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Luz Fandiño: «A honestidade com umha mesma, a coerência, sim é importante»

Xoán R. Sampedro (*) – Nascida em Compostela, em 1931, Luz Fandiño é aos seus setenta e sete anos um exemplo de vitalidade e coragem militante. Pola experiência sabe que a emigraçom nom merece mistificaçom nengumha: «ou tés que explorar ou tenhem que te explorar, e a mim explorárom-me. Sendo honesto, sendo solidário, é o que che toca».

Ainda o remata com um dito que a acompanha desde há tempo: «Rico e honrado, nom cabe no mesmo ferrado». Vem de receber umha homenagem, quando cumpre trinta anos de volta na Galiza, por toda umha vida de inconformismo. «Eu o que reconheço é que sou demasiado, digamos, rebelde. Nom acato ídolos, nem divos nem divas, em nenhum ámbito da minha vida».

P: Com 19 anos emigras para a Argentina. Mas no ceu caso, dá-se a circunstáncia de que és umha pessoa com certas questons políticas mui claras.

R: Sim. Eu logicamente já era anti-franquista naquela altura. Porque já a minha mae e a minha avó eram revolucionárias. Mulheres que nom podiam falar. E apesar disso, a minha mae ensinou-me a Internacional em pleno franquismo, e cançons ácratas, o hino galego… Isso já o tinha mui claro. Ainda que também tinha as minhas contradiçons, porque a igreja metia-nos a religom polos olhos, polos ouvidos, polo nariz e por todo quanto buraco tivéssemos, mas eu sabia que a minha mae odiava toda a cúria e todo quanto cheira-se a religiom. E isso implicou umha luita interna longa.

P: E quanto à identidade, como foi a tua vivência da galeguidade na emigraçom?

R: Eu era anti-franquista, mas ainda era espanhola porque isso era o que sempre se me dixera que era. E tinha um certo complexo que se ia acentuando porque nom falava como os andaluzes, ou os cataláns… Depois, em Buenos Aires, entrei no Centro Galego, ao princípio pola questom de ter a quem recorrer no caso de cair enferma.

Mas ali dei com um poema de Cabanillas, “Meu carriño” e aí comecei a minha trajectória no nosso. Eu já sentia, já defendia a Galiza, nom falava de Espanha porque realmente nom a conhecia, nem falta que me fixo. Comecei a interessarme pola nossa língua, a nossa cultura… Marcárom-me muito Curros e Rosalia. A medida que ia conformando a minha identidade como galega e como nacionalista foi como se fosse renascendo, automaticamente desaparecêrom todos os complexos.

P: Depois da Argentina tiveche que passar por Paris. Ali coincides com o Maio de 68.

R: França, no ano 68, foi umha escola para mim. Ver essa revolta e ler sobre ela foi algo maravilhoso que me formou muito. Essa revolta começou com os estudantes, mas depois também se fôrom somando os trabalhadores todos; Paris paralisou-se completamente. A mim nom se me dava por ir ao baile, eu ficava a ver se havia algum debate na televisom, ou a ler.

Aí foi onde conhecim e comecei a gostar da liberdade. Isso de poder ler um livro, ou escrever, e que nom vinhesse ninguém a dizer-che “isso nom”. Ali foi onde se abriu um mundo novo para mim, conseguim perceber perfeitamente aquela revolta. E desgraçadamente nom tinha ninguém no meu ámbito com quem poder partilhar isso todo.

P: E no ano 79 voltas finalmente para a Galiza. Como vivias a situaçom política na altura? E como foi o impacto do 23-F?

R: Havia ainda umha crença de que podiam mudar as cousas. Havia umha mocidade que sabia que realmente nom tinha mudado nada e que tinha muita força. Daí as piadas de que o Borbom ia ser “el Breve”. Diziam que havia umha democracia e eu nom via tal. O único que vim, já daquela, é que o 23-F era um golpe, mas a longo prazo, que ainda estamos a roer agora. Era um golpe para meter medo, porque a gente ainda tinha esperança.

Eu já dizia “Nom, isto é umha artimanha para legalizar o Rei”. E funcionou, porque houvo muitos que recuárom dum jeito… Mas o panorama já se pintara claro com o Suárez em Madrid, e o Rosón aqui, os dous falangistas.

P: Já militando na Terra, tiveche que passar por mais de umha ruptura, traiçom, abandono… Como vives essas experiências?

R: Doloroso, em princípio é mui doloroso. Porque tu entregaste a um partido, a umha luita… E parece-che que isso é para a vida e que aí estamos todas e todos. Nom cabe dúvida de que é umha decepçom horrível. Mas um cartom de partido nom é nada; é um papel que se pode deitar fora. Agora, a honestidade com umha mesma, a coerência, isso para mim sim é importante.

 

 


 

(*) Entrevista publicada originalmente no n.º 84 do Novas da Galiza.

 

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