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Xoán Carlos Carreira e Emilio Carral: «O nosso ensaio aspira a ser um ponto de partida, nom de chegada, procurando respostas para as perguntas chave»

Emilio Carral e Xoán Carlos Carreira
Emilio Carral e Xoán Carlos Carreira

 

Quem habita hoje o meio rural galego? Quais som os diferentes tipos de explorações agrárias na atualidade? Qual é o papel da agricultura em pequena escala? o minifúndio continua a ser um problema para o desenvolvimento agrário? ou é umha agricultura de precisom, feita, isso sim, com base num enorme esforço? É certo que as pequenas explorações labregas familiares som marginais? Podem ser importantes no novo paradigma da agricultura, entendida não só como produtora mas também como fornecedora de serviços?, O Pequeno é grande. A agricultura familiar como alternativa: O caso galego (Através Editora, 2014) tenta resolver estas e outras questões. No PGL falamos com os seus autores Xoán Carlos Carreira e Emilio Carral, ambos professores da USC no polo de Lugo. Umha combinaçom de revisões bibliográficas, investigações e conclusões próprias dos autores, hipóteses e ideias prospetivas, que tenciona apresentar um conjunto de ideias e propostas para incentivar um debate necessário na nova fase que deverá começar para a agricultura galega.

Um ensaio que aspira, portanto, a ser um ponto de partida, nom de chegada, procurando respostas para as perguntas chave.

Minifúndio, sim ou não?

Xoán Carlos Carreira: A resposta não é simples. Nós propomos ver o minifúndio partir de uma perspetiva diferente do que vem sendo habitual nas últimas décadas na Galiza. O minifúndio significa que as explorações são pequenas, mas também que é uma adaptação às possibilidades produtivas do país e configura uma estrutura territorial e da paisagem que não é apenas uma marca de identidade, mas tem vantagens comparativas do ponto de vista da biodiversidade e, portanto, também do ponto de vista da produção ecológica, agroecológica e sustentável. E, acima de tudo, é fundamental para ocupar e gerir o território rural. Não parece ser possível uma adequada gestão do território na Galiza se não se conta com uma estrutura de pequenas explorações. Há lugar também para as grandes explorações intensivas, próprias da pecuária industrial, mas a capacidade das mesmas para ocupar e gerir de maneira adequada o território é muito limitada.

Quanto ao problema da pequena base territorial das explorações, os dados apontam para que as pequenas explorações são mais eficientes do ponto de vista de produção por unidade de área ou gado. Isso não significa que, se quadrar, a base territorial é insuficiente em muitos pontos do país para assegurar uma remuneração adequada da mão de obra. Mas tentamos mostrar que não é assim em todos os casos, nem é tão baixa como se poda pensar. Isso faz com que a agricultura em pequena escala é mui importante, por exemplo, no caso de a família seguir uma estratégia de pluriatividade ou mesmo que poda vir a ser rentável com políticas adequadas que tenham em conta o papel social da agricultura.

O minifúndio, na verdade, não é mais que uma agricultura de precisão (a mais moderna da agricultura convencional) feita com base num enorme esforço humano. É preciso vê-lo à luz dos novos paradigmas da agricultura no século XXI, entendida como uma atividade produtora não só de alimentos, mas também de serviços à sociedade. Desta perspetiva percebemos que é mais uma oportunidade do que uma ameaça, que é mais uma fortaleza do que uma fraqueza, sem que isso queira dizer que não existam ameaças e fraquezas na nossa agricultura minifundista.

Emilio Carral: Sim, fundamental para um sistema diverso e democrático.

Por que um livro nesta norma para o galego? Contra ou a favor de corrente?

EC: Acho que é o futuro (presente) para o galego. Para persistir tanto na Galiza como no mundo.

XCC: As galegas e os galegos temos uma grande riqueza. Uma língua em si já tem um valor que não pode ser medido, mas, o nosso tem um valor agregado que permite comunicar com milhões de pessoas no mundo. Acho que cumpre caminhar numa direção que nos permite inserir-nos no mundo lusófono, e não apenas do ponto de vista da língua, mas também, através da língua, em muitos aspetos sociais, económicos e culturais.

Eu acho que é ir contra corrente no curto prazo, mas possivelmente a favor da corrente, se o virmos numa perspetiva histórica, ao médio prazo. Se quisermos sobreviver e agir dignamente como país, dum ou doutro modo, temos que andar nesse caminho.

O pequeno é grande
O pequeno é grande

Família e agricultura: mais que um emprego, mais que um recurso económico?

EC: Uma forma de vida e uma maneira de estar e enfrentar o mundo.

XCC: A agricultura familiar na Galiza é realmente algo mais que um recurso económico. É um modo de vida, uma forma de interpretação da realidade, uma forma de se relacionar com a natureza, um dos aspetos que forma a nossa identidade nacional.

Se falarmos duma perspetiva global, é preciso lembrar que muitos/as autores/as acreditam que a agricultura não deve ser concebida apenas como uma atividade produtora de alimentos, fibras e/ou fontes de energia. A agricultura do século XXI deve produzir também serviços à sociedade, nomeadamente os chamados serviços ambientais. Deste ponto de vista, uma agricultura produtora de alimentos saudáveis e conservadora da biodiversidade é um serviço básico para a sociedade como é a saúde ou a educação. E quem melhor pode prestar este serviço à sociedade é, sem dúvida, a agricultura familiar se praticada sob os parâmetros adequados.

Doais os vossos benefícios como autores ao Movimento Educativo nos Tempos Livres Altair com as suas equipas de educador@s voluntári@s. Na Carta Constitucional deste Projeto educativo lê-se: “Altair defende e atua para o direito dos povos à sua soberania alimentar. A alimentação e a produção de alimentos devem ser priorizados sobre os interesses do comércio internacional com base na produção para a exportação e importação de alimentos. Altair defende o direito das comunidades a decidirem o seu próprio sistema alimentar. Altair defende a democratização e o acesso à alimentação agroecológica e de qualidade e o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente apropriados e acessíveis”. Vai bem encaminhado, na vossa opinião?

EC: Vai, as pessoas têm que ser donas de seu, sem dignidade a democracia não existe.

XCC: Claro que sim. A soberania alimentar é um conceito que se vai introduzindo em todo o mundo. Um país que queira se desenvolver economicamente não pode ser um país dependente. Nesse sentido, ninguém duvida que os governos dos diferentes países devem garantir o controlo sobre os aspetos básicos da sua economia. Nestes tempos na própria Europa estão a ver os perigos da dependência energética. Mas o mesmo se passa com a alimentação, ainda que disso quase não se fale. Um país incapaz de alimentar a sua população será sempre um país dependente e, portanto, o seu desenvolvimento económico estará sempre em função do que os outros decidam.

Algumas pessoas gostam de caricaturar a soberania alimentar, dizendo que vai na contramão do comércio. Mas a soberania alimentar não questiona as transações nem o comércio, só que defende que este deve ser um comércio justo e não pôr em causa a própria sobrevivência. A soberania alimentar questiona que em alguns países se use a terra para produzir para os luxos dos países ricos ou fornecer-lhes energia barata para que continuem consumindo, em vez de dedicá-la a alimentar a população do país, provocando desabastecimento de alimentos básicos e uma dependência do exterior para comer.

O mundo galego, o mundo em geral, é, crescentemente, urbano: para as pessoas que moram nas cidades, qual a vossa proposta, qual o benefício e o apelo da vossa proposta?

XCC: Na verdade o mundo é cada vez mais urbano, mas na Galiza existem muitas pessoas que trabalham nas zonas urbanas, mas residem no meio rural. Como qualificar essas pessoas? Não sei, mas sei que este modelo permite que muitas dessas pessoas cultivem em pequena escala produzindo alimentos para consumo próprio ou para pequenas vendas ao nível local. E isso, eu acho que é bom tanto do ponto de vista económico como do ponto de vista da ocupação e gestão do território. E também, é claro, da qualidade de vida.

Em todo o caso, as pessoas que moram nas cidades, têm também um triplo benefício. Por um lado, se produzem alimentos de maior qualidade e mais saudáveis, as pessoas que moram na cidade serão mui beneficiadas como consumidoras. Além disso, o meio rural é sem dúvida o maior espaço de lazer difuso da população urbana galega. Quem não vai jantar, pescar, tomar um café, dar um passeio ou assistir a uma feira gastronómica no rural de vez em quando? Quanto maior a sua qualidade ambiental e paisagista mais satisfatório é o lazer. Finalmente um mundo rural vivo mantém vivo o nosso idioma, as nossas expressões, a nossa cultura, a nossa música…, quer dizer-se, o nosso maior património imaterial. E preservar o nosso património imaterial é indispensável para a nossa população, seja rural ou seja urbana.

EC: Como dizia a Siniestro Total, “de onde vimos, cara donde vamos”: as condições básicas (bens e serviços) para a nossa vida vêm diretamente do meio rural/natural. Sem conhecer e compreender a sua origem dificilmente podemos armar um presente/futuro urbano com um nível de vida digno para a maioria.

Otimistas?

XCC: Otimistas. Não há outro remédio. E há sinais de que está terminando uma etapa. Apesar de não saber como vai ser a próxima, polo menos parece que andamos na procura de algo novo.

EC: Otimistas, mas já se verá.

 

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