Lume e política

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Por Adela Figueroa Panisse

Galiza volve a arder. E ainda falta setembro, mês em que “secam as fontes e ardem os montes”.

A política agachada nos guetos dos partidos políticos resulta, para os que estão no poder, na dissolução de todo o que os governos anteriores levaram feito. Há que marcar diferenças (sic). Uma destas desfeitas é a que atinge à dissolução do dispositivo do Voluntariado em Defensa do Monte Galego, que se articulara no verão de 2006 , pelo São Roque. A partir daquele momento, os incêndios começaram a recuar. Não estou a dizer que o Voluntariado fosse o responsável direto nem único, na altura, da desaparição dos lumes, mas sim que foi um dos vários elementos que colaboraram para isso e não de menos importância.

Desde então, durante o governo do Bipartido, sempre houve Voluntariado em Defensa do Monte Galego, que se organizava pouco antes do verão, mas que trabalhava também no inverno em vários acampamentos: Forcarei, Monforte e as Inas, em Vila Garcia. A conhecida frase de que os incêndios do verão apagam-se no inverno tentou ser unha realidade durante os anos seguintes ao desastre do verão de 2006.

Nestes acampamentos realizavam-se trabalhos de Educação Ambiental com estudantes dos colégios de toda Galiza, colaborava-se com as Comunidades de Montes na restauração dos ecossistemas degradados pelos incêndios, e fazia-se divulgação e sensibilização ambiental contra do lume. As quadrilhas de Voluntários em Defensa dos Montes Galegos eram visíveis passeando pelo nosso meio. Fizeram um importante labor de dissuasão, de prevenção, de ajuda e colaboração com os dispositivos anti-incêndios, e de alerta aos mesmos. Conformaram equipas de gente que acabou por se identificar com o ambiente implicando-se em posteriores processos ecológicos e ambientais. ADEGA teve um papel importante na organização e mantimento destes dispositivos de voluntariado ambiental. Por isso foi premiado o seu labor como Arousana do Ano em 2007.

É um grande erro desprezar a experiência e a sabedoria adquirida por quem que nos precedam no exercício do poder. Desmantelando o dispositivo do Voluntariado em Defensa do Monte Galego, a Junta não está a poupar dinheiro, pois os incêndios resultam imensamente mais caros que a prevenção em dinheiro e em vidas. O labor de implicação social na co- responsabilidade pelo nosso meio é um processo longo, como todos os processos de ensino, é aprendizagem, mas é um investimento em futuro. Qualquer pessoa sensibilizada com o médio estaria disposta a colaborar com a Junta na prevenção desta lacra social, ecológica e económica que são os incêndios. Mas cumpre que esta habilite espaço para que o voluntariado se possa incorporar a esta luta. Lamento infinitamente a desgraça dos dois rapaces mortos em Fornelos de Montes quando lutavam, integrados no SEAGA, contra o incêndio nessa localidade. Nesta nota quero enviar as minhas condolências aos seus, esperando que não se voltem dar as circunstâncias que fizeram possível tão triste acontecimento.

Por isso é importante termos a consciência de que queimar um monte é um ato criminoso que deve ser repudiado pela sociedade e punido pela justiça. E que os Governos devem pôr tudo da sua parte para lutar contra deles.