecido por todes na comarca como “o poeta popular”, Lois Antón foi umha figura imprescindível do nacionalismo galego de base e das classes populares ourensanas na zona de Celanova e a Baixa Límia. “Na sua obra ergue-se um manifesto coral de protesta, contra a injustiça, contra a exploraçom, contra quem nos nega outro futuro possível”, comenta Domínguez Alberte. Gabava-se de ser um escritor autodidata e, sempre longe dos focos e das elites intelectuais, escreveu diversas obras teatrais e poéticas em que dá conta das experiências da vida na aldeia, da gente humilde e da emigraçom. “Que memória prodigiosa tinha o Lois! Só comparável ao entusiasmo que punha em todo o que fazia!”- afirma o investigador e escritor Delfín Caseiro.
Unido sempre e até o seu passamento a Ramirás, todas as pessoas entrevistadas para esta reportagem o recordam como umha pessoa sempre amável, generosa e presente em cada reivindicaçom. “Nunca faltava a um 25 de julho em Compostela!”, asseguram. Nos versos de Lois Antón Pérez, que sobrevive na memória de muites, está o compromisso e o orgulho polo próprio.
Ele mesmo afirmava: “A poesia popular (ou social) para mim é a voz dos sem voz, a essência de todo o sentir humano, a arquitetura das palavras que lhe dá forma e sensibilidade ao que se entende por razom. Quiçá por isso haja tanto empenho em convertê-la na irmá mais pobre da literatura”.
[Este artigo foi publicado originariamente no Novas.gal]