Neste ano 2021 há 40 anos desde que o galego passou a ser cosiderada língua co-oficial na Galiza, passando a ter um estatus legal que permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relagada pola ditadura franquista. Para analisar este período, iremos realizar ao longo de todo o ano, umha série de entrevistas a diferentes agentes sociais para darem-nos a sua avaliaçom a respeito do processo, e também abrir possíveis novas vias de intervençom de cara o futuro.
Desta volta entrevistamos Mário Herrero, tradutor, doutor, poeta e autor dos ensaios A normalização linguística, uma ilusão necessária, e também Guerra de grafias, conflito de elites, ambos editados por Através.
Qual foi a melhor iniciativa nestes quarenta anos para melhorar o status do galego?
Se se tratar do status litúrgico, obviamente a legislação linguística autonómica: uma forma de galego, muito bem definida no gráfico, isto é, no ideológico, e muito bem controlada no político-administrativo, isto é, no práxico, devém língua de poder. Mas, claro, isso era obrigatório para construir o artefacto central: a grande ilusão da “normalización”, isto é, a política fática de procurar a normalização social do castelhano. Se se tratar do status social, vital: a persistência do movimento de revindicação linguística, mas infelizmente concentrado em requerer do Reino de Espanha algo que o Reino de Espanha não pode fazer porque iria contra o seu próprio ser nacional. A política do salvífico, da incompreensão e do desinteresse por conhecer o funcionamento sociolinguístico real, não o imaginário, não o desejado. A melhor iniciativa é, sem dúvida, a criação das escolas Semente.
Se se tratar do status social, vital: a persistência do movimento de revindicação linguística, mas infelizmente concentrado em requerer do Reino de Espanha algo que o Reino de Espanha não pode fazer porque iria contra o seu próprio ser nacional.
Se pudesses recuar no tempo, que mudarias para que a situação na atualidade fosse melhor?
Trabalhar lá onde o nacionalismo linguístico galego claudicou, vítima de uma cegueira ideológica pré-moderna, estatolátrica ad nauseam: concentrar-se de forma quase exclusiva na construção de uma rede cooperativa escolar à margem do Reino, forte, extensa e útil. Autogerida, libertária. O assalto dos céus escolares nacionalizadores espanhóis resultou numa derrota absoluta, como não podia ser de outra forma. Quarenta anos perdidos e uma situação infelizmente irrecuperável.
Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?
Convertermo-nos ao judaísmo e construirmos um novo Estado teocrático. Talvez. Além disso, continuarmos na organização nas margens do Reino. Autogestão, alegria, que não esperança, e resistência. Temos produtos a vender, mesmo sem nos sairmos da criminal lógica capitalista, mas o nosso mercado não pode ser o do capitalismo (nem do industrial terminal nem do financeiro). Somos mais de feiras e feirões. Especialmente de feiras francas. Mas com gente que pensa que ainda vivemos no capitalismo industrial pouco se pode fazer. O colapso irá apanhar-nos no meio de uma manifestação pola manutenção de fábricas concebidas no século XIX. E ainda haverá quem fique surpreendido.
Achas que seria possível que a nossa língua tivesse duas normas oficiais, uma similar à atual e outra ligada com as suas variedades internacionais?
De facto, sim, é possível. Mesmo o nacionalismo espanhol pode assumir isso. Em certo sentido, já o assumiu. Eu nunca quis partilhar esmolas espanholas, explorar os capitais (monetários ou simbólicos) das cativas leiras cedidas, das terras ermas de uma literatura qualitativamente muito fértil mas socialmente inútil, cadavericamente formosa. Eu queria é a hegemonia cultural num espaço entre iguais, em que a questão da norma gráfica fosse a menos importante. Seja como for, tal binormativismo não serviria para reverter a deriva no único plano que realmente importa: o social. Seria mais uma ilusão. Desenganem-se. E desenganem o doente. O seu estado é terminal. Ficam os cuidados paliativos e uma morte em condições dignas. Só sobre esta base a dor pode ser mesmo tolerável.
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