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RAFAEL DIESTE, DRAMATURGO, ENSAISTA E POETA

O dia 27 de março comemora-se em muitos lugares do mundo o Dia Internacional do Teatro. Como em anteriores depoimentos da série já os dediquei a grandes dramaturgos como Shakespeare, Lorca ou Alejandro Casona, para comemorar a data, desta vez quero dedicar o meu ensaio a um galego exemplar, que também serve perfeitamente para inclui-lo na série de grandes vultos da humanidade que iniciei com Sócrates. E de passagem, também serve para apoiar a celebração da data antes mencionada, organizando atividades didáticas, artísticas e lúdicas sobre as artes cénicas e teatrais, nos diferentes estabelecimentos de ensino de todos os níveis. Este grande galego conhecido como Rafael Dieste, nasceu a 29 de janeiro de 1899 na localidade de Rianjo. Pertencia a uma família acomodada de jurisconsultos, pai galego e mãe brasileira, de apelido Gonçalves. O ambiente familiar positivo favoreceu muito o interesse pelas artes dos seus filhos. E também o ambiente cultural rianjeiro, em que nasceram grandes vultos como Castelão e Manuel António, companheiros de Dieste, dos quais recebeu grande influência. O seu pai, Eladio Dieste Muriel, emigrou para Montevideu no século XIX, onde casou com uma jovem uruguaia de família brasileira chamada Olegária Gonçalves. Tiveram vários filhos: Eduardo (1881-1954), destacado escritor e diplomático uruguaio; o segundo, António, estabeleceu-se em Tampico (México), e o terceiro, Manuel, em Monterrey, dos quais existem descendentes nos EUA. O único que nasceu na Galiza foi Rafael, em Rianjo, para onde voltaram seus pais em 1888.

Realiza os estudos primários na sua localidade natal, e com quinze anos, em 1914, inicia os estudos na Escola Normal de Compostela. Três anos mais tarde, em 1917, viaja a Tampico (México), onde morava o seu irmão António, pagando a sua viagem de regresso com dinheiro dum prémio literário. Em 1918 volta para Galiza com uma longa paragem em Havana, onde o barco tem que cumprir uma quarentena. Em 1919 completa os seus estudos na Normal compostelana, e em 26 de setembro deste ano falece seu pai. Em 1921 tem que fazer o serviço militar obrigatório, iniciado em Compostela, para ter que partir depois para Marrocos nos anos seguintes ao famoso desastre de Annual. Em 1925 exerce de jornalista em Vigo, primeiro no diário Galicia, e depois como secretário de redação do El Pueblo Gallego. Em 1926 sai à luz o seu primeiro livro de contos sob o título de Os arquivos do trasno, e em 1927 a sua formosa peça teatral A fiestra valdeira. Durante vários meses do ano 1928 mora em Londres e depois em Paris. Em 1930 sai a primeira edição da sua obra em castelhano Viaje y fin de don Frontán. No ano 1932 cria-se o Teatro Guinhol de Fantoches das Missões Pedagógicas, para o qual Dieste vai escrever várias farsas, e mais tarde vai colaborar no mesmo o artista ourensano Cándido Fernández Mazas, fazendo o desenho dos decorados e do cartaz.

Em 1933, durante os meses do verão, Cossío encarrega a Dieste a direção da Missão Pedagógica que vai percorrer a Galiza até fins desse ano, e sai à luz a primeira edição da sua obra poética Rojo farol amante. No seguinte ano de 1934 publica o seu lindo livro de farsas para fantoches ou títeres sob o título de Quebranto de dona Lupária e outras farsas. Neste ano, em 3 de setembro, casa com Carmem Munhoz Manzano, inspetora de ensino a quem conhece nas «Missões». Em 1935, estuda teatro e cenografia na França e na Bélgica, aproveitando uma bolsa de estudos que lhe concedeu a Junta de Ampliação de Estudos republicana, para poder estudar no estrangeiro. Viaja também com a sua esposa a Holanda e Itália, e em Paris escreve o seu livro La vieja piel del mundo. Em setembro desse ano volta para Rianjo, e em dezembro parte para Madrid, reincorporando-se em 1936 às Missões Pedagógicas. O livro escrito na capital francesa citado antes foi publicado muito pouco antes do início da guerra civil. Durante a qual Dieste participa na organização e nas atividades da «Aliança de Escritores Antifascistas», e dirige o Teatro Espanhol de Madrid, representando a obra «Al Amanecer». No ano seguinte de 1937 cria, com António Sánchez Barbudo e Juan Gil-Albert a publicação periódica Hora de Espanha. Publica a formosa obra Nuevo Retablo de las Maravillas, e, em outubro encarrega-se em Barcelona da publicação periódica Nova Galiza. A obra Al Amanecer publica-se em Hora de Espanha, em 1938. E, em novembro deste ano parte como voluntário para o exército do Este, partilhando com Sánchez Barbudo a publicação de El Combatiente del Este. Em fevereiro de 1939, depois da queda de Barcelona, deixa o país e na França entra no famoso campo de concentração de Saint-Cyprien. No qual permanece durante vinte dias, para ser libertado por influência dos escritores galos, partindo depois para Poitiers e mais tarde para a Haia e para Rotterdam, cidade desde a qual embarca para Montevideu (Uruguai), junto com a esposa, a onde chegam no mês de junho. Porém, em 12 de julho decidem ir para Buenos Aires. Onde em 1940 é nomeado diretor da editorial Atlántida, graças à ajuda de Maruja Malho, trabalho que exerce até 1948. Durante a sua estadia na Argentina aproveita para reeditar algumas das suas obras e rever e ampliar outras.

Como comissionado do Museu Nacional de artes Plásticas de Montevideu, em 1948 viajou pela Europa, e aceitou o posto de leitor de Língua e literatura Castelhana na universidade de Cambridge, onde esteve até 1952. Mais tarde ocupou também um leitorado similar no Instituto Tecnológico de Estudos Superiores de Monterrey, onde morava seu irmão Manuel, que era empresário, e outro na Universidade de Novo León. Em 1954 regressou a Buenos Aires e à editora Atlántida, na qual publicou a versão definitiva em 1958 de A fiestra valdeira, revendo a 1ª edição de 1927. Em 1961 voltou para Rianjo, e um ano depois publicou em Galaxia a reedição de Dos arquivos do trasno. Em meados dos 60, depois de morar em Vigo, instalou-se na Corunha e, em 18 de abril de 1970, ingressou como membro de número na RAG, pronunciando o discurso «A vontade de estilo na fala popular». Ademais de colaborar em várias publicações, foi homenageado e convidado para participar em atos e mesas redondas, pronunciando interessantes palestras. As suas intervenções foram recolhidas em 1990 no livro Encontros e vieiros. Em 1977 assinou o Manifesto dos 29, reclamando o autogoverno para a Galiza. Pouco antes de falecer saiu do prelo o seu livro Antre a terra e o ceo, que recolhe artigos dos anos vinte (1925-27) publicados em El Pueblo Gallego. Nalguns dos quais aposta decididamente pelo reintegracionismo para a nossa língua, utilizando para a mesma a norma que agora denominamos «internacional». Em 1995 dedicou-se-lhe o «Dia das Letras Galegas». Rafael Dieste faleceu em Compostela em 15 de outubro de 1981.

FICHAS DOS PEQUENOS DOCUMENTÁRIOS:

1. Homenagem a Rafael Dieste. Duração: 44 minutos.

Produtora: Conselho da Cultura Galega.

2. Sobre a morte do Bieito (relato de Dieste). Duração: 9 minutos.

Curta-metragem de Judite Casás baseada no relato de Rafael Dieste.

3. Textos de R. Dieste (Tracing Texts). Duração: 54 minutos.

4. Casa Rafael Dieste. Duração: 8 minutos.

Produtora: Canal Barbanza.

https://www.youtube.com/watch?v=4Jqqz8t43LM

5. Títeres das Missões Pedagógicas. Duração: 4 minutos.

Tema: A doncela guerreira, peça de Dieste, exposta no Museu das Escolas Viajeiras de Navas do Madronho.

https://www.youtube.com/watch?v=wLnf5rTH5VU&t=27s

6. Rafael Dieste Obra 2011 1ª parte. Duração: 24 minutos.

7. Rafael Dieste (em castelhano). Duração: 5 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=ggDaii7TxoI

8. O menino suicida de Rafael Dieste (em castelhano). Duração: 6 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=a3Fhq19-wvw

DINAMIZADOR NAS MISSÕES PEDAGÓGICAS DA 2ª REPÚBLICA:

Como missionário pedagógico, o trabalho mais importante de Rafael Dieste foi dirigir, por proposta de Manuel Bartolomé Cossio, a Missão Pedagógica pela Galiza durante o verão de 1933, que a seguir resenhamos e comentamos.

No dia 13 de Agosto de 1933 iniciou-se na Mesquita e Ginzo de Límia um dos mais formosos projetos educativo-culturais da 2ª República para a nossa terra galega. Sob o experimentado leme do galego Rafael Dieste, vários educadores, com o nome de missionários pedagógicos, realizaram um roteiro cultural pela Galiza, levando a arte, a música, o cinema, o teatro, os fantoches, os conta-contos, as cantigas populares, as exposições artísticas, as conferências, os livros, as leituras públicas, os jogos tradicionais, a cultura popular e outras manifestações culturais, aos lugares mais esquecidos, recônditos e abandonados.

Em todos os lugares foram recebidos com os braços abertos e com algumas reticências e receios nalguma que outra localidade. Crianças, jovens, adultos e pessoas da terceira idade, desfrutaram com as atividades que para eles se organizavam. A Missão Pedagógica realizada na Galiza em 1933 foi dirigida por Dieste, e de forma sintética explicamos este formoso projeto pedagógico-cultural que percorreu as quatro províncias galegas. Muito pouco depois da proclamação da República, em 14 de Abril de 1931, cria-se por Decreto de 29 de Maio e Ordem de 6 de Agosto o “Padroado de Missões Pedagógicas”. Como tinha que ser, dá-se a presidência ao grande pedagogo Manuel Bartolomé Cossío, “alma mater” deste projeto, que já o tinha concebido em 1881 e começou a madurar a princípios do século XX, levando a cabo em 1912 alguma missão nas províncias de Málaga e Tarragona. E o tema é tomado em consideração pelo governo em 1922. Porém, foi a 2ª República que lhe deu o impulso decisivo e começaram a andar missões pedagógicas em numerosos lugares das diferentes comunidades espanholas. Curiosamente com menor incidência na Catalunha, agás a província de Lleida. Para dirigir a Missão Pedagógica pela Galiza, Cossío escolheu o rianjeiro Dieste, ao considerá-lo pessoa com valores humanos e intelectuais. Também porque assim eliminaria possíveis reticências dos galeguistas, dado que o projeto era do governo de Madrid. De onde saem os missionários a 11 de Agosto de 1933, com as suas carrinhas carregadas de livros, gramofones e discos, reproduções de quadros famosos do Prado, projetores de cinema e de vistas fixas, documentários e filmes mudos cómicos de Charlie Chaplin. Na Memória das Missões do período que vai de Setembro de 1931 a Dezembro de 1933, de que temos na nossa biblioteca a edição original de 1934 e a fac-similar de 1992, estão recolhidas de forma detalhada as missões realizadas por todo o território espanhol e, em concreto, a realizada de 13 de Agosto a 17 de Dezembro de 1933 na Galiza, começando na Mesquita e Ginzo e terminando no Barco de Val d’Eorras, depois de percorrer lugares das quatro províncias galegas.

Acompanhado pelo pintor Ramón Gaya, encarregado de comentar os quadros expostos e inclusive os seus próprios desenhos realizados em cada lugar, o mestre galego da escola plurilingue José Otero Espasandím, o estudante Arturo Serrano Plaja, o auxiliar de missões António Sánchez Barbudo, o escritor ourensano António Ramos Varela e o artista, também ourensano, incorporado um pouco mais tarde ao grupo, Cándido Fernández Mazas, a escola itinerante realiza o seu périplo galego. No mês de agosto pelas localidades da Mesquita, Ginzo de Límia, Alhariz, Maside e Carvalhinho. Em Setembro têm o seu turno as localidades pontevedresas de Lalim, Silheda e a Estrada e as corunhesas de Boiro e Rianjo. Durante o mês de Outubro a caravana cultural visita na província corunhesa as vilas de Noia, Serra de Outes, Muros, Serres, o Pindo, Cee, Corcubiom e Fisterra.

Em Novembro desfrutam das missões Carvalho, Malpica (onde se inaugura o teatro de títeres ou fantoches, com a farsa de Dieste “O estrangeiro”), Betanços, Vilalva e Riba d’Eu, com uma pequena prolongação às localidades administrativamente asturianas de Castro Pol e a Veiga de Riba d’Eu. Finalmente no mês de Dezembro os missionários vão à Fonsagrada, Baralha, Bezerreá, Quiroga e finalizam o seu roteiro galego no Barco de Val d’Eorras. Os missionários continuam mais tarde pela comarca do Berzo.

Para fazer esta síntese documentámo-nos tomando como base as memórias antes citadas e as investigações dos dous professores galegos Porto Ucha e Otero Urtaza. Sem dúvida, este último foi o que mais investigou sobre este tema, dado que a sua tese de doutoramento esteve dedicada a Cossío.

O primeiro pesquisou mais sobre a ILE (Instituição Livre do Ensino), que é sem dúvida a base de todo o realizado em educação no período republicano, e Cossío foi o mais importante discípulo de Giner de los Ríos, criador principal deste importante movimento pedagógico. Naturalmente, também temos em conta o manifestado por Dieste e os missionários nas correspondentes memórias já citadas e as lembranças de Natalia Jiménez Cossío, neta do grande educador e institucionista, que também foi diretor do Museu Pedagógico.

O SEU LABOR TEATRAL:

Rafael Dieste Caricatura por Soledad Calés

Como já comentámos, um dos campos de atuação preferidos por Dieste foi o do teatro e as artes dramáticas, tanto o representado como o de fantoches. Mesmo durante a guerra dirigiu teatro popular na frente de batalha. E também se preocupou com a teoria teatral, tentando conhecer o realizado noutros lugares e países, para estar sempre na vanguarda. Com respeito ao teatro galego, entre outras coisas, tentou tirá-lo do ruralismo em que tinha caído durante décadas, para fazê-lo mais de acordo com as vanguardas europeias e os dramaturgos mais representativos. E não só escreveu interessantes peças para teatro de interpretação e farsas para fantoches. Preocupou-se também em desenvolver a cultura teatral entre o povo, tanto no país como no exílio americano. A sua primeira peça teatral foi publicada em 1927 com o título de A fiestra valdeira, da qual lembramos o muito que nos impressionou quando foi representada numa das primeiras edições da Mostra de Teatro de Riba d´Ávia lá pelos anos setenta. Em 1930 publicou Viaje y fin de Don Frontán, em 1939 Quebranto de Doña Luparia y otras farsas, e, em 1943, em Buenos Aires a obra intitulada Viaje, duelo y perdición. Manuel Aznar coordenou a edição em dois volumes de todo o seu teatro, em 1981, na editora catalã Laia. Nos dois volumes incluem-se as obras: Revelación y rebelión del teatro, El circo embrujado, Simbiosis, Al amanecer, Nuevo retablo de las maravillas, El moro leal, La fiera risueña, El falso faquir, El empresario pierde la cabeza, Curiosa muerte burlada e La doncella guerrera. Por sorte, temos na nossa língua publicada a sua farsa A doncela guerreira, graças à tradução realizada pela Escola Dramática Galega, publicada no nº 19 de agosto de 1981 dos Cadernos da EDG.

A SUA OBRA LITERÁRIA:

Em 1981, na editorial Laia de Barcelona, publicaram-se em dous volumes as suas obras teatrais, em edição ao cuidado do especialista Manuel Aznar Soler. Depois da leitura das mesmas pode comprovar-se que existem fundas pegadas na sua expressão dramática do teatro de Luigi Pirandello, Ramóm Mª del Valhe Inclám e mesmo de Miguel de Unamuno. Como poeta destaca o seu livro Rojo farol amante, publicado em 1933, e, segundo Javier Alfaya, com grandes pegadas na sua poesia da dos poetas da denominada «Geração de 1927», entre os quais se encontram Federico Garcia Lorca, Rafael Alberti, Vicente Aleixandre e Pedro Salinas. Porém, Dieste iniciou-se na literatura escrevendo relatos na nossa língua, e assim, em 1926, publica o seu livro de contos Dos arquivos do trasno: contos do monte e do mar, que teve sucessivas edições em anos posteriores e foi corrigido e ampliado com mais contos. Neste livro destaca o uso da fantasia e do mistério, tirando para fora nas letras galegas o ruralismo a que estavam acostumadas naquela altura outras produções literárias. Graças a uma bolsa da Junta de Ampliação de Estudos republicana, pôde ir pela Europa a pesquisar sobre o mundo do teatro e a literatura teatral em vários países. Resultado do qual, em 1936, publicou o seu ensaio sobre o teatro A velha pele do mundo (em edição castelhana: La vieja piel del mundo). A guerra, como a muitos, truncou grande parte do processo criativo de Dieste, que teve que continuar no exílio americano. Onde sai à luz a sua obra-mestra, um extraordinário livro de contos, lidos perante uma tertúlia de exilados, noutras tantas tardes, no café Tortoni de Buenos Aires, publicado depois, em 1943, em castelhano sob o título de Historias e invenciones de Félix Muriel, obra que marca um fito histórico na literatura em língua castelhana.

Em 1995 inicia-se nas edições de O Castro-Sada a publicação em bilingue das suas Obras Completas, ao cuidado do atual presidente da RAE Dario Villanueva. Em cinco volumes recolhem-se as obras de todos os géneros literários escritas por Dieste. O primeiro volume está dedicado à narrativa e à poesia; o segundo recolhe o seu teatro e textos afins; o terceiro, inclui os seus numerosos ensaios; o quarto a sua obra jornalística; e o quinto toda a sua correspondência, que foi muita e importante. Não podemos esquecer a publicação póstuma, obra que não chegou a terminar, do seu livro publicado em 1985 sob o título de La isla yTablas de un naufragio.

Tampouco podemos deixar de mencionar que, junto com Lorca, Valhe Inclám, Martínez olmedilla e, mesmo Blanco Amor, Dieste renovou o teatro de fantoches ou títeres no nosso país durante os anos vinte e trinta. Rafael Dieste teve sempre um grande interesse pela teoria dramática, tema sobre o qual escreveu vários textos, como, por exemplo, o seu livro publicado em 1935 Revelación y rebelión del teatro (Misterio polemístico en una jornada), em que aborda as teorias de Edward Gordon Craig, e o conceito de «supermarioneta». Outros seus livros sobre teatro são Tratado mínimo del arte de la escena (1944) e El alma y el espejo (1981), em que analisa a conceção que tem do fenómeno teatral.

AS PALAVRAS DE DIESTE:

Da entrevista que lhe fez a Dieste, dous meses antes de falecer, para a sua tese de doutoramento, o pedagogo luguês Eugênio Otero Urtaza, recolhida no seu livro Las Misiones Pedagógicas: una experiencia de educación popular, publicado por O Castro-Sada em 1982, e reproduzida na revista Educación y Biblioteca nº 119 de 2001, recolhemos aqueles fragmentos que nos parecem mais interessantes e significativos. À pergunta feita a Dieste de como olha agora de forma global para o que no seu momento foram as Missões, Rafael Dieste responde: «As Missões foram acima de tudo, uma tentativa de levar ao povo, principalmente dos campos e pequenas vilas, uma imagem da cultura (e, consequentemente, as mais imediatas possibilidades de desfrutar dela) em que se nos apresenta como bem comum, não como privilégio de determinados estamentos e, portanto, não nos aspetos técnicos que implicam especialização, mas naqueles de índole ética e estética em que todos, com mais ou menos penetração, podemos participar, sendo assim fundamento de comunidade, de entendimento mútuo, antes do que de divisão, já seja a originada pelo parcelamento do saber ou a que resulta da falta, nuns, de hábitos adequados e da falta, noutros, de impulso comunicativo. Nessa imagem ficam incluídas as tradições de que é depositário o povo, e que eram as que tentávamos revalorizar, embora não para além de outros valores, senão no conjunto cultural que inclui todos. Este propósito, que parece ser o fundamental de Cossio, coincide com um momento em que se reconsideram no país problemas largamente diferidos, e que afetam umas vezes necessidades perentórias, e outras, a capacitação escolar e pós-escolar: urgências que não podiam encontrar satisfação direta através das nossas Missões. Porém, há que comentar que estas, ainda prescindindo agora de outros aspetos, tais como a distribuição de bibliotecas, com as quais se tentava completar a sua atividade direta, não deixaram de incluir no seu programa a difusão de conhecimentos práticos, nem as informações relativas ao progresso técnico».

É muito interessante o treito das últimas palavras de Dieste na entrevista mencionada: «Como resumo substancial cabe observar duas coisas: uma, que as Missões foram sempre fraternalmente recebidas pelos povos em que tiveram lugar, e outra, que o facto de colaborar com as Missões ou de pertencer às suas equipas «imprimia carácter». Depois de ter sido missionário, dificilmente se podia ser trapaceiro em política, fictício ou pedante em arte, descuidado em assuntos de ética profissional».

Nota Importante: O poeta e ensaísta mexicano Gabriel Zaid, sob o título de «Rafael Dieste en México», publicou um formoso depoimento que pode ser lido entrando na ligação:

http://www.letraslibres.com/mexico-espana/rafael-dieste-en-mexico-0

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Vemos todos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Rafael Dieste, o seu pensamento, as suas ideias, a sua vida e a sua obra. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias. Seria interessante dedicar um espaço nesta amostra às suas opiniões sobre o importante que seria escrever a nossa língua na norma lusófona, tema que já defendeu nalguns dos seus artigos publicados nos anos vinte.

Criamos no nosso estabelecimento de ensino (de infantil, primária ou secundária) uma oficina pedagógica (obradoiro) de Teatro. Assim podemos comemorar o Dia Mundial do Teatro, e podemos realizar a montagem de teatro representado, teatro lido, teatro de fantoches e diferentes dramatizações e jogos dramáticos. Neste caso especial propomos a montagem da obra de Dieste A fiestra valdeira, e também a sua farsa para fantoches A doncela guerreira, cuja edição na nossa língua foi publicada pelos Cadernos da Escola Dramática Galega nº 19, em agosto de 1981.

 

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