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Teresa Pilhado : “Em Através publicamos também o que não se publica em outras editoras por não fazer parte do tão endogâmico sistema cultural galego “

Teresa Pilhado é a nova codiretora da Através revezando Antom Serém, a quem agradecemos todo o que deu ao projeto e as pessoas, em parceria com Valentim Fagim.

No PGL quisemos entrevistá-la para conhecer a sua perspetiva da editora e dar a conhecê-la aos leitores e leitoras da Através.

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Como conheceste a Através e por que decidiste fazer parte da equipa?

Conheci Através suponho que como quase todo o mundo: por ser a editora de referência do reintegracionismo. Fazer parte da equipa foi algo que não tive nem que pensar, foi uma alegria muito grande. O trabalho que surge da militância é sempre lindo e faz-se com muita mais vontade do que qualquer outro.

Antes de fazer parte da equipa editorial, que livros te interessavam mais do catálogo?

Acho que os livros que mais me interessavam eram os de língua e identidade, é dizer, as coleções de Através de Nós e Através da Língua. Entendo que são, num princípio, os livros pelos que começamos todas para nos iniciar no reintegracionismo. Porém, hoje em dia tenho uma preferência muito maior pela literatura que publicamos ­–Através das Letras– e pessoalmente sou a favor de fazer pender a balança, sempre que for possível, em favor dessa coleção. Fazendo o balance anual ou mesmo nas reuniões perguntamo-nos que tipo de editora queremos ser. Todas achamos que ficou claro qual é o nosso posicionamento sobre questões de língua, identidade e cultura, pelo que seguirmos salientando e fazendo ênfase nesse tipo de publicações pode chegar a ser mesmo contraproducente já que é muito simples acabarmos sendo a editora do reintegracionismo. No entanto, um dos livros de que mais gostei antes de entrar na equipa e por enquanto continua a ser bastante especial para mim é Galiza, um povo sentimental? de Helena Miguélez-Carballeira.

Que achega o catálogo de Através no sistema cultural galego? E ao sistema cultural português?

Embora de jeitos muito diferentes, o nosso catálogo contribui –quer no sistema cultural galego, quer no sistema cultural português– à visibilidade. Num dos sistemas –no galego–, a editora visibiliza uma alternativa que até o dia de hoje foi silenciada pelas grandes editoras. No português, no entanto, visibiliza-nos em tanto que existimos, que fazemos parte da história da uma língua e que falamos mais uma variedade. A grande diferença entre os dois sistemas, tendo em conta que somos uma minoria em ambos, é que um nos nega enquanto o outro nos desconhece.

No entanto, no sistema cultural galego ocupamos outra posição para além da questão ortográfica. Não só pela forma (neste caso, pela grafia) podes ser rejeitada por um sistema. De facto, o mais frequente é seres rejeitada pelo conteúdo. Em Através publicamos também o que não se publica em outras editoras por não fazer parte do tão endogâmico sistema cultural galego.

Como é, ou deve ser, a interação com cada um deles?

Essa interação é diferente num caso e em outro. No caso galego está garantida minimamente uma identidade editorial (as pessoas sabem que existimos, sabem quem somos) com independência da simpatia com a que se nos possa receber. Isso é algo que em Portugal não se dá. Em relação com a Galiza a interação poderia vir por dois caminhos: um consistiria em refugiar-se na marca e mantermos uma ortodoxia. Outra viria dada pela procura duma ampliação do espaço de partida que lograsse atrair mais autoras e leitoras ao projeto; por exemplo, dedicando esforços a debates atuais infrarrepresentados noutros carimbos editoriais. Com esta estratégia liga a nova coleção que estamos a preparar no terreno da divulgação. Sobre o sistema cultural português, ainda que para mim não se deveria limitar a Portugal, acho que deveríamos explorar com certa teimosia e afoiteza as possibilidades de parceria.

Que gostarias de ver mais no catálogo, sejam temáticas ou autoras/es concretos?

Gostaria de ver temáticas não concretas, mas distintas. Como disse, acho que uma editora que publica apenas livros em galego internacional pode (e deve, chegado um ponto) publicar livros cujo conteúdo não tenha nada a ver com o galego internacional. Porém, isso está já a ocorrer e proximamente haverá uma novidade no catálogo que nos gera muito entusiasmo por ser tão bonita e à vez tão necessária. Também não posso deixar de dizer ­– em parte como autocrítica – que temos uma grande carência de mulheres entre as nossas escritoras.

Como achas que devem interagir o resto das editoras galegas com as autoras e autores que usam o galego internacional?

Algo que sempre lembrarei da primeira reunião de Através à que assisti foi algo que disse Antóm Serém: “nós o que queremos é que Através desapareça”. Fora bastante estranho para mim. O que ele queria dizer é que existimos como editora por uma questão de necessidade. As autoras reintegracionistas têm um espaço muito limitado nas editoras pequenas e absolutamente inexistente nas grandes. Se se cumprir a vontade de Antóm e deixamos de existir, as autoras que empregam o galego internacional estariam a ter as mesmas possibilidades e oportunidades que as que empregam a norma da RAG. Porém, e tentando ser realista, acho que podemos chegar a um ponto mais complicado do que o atual. Quando és rejeitada tens um espaço próprio –o das subalternas–, mas não assim quando és devorada. Neste sentido, há um problema cuja entidade nem sempre percebe todo o mundo. Consiste em que há algo pior do que a criação de uma editora para que as escritoras reintegracionistas tenham um lugar onde publicar. Esse algo é a criação de um aparente espaço dentro do hegemónico para controlar, silenciar e fagocitar. Isto ocorre em muitos outros âmbitos, por exemplo a aparição de “departamentos de igualdade” em empresas para não poderem ser acusadas de discriminação. A interação, pois, entre as editoras e as autoras que escrevem em galego internacional deve ser, do meu ponto de vista, ou absoluta ou nula. No ponto intermédio estaria o fim.

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