Carvalho Calero e “Nós”

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A relação de D. Ricardo com a geração Nós é bem conhecida para quem tinha interesse na cultura galega. Uma relação direta, pois foi o primeiro em escrever sobre ela e abordou todos os seus pessoeiros, embora a sua é a geração seguinte: “A cultura galega contemporânea é um produto de duas gerações –diz–: a geração de Risco e a dos nascidos nos primeiros tempos do século XX”; a segunda é “a minha geração”. Nós é “o segundo renascimento galego”, “um momento fundamental na história da cultura galega”. Carvalho chama-a de “geração de Risco”. Diz Carvalho todo isto num artigo pioneiro intitulado precisamente “A geração de Risco” (Nós 131-132, 1934). E aprofunda ali no direito de ser chamada assim: “O direito de Risco ao consulado epónimo somente poderá negá-lo a inveja… É o filósofo da geração, o mais consciente dos seus membros. Uma espécie de secretário-geral espiritual do seu grupo”. Poder-se-ia pensar que Carvalho Calero tirar-lhe-ia este nome depois da evolução do Risco pós-galeguista, mas quando volta a escrever sobre ele cinquenta anos mais tarde, e vinte após a sua morte (1963), afirma que “Risco foi… o mestre, em certo jeito o síndico, o abandeirado”; ainda que nom esqueça que este abandeirado “arriou a bandeira” (“Risco na literatura galega”, La Voz de Galicia, 27/9/1984). Concordo com Carvalho em que o melhor Risco é o galeguista; mas não esqueço que o pós-galeguista escreveu obras salientáveis como a novela La puerta de paja (1963) e o ensaio genial Orden y caos (1968).
Sem dúvida, o melhor que Calero escreveu sobre o grupo Nós foi o longo capítulo que lhe dedicou na sua História da Literatura Galega Contemporânea (1963), um fito fundamental e inaugural para compreendermos esta geração; uma obra que felizmente vem de reeditar-se este ano 2020, ediçom da que falaremos aqui.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

Máis de Victorino Pérez Prieto