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Entrevista à A. C. Cultura do País: «O idioma é a máxima expressão da identidade galega e como tal é um dos alvos principais da nossa atividade cultural»

PGL – A 4 de outubro terá lugar em Lugo o ‘Festival de Nosso’. O evento é organizado pola A. C. Cultura do País, um coletivo dinâmico e plural que recentemente abriu o local social Lar. Através de uma entrevista quisemos conhecer um bocado mais acerca das suas origens e do trabalho que realizam.

PGL: Como nasceu o projeto cultura do País? Por que razão se escolheu esse nome?

CdP: O projeto de CdP surdiu da tentativa de agrupar uma série de gente, que com uma sensibilidade cultural parecida, queria espalhar a língua e cultura galega em Lugo.

O nome de Cultura do País, veio porque o tipo de atividades que tencionamos fazer e fizemos até o de agora, tem como linha transversal a língua e a cultura da Galiza. A população galega identifica o seu território, incluso antes que com o nome de Galiza, com os termos País ou Terra, daí a escolha do nome. É dizer, cultura com denominação de origem.

PGL: Quantos sócios e sócias tendes e qual é o seu perfil?

CdP: Em Cultura do País estamos num processo de ampliação, mas hoje andamos no meio centenar de pessoas associadas. O perfil de pessoas associadas é amplo, desde autónomas, funcionárias, operárias industriais, ensinantes, estudantado, sindicalistas, etc. No abano ideológico há desde militantes arredistas até libertários, com uma maioria de associadas com uma tendência nacional-popular. O que nos une a todas é a defesa e promoção da nossa cultura de uma perspetiva abrangente e atual.

PGL: Que atividades se vêm realizando até à altura?

CdP: Desde há dois anos vêm-se realizando projeções audiovisuais, concertos com conteúdo social, palestras, roteiros didáticos, etc. Toda a atividade é mui diversa mas pode-se sublinhar a recuperação da memória histórico-política galega, a defesa do meio natural e a promoção dos valores solidários e a revindicação da língua e a cultura galega.

PGL: Cultura do país decidiu dar mais um passo e abrir um local físico. Quais foram as razões que provocaram este movimento?

CdP: A abertura do espaço fisco além de simbólico é para que sirva de ferramenta de trabalho a Cultura do País. Seguiremos fazendo a maioria de atividades no espaço público fora do local.

PGL: Assim sendo, que tipo de uso se pretende fazer do local?

CdP: Como antes indicava, para nós o local-Lar- é mais uma ferramenta, não um fim per se.  Dirigimos a nossa atividade a um público muito diverso não só ao mais próximo- que seria o mais fácil.

No local farão-se basicamente as reuniões de associadas e cursos, e só algum tipo de atividades concretas.

Cartaz do Festival de Nosso, organizado pola Cultura do País
[prima aqui para alargar a imagem]

PGL: Qual é a situação do associativismo na cidade de Lugo? Tendes pensado colaborar com outros projetos já existentes?

CdP: Em Lugo não há demasiada oferta cultural, ainda que essa tendência está a mudar. Há algumas exceções privadas mui destacadas. Quanto ao movimento associativo popular também há associações com um alto grau de ativismo.

Cultura do País tem colaborado com diversas entidades como a AGAL, a Escola Oficial de Idiomas, Sei o que nos Figestes…, também em projetos concretos com instituições públicas. Quanto ao resto do tecido associativo de Lugo, CdP tem um projeto próprio e diferenciado, o que contribui à diversidade.

PGL: Como avaliais a política cultural das diversas administrações políticas em Lugo?

CdP: A atual política cultural do Governo galego em Lugo, pode-se dizer que nem é boa nem má, simplesmente é quase inexistente. Há outras instituições como a Área de Cultura da Deputação Provincial e a Concelharia de Cultura de Lugo que sim realiza ações a favor da nossa cultura, mas como todo, é suscetível de melhorar.

PGL: Que papel tem a língua no vosso projeto e numa cidade como a da Lugo?

CdP: O idioma é a máxima expressão da identidade galega e como tal é um dos alvos principais da nossa atividade cultural, tendo o galego-português uma presença importante nas atividades que fazemos, em tanto que normalização da relação cultural que nos une com a comunidade lusófona.

PGL: São bem-vindas as ideias e práticas reintegracionistas na vossa associação? Tencionais fazer algum tipo de trabalho em relação com a Lusofonia?

CdP: Cultura do País utiliza na sua atividade, o galego na norma da Real Academia Galega e também o faz na norma da AGAL, refletindo a pluralidade interna que é um espelho da realidade do movimento normalizador do galego-português. Além disso, Cultura do País faz atividades de aproximação concretas à lusofonia, como é a Noite da Lusofonia, que começou este ano e queremos reeditar em vindouros anos. O País escolhido este ano foi Angola.

PGL: Achais que Lugo mantém uma ligação com o mundo rural maior que a de outras cidades? Reflete-se, de alguma maneira, essa circunstância, na vossa maneira de entender o ativismo cultural?

CdP: Lugo não é uma exceção no processo de mudança do galego-português polo espanhol, sobretudo entre a juventude, por razões conhecidas. Agora bem, em Lugo há uma parte importante da população que se exprime em galego-português, em todos os bairros, em todas as camadas sociais, isso fornece um certo caráter, junto com a influência das comarcas rurais próximas a Lugo, onde a nossa língua é maioritária.

Além disto, e já no que se refere ao movimento associativo, Lugo é uma cidade mais ativa do que se pode visualizar numa vista de olhos de fora da cidade. Inclusive Lugo foi desvalorada- e poda que entre alguns sectores do movimento popular ainda o seja- no resto do País. Os factos são teimosos, e não é casual que há uma década abrisse em Lugo o segundo espaço social normalizador da língua de todo o País, depois do de Artábria em Trás-Ancos. Durante esta última década e inclusive um bocado antes, Lugo tem tido um núcleo militante nacional-popular que forneceu coisas mui interessantes ao movimento galego, em todos os âmbitos e de diversos jeitos.

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