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Uxía Cordeiro e Ana Cardoso falam de sexualidade na adolescência

cartaz-sementeO Projeto Educativo Semente Compostela lança uma nova plataforma virtual formativa para divulgar ideias que contribuam para o progresso duma educaçom crítica e transformadora. A iniciativa está focada naqueles âmbitos de conhecimento, como o sexual, sobre os quais nom existe atualmente uma oferta formativa que permita às famílias, adultos acompanhantes e docentes, colaborarem num necessário desenvolvimento integral das crianças e adolescentes.

O curso terá como temática principal a educaçom sexual e decorrerá virtualmente em três sessons, prévia matrícula, com diversas temáticas: dialogando com as adolescências partindo da disciplina sexológica, com Uxía Cordeiro e Ana Cardoso; masculinidades dissidentes, construir homes para a igualdade, com Xosé Cabido; e a sexualidade na gente miúda, com Hadriana Ordóñez.

Aproveitamos a oportunidade para entrevistarmos Ana Cardoso: sexóloga, especialista em educaçom, género, políticas de igualdade e técnica de igualdade na câmara municipal de Alhariz; e Uxía Cordeiro: sexóloga, especialista em Terapia Sistémica Breve e educadora familiar na mesma câmara municipal.

No ensino secundário a educaçom sexual é, ainda hoje, objeto dum tratamento marginal e costumeiramente ligado a intervençons externas, nomeadamente da Cruz Vermelha ou doutras entidades. É este um tratamento apropriado por parte das instituiçons educativas?

ana-cardoso-e-uxia-cordeiroDa nossa maneira de entender a educaçom sexual, como uma forma de ajudar os moços/as a se conhecerem, aceitarem e expressarem dum modo satisfatório, consideramos que a existência duma matéria dos sexos seria uma opçom mais interessante. De facto, há alguma experiência em Euskadi, na qual já estám começando a intervir a partir desta ideia.

Outro meio de implementar a educaçom sexual, com base na sexologia com a qual trabalhamos, é através de ciclos de educaçom sexual. Trata-se de intervençons curtas, entre 3 e 5 sessons com cada grupo, onde começamos a introduzir ideias sobre o Facto Sexual Humano, em diferentes etapas do desenvolvimento infantil e adolescente. Concebemos este formato porque é uma maneira de planificaçom continuada e sequencial, com o objetivo de que os conteúdos vaiam crescendo em dificuldade, ao ritmo do desenvolvimento dos moços e moças com as quais trabalhamos.

Mais do que sinalar a nenhuma instituiçom na posta em andamento de actuaçons encaminhadas à educaçom sexual, seria mais ajeitado para nós saber o fundamento que há por trás da ideia sexo. Às vezes, estám-se a fazer outras intervençons, igual de interessantes e importantes, mas nom de educaçom sexual, como por exemplo: educaçom para a saúde, educaçom para a igualdade, educaçom hedonista, etc.

Mais do que sinalar a nenhuma instituiçom na posta em andamento de actuaçons encaminhadas à educaçom sexual, seria mais ajeitado para nós saber o fundamento que há por trás da ideia sexo. Às vezes, estám-se a fazer outras intervençons, igual de interessantes e importantes, mas nom de educaçom sexual, como por exemplo: educaçom para a saúde, educaçom para a igualdade, educaçom hedonista, etc.

A educaçom sexual que utilizamos está orientada a trabalhar sobre o sexo que somos (sexuados e sexuadas) e, por este motivo, diferentes e únicos. Assim, a educaçom será a educaçom dos sexos, dos moços e das moças que vam sendo e as implicaçons que isto tem para elas e eles.

No desenvolvimento da sexualidade adolescente, que lugar ocupa a família e que conselhos daríades aos progenitores ou pessoas adultas acompanhantes?

A família tem um papel muito importante, idêntico a outros âmbitos da criança, ao mesmo tempo em que há outros agentes que estám a fazer educaçom sexual doutros lugares.

Algo a salientar a respeito das famílias é que estas fossem coerentes com a sua forma de entender a sexualidade e agissem em consequência. Como, por exemplo, começando por fazer-se certos questionamentos: as famílias fam a educaçom sexual que querem fazer? Para que fazemos educaçom sexual nas famílias? Há um objetivo valioso ou todos som valiosos? Estám presentes todos os objetivos em todas as famílias? É possível nom fazer educaçom sexual? Estas e outras perguntas som interessantes para as famílias em relaçom à educaçom sexual dos e das adolescentes e podem ser um ponto de partida.

As famílias fam a educaçom sexual que querem fazer? Para que fazemos educaçom sexual nas famílias? Há um objetivo valioso ou todos som valiosos? Estám presentes todos os objetivos em todas as famílias? É possível nom fazer educaçom sexual?

É certo que na adolescência os jovens começam a tentar diferenciar-se da família e procurar similitudes no grupo de iguais, porém isso nom invalida a importância que tem a família e a sua funçom neste tema. Esta responsabilidade terá a ver com um acompanhamento para ajudar os rapazes e raparigas a se conhecerem, aceitarem, expressarem e organizarem da forma mais satisfatória para cada um/a deles/as.

Que papel tem a educaçom sexual na construçom de relacionamentos igualitários e prazenteiros?

A achega que a sexologia pode fazer para a convivência é a de presentar uma série de conteúdos que ajudem a que nos conheçamos melhor, nos entendamos e entendamos assim ao resto, de forma a que podamos conviver o mais confortavelmente possível. Aliás, é importante que a ideia de sexo, como qualidade humana, seja estudada para poder pôr nome às cousas que nos acontecem e poder, assim, relacionarmo-nos a partir da calma do conhecimento.

Nom sabemos se vai ser uma convivência mais prazenteira porque nom se trata de eliminar o conflito, mas sim de estar abertas/os ao entendimento e na procura do mesmo, levando em conta a bem-vinda e inevitável diversidade.

Nos últimos tempos, há feministas que alertam sobre a funçom que o porno patriarcal tem na construçom da sexualidade masculina: cousificaçom do corpo feminino, imposiçom de práticas sexuais, agressons físicas, falocentrismo, etc. Pode a educaçom sexual constituir uma ferramenta antipatriarcal que visibilize e combata estas violências?

A educaçom sexual pode que nom combata nada, mas é possível que forneça ideias que nos coloquem numa atitude mais compreensiva e de cultivo com a diferença. Deste modo, podemos deixar de procurar umas maneiras únicas de fazer, pensar e dizer relacionadas com os homens e as mullheres, assim como começar a valorizar a diferença como motor do que nos torna atraentes e necessitados/as dos/as demais para ser quem somos.

Esta perspectiva pode situar-nos na necessidade de compreender em vez de julgar e de estudar para dar respostas a essas diferenças e peculiaridades que, às vezes, outras disciplinas adoitam caricaturar em formas vergonhentas, feias e pouco coabitáveis. Ademais, é provável que nos presente outros cenários possíveis com a finalidade de conviver e nos ajude a entender a pornografia. Esta deve ser concebida como uma indústria dedicada à venda dum produto e, neste sentido, a intervençom familiar pode explicar que essa realidade ficcional pouco tem a ver com os moços/as e com as suas atraçons. Os desejos eróticos vam por outros lugares e, quiçá, a educaçom sexual poda valer para clarificar estas cousas e para educar moças e moços com critério para entender tudo isto.

A pornografia deve ser concebida como uma indústria dedicada à venda dum produto e, neste sentido, a intervençom familiar pode explicar que essa realidade ficcional pouco tem a ver com os moços/as e com as suas atraçons.

Em relaçom à pornografia, pensamos que é um tema velho. Na verdade, duvidamos bastante de que proibi-la seja a soluçom a este tipo de modelos que presenta; quiçá é mais importante fazer educaçom sexual com sexo, sob uma perspectiva humanista que nos ajude a esclarecer e discernir o que som os desejos eróticos das excitaçons e dos produtos pornográficos. Como é sabido, nom todos e todas nos excitamos com as mesmas cousas, nem das mesmas maneiras.

Uma frase do Efigenio Amezúa que vem ao caso nesta pergunta: para falar de amor, há que falar de humor; mas para falar de sexo, nom há porque falar de tragédia.

A diversidade sexual é outro dos temas que serám tratados no atelier. Que relaçom existe entre sexo e diversidade? Por que é importante o seu tratamento?

A relaçom que existe entre sexo e diversidade é um facto, quer dizer, somos diversos e diversas porque somos sexuados/as e porque ainda que estejamos construindo-nos das mesmas cousas, compartilhando os mesmos rasgos, vamos diferenciando-nos uns dos outros/as polas nossas biografias. A diversidade é uma realidade em todos os aspetos das nossas vidas, vivências, experiências, desejos, práticas, encontros, etc. e nom pode ser doutra maneira pola própria ideia do sexo como qualidade humana. À vista disto, é importante o seu tratamento para ter palavras que nos permitam nomear as cousas que nos vam acontecendo, sobretudo na adolescência, onde aparecem as primeiras vezes em muitos âmbitos.

Como profissional, tés realizado oficinas com adolescentes, que valorizaçom fás do seu imaginário sexual? Achas que existe uma evoluçom social positiva a este respeito?

Pensando na semana passada, que ministramos um ciclo de educaçom sexual num IES, podemos dizer que nas últimas sessons, em geral, pudemos observar um aumento dos conhecimentos ligados às identidades e às orientaçons do desejo. As adolescentes falam de milhares de maneiras de se definirem, em relaçom direta com a perspectiva de género. Entendemos que é parte deste momento histórico, que lhes oferece a possibilidade de se nomearem com as suas peculiaridades e que tantas outras formas de ser possibilita.

Nos ciclos falamos de ideias relacionadas com como nos vamos fazendo a partir da Teoria da Intersexualidade de Magnus Hirschfeld e da compatibilidade. Além disso, tratamos temas como: as vivências desses moços/as que vam sendo; as diferenças entre desejo, atraçom e namoro; as primeiras ideias de uniom, de se sentirem gostados ou nom correspondidos e como exteriorizam tudo isto.

Nos ciclos falamos de ideias relacionadas com como nos vamos fazendo a partir da Teoria da Intersexualidade de Magnus Hirschfeld e da compatibilidade. Além disso, tratamos temas como: as vivências desses moços/as que vam sendo; as diferenças entre desejo, atraçom e namoro; as primeiras ideias de uniom, de se sentirem gostados ou nom correspondidos e como exteriorizam tudo isto.

A finalidade é que tenham palavras para compreenderem todas estas novidades que se lhes apresentam porque ainda nom tenhem uma biografia tam extensa como para reconhecerem e entenderem o que lhes está a acontecer. A nossa finalidade é dar alguma certeza neste momento evolutivo de tanta incerteza.

[Esta entrevista também foi publicada no galizalivre.org]

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