Avelino, ‘Lucho do Peto’: um inovador no campo da agricultura

Partilhar

Por Adela Figueroa Panisse (*)

Avelino Pousa  Antelo foi o agrarista mais senlheiro da Nossa Terra. Hoje o campo galego está de luto. O seu compromisso com Galiza nasce do 33, quando escutou Castelão num mitim em Compostela, segundo ele mesmo confessou. Várias persoalidades da nossa cultura influíram no seu compromisso vital, desde Álvaro de la Casas até Valentim Paz Andrade, a quem dedicamos neste ano de 2012 o Dia das Letras Galegas.

Foi uma geração importante a de Avelino: de luzes e esperança e de sombras e frustrações. Um dos nossos maiores agraristas, o deputado Antom Alonso Rios, teve de fugir através de Portugal depois de andar disfarçado de pobre de pedir durante mais de um ano pela Galiza do sul, em 1937. Avelino foi danificado também pelo levantamento franquista, pois, ao igual que Ricardo Carvalho Calero, estava em Madrid no 18 de Julho de 36 para as oposições (de mestre Avelino, de catedrático Dom Ricardo). Como sabemos, Carvalho ficou por lá e incorporou-se às milícias da FETE para lutar em defesa da República.

O grande mérito de Avelino, ao meu modo de ver, é o enfoque de seu compromisso vital cara a Terra. A Galega em particular, mas a Terra em geral. Sempre pensou que se podia viver dignamente da agricultura, e por isso sempre andou envolvido na criação e gestão de cooperativas agro-gandeiras e na formação do pessoal agrícola. Com isso cumpria o ideário das mocidades galeguistas, às quais pertenceu, e do galeguismo em geral.

Castelão estava grandemente impressionado pela estrutura social e agrária da Dinamarca rural, em que o cooperativismo era a norma, e em geral os galeguistas consideravam que essa podia ser uma das soluções para o campo galego. Avelino assim o creu e assim o praticou.

Quando em 1948 Dom Antom Fernández fundou a Granja –Escola de Barreiros, em Sárria, chamou por Avelino para a dirigir. Hoje, a Granja de Barreiros continua com a sua função de inovação e produção agrária, combinada com o ensino, sob a direção de Sinhá Fernandez Puentes, filha do fundador. Neste lugar privilegiado introduziram-se em Galiza muitos dos cultivos que hoje consideramos de uso corrente, como espinafres ou acelgas.

Avelino também trabalhou como bolseiro na Missão Biológica da Galiza, sob as ordens de Dom Cruz Gallastegui, o grande cientista do agro galego, e lá conheceu muitas técnicas agrícolas que trespassou à Granja de Barreiros, mantendo sempre aberta esta corrente de comunicação entre ambas instituições.

Avelino teve o grande mérito de combinar a teoria com a prática no seu exercício vital. Sabendo que Galiza tem um enorme potencial agrícola, nunca perdeu de vista a conjunção do ensino com o saber fazer no cultivo do campo. O cooperativismo tarda em entrar na nossa Terra, mas vai, devagarzinho, entrando. Temos hoje a Cooperativa de Agro-ecologia Rainha Lupa em Quilmas, o Proxecto Amorodo, nas cercanias de Compostela, a do Monte Cabalar na Estrada, o das Zoca-Minhoca na Crunha e múltiplas associações de produção e de consumo baseadas no monte e no campo.

Temos que pensar que Avelino nos deixou uma grande herança que agradecemos e não só: cultivamos. Cultivar a Terra de maneira sustentável como pregoava Avelino é a chave para garantir o futuro, nom só dos galegos e galegas, mas em geral do mundo. Nós, como ecologistas, erguemos o monumento de lembrança a Avelino Pousa Antelo, pelo cuidado da Terra, pela sua humanidade, pela dedicação à Galiza que manteve até seu derradeiro alento, e por ser um homem simples, entranhável e amoroso para toda a humanidade.

Bem haja, Avelino.

 

 



 

(*) Adela Figueroa forma parte da diretiva da associação ambientalista ADEGA