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Contos e cantos das mulheres da mina

Uxía Amigo
Uxía Amigo

O grupo de trabalho Mulheres de Ouro Negro investigou as relaçons entre a minaria, as mulheres e o papel das coplas e dos relatos de vida na construçom da história.

O grupo de trabalho mulheres e wolframio nasce graças à retrospetiva que o Centro Galego de Arte Contemporânea dedicou, em 2016, à artista plástica Eva Lloch. Foi intitulada Cut Through the Fog (Corte através da névoa). Lloch organizou umhas jornadas em que indagou sobre a história do wolfram no tecido industrial, social e artístico galego. Naquele encontro topárom-se Faia Díaz, Helena Salgueiro e Patricia Coucheiro.

O wolframio parece um tema mui desconectado do nosso imaginário”, explica Faia, “mas nas jornadas decatamo-nos de que havia umha temática que nos resultava mais interessante, como mulheres e cantantes, e que som as questons relativas à minaria do wolframio e às mulheres”. Nelas escuitárom falar dumhas mulheres de Varilongo, no concelho de Santa Comba, que cantavam cantos de mina.

Na Galiza, as mulheres acompanhárom e acompanham os labores do campo ou as tarefas do fogar com coplas. Estas letras populares também nascérom no interior das fábricas, como as de conserva. Assim o recolhe o músico e investigador Xurxo Souto, quem apresentou as suas investigaçons no Museu do Povo Galego. Os cantos “empregavam-se como ferramenta coletiva de distraçom, mas também como reflexo e crítica das condiçons sociais e laborais do trabalho das operárias”. Os cantos de mina nom som habituais. Faia, Helena e Patricia sentírom-se atraídas por esta beta de trabalho.”Interessou-nos o impacto que o tema da mina puidesse ter sobre as coplas, sobre a música, sobre a tradiçom oral”.

Os cantos “empregavam-se como ferramenta coletiva de distraçom, mas também como reflexo e crítica das condiçons sociais e laborais do trabalho das operárias”. Os cantos de mina nom som habituais. Faia, Helena e Patricia sentírom-se atraídas por esta beta de trabalho.”Interessou-nos o impacto que o tema da mina puidesse ter sobre as coplas, sobre a música, sobre a tradiçom oral”.

Na procura das mulheres de Ouro Negro
Nos seus primeiros passos, o grupo de trabalho “Mulheres e wolframio” encontrou cúmplices fundamentais. “Encarna Otero estudou muito o papel da mulher na mina de Fontao (no concelho de Vila de Cruzes)”, di Faia, “ela explicou-nos a importância que tenhem as mulheres na minaria”. A própria Encarna Otero dirigiu o documental “A luz do ouro negro”, em que recolheu as experiências de mulheres que trabalhárom na mina durante o Franquismo. Se bem nom podiam trabalhar nas galerias ou na fábrica, sim faziam trabalhos auxiliares como o lavado ou a separaçom do mineral.

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Uxía Amigo

A primeira testemunha com que contactárom foi María de Fetós, quem trabalhou numha canteira no Monte Pindo e a quem Eva Lloch já entrevistara. Nom foi a única. Antes de elas, muitas pessoas procuraram à María de Fetós e às suas coplas, que a figérom famosa e a levárom até o Luar. “É umha mulher espetacular”, conta Faia, “ela explicou-nos qual era o seu labor na mina, cantou-nos e tocou-nos”. Na sua casa nom escuitárom coplas relacionadas com a minaria, mas sim encontrárom um imaginário em torno da exploraçom no Monte Pindo. Ela trabalhou na mina dez dias, tempo que tardou em aforrar para mercar uns brincos de ouro — conta Faia — mas depois conviveu com capatazes durante dez anos”. A seguir, o grupo contactou com as mulheres de San Salvador, das quais escuitaram falar no CGAC.

As coplas de Hermosinda e Concepción
A de Varilongo foi umha das principais exploraçons de wolframio durante a ditadura. Trabalhadores de Compostela, Teio e outros concelhos vizinhos trasladavam-se até Santa Comba na procura dum emprego. O grupo de trabalho Mulheres e Wolframio chegou a San Salvador, umha paróquia ao norte do concelho, e partilhou tempo e coplas com Hermosinda e Concepción. Nesta viagem, contárom com a ajuda da escritora Carmen Blanco, autora do livro O wolframio en Varilongo.

Concepción trabalhou quarenta anos na mina, contratada — conta Faia — é umha instituiçom. muita gente foi-lhe recolher coplas nos oitenta”. Tanto ela, que se auto-denomina “umha mina”, quanto Hermosinda discorrérom coplas relacionadas com a sua realidade, neste caso mui influenciadas pola proximidade da mina:

A mina de Varilongo.
Por ganar un patacón,
a mina de Varilongo
foi a miña perdición.

Aunque venimos de noche
no venimos de robar,
somos las machacadoras,
venimos de machacar.

Os cantos e a história
O processo de investigaçom do grupo de trabalho foi sempre paralelo a um processo de reflexom em torno do papel da mulher e também das coplas, dos contos ou dos relatos de vida na história. “Desde o ponto de vista histórico, contá-las é importantíssimo — ressalta Faia — as vidas destas mulheres nom estám estudadas”. Quando se levam a cabo os estudos históricos “rigorosos”, as fontes escritas, também na história contemporânea, primam sobre as orais. “Sempre se passam por um filtro — explica Faia — entende-se que a gente maior distorce, nom se tomam como fontes fiáveis”. Assim, a parte do relato que nom consta num papel fica nas margens ou é esquecida.

Os cantos, as coplas devidamente analisadas e investigadas, podem ser uma rica fonte de informaçom para reconstruir a história do país. “Isto falei-no com Encarna, que é historiadora, e ela sim contempla estas fontes como umha forma mais de entender que passou”, assinala a investigadora. E, como elas, muitas outras vozes começam a dar atençom à informaçom que podemos encontrar na nossa tradiçom oral. “Eu som historiadora da arte, pero a mim ninguém me ensinou um método de recolha, de tratamento da informaçom”, lamenta Faia. “Gostaria que houvesse um pouco mais de formaçom. Estás estudando os frisos da catedral de nom sei onde, mas a arquitetura viva que temos aqui nom se contempla!”, denuncia.

A falta de formaçom nom impediu que o trabalho do grupo Mulleres e Wolframio continuasse. As suas integrantes dêrom com mais mulheres no caminho dispostas a partilhar o seu relato. Carmen Rivas foi umha delas. Umha mulher de Taragonha, no concelho de Rianxo, que conheceu a cadeia junto a sua filha pequena. Carmen praticava umha atividade comum nas contornas das minas durante o Franquismo: a roubacha. Levava pequenos fragmentos de wolframio que cambiava no mercado negro. Este comércio subterrâneo serviu para dar de comer a muitas famílias e também achegou quartos à resistência antifranquista.

Carmen praticava umha atividade comum nas contornas das minas durante o Franquismo: a roubacha. Levava pequenos fragmentos de wolframio que cambiava no mercado negro. Este comércio subterrâneo serviu para dar de comer a muitas famílias e também achegou quartos à resistência antifranquista.

As vidas de María de Fetós, Hermosinda, Concepción e Carmen fôrom apresentadas por Faia em Lugo, no marco das Xornadas de Literatura de Tradición Oral da Asociación de Escritoras e Escritores en Lingua Galega. Ali, Carmen tivo a oportunidade de contar a sua história em primeira pessoa ante o público. “Foi umha oportunidade para mostrar-lle à gente o trabalho que levávamos feito até daquela”, explica Faia. Na atualidade, a equipa está num momento de pausa, aguardando um reencontro que chegará. Por enquanto, Faia só pode valorar positivamente o aprendido polo caminho: “Encontramos umhas vidas intensas, longas e mui ricas; som mulheres fortíssimas, que levavam adiante a horta, a família, pariam, educavam, cantavam… Com elas vai-se um mundo de coplas, de memória, de cousas que já nom se praticam”, conclui Faia, “ou começamos a prestar atençom a estas fontes ou estamos a perder umha parte importantíssima da nossa história”.

[Este artigo foi publicado originariamente no Novas da Galiza]

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