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Vinicius de Moraes, grande músico e poeta do Brasil

vinicius-de-moraes-foto-por-radio-cbn-campinasDedico o presente depoimento da série a um artista muito completo do Brasil, que foi poeta, músico e cantor, e até jornalista, dramaturgo, diplomata e compositor. Estou a referir-me a Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes (1913-1980), conhecido artisticamente como Vinicius de Moraes. Nasceu a 19 de outubro de 1913 no prédio nº 114 da Rua Lopes Quintas, do bairro do Jardim Botânico da cidade do Rio de Janeiro, e faleceu na mesma cidade em 9 de julho de 1980. O presente artigo dedicado a ele faz o número 68 da série que estou a escrever sobre os grandes vultos da Lusofonia, e o 180 da série de grandes vultos da humanidade iniciada no seu dia com Sócrates, o grande educador grego da antiguidade.

A SUA BIOGRAFIA

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Vinicius de Moraes de criança

Por considerá-la precisa e interessante apresento a biografia de Vinicius escrita no seu dia pela professora brasileira Daniela Diana.
Vinicius de Moraes foi um poeta, dramaturgo, escritor, compositor e diplomata brasileiro. É autor de Soneto de Fidelidade, uma das mais importantes obras da literatura brasileira, da peça Orfeu da Conceição, e ainda, um dos precursores da Bossa Nova no Brasil. Foi durante a segunda fase do modernismo no Brasil que Vinicius de Moraes teve destaque com as suas poesias eróticas e de amor.
Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes nasceu a 9 de outubro de 1913 no Rio de Janeiro. Filho de Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira de Moraes, somente aos nove anos foi registrado como Vinicius de Moraes. Foi batizado na Maçonaria em 1920 e, aos dez anos, fez a Primeira Comunhão na Igreja da Matriz, no bairro carioca de Botafogo. Ainda adolescente, iniciou parcerias ao lado dos irmãos Paulo, Haroldo e Oswaldo Tapajós. Com os amigos do colégio Santo Inácio formou, em 1927, um conjunto musical para tocar em festas. O grupo era composto por Paulo e Haroldo Tapajós, Maurício Joppert e Moacir Veloso Cardoso de Oliveira. E foi com Haroldo Tapajós que compôs as primeiras canções, Loura ou Morena e Canção da Noite. Essa última, tendo a participação de Paulo Tapajós.

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Vinicius de Moraes com 16 anos

Em 1929, tornou-se bacharel em Letras pelo Colégio Santo Inácio; e no ano seguinte ingressou na Faculdade de Direito da Rua do Catete. O primeiro poema publicado de Vinicius de Moraes, A Transfiguração da Montanha, foi editado na revista A Ordem, em 1932. Somente em 1933, no mesmo ano em que se forma em Direito, é publicado o primeiro livro do poeta: O Caminho para a Distância, pela Schmidt Editora. Já a sua segunda publicação, Forma e Exegese, publicada pela editora Irmãos Pongetti em 1935, recebe o prémio Felipe de Oliveira. Também foi reconhecido pela crítica e obteve comentários elogiosos de Manuel Bandeira.
Estava em Lisboa acompanhado da primeira mulher e de Oswald de Andrade quando compôs Soneto de Fidelidade, em 1939. O soneto é um dos mais reconhecidos no legado de Vinicius de Moraes.

Em 1941, começa a atuar no jornal A Manhã como crítico cinematográfico. O trabalho é conciliado com os estudos para o concurso de ingresso na carreira diplomática, tendo êxito em 1942. Consegue conciliar a carreira diplomática e os trabalhos no suplemento literário de O Jornal até 1946. Naquele ano, assumiu o posto de vice-cônsul em Los Angeles, para onde viajou com Fernando Sabino. Nos Estados Unidos, onde permaneceu cinco anos sem regressar ao Brasil, fez contato com músicos brasileiros, como Carmen Miranda e o crítico cinematográfico Alex Vianny.
Num curso de cinema que decide fazer em 1947, torna-se amigo pessoal de Orson Welles. Vinicius teve uma vida amorosa agitada, casou-se nove vezes. O artista faleceu em 9 de julho de 1980, vítima de um edema pulmonar.

No período de 1949 a 1951, entra em contato com expoentes da literatura, como o pernambucano João Cabral de Melo Neto, que contribui para a publicação do poema Pátria.

Vinicius de Moraes com Pablo Neruda.
Vinicius de Moraes com Pablo Neruda.

Passa a conviver com o chileno Pablo Neruda e o pintor Di Cavalcanti. No regresso ao Brasil, em 1951, volta a trabalhar no jornalismo, desta vez no Última Hora, onde colabora por meio de crónicas e permanece na crítica cinematográfica.
Vinicius de Moraes lança a sua antologia poética, A Noite, trabalho que conta com a atuação de Manuel Bandeira na organização. No mesmo ano, uma das suas peças mais conhecidas, Orfeu da Conceição é premiada no concurso do IV Centenário do Estado de São Paulo. A peça foi publicada na revista Anhembi. Trata-se de uma adaptação da obra grega ao cotidiano carioca. Faz várias tentativas de financiamento para o formato de filme, o que ocorre somente em 1956, com Orfeu Negro. Antes, contudo, a peça percorre o país.

Vinicius e a Bossa Nova

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Vinicius de Moraes com 20 anos

As parcerias de Vinicius com João Gilberto e Tom Jobim mostraram-se promissoras em 1959 com o movimento denominado Bossa Nova. As composições de Vinicius e Tom são interpretadas por João Gilberto no disco Chega de Saudade. O intérprete inova e marca um dos movimentos mais importantes da história da cultura brasileira.
Em 1964, depois do golpe militar, após um longo período atuando nos trabalhos administrativos do Itamaraty no Uruguai, retorna ao Brasil. Passa, então, a colaborar com a revista Fatos e Fotos do jornal Diário Carioca.
A sua canção Arrastão é interpretada por Elis Regina no Festival Nacional da Música Popular Brasileira da TV Excelsior. Os festivais dividiram a produção musical brasileira e a canção de Vinicius foi eleita a melhor música da edição de 1965. No mesmo ano, com a música Valsa do Amor que não Vem, leva o segundo lugar. A canção foi interpretada por Elizeth Cardoso.
Em momento de intensa produção cultural, permanece no Brasil, sendo transferido pelo Itamaraty para Ouro Preto em 1967, onde organiza um festival de arte. No ano seguinte, por conta da instauração do Ato Institucional n.º 5, lê o poema “Pátria Minha”, na ocasião de shows em Portugal. O protesto resultou na exoneração de Vinicius de Moraes por ordem do presidente Arthur da Costa Silva.
Fora dos serviços administrativos do governo federal, vive uma intensa agenda de shows e produção cultural. Em 1970, inicia a parceria com o cantor Toquinho, uma das mais conhecidas. Juntos lançam as conhecidas São Demais os Perigos dessa Vida e Eu Sei que Vou te Amar, em 1972. Permanece em parceria com Toquinho nos anos seguintes. Os dois atuam na produção da trilha sonora de novelas da Globo, como O Bem Amado, e passa a trabalhar com Edu Lobo. O seu último disco, Um Pouco de Ilusão, foi lançado em 1980. Vinicius também compôs em 1939 um dos mais importantes poemas da poesia moderna, Soneto de Fidelidade, publicado em 1946.

Fora dos serviços administrativos do governo federal, vive uma intensa agenda de shows e produção cultural. Em 1970, inicia a parceria com o cantor Toquinho, uma das mais conhecidas.

Nota: É interessante a leitura de mais informações e textos sobre a vida e obra de Vinicius. A que pode fazer-se entrando nas seguintes ligações: o site oficial de Vinicius,  wikipedia, ebiografia.com, Brasilescola, e todobiografias.net.

FICHAS DOS DOCUMENTÁRIOS

0.-MPB Especial com Vinicius de Moraes.
Duração: 59 minutos. Ano 2013.

1.-Vinicius de Moraes com Toquinho, Tom Jobem e Miúcha, ao vivo na Itália.
Duração: 55 minutos. Ano 2013.

2.-Vinicius de Moraes: Pot pourri.
Duração: 6 minutos. Ano 2012.

3.-Vinicius de Moraes com Maria Creuza e Toquinho.
Duração: 51 minutos. Ano 2017.

4.-Garota de Ipanema, por V. de Moraes.
Duração: 3 minutos. Ano 2012.

5.-Vinicius de Moraes na Argentina.
Duração: 127 minutos. Ano 2020.

6.-Vinicius de Moraes e Toquinho:
a.-Para viver um grande amor.
Duração: 5 minutos. Ano 2009.

e b.-Convite para te ouvir.
Duração: 70 minutos. Ano 2015.

7.-40 anos da morte de V. de Moraes.
Duração: 3 minutos. Ano 2020. Produtora: TV Brasil.

A SUA OBRA LITERÁRIA E MUSICAL

a.-Livros de Poesia
O caminho para a distância. 1933.
Forma e exegese. 1935.
Ariana, a mulher. 1936.
Novos poemas. 1938.
Cinco elegias. 1943.
Poemas, sonetos e baladas. 1946.
Pátria minha. 1949.
Antologia poética. 1954.vinicius-de-moraes-capa-livro-de-sonetos-0
Livro de sonetos. 1957.
Novos poemas II. 1959.
O mergulhador. 1968.
A arca de Noé. 1970.
Poemas esparsos. 2008.

b.-Livros em prosa
Para viver um grande amor. 1962.
Para uma menina com uma flor. 1966.

c.-Livros de Teatro
As feras.
– Cordélia e o peregrino.
– Orfeu da Conceição.
– Procura-se uma rosa.

d.-Discos
Poesias. 1959.
Brasília, sinfonia da alvorada. 1961.
Vinicius e Odette Lara. 1963.
Vinicius e Caymmi no zum zum. 1965.
Poesia e canção ao vivo (vol. 1). 1966.
Poesia e canção ao vivo (vol. 2). 1966.
Os Afrosambas. 1966.
Vinicius. 1967.
Garota de Ipanema (trilha sonora do filme). 1967.
Vinicius em portugal. 1969.
Toquinho e Vinicius. 1971.
Como dizia o poeta. 1971.
Vinicius canta “Nossa filha Gabriela”. 1972.
O bem amado (trilha sonora da novela). 1973.
Vinicius e Toquinho. 1974.
Fogo sobre terra (trilha sonora original da novela). 1974.
Vinicius/Toquinho. 1975.
Toquinho e Vinicius: O poeta e o violão. 1975.
Deus lhe pague. 1976.
Tom-Vinicius-Toquinho-Miúcha. 1977.
10 anos de Toquinho e Vinicius. 1979.
A arca de Noé. 1980.
Um pouco de ilusão. 1980.

DOIS POEMAS DE VINICIUS
1.-Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

2.-O Pato (de um disco de músicas infantis, ano 1970)
Lá vem o pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o pato
Para ver o que é que há.
O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela.

FRASES DE VINICIUS
“Eu talvez não tenha muitos amigos, mas os que eu tenho são os melhores que vinicius-de-moraes-foto-em-1980alguém poderia ter”.
“Eu poderia, embora não sem dor, perder todos os meus amores, mas morreria se perdesse todos os meus amigos”.
“Se o cachorro é o melhor amigo do homem, então uísque é o cachorro líquido”.
“Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval”.
“A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros nesta vida”.
“A vida é a espera da morte. Faça da vida um bom passaporte”.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR

Visionamos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um cinema fórum, para analisar o fundo (mensagem) deles, assim como os seus conteúdos.
Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Vinicius de Moraes, importante músico e escritor brasileiro. Nela, além de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros, discos, CDs e monografias.
Podemos realizar no nosso estabelecimento de ensino um Livro Fórum, em que intervenham alunos e docentes. De entre os seus livros podemos escolher para ler por todos a Antologia poética (1954), o Livro de Sonetos (1957) ou A arca de Noé (1970). No lugar de um livro fórum podemos organizar até uma audição musical de peças e cantos de Vinicius, tirados do seu CD A  Arte de Vinicius de Moraes, editado por Fontana.

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