A segunda ediçom deste romance sai do prelo uma década depois da sua publicaçom original.
O evento de apresentaçom será na sexta-feira dia 21 de março, às 20h no Centro Social Mádia Leva (rua Serra de Ancares, nº 15), e a autora estará acompanhada da professora Xemma Tedim, coordenadora da primeira ediçom do livro.

Dum lado, a História; doutro, a intimidade. Dum lado, as palavras de ordem das ideologias políticas revolucionárias. Doutro, o orgasmo múltiplo e os fetiches do Domínio e a Submissão. Dum lado, as figuras de Lenine, Alexandra Kollontai, Nádia Krupskaia e, sobretudo, Inessa Armand. Doutro, a experiência de escrever sendo mulher e, portanto, interpretada como autora de textos vagamente feministas, reivindicativos mas também florais e românticos. Quando a escritora acha um fio narrativo singular –a vida da revolucionária bolchevique Inessa Armand–, experimenta certas contradições.
Inessa Armand é um nome secundário na história, apenas identificável como “a amante de Lenine”. Aliás, participou ativamente na cúpula bolchevique, fundou sociedades feministas, dirigiu jornais, enfrentou-se às normas sociais ao abandonar o marido para marchar com o seu cunhado, de dezassete anos, e foi obrigada a exilar-se dois anos no Ártico. Porém, Ostrácia não pode ser mais um romance sobre a épica das mulheres bravas porque a escritora tem a vontade de explorar o território da exclusão, das margens, esses espaços da dissidência política onde os “nossos” nos confinam por não luzirmos tão claros e obedientes como dantes.
Ostrácia é um castigo merecido, um lugar e um tempo para reinventar-se. E os amores entre Lenine e Inessa Armand reescrevem as vidas atuais e explicam o relato das revoluções interiores. Se a militância for entrega, se as ideologias tiverem que mudar o mundo, então Inessa Armand e a escritora devem entrelaçar-se para contar o nunca contado: que Política e Erótica vão da mão, que tudo na Política, como na cama, se reduz a bailar com o Desejo. Para a política não ser politiquinha e o Desejo não se conformar com desejinhos. Para fazermos habitável a Ostrácia.
Sobre a autora:

Professora titular de Linguística Geral na Universidade de Santiago de Compostela, onde mora, Teresa Moure publicou romance, ensaio, relato, teatro e poesia, que foram distinguidos com múltiplos prémios e traduzidos para sete idiomas. Em 2013 publicou na imprensa um artigo sobre a sua decisão de escrever, doravante, na forma ortográfica internacional da sua língua. A partir desse momento publicou Eu violei o lobo feroz (poesia, Através, 2013), Politicamente incorreta (ensaio, Através, 2014), Uma mãe tão punk (romance, Chiado, 2014), Ostrácia (romance, Através, 2015), Um elefante no armário (romance, Através, 2018), Linguística-ECO. O estudo das línguas no antropoceno (ensaio, Através, 2019), Sopas New Campbell (Cuarto de invierno, 2020), A tribo que conserva o lume (romance, Através, 2020), para além de participar nos volumes coletivos Bolcheviques 1917-2017 (ensaio, Através, 2016), Abadessa, oí dizer (relato, Através. 2017). Em 2007 foi distinguida com o prémio Acuorum por Águas livres e com o prémio Manuel Murguía por A semântica oculta de Mrs. Hockett. A crítica salienta o seu estilo colorido e uma ótica atenta aos problemas sociais e políticos, dentro de parâmetros alternativos e inconformistas.