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Manoel de Oliveira, famoso cineasta português

manoel-de-oliveira-foto-00Dentro da série que estou a dedicar às mais importantes personalidades da Lusofonia, onde a nossa língua internacional tem uma presença destacada, e, por sorte, está presente em mais de doze países, sendo oficial em oito, dedico o presente depoimento, que faz o número 154 da série geral que iniciei com Sócrates, a um muito famoso e destacado cineasta português. Estou a falar de Manoel de Oliveira nascido no Porto a 11 de dezembro de 1908, e falecido na mesma cidade em 2 de abril de 2015, com nada menos que 106 anos. Deste grande cineasta fora projetado no dia 10 de maio de 1995, no Liceu Recreio da cidade de Ourense, pelo Cine Clube Minho da ASPGP, o seu filme Aniki-Bobó, dentro do programa do 8º Ciclo de Cinema Educativo-Didático. Com este depoimento, a ele dedicado, completo o número quarenta e dous da série lusófona.

PEQUENA BIOGRAFIA

A brasileira Ana Lucia Santana escreveu no seu dia uma interessante biografia do cineasta português, que tenho por bem apresentar no presente depoimento.
De nome completo Manoel Cândido Pinto de Oliveira, o nosso cineasta nasceu a 12 de dezembro de 1908, na cidade do Porto, no bairro de Cedofeita, filho de uma estirpe familiar que cultivava as artes industriais. Mas é com outra arte, a cinematográfica, que este fruto da burguesia se tornará famoso, em grande parte devido à influência paterna, já que era acompanhado do pai que ele ia constantemente ao cinema ver os filmes de Charlie Chaplin e de Max Linder. Porém foi nos desportos que ele começou a se tornar célebre, pois antes de começar sua trajetória cinematográfica ele atuou profissionalmente como atleta, atingindo inclusive a vitória no campeonato nacional. Seu percurso intelectual passou pelo Colégio Universal, na sua terra natal, e depois pelo Colégio dos Jesuítas de A Guarda, na Galiza.

Seu percurso intelectual passou pelo Colégio Universal, na sua terra natal, e depois pelo Colégio dos Jesuítas de A Guarda, na Galiza.

É do cinema que vem a realização de Manoel de Oliveira. Até uma muito elevada idade exerceu a direção de filmes, sendo um dos profissionais mais velho a atuar neste campo. Não cessando de receber elogios e prêmios durante a sua prolongada carreira fílmica, apesar de ser reconhecido mais no exterior que no seu próprio país. Desde o momento em que ele assistiu o documentário Berlim, Sinfonia de uma Cidade, de Walther Ruttmann, concebido no estilo próprio da vanguarda, ele não conseguiu mais desvincular sua existência da prática da sétima arte.manoel-de-oliveira-capa-dvd-douro-faina-fluvial
Nesta altura ele soube que elaboraria o seu próprio filme documentário, Douro, Faina Fluvial, de 1931, sobre a sua amada cidade, o Porto, e a atuação de seus moradores na esfera fluvial. Mal recepcionado em Portugal, foi muito bem-acolhido no exterior. Alheio a esta reação, que o acompanhará ao longo de sua trajetória profissional, ele prossegue criando, com uma persistência ímpar. Pouco antes, aos vinte anos, ele ingressara na Escola de Atores de Cinema, criada por Rino Lupo, e atuará ao lado do irmão no filme Fátima Milagrosa, de 1928, dirigido por este empreendedor.
Posteriormente ele se aprimora tecnicamente nos estúdios da Kodak, na Alemanha. Depois de atuar como intérprete no famoso filme Canção de Lisboa, de 1933, ele finalmente começa a filmar suas produções ficcionais com a obra Aniki-Bobó, de 1942, considerado um de seus melhores trabalhos, mas rejeitado no momento de seu lançamento. Manoel o define como a primeira realização do movimento neorrealista, mesmo que esse atributo seja constantemente reivindicado pelo italiano Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini. Normalmente as críticas lançadas à sua obra se referem mais à sua construção e ao ritmo de suas peripécias. Para Manoel o discurso tem prioridade sobre a ação e ele imobiliza deliberadamente sua câmera, que mal se movimenta, apenas quando o cineasta deseja revelar um determinado objeto ou as atitudes corporais de quem tem a palavra.

Mal recepcionado em Portugal, foi muito bem-acolhido no exterior. Alheio a esta reação, que o acompanhará ao longo de sua trajetória profissional, ele prossegue criando, com uma persistência ímpar.

manoel-de-oliveira-foto-04Em 1940 o diretor contrai matrimônio com Maria Isabel Brandão Carvalhais (1918-2019). Com ela teve quatro filhos: Manuel Casimiro, José Manuel, Isabel Maria e Adelaide Maria. Um dos seus netos é o ator Ricardo Trêpa. Nesta década, descontente com a reação da plateia e dos críticos em sua própria pátria, ele se distancia da trajetória cinematográfica, porém retorna nos anos 50, com a obra documental O Pintor e a Cidade, de 1956. Em 1963 Manoel dá início a um movimento que fez história em Portugal, a antropologia visual no cinema, com a produção Ato da Primavera, de 1963. Nesta época o diretor já se tornou uma figura consagrada mundialmente, com seu estilo autoral e sua recorrência aos recursos teatrais, tão duramente criticados pelos portugueses, mas que na verdade é um instrumento propositalmente utilizado por Manoel de Oliveira. Nas décadas de 80 e 90 ele continua a ser intensamente homenageado nos festivais de cinema, especialmente em Cannes, com Os Canibais, em 1988, e Não ou a Vã Glória de Mandar, em 1990. No ano de 1995 ele é condecorado em Portugal, recebendo da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), o Prêmio Carreira, quando é festejado o centenário do próprio cinema. Ainda após estas datas chegou a filmar mais de vinte e cinco longa-metragens e umas dez curta-metragens. À idade de 106 anos e quase que cinco meses faleceu no Porto, na Foz do Douro, em 2 de abril de 2015.

Notas: Uma ampla e detalhada biografia sua pode ser consultada entrando na wikipedia.

Uma cronologia dos factos mais importantes da sua longa e frutífera vida pode também ser consultada aqui.

FICHAS DOS DOCUMENTÁRIOS E FILMES

A. Documentários
0. Manoel de Oliveira: Entrevista (2000).
Duração: 83 minutos. Ano 2015. Produtora: Roda Viva de São Paulo.

1. Manoel de Oliveira: Porto 1956.
Duração: 19 minutos. Ano 2014.

2. Manoel de Oliveira: Por outro lado.
Duração: 16 minutos. Ano 2018.

3. Manoel de Oliveira: Entrevista em italiano (Bologna, 2003).
Duração: 19 minutos. Ano 2016.

4. Manoel de Oliveira: Entrevista em Veneza (2006).
Duração: 11 minutos. Ano 2017.

5. Casa do Cinema Manoel de Oliveira. Serralves.
Duração: 4 minutos. Ano 2019.

6. Manoel de Oliveira: Porto da Minha Infância (2001).
Duração: 6 minutos. Ano 2018.

7. Manoel de Oliveira: Entrevista sobre o seu filme A Carta.
Duração: 15 minutos. Ano 2014.

B. Filmes
1. O Passado e o Presente (1971).
Duração: 112 minutos. Ano 2015.

2. Viagem ao Princípio do Mundo (1997).
Duração: 96 minutos. Ano 2018.

3. Francisca (1981).
Duração: 161 minutos. Ano 2013.

4. Famalicão (1940).
Duração: 23 minutos. Ano 2011.

5. Benilde ou a Virgem Mãe (1975).
Duração: 107 minutos. Ano 2017.

6. Vale Abraão (1993).
Duração: 204 minutos. Ano 2020.

7. Douro, Faina Fluvial (1994).
Duração: 17 minutos. Ano 2014.

A SUA FILMOGRAFIA BÁSICA

a. Longa-metragens
-Aniki-Bobó (1942).
-Acto da Primavera (1963).
-A caça (1963).manoel-de-oliveira-capa-dvd-aniki-bobo
-O Passado e o Presente (1972).
-Benilde ou a Virgem Mãe (1974).
-Amor de Perdição (1979).
-Francisca (1981).
-Le Soulier de Satin (1985).
-O Meu Caso (1986).
-Os Canibais (1988).
-Não, ou a Vã Glória de Mandar (1990).
-A Divina Comédia (1991).
-O Dia do Desespero (1992).
-Vale Abraão (1993).
-A Caixa (1994).
-O Convento (1995).
-Party (1996).
-Viagem ao Princípio do Mundo (1997).
-Inquietude (1998).
-A Carta(1999).
-Palavra e Utopia (2000).
-Je rentre à la maison (2000).
-Porto da Minha Infância (2001).
-Vou para Casa (2001).
-O Princípio da Incerteza (2002).
-Um Filme Falado (2003).
-O Quinto Império. Ontem como Hoje (2004).
-Espelho Mágico (2005).
-Belle Toujours (2006).
-Cristóvão Colombo. O Enigma (2007).manoel-de-oliveira-capa-dvd-a-caixa-1
-Singularidades de uma rapariga Loura (2009).
-O Estranho Caso de Angélica (2010).
-Painéis de São Vicente de Fora, visão poética (2010).
-A Igreja do Diabo (2012).
-O Gebo e a Sombra (2012).

b. Curta-metragens e média-metragens
-Douro, Faina Fluvial (1931).
-Hulha Branca (1932).
-Estátuas de Lisboa (1932).
-Os últimos temporais, cheias do Tejo (1937).
-Já se fabricam Automóveis em Portugal (1938).
-Miramar, Praia das Rosas (1938).
-Famalicão (1941).
-O Pintor e a Cidade (1956).
-O coração (1958).
-Vila Verdinho, uma aldeia transmontana (1964).
-As Pinturas do meu irmão (1965).
-O Pão (1966).
-Visita ou Memórias e Confissões (1982).
-Lisboa Cultural (1983).
-Nice: À propos de Jean Vigo (1983).
-Simpósio Internacional de Escultura em Pedra (Porto) (1985).
-Mon Cas (1987).
-A propósito da Bandeira Nacional (1988).manoel-de-oliveira-capa-dvd-um-filme-falado1
-Momento (2002).
-Do Visível ao Invisível em Mundo Invisível (2005).
-O Improvável não é Impossível (2006).
-Manoel de Oliveira: Rencontre unique (2007).
-O Conquistador conquistado (2011). (Comemoração: Guimarães Capital Europeia da Cultura).
-O Velho do Restelo (2014).

c. Como Ator
-Fátima Milagrosa (Rino Lupo, 1928).
-A Canção de Lisboa (Cotinelli Telmo, 1933).
-Conversa Acabada (João Botelho, 1980).
-Cinematon 102 (Gérard Courant, 1981).
-Lisbon Story (Wim Wenders, 1994).

d. Como supervisor
-A Propósito da inauguração de uma estátua. Porto 1100 Anos (A. Moura, A. Baganha e A. Lopes Fdes,
1966).
-Sever do Vouga: Uma Experiência (Paulo Rocha, 1970).
-Viagem ao princípio do mundo (1997).

COMENTÁRIOS SOBRE O SEU CINEMA NA INFOPÉDIA DA PORTO EDITORA

A sua primeira longa-metragem, Aniki-Bobó, realizada em 1942, garantiu-lhe um lugar cimeiro no cinema nacional. Trata-se de uma história passada com crianças, de um naturalismo poético muito bem conseguido. Manoel de Oliveira é um precursor do neorrealismo no cinema português. Com O Pintor e a Cidade (1956) obteve a Harpa de Ouro do Festival de Cork, na Irlanda.
A obra cinematográfica de Manoel de Oliveira constrói-se à volta do teatro e da representação.manoel-de-oliveira-foto-4
Oliveira encara o mundo como um teatro onde as personagens são meras figuras manipuladas por Deus (Ato da primavera, Benilde ou a Virgem Mãe, O Meu Caso), por paixões (Vale Abraão), por desejos (O Passado e o Presente) e regras de ordem moral ou social (Amor de Perdição, Francisca). Os filmes Amor de Perdição (1978), Francisca (1981) e Le Soulier de Satin (O Sapato de Cetim, 1985) receberam o prémio da crítica do Festival de Veneza, onde Oliveira foi também distinguido com o Leão de Ouro pelo conjunto da sua obra.
O filme A Caixa representa um momento culminante da sua visão burlesca do mundo. Party (1996) é outra obra que merece referência. Os filmes da segunda etapa de Manoel de Oliveira começam com uma espécie de guia que nos conduz para o interior da ação (Os Canibais, O Dia do Desespero, Vale Abraão e A Caixa). A obra de Oliveira representa o grande teatro do mundo e da vida, obsceno, grotesco, violento e criminoso, no meio do qual se manifesta a ternura e a compaixão e onde a única forma de evasão é o sonho.

A obra de Oliveira representa o grande teatro do mundo e da vida, obsceno, grotesco, violento e criminoso, no meio do qual se manifesta a ternura e a compaixão e onde a única forma de evasão é o sonho.

Em 1997, com o filme Viagem ao Princípio do Mundo, Manoel de Oliveira foi distinguido com o Prémio Fipresci, da Academia do Cinema Europeu. Em Cannes, a estreia de Inquietude (1998) confirmou uma vez mais o lugar de destaque do realizador português no panorama cinematográfico mundial. Em 1999 foi atribuído ao seu filme, A Carta, o Prémio Especial do Júri do Festival de Cannes. Em agosto de 2000 estreou o seu filme, Palavra e Utopia, no Festival de Veneza, com Lima Duarte no papel do velho Padre António Vieira. No mesmo ano, nas universidades de Harvard, Yale e Massachusetts, nos Estados Unidos da América, foram organizadas homenagens ao cineasta português.manoel-de-oliveira-foto-filmando
Manoel de Oliveira recebeu mais um prémio em 2002, o Prémio Mundial das Artes Valldigna, atribuído pelo Governo Regional de Valência, em Espanha. Então como o realizador mais idoso ainda em atividade, não deixou de surpreender em Je Rentre à la Maison (Vou Para Casa, 2001), onde proporcionou um grande papel a Michel Piccoli. Seguiram-se O Princípio da Incerteza (2002) e Um Filme Falado (2003), onde reuniu um elenco de luxo composto por Leonor Silveira, John Malkovich e Catherine Deneuve. Em 2004 realiza O Quinto Império. Ontem Como Hoje e em 2005 Espelho Mágico, ano em que recebeu em Paris o grau de Comendador da Ordem de Legião de Honra, pelas mãos do presidente francês Jacques Chirac, e a Medalha de Ouro do Círculo de Belas Artes de Madrid. Volta à realização no ano seguinte com o filme Belle Toujours e em 2007 realiza Cristóvão Colombo. O Enigma.
Em 2008 foi homenageado com a Palma de Ouro de Honra do Festival de Cinema de Cannes como reconhecimento do seu talento e da sua obra. Por ocasião da celebração do seu centésimo aniversário, Manoel de Oliveira foi condecorado pelo então Presidente da República, Cavaco Silva, com a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR

Vemos os documentários e filmes citados antes, e depois desenvolvemos um cinema-fórum, para analisar o fundo (mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.
Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Manoel de Oliveira, um dos mais importantes cineastas de Portugal. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros, monografias e DVDs.
Podemos realizar no nosso estabelecimento de ensino um Ciclo de Cinema composto de 7 filmes realizados por Manoel de Oliveira. Os mais interessantes para escolher e projetar são Aniki Bobó (1942), Amor de Perdição (1979), Vale Abraão (1993), A caixa (1994), O convento (1995), A carta (1999) e Porto da Minha Infância (2001). Em cada sessão fazemos uma apresentação detalhada do filme e mantemos um colóquio no final, em que participem tanto estudantes como docentes do nosso centro educativo.

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