Linguística Eco- da Dra. Teresa Moure constitui uma necessária reflexão sobre diversos aspetos centrais na linguística atual. A autora retoma neste ensaio o caminho da investigação linguística onde tem produzido obras de grande interesse (Moure 2001, Moure 2005, entre outras). Embora seja conhecida por transgredir o conceito de género, após vários trabalhos dedicados propriamente à ficção narrativa, nesta obra Teresa Moure volta perante o público leitor como investigadora com um amplo percurso na área da linguística geral da Universidade de Santiago de Compostela.
Portanto, este trabalho pode ser interpretado como uma chamada de atenção onde Teresa Moure se apresenta a si própria como linguista, como especialista que analisa com rigor, com respeito e compromisso, tanto o estado atual da linguística como o da diversidade linguística. Porém, esta achega é acessível para um público amplo: não se dirige exclusivamente ao perito, mas procura alguém com vontade de se submergir numa obra ambiciosa – que também não hesita na hora de indicar responsabilidades.
Contudo, Teresa Moure não perde o estilo que a individualiza e que a faz reconhecível tanto nos seus textos (ensaios, narrativa, poesia ou teatro) quanto nas intervenções públicas, artigos científicos ou nas próprias aulas. Linguística Eco- torna-se numa deliciosa conversa que, página por página, se desenvolve caraterizada pela clareza e por dados reveladores sobre contextos linguísticos tão reais quanto desconhecidos mesmo na própria linguística.
Tradicionalmente a ciência da linguagem ficou esquecida à sombra da filologia, quer dizer, fagocitada pela tradição filológica que a silencia. Este facto determinou no ensino superior que os estudos linguísticos ficassem reduzidos no nosso contexto a uma especialidade dos graus de Filologia. Na prática, as pessoas que se titulam nestes estudos adquirem mais conhecimentos sobre escritores medievais que sobre teorias linguísticas básicas ou sobre a situação em que se encontram a maioria das línguas do mundo hoje. Além do mais, uma alta percentagem dessas pessoas tituladas em estudos superiores de filologia hã de se incorporar ao ensino secundário, contribuindo lá a perpetuar esta situação de silenciamento da linguística.
Sem ter sido idealizado como um manual didático, Linguística Eco- de Teresa Moure facilita o trabalho de investigação e de procura de dados sociolinguísticos necessários, por exemplo, para a preparação das aulas de língua no secundário. Atividades sobre diversas línguas do mundo, propostas de reflexão sobre temas centrais nesta disciplina, dados objetivos e atualizados sobre o estado da diversidade linguística, entre outros, podem ser tirados destas páginas e transformados em unidades didáticas para dar cabo do deserto de transversalidade de todas as editoriais comerciais especializadas em livros de texto e especialmente notável nos assuntos linguísticos, embora sejam básicos nos currículos vigentes.
Não passes a listagem às pressas. Oferece a cada uma dessas grandes línguas do mundo o instante preciso para leres o seu nome. Não sejas soldado do pensamento único, alguém que não observa o detalhe. Retrocede e lê, se for possível em voz alta.
Linguística Eco- de Teresa Moure na Através editora. Para não perder.
