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Eli Rios: «A figura de Maria Solinho está amplamente tratada na nossa tradiçom mas (quase) todas som narradas com perspetivas masculinas»

PGL – Eli Rios é poeta. Está a levar a sua última obra, Maria, por diferentes espaços para a mostrar. O texto, prologado polo escritor Carlos Quiroga, debruça-se sobre a figura de Maria Solinha, canguesa do s. XVII condenada por bruxaria.

Vés de ganhar em 2013 o I Prémio de Poesia Figurante e de publicar na sua editora o poemário Maria. Que vai encontrar o/a leitor/a nesta obra?

Um poemário que precisa da pessoa que lê. Nom há respostas mas sim perguntas sobre cada quem tem de voltar sobre elas (se quiger).

Nom estamos perante uma poesia intimista nem de costumes. Maria traz até a tona do verso temas tam complexos, e com múltiplas leituras, como a sociedade patriarcal, o lesbianismo, a maternidade, a crise económica, a indefensom aprendida, a transmissom numa voz feminina…

Por que demorou tanto em ser umha mulher quem tratasse da figura de Maria Solinha, a priori, tam atrativa na perspetiva feminista?

A figura de Maria Solinho está amplamente tratada na nossa tradiçom: aí temos as músicas de Carlos Núñez e Teresa Salgueiro, Luar na Lubre, etc, a biografia feita por Encarna Otero, o filme A paixón de María Soliña… mas todas (excetuando a biografia antes mencionada) bebem da transmissom patriarcal, som narradas com perspetivas masculinas ou, simplesmente, repetem as estrofes escritas por Celso Emilio Ferreiro.

Maria nom procura o rigor histórico nem inventar nada. Só tenta fazer uma viagem ao futuro e “dar” uma oportunidade de “vingar-se” da injustiça a todas aquelas marias que nalgum momento foram silenciadas pela sociedade patriarcal. Recordemos que no processo contra Maria Solinho havia oito mulheres mais… Esta tentativa de “re-apropriaçom” da historia por parte das vozes femininas e a liberdade criativa usando umha personagem histórica é sempre bem vista na narrativa e com óticas patriarcais mas na poesia continua sendo “freak”. Por quê? Pois pelo mesmo que no tratamento informativo da morte dumha mulher se focaliza o “morbo”, pelo mesmo que as instituiçons acham que nom devemos gerir o nosso próprio corpo, pelo mesmo que um homem sente que nos agradam os comentários sobre o nosso físico quando caminhamos pela rua… Resta muito por andar nom só no feminismo mas também na educaçom das pessoas e isso nom se faz num dia. A literatura vai da mao da sociedade. Em pleno século XXI lembro o caso do Lusocuria da Verónica Martinez Delgado que trata o tema da sexualidade feminina e foi qualificado pela crítica como um libro “porco” dumha autora “frustrada”. Nessas estamos ainda aqui na Galiza…

No poemário dam-se umha rutura e umha mistura de linguagens, qual é o objetivo?

O poemário é filho da época atual assim que a mistura de linguagens é algo natural ao tempo em que se gera. A mesma temática também ajuda já que falamos dumha tradiçom trazida ao futuro e “re-construida”. Maria é umha visom retrofuturista que olha para o passado desejando colonizar esse futuro imaginado, a visom atual do futuro imaginado do ontem, o mundo de amanhá que nunca foi. E a linguagem tinha de ser coerente com a estrutura do poemário e que a pessoa que lê perceba essa distopia.

Além de Maria, publicaste o poemário nós escoitando o badalo de marienplatz e tés participado também em diferentes obras coletivas. Existe algum tipo de relaçom entre os teus livros anteriores e Maria?

A autora é a mesma (com umhas branca mais) e a voz poética é feminina mas além disso cada poemário tem a sua personalidade propia.

Desde quando é que escreves? é umha necessidade, umha vocaçom? Um desabafo?

Umha necessidade? Comer. Umha vocaçom? Ainda nom a descobrim. Um desabafo? Nadar.

Acho que nom entendo a poesia com umha visom olímpica porque as musas nunca tivérom interesse em passar pela minha casa e deixar-me um poemário, ali no computador, para quando acordasse de manhá. É um trabalho de que gosto mas um texto tem muitas horas de reflexom por detrás, muitas horas de investigaçom, documentaçom e demais. Gosto muito de escrever como forma de expressom mas quando tomo banhos de sol na praia nom estou a pensar em compor uma estrofe…

Tés morado em diferentes lugares da lusofonia (Cabo Verde, os Açores, Porto, Lisboa…), em que altura aconteceu e que representou para ti?

Tivem a sorte de conhecer a lusofonia num período de formaçom pessoal e abriu-me muitas possibilidades que ainda estou a explorar. Além da música, literatura, etc, que conhecim acho que o mais importante foi o “sentir-me em casa” a milhares de quilómetros como aconteceu jantando umha cachupa (cozido com milho) em Cabo Verde ou tomando banho nas mesmas águas galegas nos Açores. Partilhar referentes, língua, cultura,…, com a gente do lugar em que estás é importante para integrar-te e sentir-te bem e, a partir de aí, todo é aprender e crescer como pessoa.

E já para finalizar, quando serám os próximos lançamentos de Maria?

A 4 de abril na ivraria Lila de Lilith, Compostela; a dia 10 na livraria Trama, Lugo e a dia 11 na livraria Andel, Vigo.

 

 

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