Há uns dias atrás informávamos neste portal da campanha em defesa da língua lançada pola organizaçom juvenil Galiza Nova. Hoje falamos com Élia Lago, responsável nacional de língua e cultura, encarregada do desenho da campanha “O galego vai contigo”.
Estades em plena campanha “O galego vai contigo”. Houve algumha mudança estratégica em relaçom à análise da situaçom do galego no nosso país?
Acho que a análise é a mesma na medida em que as estatísticas continuam a deitar uns resultados negativos sobre o uso do galego. É umha realidade que o galego perde falantes e espaços a um ritmo vertiginoso e a estratégia da alarma, ademais de realista, pode funcionar como choque de realidade para as pessoas que convivem com a(s) língua(s) e o conflito. O que penso que é novidoso nesta campanha a respeito de actividades anteriores é a mudança de foco na chamada à acçom. As pessoas que estudamos filologias conhecemos o que é a diglossia, como se substituem as línguas endógenas através do controle das instituiçons e os poderes fácticos, no nosso caso concreto a progressiva desconexom com o mundo galego em que medramos as novas geraçons… mas que podemos fazer desde umha organizaçom política juvenil para lograr umha mudança?
A nossa aposta desde o grupo de trabalho de Língua e Cultura foi colocar cada pessoa receptora da campanha como elemento com potencial para mudar o mapa geral; desde a consciência, a assunçom de que partimos dumha situaçom complicada (porque as línguas tenhem a ver com factores individuais identitários e afectivos), mas também desde a ambiçom e o entusiasmo por dirigirmos o rumo do nosso futuro.
É umha realidade que o galego perde falantes e espaços a um ritmo vertiginoso e a estratégia da alarma, ademais de realista, pode funcionar como choque de realidade para as pessoas que convivem com a(s) língua(s) e o conflito.
É umha campanha em positivo e amável, sem juízo sobre as falantes. Achas que poderia ser umha campanha que também secundasse a Secretaria Geral de Política Linguística da Xunta? Quais som os piares da vossa estratégia?
Se desde a SXPL tivessem interesse em tomar a sério o estado e porvir da língua, claro que poderia ser secundada. Mas nom é o caso. À parte do abismo estratégico e político que há entre o Partido Popular e o nosso espaço, só há que atender à práctica: tivérom treze anos para fazerem algo que perdurasse na memória das galegas e serem um agente activo na melhora da situaçom da língua e nom considero que a gente valore este organismo como um agente dinamizador do galego. Venhem antes à cabeça outros exemplos: associaçons de todo tipo, centros sociais, organizaçons políticas… A defesa real do galego é, agora mesmo, património quase exclusivo dos espaços que sabem conectar a situaçom da língua com o status político do nosso povo. O galego é, neste contexto determinado, algo político, e o PP prefere trabalhar em marcos falsamente neutrais e despolitizados.
A defesa real do galego é, agora mesmo, património quase exclusivo dos espaços que sabem conectar a situaçom da língua com o status político do nosso povo.
Galiza Nova, pola contra, é umha organizaçom juvenil desde onde pretendemos elevar a (auto)consciência política da mocidade galega. No relativo à língua, o relato que está instalado e que pretendemos questionar é o dumha normalidade que sabemos fictícia: as galegas falamos maioritariamente castelhano porque sim. A nossa intençom é visibilizar que existem muitos aspectos das nossas vidas que nom som naturais neste sentido, e por isso os conteúdos procuram explicitar esses mecanismos (dependentes da acçom humana) que explicam a actual situaçom do galego através de cenas que todas conhecemos. Se entendemos que os preconceitos, dúvidas ou medos que cada quem temos som algo que estám histórica e socialmente mediados e que estám também instalados noutras pessoas como nós, talvez desde a advertência da realidade e o questionamento do dado podamos facilitar umha transiçom mais positiva ao galego como língua para todos os usos.
Haverá continuidade? Podes adiantar se sairám mais conteúdos nos próximos tempos?
A campanha compreende os meses de setembro e outubro, coincidindo com o início do curso, e nesse tempo continuaremos a publicar vídeos, infografias e outros materiais que desenhámos para a campanha. Este é o calendário para a sua presença em redes e socializaçom nos centros de ensino e ruas, mas organizativamente queremos que o marco que colocamos com esta campanha nacional valha para as comarcas terem ferramentas para abordar a questom da língua, polo que as actividades seguirám presentes nos vindouros meses.
Precisamente há uns dias anunciámos o nosso primeiro certame no TikTok, onde queremos que a mocidade que chegasse à campanha poda completar com os seus testemunhos as análises que nós fazemos através dos vídeos e as infografias explicativas. Esta actividade, do mesmo jeito que o resto de conteúdos, procura apelar à reflexom sobre as prácticas individuais, ser um espaço de reconhecimento mútuo e lograr uma mudança, e por isso o título, o tom e as actividades propostas na campanha.
Como está a ser a recepçom?
A primeira fase da campanha foi de apresentaçom dos motivos gráficos (o cartaz de pré-campanha onde aparecia por vez primeira o símbolo, o cartaz central, o filtro…) e socializaçom da campanha entre a mocidade com repartos de voandeiras em centros de ensino secundário e universitário e colada de cartazes. A nossa intençom era criar certa expectativa para, numha segunda fase, apresentar a história que dá sentido à escolha da legenda e o símbolo lumínico. É certo que a primeira parte nom espertou um interesse especial, pois o esperado por nós era o mistério, mas com a publicaçom do primeiro vídeo notamos sim umha grande acolhida. Muita gente se animou a opinar sobre a campanha e fijo-o para dar os parabéns pola orientaçom e a qualidade dos materiais.
Quando rematar a campanha, desde o grupo de trabalho teremos que avaliar o percurso desta e comprovar se conseguiu os propósitos marcados. Nesta fase mais participativa esperamos ter a oportunidade de ver se existe um impacto fora das esferas onde as campanhas de Galiza Nova já estavam a chegar.
É a primeira vez que Galiza Nova fai umha campanha nas duas normas ortográficas? Qual é o sentir a respeito do binormativismo dentro da organizaçom?
O galego reintegrado leva tempo estando presente na práctica organizativa e actividade pública de Galiza Nova, se bem mais presente nas comarcas do que a nível nacional. Que exista esta campanha integrando umha outra norma ortográfica tem a ver com a normalidade que as pessoas reintegracionistas procuram aplicar no seu trabalho militante.
A nível do debate organizativo, há um reconhecimento explícito das duas normas nos nossos textos, mas o binormativismo nom é umha aposta neste sentido.
A nível do debate organizativo, há um reconhecimento explícito das duas normas nos nossos textos, mas o binormativismo nom é umha aposta neste sentido.
Qual é a fotografia linguística que imaginas dentro de 40 anos?
Pessoalmente, sempre tiro mais polo optimismo mobilizador que polo realismo paralisante, polo que tenho confiança no papel que joguemos para mudar o actual estado de cousas, também a nível linguístico. A situaçom do galego depende em parte de questons sobre as que temos ou podemos ter o controle a nível colectivo, como os espaços de socializaçom, as iniciativas populares ou as iniciativas políticas e institucionais. Trabalhamos na contra dumha maquinaria que tritura as expressons da comunidade, e isso é bom tê-lo presente, mas, na medida em que podemos ser mais as que queremos língua e país, temos espaço para melhoras e mesmo para a consecuçom dum contexto favorável para o desenvolvimento normal da nossa língua, como o é termos umha república de nosso.