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Valentim Fagim e José Ramom Pichel: «Nom há outra: ser galego tem de ser mundial»

Pablo Blanco (*) – Valentim Fagim e José Ramom Pichel som os autores de O galego é uma oportunidade. A tese central do livro, expressa no próprio título, aponta para o entendimento da língua galega como um recurso valioso que precisa de ser ativado neste momento histórico preciso.

PB: Quais som as razões que vos levárom a defender esta ideia?

Valentim Fagim: Todos os governos, hoje mais do que nunca, gostam de falar em termos de gestom e de eficácia. Deste ponto de vista, a prori tam neutro e inodoro, estamos certos que a gestom da língua galega na Galiza seria avaliado pola Moody´s como C, especulativo.

José Ramom Pichel: Estamos acima de um tesouro, umha língua que é nossa (os galegos/as) mas também deles (brasileiros/as, portugueses/as, angolanos/as, etc.). Um tesouro que podemos decidir se é ou nom é mais operativo a nível internacional. E agora que as estatísticas de falantes som muito desalentadoras, é o momento de dar umha viragem à estratégia feita até agora. Temos de apostar por umha via norueguesa com duas estratégias para o nosso idioma, umha estratégia local (a oficial) e umha estratégia local e internacional (a reintegracionista). Ganhamos todos e todas. Entre 2014 e 2016, Brasil vai estar em todos os ecráns galegos, e provavelmente entrará em espanhol. De nós depende, que entre no seu jeito de falar o galego, conhecido internacionalmente como português.

PB: O vosso trabalho parece dirigir-se a um público-alvo muito amplo, que inclui sectores da populaçom que nom se encontram vinculados espontaneamente ao uso da língua galega ou ao galeguismo. Achais que é possível restaurar um consenso em torno à promoçom do galego como um ativo estratégico?

VF: Para além de ser possível ou nom, o certo é que nom há outra hipótese. Só se conseguirmos que a língua galega seja vista como umha riqueza e umha “fortuna histórica” para o grosso da populaçom e esta visom passe a formar parte disso que chamam o “senso comum” é que garantiremos a sua transmissom intergeneracional. Enfim, ser galego tem de ser Mundial.

JRP: O galego e as suas possibilidades internacionais devem ser umha fortaleza aproveitável por todos os galegos independentemente das suas conceições de como deve ser o mundo. Cada um, cada umha, pode digerir de um jeito ou outro este alimento, chamado língua.

PB: O livro tem um carácter prático e orientaçom pedagógica. Qual é o intuito desta abordagem?

VF: Umha das mudanças do reintegracionismo neste século que vivemos é a vontade de comunicar com os que nom pensam como nós. Este livro segue esse percurso. Nom basta com ter bons argumentos, é preciso argumentar com empatia, colocando-se no lugar do outro. Este é um livro que gostaria de ter quando, com 19 anos, descobrim que o galego nom era aquilo que me ensinárom no sistema educativo.

JRP: Do meu ponto de vista, dei-me de conta que era preciso mudar a estratégia e portanto o discurso com a língua. A nossa língua, como qualquer língua, é um jeito de ver o mundo, um conhecimento humano que nom nos podemos permitir o luxo de perder. Mas, para além disso, é umha língua com umha enorme potencialidade que nom está a ser aproveitada. Para explicar isto era preciso tentar fazer um livro que se focasse sobretudo na divulgaçom cara pessoas que nunca refletiram sobre o nosso idioma.

PB: Uma aposta como a vossa, que visa projetar o valor de um recurso próprio através de um pequeno investimento, poderia ter efeitos muito significativos a ser implementada por instituições públicas, organizações profissionais, empresas, etc. Em que medida e com que instrumentos poderiam ser implementadas, na prática, as teses defendidas neste livro?

VF: Como professor de português e membro de Docentes de Português na Galiza, um dos instrumentos fundamentais é o ensino, nomeadamente o secundário. Atualmente, a maioria dos docentes de português no Estado estám na Extremadura porque o seu governo decidiu apostar em serem a ponte entre Portugal e a Espanha. O ensino de Português ou a implementaçom de conteúdos de português na matéria de galego seria umha das maiores revoluções cognitivas, de formas de ver o mundo, de ver o local, que se poderiam fazer no nossos sistema educativo. A experiência dos ateliês Ops que desenvolve a AGAL assim o evidencia.

JRP: Como empresário no campo das TIC, penso que todos estamos em processos de internacionalizaçom, por causa da crise da dívida em Europa e nos EEUU. É preciso, procurar novos clientes e novos projetos em economias emergentes. O Brasil e a América que se expressa em espanhol vam ser lugares de preferência. Os galegos e galegas somos as únicas pessoas do mundo que temos umha competência nos dous idiomas, polo único facto de sermos galegos. Há que aproveitá-lo.

 

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PB: Quais seriam algumhas das objeções que se poderiam levantar à vossa proposta e como lhes responderiam?

VF: Só vejo dous grupos que poderiam objetar de raiz a nossa proposta, aqueles que promovem a hegemonia do espanhol reservando um espaço marginal para o galego e aqueles que em nome da quinta-essência galeguista, veem a lusofonia como um perigo para as suas posições. Nom creio que seja possível argumentar com nenhum dos dous, eu centraria-me em comunicar com o resto da sociedade, os 99%. porque esta é umha proposta de “eu ganho, tu ganhas”.

JRP: Qualquer pessoa galega já é consciente quando viaja ao Brasil ou Angola da nossa vantagem. Agora só temos de realizar ações concretas no ensino (introduzir o português de Portugal ou Brasil dentro das aulas atuais de galego, ou como segunda língua), aumentar o contacto e a interaçom com o Brasil e Portugal no seu sabor de língua, etc. Em definitivo, assinar a Iniciativa Legislativa Popular “Valentín Paz Andrade”, quem já postulava que o futuro do nosso idioma passava por vivê-lo como nosso e como deles.

PB: A realidade social e linguística da Galiza de 2012 está marcada pela urgência e a incerteza. Neste contexto, gostaria de terminar com umha pergunta atrevida: que livro gostariam de poder estar a apresentar no verao de 2022?

VF: Um que fale da transformaçom que implicou para a sociedade galega ser a única do mundo onde as duas maiores línguas románicas, o galego-português e o castelhano, som oficiais e estám na posse de todos os cidadaos e de todas as cidadás.

JRP: Muito boa pergunta. Seria fantástico escrever, indicaria que estaríamos vivos. Se for assim, gostaria de centrar-me mais em questões relacionadas com a relaçom entre a tecnologia e jeitinhos diferentes de viver em sociedade, com esquemas parecidos ao funcionamento das comunidades de código aberto.

 

 


(*) Entrevista publicada originalmente no Fest-AGAL n.º 3 (verão de 2012)

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