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Freixeiro Mato: «A via do galego tem de ser a reintegracionista»

PGL – Xosé Ramón Freixeiro Mato, professor de Filologia Galego-Portuguesa na universidade da Corunha vem de publicar Lingua de Calidade em Edicións Xerais. Valentim R. Fagim e José Ramom Pichel aproximárom-se até o seu gabinete para tratar vários temas por volta da nossa língua.

A seguir reproduz-se por escrito um resumo dos melhores momentos da conversa, mas podem acompanhar o áudio com o diálogo na íntegra.

Pergunta: Existem duas estratégias para o galego, a galego-castelhana ou a galego-portuguesa. Qual a mais eficaz?

Resposta: A via do galego tem de ser a reintegracionista. Concordo com a tese de Carvalho Calero de o galego ser galego-português ou galego-castelám. Este último apenas conduz à paulatina absorviçom da nossa língua dentro do castelám. Umha via intermédia é impossível, um galego ilhado que pretenda a equidistância entre espanhol ou português.

O galego é umha língua internacional que se espalhou polo mundo através de Portugal e seria suicida renunciar a essa vantagem, do mesmo jeito que nom seria acreditável que o inglês renunciasse à variante dos EUA.

P: Numa entrevista realizada no Galicia Hoxe, o professor afirmou que devíamos “dotar o galego e o castelhano dos mesmos ou parecidos instrumentos e oportunidades”. É possível esse objetivo com a ferramenta do galego-castelhano?

R: É mui difícil mas pode-se conseguir no aspecto legal, que os galego-falantes podam exercitar os seus direitos linguísticos mas o galego tal como está nom pode concorrer com o castelhano. Se a nossa projecçom fosse a do catalám haveria que trabalhar com essa situaçom mas o certo é que nós temos umha ferramenta mui útil para concorrer na projecçom exterior. Seja com a norma que for, o galego tem que se situar inequivocamente com o português e nom manter umha posiçom equidistante.

P: Se o governo galego, este ou qualquer outro, quigesse aproveitar a potencialidade do galego ao máximo, que medidas concretas podia promover?

R: Dar os passos normativos necessários para poder melhorar o seu status e concorrer, bem como medidas para que o galego fosse socialmente visualizado como umha língua extensa e útil. Potenciar o português na Galiza, por meio do ensino, mesmo que seja como língua estrangeira nos níveis básico e médio. Tudo o que seja reforçar o português é reforçar o galego porque quando os alunos aprendem português, estám a reforçar o galego. Pode-se vender com o lema do plurilinguismo e começar polo mais próximo.

Outra via seria que através das aulas de língua galega se ensinassem as outras variantes da nossa língua, o que reforçaria o galego porque afinal um lusismo serve para substituir um castelanismo, como é o caso de orçamento que nom substitui nenhuma palavra galega.

P: Dentro das pessoas que estám por volta da normalizaçom do galego oficial, que tipo de atitudes existem?

R: Havia um grupo amplo de pessoas, maioritário, proclive ao reintegracionismo. Em finais de 80, houvo umha recolhida de assinaturas para propiciar um acordo normativo na linha reintegracionista de mínimos. O manifesto, que tinhas aspetos concretos que afectavam a forma de língua, foi assinado pola imensa maioria do professorado do ensino médio.

Havia outro posicionamento hostil a esta linha mas observo agora que esta linha isolacionista nom apresenta hoje posições anti-reintegracionistas como havia antes. Mesmo artigos de Henrique Monteagudo ou Xosé Luís Regueira ou publicações do CCG coordenadas por pessoas do Ilg, já  utilizam o argumento de que deve ser explorado o valor do português. Pola contra, posições recalcitrantes som hoje escassas. Há um ponto de inflexom que abre umha possibilidade de avançar.

É fundamental que o discurso da utilidade do galego como língua universal chegue à sociedade. Há muitos argumentos para que o discurso chegue.

P: Umha das causas dos preconceitos em volta do galego é o lugar periférico que ocupa a nossa língua na Galiza a diferença do que acontece em Brasil e Portugal.

R: É muito necessário e útil mostrar que com o galego se pode ir a outros lugares e há países onde os seus dirigentes falam galego com total naturalidade.

A respeito de Portugal sempre necessitamos um vizinho sobre o que nos sentir superiores mas está o Brasil, potência emergente que pode enganchar o galego a essa via do prestígio. No Brasil devemos basear agora muito o potencial que o galego tem. O próprio Camilo Nogueira na sua época do eurodeputado implementou esta visom.

P: Narcís Serra, presidente de Caixa Catalunya, afirmou que a economia espanhola tinha que apostar polo Brasil. Que tem a ganhar o empresariado galego no Brasil e qual a sua vantagem competitiva com o resto do estado?

R: O lamentável é que o empresariado galego nom é consciente por ser politicamente mui espanholista e com os olhos postos em Madrid. Se primasse a visom comercial veriam no Brasil 190 milhões de possíveis consumidores. Umha pequena quota de mercado ali seria mais que a quota que podam ter na Galiza. Embora alguns já se dessem conta, outros acham que há que passar por Madrid para chegar ao Brasil.

Algum representante do Instituto Cervantes tem afirmado que os galegos do ramo da docência tenhem no Brasil um campo aberto onde gozariam de umha situaçom de privilégio polo domínio do castelhano e do português.

P: A respeito do ensino, sempre se apostou no ensino público e nas quotas de presença do galego, mas agora estám a aparecer vozes a favor do ensino em galego ou de aplicar o sistema basco ou valenciano de linhas idiomáticas.

R: Quanto as redes de ensino privado vejo-as com muitíssima simpatia. Sempre se diz que o galego está imposto no ensino oficial mas se nasce na própria sociedade, esse argumentário vai-se abaixo.

Quanto à via do País Basco e Valência, quase preferia continuar polo modelo anterior de um mínimo de 50% que depois poderia ir avançando, que o galego fosse a língua maioritária do ensino.

Se essa via se freasse e fracassasse, como mínimo haveria que procurar outros modelos, e poder ter um ensino em galego e aplicar o sistema basco ou valenciano.

P: O modelo basco facilitou que, o que num começo fosse umha minoria a escolher o modelo em euskara passasse a se tornar maioritário. Entre um modelo de quotas e um outro de linhas linguísticas, qual a tua escolha?

R: No País Basco há umha consciência linguística que nom se dá aqui mas penso que o modelo implementado polo bipartido estava nesse caminho. A via das galescolas era umha boa via, escolas infantis associados ao uso do galego e bem dotadas, centros de qualidade e de referência. Pais castelám-falantes estavam satisfeitos porque afinal se associamos o galego à qualidade e valores positivos as pessoas vam-no assumir.

O problema hoje é que o governo galego actual está difundindo que o galego nom tem futuro, nom serve e é nefasto.

P: O PP tem claro o que quer fazer mas os outros dous partidos nem sempre. Que se deveria exigir a um possível novo bipartido? Este ataque frontal nom tem até um aspeto positivo?

R: Está a fazer reagir a sociedade e a demostrar que a língua, apesar dos preconceitos, a língua é um valor que a sociedade em seu conjunto estima e defende. O PP por sua parte quer acabar com a língua embora nom o diga explicitamente.

Quanto ao bipartido, a gestom da língua caiu em maos do PSOE e neste partido há duas almas, setores mais proclives à língua e outros piores que os do PP. Movem-se nessa indefiniçom. Hoje o governo da câmara corunhesa ou viguesa estám a ser negativos no aspecto linguístico. Mesmo assim, o decreto 2007 nasceu deste governo bipartido que foi umha panca ótima na promoçom da língua e dificilmente se podia ir além desse decreto que hoje foi paralisado.

A política linguística estava em maos de um partido de obediência estatal, com evidente dependência de Madrid. Iam ter dificuldade para ir mais adiante do que foram. Contudo, podia ter-se feito mais e marcar umha linha política nova e transmitir à sociedade que o tema da língua era fulcral. Medidas como a lei de comércio da Conselharia de Indústria teria dado umha presença importante ao galego na área comercial.

Um governo que saísse legitimado das urnas teria que superar as vacilações anteriores. As médias tintas nom conduzem a nada. Umha maior decisom é necessário. Houvo muito continuísmo.

P: Se tu estivesses no nosso lugar que tipo de linhas estratégicas implementarias?

R: Primeiro quero indicar que eu me considero reintegracionista. Compreendo que haja gente que tire por ele desde posições como as de Agal mas os dous posicionamentos devem co-existir. Deve haver pessoas como eu que pretendemos ir empurrando na aproximaçom à língua galego-portuguesa na via lexical ou da morfo-sintaxe, cara ao seu lugar natural.

Se estivesse nas vossas posições, eu insistiria em lhe dar presença ao português na Galiza e reivindicar o português no ensino como matéria obrigatória. Agora que o plurilinguismo é um valor importante, tendo umha língua aqui ao lado, independentemente de ser a mesma que o galego ou nom, devia ter um trato preferente no ensino das línguas.

Também introduzir o estudo das variantes galego-portuguesas no ensino da língua galega. Se nom o querem chamar galego que o chamem português. Eu defendo que o que se fala em Portugal e no Brasil é galego na linha do professor brasileiro Júlio Rocha. Que agora se chame português também é normal porque Portugal levou-na polo mundo.

Tampouco é um drama tremendo que reconhecendo essa identidade linguística haja umha norma galega e umha norma portuguesa. O ideal seria que confluísse, se nom é possível agora, pode sê-lo noutro momento.

Nom podemos permitir que comunidades como Estremadura nos estejam a dar lições de interesse polo português e do seu ensino , nós tínhamos que ser pioneiros.

Parece-me muito interessante o trabalho que está a fazer o reintegracionismo. Se conseguisse que o seu discurso chegasse à sociedade, àqueles poderes económicos, aí há umha boa via. Se a Agal conseguesse interlocuçom com o mundo empresarial para convencê-lo da grande oportunidade que é o galego no mundo. É um labor que nom é fácil mas hoje é-o mais do que antes polo fenómeno da globalizaçom. É mais fácil entrar nos argumentos do reintegracionismo.

 

Áudio da entrevista

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