Desde uma profunda humildade, Victorino Pérez Prieto achega-nos, no seu A unidade e a harmonía da realidade. Complexidade e ecoloxía, uma visão abrangente de diversas perspectivas sobre o vínculo que como seres humanos mantemos com o universo, no seu sentido mais completo.
Fugindo da oposição absoluta entre as ciências e outros tipos de conhecimento humano, o autor procura orientar o texto para uma percepção mais refinada que opera detrás das inconsistências de qualquer mundividência fechada, reparando, por exemplo, na incompletude da visão hipermaterialista imperante há séculos na ciência ocidental, o que permite integrar outras formas de experiência cognoscitiva.
Para isto, o autor indaga no conceito de Complexidade como uma ponte elevada sobre os fragores dos posicionamentos enrocados numa só perspectiva da Realidade, a modo de uma reactualização da metáfora arcana do Elefante no Escuro, permitindo desta maneira encher os pulmões perceptivos de um ar novo que nos facilite ver como, desde muitos lugares diferentes, e mesmo aparentemente confrontados, podemos ficar retidos numa discussão mais inconscientemente egocêntrica do que operativa na nossa relação com o existente. Com este fio aprendemos a observá-lo e observar-nos desde uma olhada libertante que pouco nos concedemos para vencer a sombra dos muros, próprios ou alheios, e facilitar o trabalho perceptivo que nos vem dado naturalmente.
O autor indaga no conceito de Complexidade como uma ponte elevada sobre os fragores dos posicionamentos enrocados numa só perspectiva da Realidade, a modo de uma reactualização da metáfora arcana do Elefante no Escuro, permitindo desta maneira encher os pulmões perceptivos de um ar novo que nos facilite ver como, desde muitos lugares diferentes, e mesmo aparentemente confrontados, podemos ficar retidos numa discussão mais inconscientemente egocêntrica do que operativa na nossa relação com o existente.
Neste sentido, há uma indagação em profundidade no trabalho do filósofo Edgar Morin, quem começou a falar abertamente de pensamento complexo, abrindo um caminho necessário e fértil, e no de Raimon Panikkar, autor ainda não suficientemente (re)conhecido, com uma obra muito diversa, quem foi integrando um diálogo potente com a ciência, as tradições espirituais mais profundas e a consciência da Realidade, deixando como uma das suas linhas discursivas mais relevantes a interrelação de todo com todo e a complexidade aparentemente contraditória mas também harmónica do que nos rodeia.
Posteriormente, Victorino faz um profundo trabalho de pesquisa das vinculações entre a consciência ecológica e as espiritualidades, continuando e ampliando assim trabalhos anteriores seus, dando-lhe ênfase à necessidade de recuperar essa visão conjunta para manter e aumentar a sensibilidade profunda sobre a ligação intrínseca entre o existente, o que também permitiria uma maior vinculação com o centro interior de gravidade dentro de cada ser humano.
O autor, que tem o cristianismo como a via principal de achegar-se à consciência completa da Realidade, mas com uma perspectiva aberta sobre todas as formas de consciência e (re)ligação, propugna o avance explícito cara à ecoteologia, centrando-se nomeadamente nas relações conflituosas com a natureza que determinadas interpretações dogmáticas de grande parte das elites de todo tipo geraram historicamente, assim como na necessidade de uma compreensão mais profunda dos textos fundamentais do cristianismo desde interpretações enriquecedoras e diversas, incluindo a teologia feminista e a de libertação, que permitam achegar-se a uma visão mais complexa e, portanto, realista.
Junto a isto, o autor defende também um achegamento intenso cara à ecoespiritualidade, num sentido, como no resto da sua obra, abrangente e amplo, facilitando deste jeito uma experiência directa do que chama, nas suas próprias palavras, “a consciência de comunhão profunda com toda a Realidade”.
Ao acabar de ler o seu livro quedei com a sensação de ter contactado de outra maneira com uma mesma energia latente que, desde lugares diferentes aos seus em vários pontos, me levou a perceber como complementares as nossas visões do mundo, tanto interior como exterior, assim como um misterioso e potente fio luminoso que une as múltiplas formas de criatividade e consciência, buscando essa energia subtil e fluente, por chamá-la de alguma maneira, que nos atravessa, independentemente do nome que lhe queiramos dar.
Nesta linha, dou a conhecer aqui este poema, surgido justamente após a leitura do livro, como outra maneira de promover e continuar esse diálogo fraterno e diverso…
UNIDADE
Para Victorino
Somos a água contida na lava,
o olho sem pálpebras que ama
o fogo inicial do existente e
se nutre no interior da realidade
com o seu rio equinocial ardendo
desde a abolição de toda distância,
enquanto as formas perdem o peso
e gravitam num universo anterior
a qualquer medida, desasido o ser
para abraçar todo o que nele sucede,
na sabedoria incandescente do uno.