Ética do abandono é umha obra composta por quatro secçons e um epílogo, articuladas em volta da confrontaçom com o abandono e a solidom que este deixa para trás. Um confronto que é suscitado por um acontecimento biográfico, a morte do pai, que reaviva, descarnadamente, a consciência do próprio abandono. Mas nom se restringe o livro só ao âmbito pessoal: a partir desta situaçom, o autor é capaz de se estender ao âmbito do coletivo e do social, onde o desamparo e o isolamento refletem as feridas ainda nom fechadas da recente pandemia e dum capitalismo voraz. Ambas as perspectivas convergem finalmente, entrecruzando-se o pessoal com o social, numha defrontaçom com as próprias memórias, fraquezas e limitaçons que culmina com a sua aceitaçom (nom isenta de certa esperança). Destarte, Ética do abandono supom umha continuaçom de repertórios temáticos característicos da obra prévia do autor corunhês, aqui aprofundados e desenvolvidos, numha compreensom mais cabal dos seus diversos matizes.
‘Ética do abandono’ supom um marco na obra de Mário Herrero. Nas suas páginas encontramos umha poesia madura e acabada, que nos chama fortemente pola sua profundidade temática e pola sua perfeiçom formal.
O abandono e a vulnerabilidade encontram, aliás, certo reflexo no estilo. Assim, se tematicamente o livro atualiza repertórios anteriores, formalmente supom umha superaçom, marcando umha plena maturidade literária. Nele, vemos umha poesia fortemente depurada que, liberada de tudo o supérfluo, deixa apenas o mais dolorosamente essencial. É, pois, o de Ética do abandono um estilo equilibrado e sóbrio, caracterizado por umha linguagem aberta e corrosiva e umha “sintaxe a espreitar a voragem” (como indica Carme Pais na contracapa do livro). Esta nudez, porém, nom significa pobreza estilística: longe disso, denota umha grande habilidade técnica que se manifesta no domínio magistral do ritmo, da intertextualidade ou das metáforas. É, em definitivo, um estilo lúcido e elaborado, fruito da experiência e do conhecimento profundo.
Ética do abandono supom um marco na obra de Mário Herrero. Nas suas páginas encontramos umha poesia madura e acabada, que nos chama fortemente pola sua profundidade temática e pola sua perfeiçom formal. Umha poesia que conforma um livro maduro e notório que se erige como umha das obras cimeiras da poética galega contemporânea.
[Este artigo foi publicado originariamente no Novas da Galiza]