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Isa Bermúdez, neofalante: “Agora mesmo o que me custa é falar castelhano”

Isa Bermúdez, artista plástica de Carvalho, sempre esteve rodeada de galego, mas só na adolescência é que pensou em incorporá-lo no seu quotidiano. Criada num lar falante de castelhano devido às origens da sua mãe na Extremadura e à emigração da sua família para a Alemanha, explica que, embora o seu ambiente familiar mais alargado falasse galego, não sentiu um interesse especial pela língua até iniciar o Ensino Secundário Obrigatório.

Segundo conta, foi umha professora galega, María Xesús, quem lhe abriu os olhos. “As leituras obrigatórias para aquela disciplina eram muito próximas dos interesses da adolescência, eram atuais e variadas”, recorda. Esta ligaçom com o galego, somada a um crescente interesse pela cultura e história da Galiza, levou-a a dar os primeiros passos para falar a língua.

O desafio de mudar a lingua

Embora o galego esteja muito presente em Carvalho, Isa admite que nom foi fácil para ela tornar-se uma neofalante. “No início ficava envergonhada, porque há sempre comentários do tipo ‘que estranho soa’ ou ‘falas muito corretamente’”, conta. A pressom social e a inércia de anos a falar espanhol dificultaram a transiçom.

Foi quando se mudou para A Corunha para frequentar o Bacharelato em Letras que decidiu que estava na altura de mudar de língua. “No primeiro dia comecei a falar galego, porque ninguém me conhecia e nom me podiam dizer que soava estranho”, explica. Esta mudança ajudou-a a normalizar o uso da língua, embora reconheça que era muito mais difícil na Corunha do que em Carvalho, onde a presença do galego é muito maior.

“A Corunha é um lugar onde falar galego é raro. Lembro-me de um dia em que ouvi um rapaz na Praça de Ponte Vedra a falar galego e fiquei abraiada”, conta entre risos. Chegou a ter experiências estranhas, como quando numa farmácia lhe disseram “desculpe, nom entendo”, depois de pedir um ibuprofeno.

Um esforço consciente para manter o galego

Isa sublinha que mudar para falar galego exige um esforço ativo, sobretudo quando os estímulos no ambiente som em espanhol. “No início é preciso pensar muito antes de falar, porque se estás habituada a outra língua”, diz ela. Mas também acredita que, ultrapassado este processo, o galego constrói uma nova identidade. “Neste momento, o que me custa é falar castelhano”, diz.

Como artista, orgulha-se de haver muitas pessoas que criam e pintam em galego, embora saiba que noutras profissões a situaçom é diferente. Ainda assim, considera que o galego nom é um obstáculo, mas sim uma vantagem: “Estive em Cabo Verde depois de ganhar um prémio de pintura e foi muito mais fácil comunicar graças ao galego”, destaca, referindo-se à proximidade entre a nossa língua e o português.

O futuro do galego e as mudanças necessárias

Isa acredita que a transmissom intergeracional é fundamental para a sobrevivência do galego, mas vê com preocupaçom que muitas famílias galegas educam as suas crianças em castelhano. “Se saes à rua, verás claramente que há preconceitos linguísticos”, diz. No seu trabalho com crianças, fica surpreendida ao ver pais que falavam galego com ela mudarem para o espanhol quando se dirigiam aos filhos. “É algo que nunca vou compreender”, diz.

A artista participa também no Grupo de Dinamizaçom Linguística do seu centro de estudos, onde observa como muitas pessoas estam a refletir sobre a importância da lingua e a dar os primeiros passos para a utilizar. Existem iniciativas que incentivam o uso do galego, como os prémios para projetos em língua galega. No entanto, é clara: “Oxalá estes prémios nom fossem necessários, porque nom precisaríamos de incentivos para usar a nossa própria língua.”

Questionada sobre o futuro do galego, é realista: “Infelizmente, as estatísticas mostram que é falado cada vez menos”. No entanto, é de salientar que a lingua nom é apenas uma ferramenta de comunicaçom, mas sim parte da nossa herança cultural. “A cultura galega nom é só música ou história, é também a nossa língua, e devemos cuidar dela”, conclui.

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