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ALBERT EINSTEIN, A FAVOR DA PAZ E DA CIÊNCIA

Com o número 85 da série que estou a dedicar a grandes vultos da humanidade, que os escolares dos diferentes níveis devem conhecer, e que iniciei com Sócrates, desta vez escolhi, para comemorar também o Dia Escolar da Paz e da Não Violência, que desde há anos se celebra em muitos lugares do mundo cada 30 de janeiro, data na qual, em 1948, falecera pelos disparos de um fanático hindu, o grande defensor da paz que foi Mahatma Gandhi, a figura de um grande cientista, merecedor do Prémio Nobel de Física em 1921, e também um grande defensor do pacifismo, Albert Einstein (1879-1955). Que também foi muito amigo de Robindronath Tagore, com o qual se entrevistou em Berlim em julho de 1930.

PEQUENA BIOGRAFIA:

albert-einstein-foto-0Tenho por bem reproduzir a biografia de Einstein escrita no seu momento em “Info-Escola” pela brasileira Thais Pacievitch:

Albert Einstein nasceu na Alemanha, na pequena cidade de Ulm, no dia 14 de março, em 1.879. Seus pais Hermann Einstein e Pauline Koch eram judeus. O caráter e a biblioteca do pai foram importantes na formação de Albert Einstein. Nos primeiros anos de vida, Einstein teve dificuldades para se expressar através da fala e era lento para aprender, fato que, durante algum tempo, deixou seus pais preocupados. Nos primeiros anos escolares, Einstein não se destacava nem pelas notas nem pela regularidade com que ia à escola.

Aos nove anos ingressa numa instituição de ensino chamada Luitpold Gymnasium, local onde se interessa por geometria e álgebra, matérias nas quais progride rapidamente. Aos doze anos é um autêntico gênio das matemáticas e lê avidamente Leibniz, Immanuel Kant David Hume. Foi um problema para seus professores, visto que estes não sabiam responder suas perguntas nem refutar seus questionamentos. Possuía caráter individualista e alheio à disciplina prussiana, acaba sendo expulso do Gymnasium. Aos 16 anos abandona a religião judaica e, assim, liberta-se de todo e qualquer tipo de dogma e imposição ideológica.

Em 1.900, aos 21 anos, consegue graduar-se no Instituto Politécnico de Zurich, com as mais altas notas. Em 1.905, publica “Annalen der Physik”, trabalhos sobre eletrodinâmica, as dimensões moleculares, equivalência entre a massa inerte e a energia, o fenômeno fotoelétrico e os primeiros esboços sobre a Teoria da Relatividade, que anunciava o fato do movimento ser relativo aos corpos no espaço, visto que este carece de dimensões e limites e é igualmente relativo. Posteriormente Einstein aplica a teoria da relatividade ao tempo. Em seguida investiga o processo massa-energia, reduzindo ambas a uma só, mediante a sua conhecida fórmula E=mc². Seus estudos e questionamentos supõem o princípio da teoria atômica e da energia nuclear.

Em 1.909, começa a trabalhar como professor da Universidade de Zurich, atividade que logo desenvolveu em Praga e Berlin. Em 1.914, é nomeado professor da Academia Prussiana de Ciências e diretor do Kaiser Wihelm Institut. Separa-se da sua primeira mulher, Mileva Maric, e casa-se com Elsa Einstein. Em 1.915, completa o desenvolvimento da sua teoria da relatividade. Em 1.921, recebe o Prêmio Nobel de Física e, em 1.933, vê-se obrigado a deixar a Alemanha e partir para os EUA, perseguido pelo regime nazista como judeu e intelectual. Vive ali, em meio a leituras e estudos, ocupando o tempo ocioso com seu violino e colaborando com revistas científicas”.

OUTROS DADOS BIOGRÁFICOS:

a. A sua infância e formação:

Albert Einstein nasceu em Ulm, na Alemanha, no dia 14 de março de 1879. Filho de um pequeno industrial judeu, em 1880 mudou-se com a família para a cidade de Munique. Com seis anos de idade, incentivado pela mãe, começou a estudar violino. Logo cedo se destacou no estudo da física, matemática e filosofia. Depois do ensino secundário em Ulm, ingressou no Instituto Politécnico de Zurique, na Suíça, onde em 1900 concluiu a graduação em Física.

Em 1901 escreveu seu primeiro artigo científico “A Investigação do Estado do Éter em Campo Magnético”. Em fevereiro deste mesmo ano recebeu a cidadania suíça. Aceitou um lugar no departamento de patentes em Berna. Em 6 de janeiro de 1903 casou-se com Mileva Maric, com quem teve três filhos.

b. A sua Teoria da Relatividade (formulação inicial):albert-einstein-capa-livro-2

Em 1905, ano em que concluiu o doutorado, Albert Einstein remeteu para a “Revista Anais de Física”, Leipzig, Alemanha, trinta folhas com quatro artigos, entre eles a “formulação inicial” da sua famosa “Teoria da Relatividade”, que revelaram ao mundo uma visão inteiramente nova do Universo, e propôs uma formula para a equivalência entre massa e energia a célebre equação E = mc², pela qual a energia (E) de uma quantidade de matéria, com massa (m), é igual ao produto da massa pelo quadrado da velocidade da luz, representada por (c).

Depois da publicação dos artigos seu talento foi reconhecido. Em 1909, com 30 anos, tornou-se professor de Física na Universidade de Zurique e no ano seguinte estava lecionando na Universidade de Praga (que fazia parte do Império Austro-Húngaro). Em 1912 ocupou a cadeira de Física, da Escola Politécnica Federal da Suíça. Em 1913, foi nomeado professor para a Universidade de Berlim e diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Física. Torna-se membro da Academia de Ciências da Prússia. 

c. Teoria da Relatividade Geral:

Em 25 de novembro de 1915, ele subiu ao palco da Academia de Ciências da Prússia e declarou ter concluído sua exaustiva pesquisa de uma década em busca de um entendimento novo e mais profundo da gravidade. A Teoria da Relatividade Geral, afirmou Einstein, estava pronta. A nova e radical visão das interações entre o espaço, o tempo, a matéria, a energia e a gravidade foi um feito reconhecido como uma das maiores conquistas intelectuais da humanidade.

d. O seu Prêmio Nobel de Física:

Em 1919, Einstein tornou-se conhecido em todo o mundo, depois que sua teoria foi comprovada em experiência realizada durante um eclipse solar. Em 1921, Albert Einstein foi agraciado com o “Prêmio Nobel de Física” por suas contribuições à física teórica e, especialmente por sua descoberta da lei do efeito fotoelétrico. No dia 10 de novembro de 1922, durante a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel de Física, Einstein estava no Japão e não pode recebê-lo pessoalmente. Foi representado, na cerimônia de entrega, pelo embaixador alemão na Suécia.

e. A sua visita ao Brasil:

Albert Einstein começou a viajar pelo mundo para expor suas teorias físicas e também para debater problemas como o racismo e a paz mundial. No dia 4 de maio de 1925 chegou ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil, sendo recebido pelo presidente Artur Bernardes. Entre outros compromissos, visitou o Jardim Botânico, o Observatório Nacional, o Museu Nacional e o Instituto Oswaldo Cruz. Em 1932 partiu de Berlim para uma visita a Califórnia, pois sabia que em breve o nazismo controlaria toda a Alemanha.

f. Os seus últimos anos:

Em 1933, Albert Einstein renunciou a seus cargos na Alemanha, onde os nazistas já estavam no poder e retornou para os EUA. Passou a lecionar no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton, do qual se tornaria diretor. Em 1940 ganhou cidadania norte-americana. Em 1946 apoiou projetos de formação de um governo mundial e a troca de segredos entre as grandes potências atômicas, almejando a paz mundial.

Albert Einstein faleceu em Princeton, Estados Unidos, no dia 18 de abril de 1955.

g. A sua Teoria da Felicidade:

Em novembro de 1922, Albert Einstein estava numa turnê no Japão, realizando conferências e instalado no Hotel Imperial em Tóquio, ao invés de dar uma gorjeta ao carregador de malas, o cientista entregou-lhe duas notas manuscritas explicando como alcançar a felicidade e entregou ao carregador. Uma nota escrita em papel timbrado do hotel diz: “Uma vida simples e tranquila traz mais alegria que a busca pelo sucesso em uma inquietação constante”. A outra nota, escrita em folha simples, diz: “Onde há um desejo, há um caminho”.

As folhas manuscritas, nas quais Albert Einstein explica como alcançar uma vida feliz, que estavam em poder de um parente do carregador do hotel, foram leiloadas no dia 24 de outubro de 2017, na casa de leilões Winner, por 1,56 milhão de dólares.

h. Sete de suas frases:

A única finalidade da educação deve consistir em preparar indivíduos que pensem e ajam como indivíduos – independentes e livres”.

“Se minha teoria da relatividade revelar-se correta, a Alemanha afirmará que sou alemão, enquanto a França declarará que sou cidadão do mundo. Mas se minha teoria fracassar, a França lembrará que sou alemão, e a Alemanha recordará que sou judeu.”

“O grande problema da humanidade não está no domínio da Ciência, mas no domínio dos corações e das mentes humanas.”

“A vida é um ininterrupto vir a ser, jamais um ser puro e causal.”

A paz não pode ser mantida à força. Somente pode ser atingida pelo entendimento”.

“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos”.

Além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos”.

Nota: Na Wikipédia há uma muito ampla e documentada biografia dedicada a Einstein, que pode ser consultada entrando na ligação: https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS:

1. Biografia de Albert Einstein.

Duração: 41 minutos. Produtora: História Channel (2017).

https://www.youtube.com/watch?v=dsKSZsW-ZVo

2. O extraordinário gênio de Albert Einstein.

Duração: 91 minutos.

3. Albert Einstein.

Duração: 91 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=SJ-rabSp5ec

4. Episódio biográfico de Albert Einstein.

Duração: 46 minutos.

Ver em: https://www.biography.com/video/albert-einstein-full-episode-2073090093

5. Documentário em português sobre Einstein.

Duração: 17 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=06IZgdxWbHs

6. A história de Albert Einstein: Gênio de mente brilhante.

Duração: 90 minutos (dublado ao português).

https://www.youtube.com/watch?v=sVPFaq6yYVs

7. Série sobre Einstein da National Geographic.

Ver em: https://oglobo.globo.com/cultura/serie-retrata-os-dramas-da-vida-de-albert-einstein-21243708

CONVERSA-DIÁLOGO ENTRE EINSTEIN E TAGORE (Berlim: 14 de Julho de 1930):

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EINSTEIN: Você acredita no Divino como separado do mundo?

TAGORE: Sem separação. A personalidade infinita do Homem compreende o Universo. Não existe nada que não possa ser absorvido pela personalidade humana, e isso prova que a Verdade do Universo é a Verdade humana.
Eu tomo de um fato científico para explicar isso – Matéria é composta de protões e eletrões, com espaços entre eles; mas a matéria pode parecer sólida. Similarmente a humanidade é composta de indivíduos, ainda assim eles tem interconexões de relacionamento humano, o que dá unidade ao mundo humano. O universo inteiro está ligado a nós de maneira similar, é um universo humano. Eu tenho perseguido este pensamento através de arte, literatura e da consciência religiosa do ser humano.

EINSTEIN: Existem duas conceções diferentes sobre a natureza do universo: (1) O mundo como unidade dependente da humanidade. (2) O mundo como realidade independente do fator humano.

TAGORE: Quando nosso universo está em harmonia com o Homem, o eterno, nós conhecemos isso como Verdade, nós sentimos isso como beleza.

EINSTEIN: Esta é conceção puramente humana do universo.

TAGORE: Não pode haver outra conceção. Este mundo é um mundo humano- a visão científica dele também é a visão do homem científico. Existe um princípio comum de razão e apreciação que lhe confere Verdade, o princípio comum do Homem Eterno, cujas experiências se dão através de nossas experiências.

EINSTEIN:
 Isto é realização da entidade humana.

TAGORE: Sim, uma entidade eterna. Nós temos que tomar consciência disso através de nossas emoções e atividades. Nós realizamos em nós o Homem Supremo que não tem limitações individuais através de nossas limitações. Ciência ocupa-se daquilo que não está limitado aos indivíduos; é o mundo humano impessoal das Verdades. Religião realiza estas Verdades e as liga às nossas necessidades mais profundas; nossa consciência individual da Verdade adquire significação universal. Religião adiciona valores à Verdade, e nós reconhecemos essa Verdade como boa através de nossa própria harmonia com ela.

EINSTEIN: Verdade, então, ou Beleza, não é independente do Homem?

TAGORE: Não.

EINSTEIN: Se não houvessem mais humanos, o Apolo de Belvedere não continuaria sendo belo.

TAGORE: Não.

EINSTEIN: Eu concordo no que se refere à conceção de Beleza, mas não em relação à Verdade.

TAGORE: 
Por que não? Verdade é realizada através do ser humano.

EINSTEIN:
 Eu não posso provar que minha conceção está certa, mas esta é minha religião.

TAGORE: Beleza está no ideal da harmonia perfeita que está no Ser Universal; Verdade a compreensão perfeita da Mente Universal. Nós indivíduos nos aproximamos disso através de nossos próprios erros e desatinos, através de nossa experiência acumulada, através de nossa consciência iluminada – de que outra forma, se não essa, podemos conhecer a Verdade?

EINSTEIN: Eu não posso provar cientificamente que Verdade precisa ser concebida como a Verdade que é válida independente da humanidade; mas eu acredito nisso firmemente. Eu acredito, por exemplo, que o teorema de Pitágoras na geometria determina algo que é aproximadamente verdadeiro independente da existência do homem. De qualquer forma, se existe uma realidade independente do homem, também existe a Verdade relativa a esta realidade; e de certa forma a negação da primeira gera a negação da existência da seguinte.

TAGORE: Verdade, que é uma com o Ser Universal, precisa essencialmente ser humana, senão o que quer que nós humanos concebamos como verdadeiro não pode ser chamado de verdade – ao menos a Verdade que é descrita como científica e que pode apenas ser alcançada através do processo da lógica. Em outras palavras, através de um órgão de pensamentos que é humano. De acordo com a Filosofia Indiana, existe Brahman, a Verdade absoluta, que não pode ser concebida pelo isolamento da mente individual ou descrita por palavras, mas que pode apenas ser realizada pela completa fusão do individual em seu infinito. Mas tal Verdade não pode pertencer à Ciência. A natureza da Verdade que nós estamos discutindo é uma aparência – dito isso, o que aparenta ser verdadeiro à mente humana, e portanto é humano, e pode ser chamado de maya ou ilusão.


EINSTEIN: Então, de acordo o seu entendimento, que pode ser o entendimento indiano, não é a ilusão do indivíduo, mas da humanidade como um todo.

TAGORE: As espécies também pertencem a uma unidade, à humanidade. Portanto a mente humana inteira realiza Verdade; a mente indiana ou a europeia encontram-se em uma realização partilhada.


EINSTEIN:
 A palavra espécies é usada em alemão para todos os seres humanos, na verdade, até mesmo os macacos e os sapos pertencem a isso.

TAGORE: Em ciência nós aplicamos a disciplina de eliminação das limitações pessoais de nossas mentes individuais e assim atingir aquela compreensão da Verdade que é a mente do Homem Universal.

EINSTEIN: O problema começa se por acaso a Verdade é independente de nossa consciência..

TAGORE: O que nós chamamos verdade reside na harmonia racional entre os aspetos objetivos e subjetivos da realidade, ambos os quais pertencem ao homem supra-pessoal.

EINSTEIN: Até mesmo em nossa vida diária nos sentimos compelidos a atribuir uma realidade independente do homem aos objetos que usamos. Nós fazemos isso para conectar a experiência de nossos sentidos de uma maneira razoável. Por exemplo, se ninguém está em casa, ainda assim a mesa permanece onde está.

TAGORE: Sim, permanece fora da mente individual, mas não fora da mente universal. A mesa que percebo é percebida pela mesma forma de consciência que eu possuo.

EINSTEIN: Se ninguém estiver na casa, a mente continuará a existir da mesma forma – mas isto já está invalidado do nosso ponto de vista – porque nós não podemos explicar o que significa a mesa estar lá, independente de nós.
Nosso ponto de vista natural em relação à existência da verdade separada da humanidade não pode ser explicado ou provado, mas é uma crença da qual ninguém pode se abster – nem mesmo seres primitivos. Nós atribuímos à Verdade uma objetividade super-humana; é indispensável para nós, essa realidade que é independente de nossa existência e de nossa experiência e de nossa mente – apesar de não conseguirmos dizer o que isso significa.

TAGORE: A ciência tem provado que a mesa como um objeto sólido é uma aparência e no entanto aquilo que a mente humana percebe como mesa não existiria se essa mente fosse anulada. Ao mesmo tempo é preciso admitir que o fato, que a última realidade física é nada senão uma série de centros circulatórios de força elétrica separados, que também pertencem à mente humana.
Na apreensão da Verdade existe um conflito eterno entre a mente humana universal e a mesma mente confinada no indivíduo. O perpétuo processo de reconciliação tem sido levado adiante através de nossa ciência, filosofia, em nossa ética. Em todo caso, se existir alguma Verdade absolutamente não relacionada à humanidade, então para nós é absolutamente não-existente.
Não é difícil imaginar uma mente para a qual a sequência de coisas acontecem não no espaço mas apenas no tempo, como a sequência de notas em música. Para tal mente, tal conceção de realidade é igual à realidade musical na qual a geometria de Pitágoras pode não ter significado. Existe a realidade do papel, infinitamente diferente da realidade da literatura. Para o tipo de mente possuída pela traça que come aquele papel, literatura é absolutamente não existente, ainda que para a mente do Homem literatura tenha um valor maior de Verdade que a realidade mesmo do papel. De uma maneira similar, se há alguma Verdade que não tem sensorialidade ou relação racional com a mente humana, permanecerá como nada enquanto permanecermos seres humanos.

EINSTEIN: Então eu sou mais religioso do que você!

TAGORE: Minha religião é a reconciliação do Homem Supra-pessoal, o espírito humano universal, no meu próprio ser individual.

O PACIFISMO DE ALBERT EINSTEIN:

O professor universitário português Jorge Filipe de Almeida escreveu o 14 de fevereiro de 2018 um interessante depoimento sobre o pacifismo de Einstein, que merece muito a pena reproduzir aqui:

Três datas, todas elas significativas na história do século XX, foram marcos na percetível evolução da atitude de Einstein: 1914, que viu a eclosão da Grande Guerra; 1933, ano da subida de Hitler ao poder, e 1945, marcado pelas duas explosões atómicas sobre o Japão.

O talento científico de Einstein e a sua habilidade técnica não eram de nenhuma forma espetaculares, mas, bem pelo contrário, ultrapassados por mais do que um dos praticantes da arte. No sentido estrito, pode bem dizer-se que Einstein não tinha um dom especial para a ciência. Caracteristicamente sua era aquela prodigiosa finura sem a qual a mais apaixonada curiosidade teria permanecido ineficaz: essa autêntica magia que transcende a lógica e que distingue o génio da massa dos outros homens – que, com maior talento, têm menos valor…”

Este juízo consta da excelente biografia de Einstein escrita pelo físico Banesh Hoffmann, em colaboração com Helen Dukas, “Albert Einstein, Creator and Rebel” (1972). Ambos conheceram o grande físico bem de perto: o primeiro privou cientificamente com ele em Princeton e assim teve a oportunidade de testar os limites da “inteligência algorítmica” do seu mentor; a segunda foi a secretária pessoal e de alguma forma a governanta de Einstein ao longo de quase três décadas, e, após a morte daquele, sua zelosa testamenteira. O próprio biografado fora ainda mais sucinto na sua autoanálise: “Deus deu-me a teimosia de uma mula, mas também um fino olfato”. Juntem-se-lhes o espírito artístico, o verbo imaginativo e despretensioso, tantas vezes nimbado de ironia, e compreender-se-á facilmente a razão da popularidade de muitos dos aforismos de Einstein. Não foi o grande Albert considerado pela revista “Time” [31.12.1999] como a personalidade do século XX?

Assinale-se o recente anúncio do “Bulletin of the Atomic Scientists” (publicação de que Einstein foi colaborador de primeira hora): o aparentemente pequeno, mas significativo, avanço do Doomsday Clock em meio minuto, colocando-o assim a dois minutos da fatídica meia-noite, simbolizando esta o holocausto nuclear. Desde 1947, os sucessivos avanços e recuos dos ponteiros daquele relógio têm pautado o correspondente toldar ou desanuviamento da situação internacional. Registe-se como, preocupantemente, desde 1995 o Doomsday Clock tem sofrido unicamente avanços, suspendendo-o a dois minutos da meia-noite, mínimo só verificado no período de 1953-1960, em plena Guerra Fria.
Assim, torna-se oportuno recordar aquela que foi uma verdadeira tónica nas intervenções de Einstein, homem público: o seu inveterado pacifismo. Três datas, todas elas significativas na História do século XX, foram marcos na percetível evolução da atitude de Einstein: 1914 – que viu a eclosão da Grande Guerra; 1933 – ano da subida de Hitler ao poder; 1945 – marcado pelas duas explosões atómicas sobre o Japão.

1914: três contra a centúria

No mês de agosto de 1914, muitas capitais europeias saudaram o começo das hostilidades com grande entusiasmo patriótico. Assim, dois meses mais tarde, não terá sido difícil reunir as assinaturas de quase uma centena (93) de personalidades da vida cultural alemã em apoio de um manifesto que enfaticamente tentava desculpabilizar a Alemanha e o seu Kaiser da responsabilidade no desencadear da guerra ou de qualquer comportamento criminoso no decurso da então recente ocupação da Bélgica pelas tropas alemãs. Cientistas, literatos e artistas de renome coassinaram o manifesto. Dez deles haviam sido galardoados com o Nobel e a lista incluía vários judeus, entre os quais dois dos conselheiros mais ouvidos pelo Kaiser, sendo Walther Rathenau um deles. No entanto, no meio dessas justificações figurava já naquele manifesto, qual “ovo da serpente”, uma frase do seguinte teor: “Aqueles [essencialmente, a França e o Reino Unido] que se aliaram com os Russos e os Sérvios, e que deram ao mundo o vergonhoso espetáculo de incitarem os Mongóis e os Negros contra a raça branca, não têm qualquer direito de se autodenominarem defensores da civilização”.

Einstein, já então um membro respeitável da comunidade científica alemã, recusou-se a assinar o «Manifesto dos 93». Em contrapartida, disponibilizou a sua assinatura para um “Manifesto aos Europeus”: um texto pacifista que não chegaria a ser publicado, dado o magro apoio que suscitou: um total de três assinaturas!

Note-se que Einstein acabara de conquistar no início daquele mesmo ano uma invejável situação profissional e que o seu prestígio estava ainda então limitado ao meio científico. Com justiça, a sua atitude corajosa, tomada a contracorrente do entusiasmo nacionalista que inflamara a grande maioria dos colegas, iria facilitar a eclosão brusca da sua celebridade mundial após a derrota da Alemanha. Tal celebridade teve origem num artigo do jornal “Times” de Londres (7.11.1919), seguido de outro no “New York Times”, que reportava uma confirmação experimental da teoria relativista da gravitação, completada quatro anos antes e que era considerada como a maior contribuição para a Física Teórica desde Newton. De um dia para outro, o mundo retinha a peculiar figura de um cientista que, através dos seus dons superiores de abstração e de virtuosismo matemático alterara, como um verdadeiro demiurgo, a própria tessitura do espaço e do tempo. Talvez a lassidão coletiva sentida no final da Grande Guerra tivesse predisposto a sociedade para a contemplação de algo mais elevado.

Na primavera de 1921, Einstein efetuou uma viagem aos Estados Unidos em apoio da Causa Sionista. Com a conivência da imprensa norte-americana, o périplo do físico tornou-se um acontecimento e fez dele uma verdadeira celebridade mundial. A partir de então sua a opinião sobre os mais variados assuntos tornou-se o alvo da maior curiosidade.

A correspondência epistolar com luminares de então trata muitas vezes da questão da Paz. As ações do Mahatma Gandhi, desenvolvidas por esses anos, ganharam a sua admiração consistente (ao ponto de um retrato do líder indiano vir a decorar o seu estúdio em Princeton, acompanhando os de Faraday e de Maxwell, os criadores do conceito do campo físico, talvez a ferramenta mental por excelência de Einstein).

Em 1931, o Instituto para a Cooperação Intelectual (afiliado à Sociedade das Nações) convidou Einstein para encetar uma troca de ideias por escrito sobre a política e sobre a paz com uma personalidade à sua escolha. Sigmund Freud foi o eleito e o diálogo desenvolvido pelos dois homens daria origem em 1933 – ano fatídico – ao livro “Porquê a Guerra?”

Em circunstâncias menos conturbadas, o apoio moral que Einstein tentara dar ao regime de Weimar, ao longo da década de 1920, poderia ter sido um contributo de monta. Figura destacada da vida berlinense, o físico disponibilizou-se para ações simbólicas de boa vontade e de reconciliação entre os adversários da Grande Guerra. No entanto, a essência suave da tolerância e da racionalidade estava destinada a volatilizar-se no caldeirão de sentimentos desencontrados da alma germânica. Aliás, o limite à intervenção de um judeu na política alemã tinha sido marcado pelo assassínio de Rathenau, em 1922. Esse verdadeiro talento multifacetado – herdeiro do império industrial AEG, financeiro reputado, doutorado em Física, pianista competente e, sem surpresa, conviva de Einstein – acrescentara ao sucesso material e intelectual o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros e pagou por isso com a vida.

1933: o pacifismo absoluto deixa de ter sentido

Se até 1924 a vida política alemã foi extremamente conturbada (o célebre putsch de Hitler ocorreu em novembro de 1923), o período seguinte, até ao final da década, assistiu a uma distensão. Contudo, no final de outubro de 1929, o colapso da bolsa nova-iorquina iria implicar uma severa crise económica que toldaria a vida política internacional, encetando os sombrios anos trinta. O período de 1930 a 1933 assistiu à surpreendente ascensão política de Hitler. Quando este foi nomeado chanceler (30.1.1933) Einstein encontrava-se fora da Alemanha para nunca mais regressar ao seu país natal.

O facto de um antissemita mais enraivecido ter chegado a oferecer um prémio pela eliminação física de Einstein dá-nos a medida do espírito conturbado daquela época. Ao atravessar o Atlântico rumo aos EUA, abandonando a velha Europa para sempre no final de 1933, Einstein fugira a um perigo bem real, tendo, quiçá, evitado o destino de Walther Rathenau. Aliás, alguns familiares seus acabariam por perecer no Holocausto. 

Como tantos outros intelectuais, Einstein mostrou incompreensão pelo poder de atração demoníaco do Nazismo sobre os seus concidadãos. No entanto, se bem que de início tivesse encarado Hitler como demasiado radical e primitivo para se poder assenhorear da Alemanha, uma vez o facto consumado, Einstein tornou-se de imediato apologista de uma resistência determinada à previsível agressão alemã à Europa, apartando-se do movimento pacifista tradicional.
É nesta veia que, em conjunto com Leo Szilard, envia em agosto de 1939 ao Presidente Roosevelt uma célebre missiva alertando para a hipótese alarmante de os nazis desenvolverem uma arma nuclear. A carta apelava a que os norte-americanos começassem sem delongas o seu próprio projeto. 

Talvez a fama de Einstein como pacifista progressista tenha desaconselhado a sua contratação à direção militar do Projeto Manhattan. Este arrancaria em pleno no final de 1941, envolvido no maior secretismo. No entanto, entre 1943 e 1946 o físico colaborou com a marinha dos EUA num trabalho relativo a explosivos convencionais. Confira-se assim para onde a premente luta contra a tirania nazi relegara o pacifismo de antanho.

Após 1945, quando a enormidade dos crimes do regime nazi foi conhecida em toda a sua extensão, o corte emocional com a sua Alemanha natal tomou um cunho irreversível. Uma severidade inapelável apoderou-se então da sua alma, ao contrário da compaixão demonstrada no início dos anos vinte, face às injustiças que o espírito vindicativo de Versailles infligira à Alemanha. Desta vez, nem mesmo o plano Morgenthau, que teria inaceitavelmente privado a Alemanha da sua infraestrutura industrial, base da sua subsistência, lhe pareceu excessivo. 

1945: “O weh!”

O weh!” – tal foi a interjeição de Einstein (a expressão alemã designa desapontamento e corresponderá a um «Deus meu!») quando, na manhã de 6 de agosto de 1945, recebeu a notícia da explosão atómica sobre Hiroxima. Einstein foi surpreendido pela possibilidade de miniaturização da arma atómica, que permitira o seu lançamento de avião sobre uma cidade, com a letalidade consequente.

Como já foi referido, nesse mesmo ano de 1945, apadrinhou, em conjunto com vários cientistas do Projeto Manhattan, a criação do “Bulletin of the Atomic Scientists”. Nos dez anos que se seguiram até à sua morte (18.4.1955), Einstein seria infatigável nos alertas perante a ameaça nuclear. Como justa coda à sua vida de pacifista, um manifesto que apelava à concórdia internacional face ao perigo da aniquilação – conhecido como Manifesto de Russell-Einstein, embora reunisse dez Prémios Nobel num total de onze assinaturas – foi o último texto a ter assento sobre a sua mesa de trabalho.

Já referimos como os aforismos de Einstein captaram a imaginação de tantos de nós. Assim, escolhem-se alguns que resumem com simplicidade a sua atitude perante a grave e perene dualidade da paz e da guerra.
“As raízes psicológicas da guerra têm, na minha opinião, origem nas características agressivas da criatura do sexo masculino”. (1915) Triste, controverso (especialmente nestes tempos em que o masculino e o feminino tendem a ser confundidos), mas terrivelmente verdadeiro.

Não acredito que a civilização venha a ser erradicada numa guerra travada com a bomba atómica. Talvez dois terços da população mundial perecesse, mas um número suficiente de homens pensantes e de livros ficariam disponíveis para recomeçar e a civilização seria restaurada”. (1946) A arma termonuclear, surgida meia dúzia de anos mais tarde, poderia levar Einstein a retractar-se, pois o poder destrutivo dela é várias ordens de grandeza superior à arma conhecida em 1946. Apesar de tudo, a previsão poderá aproximar-se da realidade. Possivelmente, no período posterior à hipotética conflagração, a ciência seria vigiada ou mesmo erradicada como erva daninha. Esse mundo, no qual poderia repetir-se um episódio semelhante ao de Galileu face à Inquisição, seria, decerto, abominável a Einstein.

Desconheço como será travada a Terceira Guerra Mundial, mas posso afirmar-lhe quais serão os utensílios da Quarta – pedras!” (1949) Uma nota de humor negro, mas que lança justificadas dúvidas sobre a rapidez de recomposição e o nível da civilização desse hipotético pós-guerra.

Mas, com o Doomsday Clock a dois minutos da meia-noite, o assunto é demasiado sério para acabar-se em tom de ironia. Assim, cite-se Albert Einstein (1945) mais uma vez, e sem comentários: “As balas matam os homens, mas as bombas atómicas matam as cidades. Um tanque é uma defesa contra uma bala, mas não há defesa contra uma arma que pode destruir a civilização… A nossa defesa consiste na lei e na ordem”.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Albert Einstein, a sua obra, as suas ideias, o seu pensamento e a sua defesa da ciência e da paz. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.

Podemos organizar no nosso estabelecimento de ensino um Livro-fórum, lendo antes todos, estudantes e docentes, um dos livros escrito por Einstein. Dentre eles podemos escolher o intitulado Como vejo o mundo, editado em 1981 pela editora brasileira Nova Fronteira, de que existe uma nova edição na mesma editora do ano 2016.

AGAL organiza obradoiros de português para centros de ensino primário e secundário em Moanha

Saioa Sánchez, neofalante: “Para mim faz muito sentido falar galego se vais viver na Galiza”

Lançamento do livro “André”, de Óscar Senra, com Susana Arins em Vedra

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