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Raquel Miragaia: “Além da evidente diminuição da presença da língua em todos os âmbitos, a degradação é cada vez maior”

img-20220226-wa00221Em 2021 fijo 40 anos desde que o galego passou a ser considerada língua oficial na Galiza, passando a ter um status legal que lhe permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegada pola ditadura franquista. Para analisarmos este período, estivemos a realizar ao longo de todo 2021 umha série de entrevistas a diferentes agentes. Agora que já estamos em 2022, queremos continuar a refletir sobre isto, mas com foco num ámbito em particular de importáncia estratégica: o ensino.
Hoje entrevistamos a escritora e professora, atualmente a trabalhar em Lisboa, Raquel Miragaia.

Que avaliaçom fás dos resultados do ensino do galego após 40 anos como matéria troncal?

Obviamente, o ensino da Língua Galega teve um papel fundamental na consolidação de um modelo culto de língua, e, mesmo que esse modelo não coincida com o que eu defendo, penso que isso foi fundamental. É verdade que esse modelo é cada vez mais fraco e, quanto ao uso, a perceção que eu tenho é que, além da evidente diminuição da presença da língua em todos os âmbitos, a degradação é cada vez maior. Já não estou a falar de fonética, que é já um problema antigo, mas de morfossintaxe. As construções sintáticas são cada vez mais tradução literal do espanhol e a perda de traços morfológicos muito próprios, como o infinitivo conjugado, é quase total. Essa perda parece atingir cada vez mais as estruturas da língua, o qual, acho, afeta também a conceção do mundo. Mesmo o facto de ser usada de forma generalizada a contaminação do espanhol para fazer humor parece um sintoma pouco otimista. A sensação é que o ensino não tem força suficiente para compensar o peso dos padrões da TV, redes, rádio, etc.

E da presença do galego como língua veicular no ensino público?
Faz quase seis anos que não trabalho no ensino galego. No próximo ano letivo ingressarei de novo lá e receio que o choque possa ser grande. A última vez que trabalhei, no ano 2015/2016, a sensação que tinha era de diminuição da presença do galego como língua veicular. O decreto do plurilinguismo já tinha entrado em vigor e, mesmo havendo bastante professorado ativista no liceu de Noia onde trabalhava, afinal o esforço tinha que ser individual, acabando por fazer com que o uso diminuísse.

Achas que esta presença guarda relaçom com a sua presença como língua ambiental nos centros educativos?
É inevitável, por razões práticas mas também pela perceção de falta de prestígio da língua. Ser língua veicular do ensino permite normalizar o seu uso, ter à disposição um repertório lexicográfico de diferentes disciplinas e promover o uso fora da sala de aula.

Pensas que deveria mudar alguma cousa no ensino da matéria de Lingua Galega e Literatura?
Na verdade, não tenho tanta informação de como a Língua Galega é ensinada hoje. Supondo não ter havido mudanças significativas nos últimos anos, acho que falta uma perspetiva clara da pertença ao tronco linguístico português. O que eu lembro do currículo de Língua Galega é que a relação com o português ficava limitada à literatura medieval. De novo, tenho certeza que isso depende do professorado particular, do seu interesse e perspetiva, mas creio que não podemos deixar tanta responsabilidade na prática individual, pois isso sempre é incerto e o peso cai injustamente no elo mais fraco.

Qual deve ser o papel do português no ensino? Ampliar a sua presença como segunda Língua Estrangeira? Ser lecionada dentro das aulas da matéria troncal de galego? Ambas?
Creio que qualquer ampliação do espaço do português na escola é positiva. Para mim o ideal era que fosse lecionada como parte da matéria de Língua Galega, numa perspetiva da variação dialetal das línguas, e preferentemente com a ortografia do padrão português. Mas, como sinto que esse ideal está muito longe, ampliar o ensino de português como segunda língua pode ter um efeito recuperador da língua, sobretudo na recuperação das estruturas sintáticas a que me referi na primeira questão e na perceção clara da identidade de galego e português.

Para mim o ideal era que o português fosse lecionado como parte da matéria de Língua Galega, numa perspetiva da variação dialetal das línguas, e preferentemente com a ortografia do padrão português.

Pensas que implementar linhas educativas diferenciadas (uma com imersom linguística em galego) poderia ser útil para o galego voltar aos pátios?
Parece que nos sistemas educativos desse tipo existe um relativo sucesso no uso da língua de imersão. Mesmo sendo assim, receio que a situação sociolinguística geral da Galiza se possa impor sobre a ilha do pátio. A grande vantagem seria a possibilidade de escolha, dentro da escola pública, de ter educação em galego para as crianças, cousa que neste momento não existe.

Que papel atribuis ao modelo educativo inaugurado polas escolas Semente?
As escolas Semente parecem-me ser uma magnífica alternativa de imersão, além de terem um projeto educativo de contacto com o mundo natural e experiencial que acho fantástico. A única pena deste projeto é, mais uma vez, depender muito do esforço individual. Mesmo entendendo que não podemos esperar do Estado uma mudança no curto nem no médio prazo, a dependência do projeto do ativismo das usuárias e do financiamento privado, muitas vezes através de campanhas de financiamento coletivo, faz com que a sua continuidade, tão necessária, esteja sempre em perigo.

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