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OUTEIRO PEDRAIO, PROFESSOR REPUBLICANO E GALEGUISTA

Ademais dos republicanos galeguistas que apresentei nos dous depoimentos anteriores, Blanco Torres e Manuel Luís Acunha, dentro da série iniciada com Sócrates que estou a escrever sobre os grandes vultos da humanidade, que devem conhecer os escolares dos diferentes níveis do ensino, existem outros filhos da Nossa Galiza, que merecem um espaço na mesma, como é o caso de Ramóm Outeiro Pedraio (1888-1976) e Luís Soto Fernández (1902-1981). No presente depoimento, que faz o número 111 da série, quero falar do primeiro, que foi um grande e excelente educador no Liceu de Ourense e na Faculdade de Geografia e História de Compostela. Também foi um republicano galeguista represaliado pelos franquistas, que, por sorte, salvou a sua vida.

PEQUENA BIOGRAFIA

Outeiro Pedraio com a sua esposa Fita em 1923.
Outeiro Pedraio com a sua esposa ‘Fita’ em 1923.

Outeiro Pedraio nasceu em Ourense a 5 de março de 1888, e faleceu na mesma cidade a 10 de abril de 1976, faz agora 43 anos. Pertencia a uma família liberal e culta que morava na Cidade das Burgas, embora procedesse da pequena fidalguia rural da província. O seu pai, Enrique Outeiro Soutelo, médico e deputado provincial, tinha herdado paço e quintas na paróquia de S. Pedro de Trasalva em Amoeiro, a poucos quilómetros da capital ourensana. Ali passou Outeiro, desde criança, longas temporadas da sua vida, decisivas na sua formação e presentes constantemente na sua obra. A sua mãe chamava-se Eládia Pedraio Ansoar, e a sua esposa Josefina Bustamante, com o nome familiar de “Fita”. No Liceu de Ourense, onde cursou o bacharelato, recebeu o magistério de Eduardo Moreno López, catedrático de Geografia e História, o que influenciou poderosamente na sua vocação e o seu interesse pelo conhecimento geográfico da terra galega. Depois de participar num breve curso de ampliação em 1904 na Universidade de Compostela, matriculou-se na Universidade Central de Madrid, onde completou, entre 1905 e 1911, as licenciaturas de Direito e Filosofia e Letras (seção de História). Na capital frequentou a biblioteca do Ateneu e as numerosas tertúlias da época, adquirindo uma vasta cultura literária.

De regresso a Ourense, e com as vantagens da boa posição económica familiar, integrou-se nos círculos intelectuais da cidade, e participou, junto com figuras como Vicente Risco, Antóm Lousada Diegues e Florentino L. Cuevilhas, nas atividades literárias do Ateneu de Ourense, fazendo parte do seu conselho de direção, e na revista modernista La Centuria (1917-1918), codirigida por Risco. Aqueles anos de individualismo, diletantismo e evasão foram fielmente retratados por este último, com o qual Outeiro manteve sempre uma amizade e colaboração profundas, no seu ensaio “Nós: os inadaptados” (1933) e em alguns dos seus próprios romances. Os últimos meses de 1917 foram para Outeiro, como para Risco, o início de uma nova etapa vital, a mais importante em termos históricos, que se prolongou até 1936. Sob a influência de Lousada Diegues e no contexto da crise de consciência que provocou nos jovens da geração “Nós” o drama da 1ª Guerra Mundial, incorporou-se ao galeguismo cultural e político e ingressou nas Irmandades da Fala, que desde 1918 adotaram um perfil nacionalista. Ao mesmo tempo, decidiu concorrer à vaga de catedrático de Geografia e História de ensino secundário, posto que conseguiu em 1919. Depois de estadias nos Liceus de Burgos e Santander, em 1921, conseguiu vaga no da sua cidade natal de Ourense, que hoje, precisamente, leva o seu digno nome.

Outeiro Pedraio com Risco e Vilar Ponte, entre outros.
Outeiro Pedraio com Risco, Castelao e Vilar Ponte, entre outros.

A partir da sua incorporação como docente ao Liceu ourensano, a importância de Outeiro no seio do movimento galeguista voltou-se, pouco a pouco, destacada. No aspeto cultural, participou de maneira ativa no boletim Nós (1920-1936) e no Seminário de Estudos Galegos (1923-1936), onde dirigiu a seção de Geografia. Os seus contributos neste campo académico, tanto antes como após a guerra civil, resultaram particularmente relevantes e converteram-no no introdutor da geografia moderna na Galiza, abrangendo um variado número de géneros: sínteses regionais (Síntese Geográfica de Galiza, 1926; Paisajes y problemas geográficos de Galiza, 1928; As cidades galegas, 1951 e Os rios galegos, 1977); guias turísticos e de viagem (Guia de Galiza, 1926, com a 5ª edição em 1980, e guias individuais sobre as principais cidades galegas); monografias locais e comarcais (“Problemas de Geografia Galega”, 1928, e o capítulo geográfico de Terra de Melide, 1933); livros de texto e propostas didáticas (Trinta e três lições de Geografia Geral, 1929, e “Programa para um curso de dez lições de Geografia da Galiza”, 1933); estudos de geografia histórica (“D. Domingos Fontam e o seu mapa da Galiza”, 1946, e Síntese histórica do século XVIII na Galiza, 1969); trabalhos variados recopilados no livro Temas ourensanos, 1996, especialmente, ensaios teóricos de temática paisagística, de que dá boa mostra a antologia Sereno e grave gozo (existe uma edição de 1999).

Outeiro Pedraio com Valle Inclán.
Outeiro Pedraio com Valle Inclán.

Do prestígio intelectual com que contava nos momentos prévios à guerra, dá mostra a sua nomeação como presidente do SEG (Seminário de Estudos Galegos) em 1935, quando o seu antecessor, Luís Iglésias, deixou o cargo para ocupar o reitorado da Universidade de Compostela. Ademais, desde 1929, era membro da Real Academia Galega. No plano político, a sua atividade desenvolveu-se, principalmente, nos primeiros anos da 2ª República. Em abril de 1931 fundou e liderou, de novo junto com Risco, o Partido Nazonalista Repubricano de Ourense, com o qual conseguiu um escano de deputado nas eleições às Cortes Constituintes. Desde dezembro desse mesmo ano, exerceu o seu labor em representação do Partido Galeguista, no qual se integrou o seu grupo político original. Da sua etapa como deputado em Madrid (1931-1933), destacam, particularmente, as suas intervenções na defesa de um modelo de Estado federal (que concedesse plena autonomia, quando menos, a Galiza, Euskadi e Catalunha), a cooficialidade do galego com o castelhano, a proteção da cultura galega e o estabelecimento de um programa de reformas agrárias adaptado à realidade específica de Galiza. Em 1933 apresentou-se de novo como candidato galeguista nas eleições das Cortes Gerais, porém, nem ele nem nenhum outro membro do partido conseguiram representação parlamentar.

De firmes convicções católicas, que possivelmente foram as que o salvaram de ser assassinado pelos fascistas, não aceitava pessoalmente as leis laicistas e anticlericais republicanas e a aliança do seu partido com as esquerdas da Frente Popular de 1936, embora, ao contrário que Risco, acatasse a disciplina dominante e permanecesse no mesmo como militante de base. Iniciado o levantamento nazi-fascista, que o surpreendeu em Ourense, Outeiro salvou-se do destino trágico que sofreram boa parte dos líderes galeguistas e desestimou, à vez, a via do exílio, embora fosse suspenso do seu emprego e salário como catedrático de Liceu, situação que se prolongou até 1947. Afastado de toda a atividade política depois da guerra, participou de forma central na recomposição cultural do galeguismo, através da criação do Instituto “Padre Sarmiento” de Estudos Galegos (1943), vinculado ao CSIC, a do Padroado Rosália de Castro (1947) e a da editora Galáxia de Vigo (1950), cujo conselho de administração presidiu.

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Retirado Risco da causa galeguista ao iniciar-se a guerra e morto Castelão no seu exílio argentino em 1950, Outeiro terminou convertendo-se num símbolo vivo, respeitado mesmo pelo galeguismo político que renasceu na década dos sessenta, de caráter marxista. Em 1948 foi reposto na sua cadeira do Liceu de Ourense no Possio, e em 1950 ganhou, por concurso, a primeira cadeira de Geografia criada na Universidade de Compostela, onde desfrutou os anos mais felizes da sua vida, tal como reconheceu no seu momento. Reformado em 1958, manteve até poucos meses antes do seu falecimento uma incessante atividade intelectual e recebeu, com caráter honorífico, o título de “Patriarca das Letras Galegas”. As suas honras fúnebres foram concelebradas por todos os bispos galegos e o seu enterro, no cemitério ourensano, congregou muita gente. A sua casa de Trasalva foi doada por testamento à Galiza, representada na editora Galáxia, convertida em Paço-museu e, recentemente, é a sede da Fundação O. Pedraio e do Centro de Estudos Outeiranos.

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS

  0.-A última lição de Outeiro Pedraio.

     Duração: 4 minutos. Ano 2015.

      

  1.-Galiza, ceu das Letras: R. Outeiro Pedraio.

     Duração: 5 minutos. Ano 2012.

     

  2.-Palestra sobre Outeiro Pedraio por Ricardo Carvalho Calero

     Duração: 60 minutos. Ano 2019. Nas Primeiras Jornadas de Didática da Língua e Literatura, organizadas os dias 16, 17 e 18 de Fevereiro de 1989 na Escola de Magistério de Compostela.

     

  3.-Roteiro literário Trasalva, uma viagem através da obra de Outeiro Pedraio.

     Duração: 5 minutos. Ano 2011.

     

  4.-Discurso de Outeiro na coroação poética de Cabanilhas.

     Duração: 28 minutos. Ano 2015. Discurso em Padrão (1958).

     

  5.-Ramóm Cabanilhas por Outeiro Pedraio.

     Duração: 53 minutos. Ano 2012. Palestra de Outeiro Pedraio em Madrid (1964).

     

  6.-Ramóm Otero Pedraio em América.

     Duração: 52 minutos. Ano 2012. Palestra de Outeiro Pedraio na Argentina (1959).

     

  7.-A paisagem galega, as suas leis e tipos.

     Duração: 53 minutos. Ano 2016. Palestra de Outeiro Pedraio na Argentina (1947).

     Ver em: http://videoclub.galiciamaxica.eu/ramon-otero-pedrayo-a-paisaxe-galega-as-suas-leis-e-tipos/

MODELO DE EDUCADOR

Outeiro Pedraio com crianças na sua casa da rua da Paz, em 1970.
Outeiro Pedraio com crianças na sua casa da rua da Paz, em 1970.

O dia 10 de abril de 1976 falecia em Ourense Ramom Outeiro Pedraio, um dos nossos vultos mais preclaros. Cumpriram-se, portanto, 43 anos desde que nos deixou fisicamente e está soterrado em São Francisco. Das suas múltiplas facetas culturais como escritor, conferencista, articulista em numerosas publicações periódicas, a de educador é a menos estudada. Sendo como foi um dos nossos educadores mais importantes e um modelo de pedagogo teórico e prático. Do qual em 2001 publiquei um meu artigo na revista ourensana Raigame, e outro em 2003 na revista Agália. Este ano de 2019 cumprem-se os cento e oito anos da entusiasmante volta de Outeiro à sua querida cidade de Ourense. Depois de fazer os seus estudos superiores na Universidade de Madrid. Ao chegar a Ourense vai-se implicando na vida cultural ourensana e em muitas das suas instituições. Entrando já em 1914 na direção do Ateneu e em 1917 no corpo redatorial da revista La Centuria.

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Um ano depois, da mão de Lousada Diegues e das Irmandades da Fala, entra no galeguismo. O seu primeiro artigo de temática galega publica-o em La Región em 13 de janeiro de 1918. A partir deste momento nunca deixou de trabalhar pela Galiza, como bom e generoso que era. Por concurso de traslados, no curso 1920-21, passa a ocupar a cadeira de Geografia e História do Liceu de Ourense, que hoje leva o seu ilustre nome. Até 1937, em que é represaliado e destituído, desenvolve um labor pedagógico e didático excecional, reconhecido por todas as gerações de alunos que passaram pelas suas aulas. Foram dezassete anos de labor docente muito frutífero, período em que os seus estudantes o consideram como um “Mestre” com maiúsculas, inspirado, amigo dos alunos, compreensivo e tolerante, apaixonado com as suas explicações e a sua Terra, flexível e carinhoso, sempre disposto a ajudar e, especialmente, um magnífico orador, manancial de palavras… Todos coincidem em que as suas aulas eram verdadeiras lições magistrais. Tema em que coincidem depois também os seus alunos da Universidade de Compostela. Na qual por concurso, uma vez reposto, entra como catedrático de Geografia em 1950 e reforma-se, por cumprir a idade regulamentar, oito anos depois, em março de 1958.

Não é fácil condensar os princípios educativo-didáticos do seu excelente modelo pedagógico teórico e prático. Por isto resenharei os que considero fundamentais e remeto os meus leitores aos artigos mais acima citados, que podem ser consultados pela internet. Todos os seus livros e artigos, que foram numerosíssimos, têm aspetos pedagógicos. O seu Ensaio sobre a Cultura Galega, publicado em Lisboa pela Guimarães Editora em 1954 é um livro modelar, com propostas ainda muito atuais para hoje. Mas, eu considero paradigmático, para analisar o seu pensamento pedagógico, o artigo publicado em 1930 no número 138 da revista Céltiga sob o título de “Um dever do professorado galego”. A seguir, de forma o mais didática possível, passo a resenhar sinteticamente os princípios fundamentais do excelente pensamento pedagógico de Outeiro, muito próximo ao do movimento pedagógico europeu da Escola Nova:

1. Importância das qualidades humanas do mestre ou docente, tratando de ser um modelo de pessoa.

  1. Acreditar na educação e no que se faz, sem perder o otimismo pedagógico.
  2. Apreciar os alunos e ser um verdadeiro amigo deles, mantendo nos mesmos a confiança.
  3. Alegria e humor no ensino e na aula. Ser afável, ter sensibilidade e uma comunicação aberta.
  4. Utilizar o método socrático, dando importância à palavra, aos debates, ao diálogo e às tertúlias.
  5. Suprimir, se se puder, os exames e as classificações, utilizando outros sistemas para avaliar.
  6. Fazer excursões culturais, jeiras e roteiros para conhecer a Nossa Terra. Porque o melhor recurso didático é a envolvente. Ir do conhecido e do próximo ao desconhecido e mais afastado.
  7. Incluir no currículo os mais variados temas galegos para todas as áreas do ensino. Pois o material para o ensino temo-lo diante: os montes, rios, fragas, castros, lendas, toponímia maior e menor, as igrejas, os refrães, ditos populares, coplas, ofícios, feiras, festas, flora e fauna e os trabalhos agrários.
  8. Importância da nossa língua e literatura, sabendo-as ensinar com técnicas adequadas e sem imposições.
  9. Universidade criadora, com seminários e laboratórios, não repetidora, senão original e enraizada na Terra, que opine, resolva, guie e aconselhe e que seja uma entidade viva.
  10. Incluir, porque é de justiça, todos os temas galegos, nos diferentes níveis do ensino.
  11. Ânimo para todos os docentes galegos e reconhecimento do seu valor. Não deixar de incentivá-los.
  12. Amor à Terra e a todo o que ela encerra (factos, costumes, natureza, idioma, gentes…).
  13. É interessante tomar como modelo pedagógico, tanto na forma como no fundo, o que usava nas suas aulas desde 1906 Armando Cotarelo Valedor na universidade compostelana.

Otero Pedraio foi um grande mestre, reconhecido por todos e todas, que quase nunca reprovava e no entanto os seus alunos aprendiam muito nas suas aulas, a que iam com agrado. Que se saiba, só reprovou em Compostela uma vez uma aluna, porque não teve outro remédio, pois ficou muda ante as perguntas socráticas de Outeiro Pedraio.

UMA OBRA IMENSA

A sua obra, muito vasta e diversa, foi objeto de numerosos estudos e reedições desde que faleceu e ainda faltam por pesquisar muitas das suas facetas para um melhor conhecimento da sua figura. Se no plano geográfico, tal como antes se comentou e se citaram algumas das suas obras, a primeira visão global, moderna e sistemática da Galiza, no campo literário contribuiu de maneira decisiva, em quantidade e qualidade, para a configuração de uma prosa galega moderna e europeia. As duas dimensões, geográfica e literária, convergem de forma clara no tratamento da paisagem, que se converte em temática principal da sua obra. Percorreu, estudou, classificou e analisou de forma magistral as paisagens galegas, desenvolvendo um tipo de descrição explicativa cheia de lirismo, sensibilidade colorista e capacidade sintética, e em que assomam conexões com os melhores paisagistas do 98, o impressionismo pictórico e algumas das figuras principais da geografia moderna.

“Num modelo similar ao de Risco, situou as essências da nacionalidade galega na identificação profunda, histórica, dilatada, entre uma etnia de base céltica e uma ampla região individualizada em termos naturais e paisagísticos, como é o maciço Galaico-Duriense, com a sua morfologia granítica e o seu bioclima atlântico. “

A sua conceção desta disciplina, como estudo das relações entre sociedade e meio, e o seu interesse e sensibilidade pela paisagem, forjada, tal como no seu momento comentou, no seu relacionamento com as terras de Trasalva, projetaram-se por outra parte, ao seu ideário político nacionalista. Num modelo similar ao de Risco, situou as essências da nacionalidade galega na identificação profunda, histórica, dilatada, entre uma etnia de base céltica e uma ampla região individualizada em termos naturais e paisagísticos, como é o maciço Galaico-Duriense, com a sua morfologia granítica e o seu bioclima atlântico. A paisagem reflete, assim, a cultura de um povo e compreendê-la significa compreender o povo que a modelou. A compenetração entre etnia e território aparece como condição imprescindível para que possa forjar-se uma cultura ou nação original, e no caso da Galiza e das demais “nacionalidades célticas”, situadas também na orla atlântica da Europa, da Irlanda e a Bretanha, passando por Gales e Escócia, traduz-se materialmente na extraordinária dispersão do povoamento, a acusada densidade demográfica e a orientação esmagadoramente agrária do território. A sua prioridade na defesa dos interesses políticos da classe camponesa não é alheia a esta valoração, porquanto Outeiro a considera como “o escultor principal” da terra galega e o “guarda histórico” da sua língua e das suas essências culturais. O não aceitar o industrialismo e a defesa de um modelo de sociedade rural, corporativo, pré-capitalista e baseado na paróquia e na comarca ou bisbarra, argumentos medulares no pensamento político dos setores católicos e tradicionalistas do galeguismo, associam-se ao ideal de fidelidade à terra própria, entendida como relação próxima, harmónica e respeitosa do homem com a natureza de que faz parte. Trufada de componentes românticos, a cosmovisão outeirana exalta o sentimento da natureza como qualidade espiritual inata e definitória do povo galego, e achega o catolicismo a uma espécie de panteísmo naturalista.

Porém, a sua produção intelectual excede amplamente, desde muito cedo, o âmbito do geográfico, que antes comentámos, resenhando os títulos das suas obras mais significativas neste aspeto. Erudito e polígrafo, o Outeiro de antes da guerra escreveu com frequência sobre questões de história, de política, literatura e, em geral, de cultura galegas, e iniciou uma fecunda atividade romancista expressada maioritariamente na sua língua materna, dentro da qual especialistas sobre a sua figura distinguem vários “ciclos temáticos”. Entre eles, o filósofo Balinhas, fala dos seguintes: obras autobiográficas sobre a juventude do autor e as inquietações iniciais do grupo “Nós” (Arredor de si, 1926; Devalar, 1935 e Adolescência, 1946); esboços biográficos irónicos de tipos da aldeia (Pantelas, homem livre, 1925); relatos sobre as grandes transformações do mundo rural galego durante o século XIX, centrados na decadência dos fidalgos dos paços (Os caminhos da vida, 1928 e O mesão dos ermos, 1936); romances de ficção histórica (A romaria de Gelmírez, 1934 e As palmas do Convento, 1941); sem esquecer outros géneros narrativos como os seus livros de contos de temática variada (Contos do caminho e da rua, 1932 e Entre a vendima e a castanheira, 1957); os livros de viagem ou de evocação paisagística (Pelerinagens, 1929; Por os vieiros da saudade, 1952 e O espelho no serão, 1960); os esboços biográficos (O livro dos amigos, 1952 e O Padre Feijó, 1972): livros de teatro (Teatro de máscaras, 1975 e A Lagarada, 1928); obras poéticas (Bocarribeira, 1958); ensaios sobre história galega (Ensaio histórico sobre a cultura galega, 1933, em que aplica as teorias filosóficas de Bergson e de Hegel à definição de Galiza como nação; História da Galiza em 3 volumes, 1962; e Síntese histórica do século XVIII na Galiza, 1969).

Como polígrafo e colunista na imprensa e em revistas, a sua atividade foi imensa. É muito interessante o seu livro, com uma antologia de artigos seus publicados entre 1927 e 1934, editado sob o título de Prosa miúda, por edições O Castro de Sada em 1988. Os seus interessantes artigos saíram à luz em numerosas publicações periódicas: La Centúria, Nós, Galícia, A Nosa Terra, El Pueblo Gallego, Heraldo de Galiza, La Región, Misión, La Noche, Grial, Cadernos de Estudos Galegos, Vida Galega, etc. As suas colaborações na imprensa manteve-as até o final de sua vida, igual que a sua magnífica oratória dando numerosas palestras, e sendo considerado por muitos como um dos maiores comunicadores da Galiza.

OUTEIRO PEDRAIO NAS SUAS PALAVRAS

A seguir apresento alguns treitos de escritos seus, nos quais podemos refletir através das suas próprias palavras, sobre o seu importante pensamento e o seu amor pela Galiza:

 1. ”Muitos de nós andavamos em Madrid como sem bússola, como o Solóvio da novela (…) Em fim: fixem-me universal (…) os meus anos de Madrid (…) foram em aquele tempo uma procura sem acougo (…) não conqueria a identificação que arelava. Quem era eu? (…) Quanto me custou descobrir a Nossa Terra dando voltas pelo universo e os livros!”.

  2. ”Galiza é uma prolongação de Portugal ou Portugal uma prolongação da Galiza. O mesmo dá”.

  3. ”Os oito anos em Compostela foram os mais ledos da minha vida”.

  4. Após o examem oral com perguntas a dous de seus estudantes, são muito simpáticas e acertadas as palavras de Outeiro:

a.-Fala-me das Guerras Médicas: o aluno resposta foram três, a primeira, a segunda e a terceira. Outeiro comenta perante esta resposta: “Está bem, à tua idade compreendo que não te interessem as Guerras Médicas. Estás na idade para que te interessem outras cousas”.

b. Pergunta a um estudante numa visita como inspetor de ensino a uma escola do vale de Monterrei: qual é o rio do vale de Monterrei?. O aluno resposta, ao escuitar mal o apontamento dos companheiros, O Támesis!. Outeiro cheio de humor comenta-lhe: “Muito bem, nada tem que invejar o nosso formoso Támega ao Támesis”.

   5. ”Em nome do que eu represento peço que não se derrube o Teatro Principal, pois é mais importante salvar o Principal que uma igreja románica” (palavras pronunciadas em Ourense em 1975).

    Nota: Sobre Outeiro Pedraio como educador publique no seu dia nas revistas Raigame e na Agália dois artigos, que podem ser lidos e consultados entrando nas ligações seguintes:

   a.-Raigame nº 14 – Ano 2001.-Pp. 63 a 73:

       file:///C:/Users/Usuario/Downloads/Raigame%2014%20.pdf

   b.-Agália nº 73-74 – Ano 2003.-Pp. 95 a 114.

       https://www.agalia.net/images/recursos/7374.pdf

 TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos.

   Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Ramóm Otero Pedraio, que foi um professor republicano e galeguista exemplar, e também escritor e excelente orador. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.

   Podemos realizar no nosso estabelecimento de ensino um Livro-Fórum, em que participem estudantes e professores. Podemos escolher de comum acordo entre todos, algum dos seguintes livros de Outeiro Pedraio: Prosa miúda (O Castro-Sada, 1988), Ensaio histórico sobre a cultura galega (Guimarães-Lisboa, 1954), O livro dos amigos (Edições Galícia, 1953) ou Arredor de si (Editorial Nós, 1930, e por Galáxia em 1970). Podia valer alguma das monografias que existem sobre a vida e obra de Outeiro Pedraio, como é o caso da escrita por Carlos Casares, publicada por Galáxia em 1981.

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