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Xurxo Fernández Carballido: “Ensinar português na Galiza é um desafio e uma oportunidade”

xurxo-01Xurxo Fernández Carballido, colaborador deste portal, professor de português e de galego para nom falantes do Centro de Línguas Modernas da Universidade de Santiago de Compostela é autor da tese “O ensino da língua portuguesa na Galiza”, cualificada de sobressaliente cum laudem. Trata-se de umha investigaçom em que analisa a presença do português no sistema educativo primário, secundário, bacharelato, nas escolas oficiais de idiomas e no sistema universitário. Também avalia os materiais empregados e a formaçom dos docentes de português como língua estrangeira. Fruto deste trabalho constata as resistências “institucionais e administrativas para promover o português” na Galiza, em contraposiçom com “o esforço” de outros territórios como a Estremadura, e qualifica como deficitária a presença do português no ensino galego.

Como valorou o tribunal a tese? Procuras continuar aprofundando na questom no futuro?

A minha tese de doutoramento foi dirigida pelos professores da Universidade de Santiago de Compostela Ignacio Miguel Palacios Martínez e José Souto Cabo e a banca do júri estava constituída pela professora do Instituto Politécnico de Castelo Branco, Maria Margarida Afonso de Passos Morgado, pelo professor da Universidade do Minho, Álvaro Iriarte Sanromán, e presidida pelo catedrático aposentado da USC, José Luís Rodríguez, e mereceu a classificação de sobressaliente cum laudem, do qual me sinto muito contente, pela qualidade dos diretores e pelos elogios do júri ao meu trabalho.
No que diz respeito à continuação dos trabalhos de investigação sobre o ensino do português na Galiza, hoje em dia, os trabalhos académicos são árduos e não são muito reconhecidos, bem pelo contrário, mas, ao mesmo tempo, como docente, acho que a pesquisa e a formação é consubstancial à minha profissão.

 

Além de constatar um deficitário estado do português no ensino galego, asseguras que o ensino desta língua é uma prioridade coletiva para a Galiza. Por que? Quais são as vantagens que debuxa essa hipotética paisagem?

Ensinar português na Galiza, mesmo com a rotulagem de língua estrangeira, é um desafio e uma oportunidade. Estamos a falar de uma realidade muito próxima e da que podemos tirar proveito não só do ponto de vista linguístico. Desafiar os estudantes para que conheçam a realidade portuguesa e, por extensão, a de outros espaços onde se fala português, com todas as suas contradições, evidentemente, é muito mais fácil para um galego.

O ensino do português tem maior presença no ensino não obrigatório e entre pessoas adultas –universidades, centros de línguas modernas e escolas oficiais de idiomas–, pelo contrário, a presença no ensino primário é minima e em ESO, em Bacharelato e em FP a oferta fica muito aquém do desejável.

 

Que valoraçom detetas-te entre as alunas e alunos? (principalmente no secundário)

apresentaçom da tese de Xurxo na USC
apresentaçom da tese de Xurxo na USC

O ensino do português tem maior presença no ensino não obrigatório e entre pessoas adultas –universidades, centros de línguas modernas e escolas oficiais de idiomas–, pelo contrário, a presença no ensino primário é minima e em ESO, em Bacharelato e em FP a oferta fica muito aquém do desejável.

Por outro lado, há dinâmicas geracionais, grupais, a influência das mães e pais nas escolhas das disciplinas, o interesse do próprio centro educativo em promover o português que é muito difícil de analisar. Por isso é fundamental que a Conselharia de Educação se implicasse em promover o ensino do português.

 

Qual é o perfil principal do professorado de português na atualidade?

É variável segundo o âmbito educativo. As universidades galegas têm uma longuíssima e produtiva tradição no ensino da língua e das literaturas em português, o mesmo se passa noutros contextos científicos. Os intercâmbios de alunos e professores são constantes.
Nas escolas de idiomas, embora o português não tenha presença em todas as EOI e nas suas delegações, os professores são bons profissionais, que conseguiram as suas vagas através de um concurso público.
É no secundário onde é preciso um reconhecimento da sociedade galega pelo esforço que fizeram ao longo destes anos muitos docentes, nomeadamente de língua e literatura galega, para que o português existisse nas salas de aula. Sem o seu compromisso e empenhamento, apesar de educação ser uma competência transferida à Administração galega, a presença do português em ESO e Bacharelato seria muito mais reduzida.

 

O governo galego nom contemplou mais vagas de português no anúncio da nova convocatória de emprego público. És optimista a respeito do labor do executivo neste campo?

Em 2019 as pessoas não estavam à espera e foi recebida com muita alegria a convocatória de 4 vagas. Porém, numa perspectiva mais abrangente, é uma quantidade insuficiente para alicerçar e promover o português no sistema educativo galego.
Agora em 2020 era uma grande oportunidade para consolidar e alargar essa presença, mas, por enquanto, não temos boas notícias. A ver vamos, mas seria muito negativo que não se consolidasse a dinâmica de abrir vagas de português, seria reduzir o português à anedota.

 

Valentin García, o secretário geral de Política Linguística, explicava numa entrevista ao PGL que a oferta de vagas aumentará segundo a demanda das e dos estudantes. Como valoras tu isto, em relaçom com a tese?

Quando o português não aparece na folha de inscrição de ESO ou Bacharelato que mães, pais e estudantes devem preencher, quando as escolas da primária não são informadas da possibilidade de estudar português no secundário, quando os professores do secundário que promovem o português dependem da sua disponibilidade horária, da decissão do departarmento, do parecer do claustro, da direção, da inspecção, quando pode haver problemas na continuidade das turmas porque um docente troca de centro ou mete baixa, etc. acho que não é possível ligar a oferta de vagas à procura dos estudantes. Bem pelo contrário, é a Administração autonómica a que deve protagonizar a promoção do português e convocar vagas desta especialidade é uma das medidas fulcrais.

A Administração autonómica é quem deve protagonizar a promoção do português e convocar vagas desta especialidade é uma das medidas fulcrais.

 

Que medidas fazem falta?

A Conselharia de Educação conhece perfeitamente as medidas necessárias para consolidar e promover o português no sistema educativo galego, aliás, tem o referente do trabalho desenvolvido pela Junta de Extremadura. De facto, a Associação de Docentes de Português na Galiza (DPG) apresentou em muitas ocaciões iniciativas que melhorariam a presença do português no sistema educativo galego, obrigatório e não obrigatório, formal e não formal. O que faz falta é vontade em desenvolvê-las e aplicá-las.

 

Algumha cousa mais que queiras acrescentar?

Simplesmente fico grato pela entrevista e, modéstia à parte, estou muito surpreendido pela repercusão mediática e social da minha tese de doutoramento, que não deixa de ser um trabalho académico. Isto só pode significar que o tema está na agenda pública da Galiza e que os pesquisadores devemos dar o nosso contributo desde o rigor e o empenhamento construtivo.

 

 

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