Partilhar

Carla Nepomuceno: “A partir do momento em que comecei a estudar aqui, aproximei-me das obras de Rosalía de Castro, Pondal, Castelao e Xohana Torres”

Carla Nepomuceno nasceu em Porto Esperidião, no Estado brasileiro do Mato Grosso. Após obter o grau de licenciada em Artes e Humanidades pela UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso), ministrou aulas de História, Língua Portuguesa e Literatura em colégios públicos, trabalhou como tutora de educação a distância pela Universidade Aberta do Brasil (UAB-Capes) nas disciplinas de História da Educação e Fundamentos Teóricos e Metodológicos na Educação Infantil. Em 2004 cruzou o Atlântico com destino à Europa e chegou a Culheredo, perto da Corunha. Entretanto não finalizou o longo processo de convalidação da carreira, dedicou-se a dar aulas de português como professora particular, a fazer traduções e a complementar estudos.

Nepomuceno com alunas das suas aulas de português.
Nepomuceno com as suas alunas de português.

Neste ano passado, Carla tomou conhecimento da existência do grupo “O Mundo Fala Galego“. Foi convidada para entrar neste meio de comunicação intercontinental e agora é uma das participantes, junto com outro centenar de pessoas de Portugal, do Brasil e dos diferentes PALOP’S. Foi através do telefone que conheceu Christian Salles, Nilce Costa, Fernando Pinto Coelho, Belém Fontal ou Tito’s Tivane, com quem aprofunda no conhecimento da diversidade da Língua Galego-Portuguesa.

Professora Carla, fale-nos de como soube da existência da Galiza. As suas primeiras referências à nossa terra procedem de leituras particulares ou da orientação académica nos estudos de Filologia?

Sobre a existência da Galiza, tomei conhecimento quando cheguei em Espanha. Foi por alguns amigos que me diziam que havia um lugar em que se falava parecido com o português. Então passei a procurar informações sobre a história da Galiza e fiz uma descoberta importante.

No momento de chegar à Galiza participou nalgum grupo com pessoas dos outros países da nossa língua?

Infelizmente, não participo ativamente de nenhuma iniciativa em concreto. Nas redes sociais estou em alguns grupos que buscam essa aproximação. A existência desse grupo “O Mundo Fala Galego” ajudou-me muito para adquirir conhecimento sobre a questão da Galiza e penso que é um veículo importante.

Como foi a incorporação à nossa sociedade. Somos gente difícil de tratar?

Em geral, adaptei-me muito bem à Galiza. Suponho que como tudo, no início é um pouquinho complicado (o idioma, a gastronomia, modo de vida e hábitos diferentes). Mas é uma experiência enriquecedora e hoje sinto-me muito bem. Tenho parte da família aqui e isso ajuda muito.

“Em geral, adaptei-me muito bem à Galiza. Hoje sinto-me muito bem, tenho parte da família aqui e isso ajuda muito”

Agora mais a sério, é difícil a homologação de diplomas?

Em relação à carreira profissional, a minha solicitação de homologação do diploma demorou muito e como queria fazer o mestrado de professora de idiomas, sem a convalidação não era possível. Foi então que decidi matricular-me num mestrado na Universidade da Corunha: Literatura, cultura e diversidade enquanto esparava a homologação, que finalmente obtive.

Literatura, cultura e diversidade… muito sugestivo!

Optei por este mestrado porque tinha interesse na literatura galega e, por ser um mestrado semipresencial, poderia continuar com o meu trabalho. Por ser um mestrado com uma média de 20 alunos, as aulas foram produtivas e os professores contribuíram para isso, com pequenas exceções. Decidi matricular-me num mestrado de galego-português porque poderia continuar utilizando o meu idioma.

Aulas de português de Carla Nepomuceno.
Aulas de português de Carla Nepomuceno.

Deixando de lado aquelas “pequenas exceções”, ficou satisfeita com o mestrado?

Sim. Estou satisfeita com o curso e com os professores tanto do âmbito hispânico como do âmbito galego-português.

Sabendo que é especialista em língua e literatura -e, aliás, que se dedica profissionalmente ao ensino-, gostaríamos que nos oferecesse algumas sugestões de leituras brasileiras.

Gosto muito de José de Alencar, de Machado de Assis, de Rachel de Queiroz, de Clarice Lispector, de Jorge Amado, de Vinícius de Moraes… Alguns foram de leitura obrigatória no colégio. Também recomendo a leitura de autores da literatura contemporânea brasileira. Estou a falar de Ariano Suassuna, de Cora Coralina, da Nélida Piñón ou do Paulo Leminski; e não posso esquecer a recomendação da leitura do livro A Audácia, da Ana Maria Machado. Felizmente, agora também tenho algumas leituras da literatura galega.

Que bom! Gostamos muito dessa reciprocidade!

A partir do momento em que comecei a estudar aqui, aproximei-me das obras de Rosalía de Castro e de Pondal. Também de Castelao e Xohana Torres. Descobri o Centro Drámatico Galego (inclusive fiz um trabalho sobre), algumas obras de Luís Seoane e leituras sobre as Irmandades da Fala e o mariscal Pardo de Cela (fiz outro trabalho sobre ele), entre outros. Até entrei na música…

“A partir do momento em que comecei a estudar aqui descobri o Centro Drámatico Galego, algumas obras de Luís Seoane e leituras sobre as Irmandades da Fala e o mariscal Pardo de Cela”

Na música galega? Uma boa maneira de aprofundar na cultura nossa.

Já tive a oportunidade de escutar alguns representantes da música galega como Carlos Nuñez, Susana Seivane, Luar na Lubre e Uxía (tenho acompanhado seu trabalho através das redes sociais).

Com toda esta formação, como está agora o trabalho?

Realizo trabalhos de tradução para empresas (do português para o castelhano e vice-versa) e atuo como professora de português no Centro de Línguas da UDC (Campus de Ferrol). Para além disso, ministro cursos no Concelho da Corunha dentro de um programa de bolsas ACOREUROPA. Matriculei-me num doutoramento na Universidade de Santiago de Compostela na área dos Estudos culturais: memória, identidade, território e linguagem, mas infelizmente tive que deixá-lo por um tempo até que organize algumas questões profissionais.

AGAL organiza obradoiros de português para centros de ensino primário e secundário em Moanha

Saioa Sánchez, neofalante: “Para mim faz muito sentido falar galego se vais viver na Galiza”

Lançamento do livro “André”, de Óscar Senra, com Susana Arins em Vedra

AGAL e Concelho de Cotobade apresentam Leitura Continuada da República dos Sonhos

Queique de abacate e limão

O 39º COLÓQUIO DA LUSOFONIA decorrerá em Vila do Porto (Santa Maria, Açores) de 3 a 6 de outubro 2024

AGAL organiza obradoiros de português para centros de ensino primário e secundário em Moanha

Saioa Sánchez, neofalante: “Para mim faz muito sentido falar galego se vais viver na Galiza”

Lançamento do livro “André”, de Óscar Senra, com Susana Arins em Vedra

AGAL e Concelho de Cotobade apresentam Leitura Continuada da República dos Sonhos