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Fundaçom Artábria :”A total autonomia financeira em relaçom a qualquer governo municipal garante a nossa liberdade de açom, só limitada polas nossas limitadas forças enquanto massa social”

fundartabriaA Fundaçom Artábria é uma entidade cultural dedicada principalmente à defesa dos direitos linguísticos do povo galego. É uma das mais veteranas associações reintegracionistas.

O seu âmbito de actuação é a comarca de Trasancos, no noroeste da Galiza, contando com a sua sede social na cidade de Ferrol.

Do PGL queremos conhecer a vida das principais Instituições reintegracionistas, algumas já históricas, aproveitamos o XVIII aniversário para entrevistamos à Fundaçom Artábria na voz Bruno Lopes Teixeiro, membro da Diretiva.

 

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Há não muito o Carlos Calvo, destacava num artigo em Sermos Galiza o sentido e papel das instituições e a importância do associativismo, de espaços e locais na evolução e no contributo que têm em movimentos como o independentismo, o reintegracionismo. O que achades na Artabria disso?

O assunto é complexo de mais para responder em poucas linhas, mas é claro que som os setores afetados polas políticas destruidoras de direitos que devem organizar-se para os defender e praticar. Isso serve para a autodefesa em matéria de língua, cultura e direitos sociais em geral, mas sendo conscientes de que a mudança radical do paradigma uniformizador e de exploraçom só chegará se o poder mudar realmente de maos.

No plano lingüístico, Carvalho Calero definiu já há mais de duas décadas o desafio que enfrentamos: quebrar o monopólio dos mecanismos de poder por parte do espanhol, pois só essa conquista permitiria ao galego luitar pola sua sobrevivência.

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Dezoito anos trabalhando pela defesa da nossa cultura, os valores solidários e os direitos históricos da nação… destes anos que destacaríades como contínuum institucional, como “marca da casa”?

Talvez umha combinaçom de firmeza e flexibilidade que nos tem permitido manter os princípios polos quais nascemos e abrir-nos a todo o tipo de iniciativas que na nossa comarca fam trabalho social e encontrárom na Artábria um espaço para a colaboraçom. Também isso permite que pessoas espanholfalantes participem a partir de áreas de interesse diversas e, através do contato, as ganhemos em diferente medida para a causa da língua e da consciência nacional.

Quem fundou Artábria, com que sentido ou propósito? Fica pessoal do núcleo fundador? Que sentides ao ver essas fotos históricas?

mauriA primeira Artábria remonta a inícios dos anos 90 e foi criada em Narom por um núcleo reduzido ao qual se juntárom em seguida outras pessoas de Ferrol. Desse núcleo estám connosco, sim várias pessoas, como o Joám Paz (John), o Maurício Castro ou o Ernesto Lopes (Nês).

Alguns deles também participárom ativamente em 1998 na criaçom do centro social e numha nova fase, mais ambiciosa, no trabalho socializador dos nossos objetivos fundacionais.

Vendo as imagens do passado sente-se que o trabalho feito foi muito e que fôrom centenas as pessoas que de um modo ou outro participárom ativamente neste projeto coletivo. Também lembramos as companheiras e companheiros que por uns motivos ou outros fôrom ficando no caminho, porque também elas som parte da nossa história e como tal as consideramos.

Artábria destaca como fábrica de conteúdos socializadores, educadores desde uma perspectiva nacional popular, em contraste com um espaço institucional, académico, social muito degradado. Existe uma cultura popular? Como se constrói?

culturaExiste, sim, embora seja em pugna permanente com umha estratégia de laminaçom construída polo poder hegemónico, que na Galiza há muito é oposto a ela. Porém, a cultura popular subsiste e a Artábria, junto a outros muitos coletivos e iniciativas, tentam construir a necessária contra-hegemonia cultural que permita a construçom nacional sobre bases próprias. Ingredientes objetivos como a língua, a música e tantas outras expressons da galeguidade nom faltam, mas sabemos que só a sua cristalizaçom num programa político capaz de ocupar a hegemonia social possibilitará essa normalizaçom lingüística e cultural a que tantas vezes apelamos.

 

O local, como espaço de reunião, como referente e como símbolo é importante. Que sentido tem em Ferrol/Trasancos hoje a presença e continuidade de Artábria?

De facto, o nascimento do centro social respondeu à necessidade de darmos materialidade física ao projeto, criando um espaço de socializaçom em galego, no qual pudéssemos interagir coletivamente com a cidade e com a comarca. Somos conscientes de que um projeto como a Artábria, por si só e desligado de umha estratégia de construçom nacional a nível galego, servirá  para pouco em termos históricos. Porém, julgamos estar a assumir umha responsabilidade coletiva como galegos e galegas, junto a outros projetos existentes no País, Centros Sociais como a Gentalha do Pichel (Compostela), o Fuscalho (Baixo Minho) ou A Revolta (Vigo),  a SCD do Condado ou as Escolas de ensino galego Semente… o que nom é pouco nos tempos atuais…

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O centro social originário ficava na rua Madalena, no centro histórico de Ferrol, onde permaneceu nos primeiros anos. Posteriormente, foi transladada para o bairro de Esteiro, na mesma cidade. Que significou esta mudança do centro à periferia?

Bom, significou em primeiro lugar um alívio económico 🙂 Fora disso, levou-nos a um bairro com muito significado histórico em Ferrol. Um dos primeiros bairros operários na Europa ocidental, que nas últimas décadas tem sofrido umha despersonalizaçom fruto de um planeamento urbanístico que arrasou a maior parte do bairro histórico, mas que continua aqui. Ferrol, como qualquer cidade ou vila galega, admite ainda de bom grado propostas de recuperaçom da identidade e que em simultáneo olhem para a frente, e é isso que estamos a tentar no bairro de Esteiro, como antes no da Madalena.

Com poucos recursos fez-se muito. A narrativa da construção do local é importante e também uma constante… como foi e como é? Que necessidades tem um local?

O certo é que o fator económico tem sido até hoje um calcanhar de aquiles para nós. Umha dificuldade permanente, mas ao mesmo tempo um incentivo para continuarmos. A total autonomia financeira em relaçom a qualquer governo municipal garante a nossa liberdade de açom, só limitada polas nossas limitadas forças enquanto massa social. Esse é o desafio permanente que enfrentamos, sem renunciar a participara das ajudas públicas que como entidade de interesse público nos correspondem. Desde o aluguer até as reparaçons, os gastos correntes, as programaçons culturais… as despesas som muitas, um condicionante permanente.

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Fundação sem qualquer fim lucrativo, como se financia Artábria? Ajuda a Xunta, o concelho, a Deputação?

Fundamentalmente, com a atividade da cafetaria junto as quotas das pessoas associadas. A isso soma-se o rendimento por algumhas atividades formativas oferecidas no nosso centro social. As ajudas públicas, principalmente municipais, completam o nosso limitado orçamento.carvalho

Artábria, para além de um espaço institucional no espaço comarcal, tem destacado ao longo destes anos por ser o foco de uma inusual produção bibliográfica, das Histórias em Banda desenhada, até o Manual de Iniciaçom de Maurício Castro, passando pelo Gong de Carlos Quiroga… hoje muitas na rede, pelo seu local têm passado exposições e inúmeros palestrantes que destacaríades destes anos?

Bom, descaríamos que constituímos um espaço permanentente aberto a qualquer expressom cultural progressista e em galego. Grupos musicais, poetas, coletivos de todo o tipo, a maioria modestos e noutros casos com grande reconhecimento mediático ou do público… sempre nos pareceu fundamental oferecer instalaçons e público a quem nos mais diversos ámbitos está a construir cultura popular para este país, sendo a nossa língua o veículo de expressom fundamental para isso.

 

Artabria também destaca pelo seu cuidado grafismo, não é cousa de hoje… como é isto?

Cada vez mais umha boa competência na “guerra de guerrilhas” comunicativa é fundamental numha sociedade complexa e visual como esta. Diferentes companheiros e companheiras tenhem dado o melhor delas também nesse ámbito para tornar o projeto da Fundaçom Artábria mais atraente ao grande público.

 

Que papel desempenhou Artábria na Fundação da Semente Trasancos?

Desde o início cedemos as instalaçons e meios disponíveis para que o projeto inciasse as suas atividades, com participaçom de algumhas pessoas sócias, se bem a Semente sempre foi autónomo e caminhou sobre os seus próprios pés… como deve ser.semente

O que é o festival da Festival da Terra e da Língua? Que importância dá Artábria aos eventos populares?

Foi um evento períodico (anual) que durante 13 anos serviu de espaço socializador da Artábria fora do centro social, primeiro no Moinho de Pedroso, depois em Júvia. Milhares de pessoas passárom polas XIII ediçons, assim como numerosos grupos galegos e doutras naçons sem Estado e do próprio Portugal. Mais um projeto estratégico e pensamos que de utilidade para a promoçom da música galega, da língua e da cultura. Agora está em “stand by”, mas nom duvidamos que haverá umha XIV ediçom.tres-trebons

Instituição… local social…como é a vida no local social no dia a dia?

As atividades que se organizam determinam muito a vitalidade do dia a dia. Abrimos em horário de manhá e de tarde, contando com a presença de vizinhos e vizinhas, estudantes do cámpus de Esteiro e massa social da nossa entidade. Também oferecemos cursos e exposiçons no dia a dia, mas aos fins de semana é quando mais pessoas participam, já que é quando costumam organizar-se palestras, concertos e outros eventos.

Quanto ao reintegracionismo parece que o funcionamento de nodos ou núcleos independentes, como a Artábria, espalhados pelo país e hoje muito vivos também nas redes, foi fundamental para criar a massa crítica que há hoje por toda a parte. O que pensades disto? Que papel pode continuar a jogar a Artábria, no associativismo e na construção da proposta reintegracionista?

Um papel modesto, mas nom por isso irrelevante. Como dixemos antes, a Galiza precisa de se constituir em sujeito político, com poder próprio e soberano. É na medida que caminharmos nessa direçom que o reintegracionismo e o resto do programa cultural e lingüístico soberanista conseguirá plasmar-se em termos massivos, como corresponde a um país normalizado. Nesse senso, podemos afirmar que a sorte da Artábria será a sorte da Galiza. Se a Galiza nom avançasse nessa direçom, pouco importaria que a Artábria se mantivesse como espaço irredutível…

Nos últimos anos tem havido na  Fundaçom Artábria renovação geracional, ou deteta-se o mesmo padrão de envelhecimento que na Sociedade?

Houvo renovaçom em relaçom à geraçom que iniciou o projeto. Hoje a diretiva é formada por pessoas entre 30 e 40 anos, o que fica abaixo da média galega. Porém, é verdade que custa incorporar pessoas mais novas, talvez pola desmobilizaçom geral que se vive nos últimos anos, esperemos que de maneira episódica…

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 O sábado 1 de outubro, iniciastes as atividades programadas para celebrar o dezaoito aniversário da Fundação Artábria, que durarão todo o mês de outubro. Para os que não conheçam.. que há programado? Que recomedades?

Pois já estamos no equador das atividades, já publicitadas no Portal Galego da Língua, que até agora decorrêrom com bastante sucesso.

No próximo fim de semana daremos continuidade às mesmas com a seguinte programaçom:

Sexta-feira 21, às 21.30hs, a companhia teatral “Damecuerda que teatro” apresentará a obra “O escorial”. A entrada será gratuita.carlos-blanco

No sábado 22, chega desde Vigo o Ska de Liska!. Letras reivindicativas e combativas com umha ótica nacional e de classe. O concerto começará às 23hs. A entrada é livre.

Na sexta-feira 28, haverá um atelier infantil. Maru Alonso ensinará às crianças a fazerem Bolachas para o Sahmain. A atividade é para nen@s a partir dos 4 anos e é preciso inscriçom prévia já que há  límite de vagas.

No sábado 29, decorrerá a ceia do XVIII aniversário. O preço da ementa, que contará com sopa, lacom assado com cachelos, água e/ou vinho e sobremesa, é de 12 euros (10 euros para pessoas associadas). Haverá opçom vegana sob demanda. Quem quiger assistir pode  inscrever-se ao balcom do café-bar ou escrevendo para correiodeartabria@gmail.com.

Na segunda-feira, 31 de outubro, fecharemos as atividades do aniversário celebrando a noite de sahmain. Desde as 20.00hs haverá um atelier infantil de decoraçom de cabaças e maquilhagem.

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